quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

UNIVERSIDADES E COMUNICAÇÃO


Os máximos para multiplicar

Uma notícia quase despercebida, como todas aquelas que devem interessar os cidadãos e são relegadas para pequenas colunas das páginas interiores dos jornais, dava conta da existência de três jovens «crânios» na Universidade de Aveiro.

Um deles, com dezoito anos, ingressou há pouco, com 19,05 valores, na Faculdade de Ciências Bio-Médicas.

O segundo, com vinte anos, frequenta o 3º ano da licenciatura de Engenharia Mecânica, para onde transitou com 18,2 valores.

O terceiro, com vinte e três anos apenas, concluiu já o mestrado em Electrónica e Telecomunicações, com 18,4 valores e está a dar os primeiros passos para o doutoramento. Uma bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia acabou por convencê-lo a protelar o ingresso no mercado de trabalho e a adiar o sonho de criar a sua própria empresa, vocacionada para a investigação, desenvolvimento e comercialização de redes de telecomunicações.

Mais alguns pormenores interessantes são acrescentados na notícia, como algumas perguntas efectuadas sobre os respectivos métodos de estudo, etc., mas isto é o principal. Também é de salientar a simplicidade e a humildade dos entrevistados, todos da província, ainda isentos dos truques ou subterfúgios que estamos habituados a ver.

Mas o mais importante, provavelmente, nem serão as boas notas destes alunos, mas a sua maneira de pensar, a sua aplicação e responsabilidade, o seu enquadramento na Universidade, a ideia que têm já de transportar para a vida futura da sua excelência, ao serviço da Ciência, da Sociedade, do País. É de esperar que isso aconteça. E há que fazer tudo para multiplicar estes bons exemplos.

Acredito que estes crânios, como lhes chama a notícia, não são, nem e longe, os únicos, nas universidades portuguesas.

Acredito que todas as universidades portuguesas terão os seus crânios.

Acredito que um dos maiores objectivos de todos os professores universitários deste país é receber crânios, formar crânios, orientar crânios, lançar crânios na vida activa do País.

Acredito que todas as universidades pretendem ser as melhores, numa concorrência altamente louvável.

Até acredito que já começa a existir algum espírito de colaboração docente e de investigação inter universidades.

Mas quem, do grande público, sabe disso?

Por isso mesmo acredito também, como ouvi há dias a um eminente professor, que a Ciência, ou melhor, as Universidades são ainda muito más comunicadoras para o grande público. Os seus feitos não são suficientemente divulgados e, pior ainda, quando tal ocorre, são-no com uma linguagem hermética, sintética e de difícil compreensão. Pelo contrário, quando os temas profissionais ou científicos são explicados por jornalistas profanos, adivinha-se logo uma ignorância inadmissível da parte do comunicador, transmitindo frequentemente opiniões desastradas e até ridículas, erros grosseiros de palmatória, etc. O público deve saber a verdade, mas a culpa não é deles, que não a conhecem bem, e portanto não podem saber contá-la.

Ora as universidades devem saber transmitir à sociedade os seus problemas, as suas dificuldades e os seus êxitos, com simplicidade e clareza, não deixando isso para terceiros. Às vezes penso que esta dificuldade de comunicação das instituições é um atavismo dos portugueses, porque situações críticas se podem apreciar também com muita acuidade, na Justiça, nas Forças Armadas, etc. Será que apenas os políticos, os escritores e alguns jornalistas são capazes de se fazer entender pelas gentes menos instruídas?

Ocorreu-me dizer isto, a propósito da notícia dos «crânios» da Universidade de Aveiro, vertida ao papel pela pena de um jornalista que se interessou e não directamente pelo seu reitor, ou pelo seu corpo docente... Sei que as revistas que as universidades publicam trazem coisas interessantes como esta e muitas, muitas outras, mas são apenas de circulação interna, limitada. Verifico até que pouca ou nenhuma abertura conseguem fazer ao público em geral, mesmo aquelas que, numa atitude louvável, pretendem manter a ligação aos antigos alunos.

Por quê este défice geral de comunicação, numa época em que a Ciência é cada vez mais aberta à Sociedade, e já não se ensina de púlpito, como Ponce de Léon na sua sala, hoje museu, da Universidade de Salamanca?

Por quê, se em várias universidades até existem Faculdades de Comunicação Social?

Gostaria de saber...

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