sábado, 10 de outubro de 2009

SONDAGENS AOS MOLHOS


A corrida aos comentários

Amanhã irá ter lugar mais uma votação nacional, de acordo com o estrito cumprimento da constituição portuguesa. Ainda bem que assim é e que a democracia se mantém em pleno funcionamento.
Até aqui, nada de novo.
A novidade é que as sondagens postas em prática nos actos eleitorais, passaram, pouco a pouco, de esporádicas a frequentes, quase constantes. E, como as suas margens de erro vão diminuindo, com o aperfeiçoamento das técnicas de execução, qualquer dia já não valerá a pena fazer votações, a não ser para esclarecer um ou outro escrutínio mais duvidoso.
Claro que estou a brincar com o tema. Por mais sondagens que sejam feitas, por mais certeiras que venham a mostrar-se, elas não deixarão nunca de ser sondagens., embora, na sombra, possam influenciar muitas decisões políticas governativas ou autarcas. Mas também, algumas vezes, os resultados finais acabam por ser bastante discordantes das previsões anunciadas, tal como se verificou nas europeias (e depois nas legislativas deste ano), quando foram antecedidas de uma semana ou alguns dias apenas, do acto eleitoral. Pessoalmente, não creio que os eleitores mudem de cor de um dia para o outro. Aceito que alguns erros de apreciação devem ter ocorrido.
E, no entanto, há que atribuir certa credibilidade às sondagens, de um modo geral, se não são encomendadas pelo marketing de entidades interessadas, caso em que haverá que dar-lhes algum desconto. Estarei a exagerar?
Outro problema que se coloca nas sondagens, por mais honestas que sejam, é que cada periódico, de acordo com a sua tendência ou orientação político-profissional, dá maior ou menor relevo às sondagens, colocando-as em letra de forma na primeira página, ou em letra miudinha em página de interior, de acordo com as circunstâncias.
Interessantes são também os resultados das sondagens, poucos minutos depois de encerrado o processo eleitoral, cada vez mais próximas dos resultados reais que irão ser anunciados. Acredito piamente que também desta vez, com as autárquicas, as previsões, pouco depois de encerradas as urnas, não irão divergir muito do escrutínio eleitoral efectivo.
Pondo de parte as previsões, não quero deixar de fazer a minha apreciação sobre dois ou três aspectos da votação que vai ocorrer amanhã.
Em primeiro lugar, penso que os eleitores portugueses irão, mais uma vez, saltar por cima dos alarmes moralistas postos a circular, relativamente a alguns candidatos de diversas forças políticas, mesmo que já tenham sido pré-condenados pela imprensa, pelos partidos, ou até pela justiça. Eles irão premiar, com toda a certeza, a obra feita, pouco lhe importando as meras suspeitas de fraude, ou mesmo o roubo provado do erário publico, praticado pelo candidato da sua simpatia!
Em segundo lugar, aposto que pouco interessará aos eleitores que o «seu» candidato tenha publicado uma lista maior ou menor de apoiantes, de maior ou menor peso social ou político.
Em terceiro lugar, creio ainda que serão reconduzidos, de uma forma geral, todos os autarcas que tiverem feito um mandato a gosto, confirmando o facto, já bem enraizado, de que o principal motivo de reprovação de um candidato não é o conjunto de promessas eleitorais feitas pelos opositores ou a má-língua contra eles, mas a deficiência no desempenho que está a terminar.
Por último, as campanhas dos candidatos, à semelhança das legislativas, não primam pela discussão exaustiva dos temas mais importantes, decorrendo o tempo que antecipa as eleições, num clima de mera propaganda.
Independentemente das sondagens aos molhos, ou de todos os anacronismos que possam ter-se verificado durante o processo eleitoral, oxalá, ao menos, os resultados venham a mostrar uma diminuição da abstenção às urnas. Seria um bom sinal para a democracia portuguesa.
Tudo o resto, com mais ou menos comentários, será o trivial!

A corrida aos comentários

Amanhã irá ter lugar mais uma votação nacional, de acordo com o estrito cumprimento da constituição portuguesa. Ainda bem que assim é e que a democracia se mantém em pleno funcionamento.
Até aqui, nada de novo.
A novidade é que as sondagens postas em prática nos actos eleitorais, passaram, pouco a pouco, de esporádicas a frequentes, quase constantes. E, como as suas margens de erro vão diminuindo, com o aperfeiçoamento das técnicas de execução, qualquer dia já não valerá a pena fazer votações, a não ser para esclarecer um ou outro escrutínio mais duvidoso.
Claro que estou a brincar com o tema. Por mais sondagens que sejam feitas, por mais certeiras que venham a mostrar-se, elas não deixarão nunca de ser sondagens.
Também, algumas vezes, os resultados finais acabam por ser bastante discordantes das previsões anunciadas, tal como se verificou nas europeias (e depois nas legislativas deste ano), quando foram antecedidas de uma semana ou alguns dias apenas, do acto eleitoral. Pessoalmente, não creio que os eleitores mudem de cor de um dia para o outro. Alguns erros de apreciação devem ter ocorrido.
E, no entanto, há que atribuir certa credibilidade às sondagens, se não são encomendadas pelo marketing de entidades interessadas, caso em que haverá que dar-lhes algum desconto! Estarei a exagerar?
Outro problema que para mim se coloca nas sondagens, por mais honestas que sejam, é que cada periódico, de acordo com a sua tendência ou orientação político-profissional, dá maior ou menor relevo às sondagens, colocando-as em letra de forma, na primeira página, ou em letra miudinha, em página de interior, de acordo com as circunstâncias.
Interessantes são também os resultados das sondagens, poucos minutos depois de encerrado o processo eleitoral, cada vez mais próximas dos resultados reais que irão ser anunciados. Acredito piamente que também desta vez, com as autárquicas, as previsões à boca das urnas, ou pouco depois, não irão divergir muito do escrutínio eleitoral efectivo.
Pondo de parte as previsões, não quero deixar de fazer a minha apreciação sobre dois ou três aspectos da votação que vai ocorrer amanhã.
Em primeiro lugar, penso que os eleitores portugueses irão, mais uma vez, saltar por cima dos alarmes moralistas postos a circular, relativamente a alguns candidatos de diversas forças políticas, mesmo que já tenham sido pré-condenados pela imprensa, pelos partidos, ou até pela justiça. Eles irão premiar, com toda a certeza, a obra feita, pouco lhe importando as meras suspeitas de fraude, ou mesmo o roubo provado do erário publico, praticado pelo candidato da sua simpatia!
Em segundo lugar, aposto que pouco interessará aos eleitores que o «seu» candidato tenha publicado uma lista maior ou menor de apoiantes, de maior ou menor peso social ou político.
Em terceiro lugar, creio ainda que serão reconduzidos, de uma forma geral, todos os autarcas que tiverem feito um mandato a gosto, confirmando o facto, já bem enraizado, de que o principal motivo de reprovação de um candidato não é o fraco conjunto de promessas eleitorais feitas, ou a má-língua contra os seus opositores, mas a deficiência no desempenho que está a terminar.
Por último, as campanhas dos candidatos, à semelhança das legislativas, não primam pela discussão exaustiva dos temas mais importantes, decorrendo o tempo que antecipa as eleições, num clima de mera propaganda.
Independentemente de todos os anacronismos que possam ter-se verificado durante o processo eleitoral, oxalá, ao menos, os resultados venham a mostrar uma diminuição da abstenção às urnas. Seria um bom sinal para a democracia portuguesa.
Tudo o resto, com mais ou menos comentários, será o trivial!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ASFIXIA DEMOCRÁTICA


Partidarismo a mais e bom senso a menos

Estou ansioso pelo fim destas campanhas partidárias por atacado que nos têm dado cabo do canastro. Três actos eleitorais, embora de características e objectivos diferentes, acabam por saturar a cabeça do mais pintado.
Não deveria ser assim.
Trata-se de deveres cívicos que a constituição regula e impõe, e aos quais os cidadãos conscientes e patriotas não podem furtar-se. O problema não é esse.
Dizia um comentarista avençado de determinado jornal que não se revia nas teses de nenhum dos partidos, que pensava pela sua cabeça, que provavelmente até estaria, na política, ao arrepio da maioria dos portugueses, etc., etc.
Ocorreu-me, ao ler essas declarações que, também muito provavelmente, andaria afastado dos partidos porque eles não realizariam aquilo que ele pensava ou desejaria que fizessem. Acontece assim com muito boa gente, até com os adeptos do futebol: deixam de ir aos desafios, quando a sua equipa deixa de ganhar e perde com frequência, ou com os dirigentes do seu clube, quando preparam a chicotada psicológica…
Na verdade, o caso deste senhor comentarista não é único. Há por aí uma caterva de «independentes» abstémios que se julgam de raciocínio mais acutilante e certeiro, que não sentem desejo de submeter-se aos desígnios de ninguém, dos partidos muito menos. Estão no seu pleno direito!
Mas isso não os iliba do dever de cumprir as leis da República, nem do civismo do voto que, nalguns países bem democráticos, até é obrigatório e com multas pesadas para os faltosos. Deveriam saber que a abstenção é a oposição ou a negação do próprio regime democrático.
Quem não concorda com os partidos legais registados, pode sempre tornar-se independente ou votar em branco, mostrando dessa maneira o seu descontentamento aos políticos de serviço. Um elevado número de abstenções deve fazer-nos pensar a todos, nesta postura incorrecta dos eleitores, e não apenas às autoridades políticas.
Outro aspecto bem lastimável destas campanhas mais ou menos carnavalescas que inundam o país de norte a sul (incluindo as Ilhas) é o abuso da «politiqueira», da suspeita, do insulto e da má-língua, em completo detrimento da discussão séria dos verdadeiros problemas nacionais. Parece que a imprensa, os responsáveis político-partidários, os cidadãos, todos ficam embriagados por esta onda burlesca que lhes tira a capacidade de raciocínio, o seu próprio senso comum.
Ora, como se isso fosse pouco, os fala-barato do costume inundam o terreiro da luta de puros conceitos anacrónicos de marketing puro, completamente ocos, enchem paredes, ruas e estradas de enormes cartazes inócuos, aberrantes, e as caixas de correio de papel para o lixo, na sua ânsia de caçar os votos dos indecisos ou papalvos. Os indecisos não serão convencidos desta maneira, e cada vez há menos papalvos, em Portugal.
O certo, infelizmente, é que todos pagamos com língua de palmo, este carnaval de disparates porque, além do mais, muito antes das eleições, a grande maioria dos portugueses tem já a sua opinião formada, e sabe que vai votar em quem muito bem entende, dentre os manequins sugeridos nos anúncios ou nos pasquins de circunstância.
Não falando das incidências lamentáveis, das intrigas de circunstância ocorridas entre políticos, partidos e governantes, onde tudo é dito ou apenas sugerido, verdadeiro ou falso, onde cada qual afirma, mente, desmente, declara, esquece, escuta, julga, imagina, suspeita, acusa, vangloria ou afunda tudo e todos, não posso deixar de rir do slogan posto a correr e explorado por certa força política, a asfixia democrática.
Que factos, além desta «politiqueira» de baixo nível, serão capazes de comprovar esta asserção ridícula?
O que verdadeiramente asfixia a democracia autêntica são as intrigas político-partidárias ampliadas sempre em épocas eleitorais, as propagandas carnavalescas e sem nível, mostradas ao cidadão comum envoltas na roupagem de um falso patriotismo. Já cansam, e não convencem ninguém. Sinceramente, começo a estar asfixiado (bem como a maioria dos portugueses, estou convencido), por este verdadeiro tsunami de parvoíces.
Num regime ditatorial, sim, os seus autores há muito tempo já teriam sido asfixiados, sem soltar um queixume…
Há simplesmente partidarismo a mais e bom senso a menos, em Portugal

terça-feira, 6 de outubro de 2009

COMEMORAÇÔES ÀS AVESSAS


A República não idealizada

Quando uns quantos idealistas, descontentes com a situação do País, nos estertores da Monarquia, conseguiram implantar a República, em 5 de Outubro de 1910, estavam longe de imaginar o que viria a seguir.
Efectivamente, o regime imposto aos portugueses atravessaria numerosas vicissitudes, sobretudo de natureza social, política e económica, mas nunca esteve verdadeiramente em causa a sua própria sobrevivência, mesmo após as investidas de Paiva Couceiro, ou na época do Estado Novo em que as liberdades fundamentais foram cerceadas.
Recuperados, depois do 25 de Abril, os ideais democráticos abafados durante 48 anos, estabelecidos laços económicos, políticos e sociais duradoiros com os restantes países da CE, parecia que a Nova República tinha encontrado o caminho para uma fase de estabilidade governativa que a Primeira República desconheceu, por razões de vária ordem. Não há dúvida de que o caminho percorrido, nesse sentido, foi imenso.
No entanto, de vez em quando, ultrapassando a cordura e o civismo que se impõem nas naturais divergências políticas, algumas aberrações afloram, aqui e ali, nas esferas governativas da Nação, provenientes de radicalismos pessoais ou partidários, nem sempre morigerados a tempo, nem sempre ultrapassados, como deveriam sê-lo, pelos superiores interesses nacionais. As intrigas postas a correr por uma imprensa ávida de fofoca, ou simplesmente transformada em veículo aproveitado por partidos ou interesses pessoais, criaram, a pouco e pouco, um clima de desconfiança mútua entre os principais actores políticos e de laxismo cívico entre uma grossa fatia da população, de que é mostra a abstenção cada vez maior, nas urnas onde se escolhem os responsáveis administrativos e governativos da Nação.
Ontem, mais uma vez, desde o 25 de Abril, se comemorou a data da implantação da República. Sempre de forma pífia, cada vez mais pífia a cada ano que passa. Apesar das enormes dificuldades porque passou o regime, durante quase um século, os idealistas de 1910 não mereciam isto.
Como num jogo de capelinhas teimosas e envergonhadas, Presidência da República, Governo e Câmara de Lisboa resolveram fingir, numa comemoração sem brilho, sem patriotismo, sem alegria, mesmo sem grande espírito cívico. Uma birra pura e simples impediu a comemoração tradicional no local da própria proclamação da República (mesmo com justificação duvidosa), com a presença do Presidente. Uma birra pura e simples impediu o Presidente de dizer duas palavras de apelo ao civismo e ao patriotismo dos portugueses, sem farpas, recados ou segundos sentidos encobertos. E manteve calados, num acto sem brilho, o Chefe de Governo e o Presidente da Autarquia. Na verdade, não eram exigidas palavras de apologia ou crítica partidária, mas apenas de enaltecimento do facto a comemorar, e das qualidades cívicas dos seus autores e do povo português.
Pelo contrário, ocorreu em frente do Palácio de Belém, uma parada reduzida da Guarda Nacional Republicana pretendendo render homenagem a uma bandeira que teimosamente caiu três vezes, durante o desajustado discurso do Presidente, no qual não faltaram alguns recados disfarçados aos seus eventuais inimigos políticos de estimação.
Também em frente ao Palácio Municipal, onde o símbolo da República se manteve hasteado, uma ridícula parada de bombeiros fez a guarda de honra, com a presença do Primeiro-Ministro e do Presidente da Câmara em exercício, escutando o discurso pindérico de uma vereadora e Presidente da Assembleia Municipal.
Episódios tristes (uma autêntica comemoração às avessas), talvez resultantes de uma zanga politiqueira que colocou os intérpretes voltados do avesso, mas que a maioria dos cidadãos desaprova. Tenho a sensação de que eles, se pudessem, apresentariam um cartão amarelo aos actores políticos desta peça em dois actos, na qual os superiores interesses da Nação foram subvertidos aos meros interesses pessoais e partidários, sem respeito pelos eleitores.
Os Pais da República, se viessem de novo a este mundo, sentiriam vergonha pela fraca comemoração dos ideais republicanos feita pelos intérpretes de serviço, os mesmos que tanto se fartam de citá-los ao Povo, mas que tantas dificuldades levantam ao seu cumprimento.
Algo falta a estes responsáveis de uma República não idealizada pelos seus fundadores, quando a proclamaram. Talvez necessitem um pouco mais de bom senso e de civismo puro, para se distanciarem das tricas, dos mexericos, das intrigas politiqueiras em que estes logo se afundaram, maus exemplos que infelizmente continuam a ser moda, quase cem anos depois…
Viva a República!

domingo, 4 de outubro de 2009

ESCUTAS, TABUS E PARVOÍCES

A politiqueira, no seu melhor...

Não sei se existem escutas ou não, a quem quer que seja. Mas num país onde as escutas com ordem judicial ou sem ela, são pão nosso de cada dia, seria uma estultícia pensar que alguém pode ser imune a elas, mesmo que seja o Procurador Geral da República, um Juiz ou Governante de turno ou até o Presidente da República.
Poderão todos fazer gala da sua protecção de guarda-costas, da inspecção da sua própria rede telefónica e presumíveis microfones ocultos, ou mesmo de um sistema pessoal informático inviolável, porque nada resulta, nos dias de hoje em que as escutas às fechaduras das portas se tornaram um método antiquado e definitivamente em desuso.
Vem agora o PR falar de um escuta na comitiva à Madeira, numa possível violação dos seus e-mails e de outras aberrações, num panorama nacional em que todos falam de todos a toda a hora e, pior ainda, passam boa parte do seu precioso tempo na intriga mútua, quais velhotas do soalheiro.
Fiquei perplexo com as palavras do PR, na sua comunicação ao país. Pressupunha que iria tratar-se de uma justificação justificável ou de uma acusação acusatória de verdade, e a «montanha, pariu um rato! Fazer uma comunicação ao País para dizer o que foi dito, é uma pura aberração. O País exige do Presidente a informação de factos importantes, e não temas de autêntica intriga politiqueira. Amanhã, quando o Presidente tiver algo de importante a dizer ao País, quem irá ouvi-lo ou acreditar nas suas palavras?
Imaginara, pois, como a maioria dos portugueses, um Presidente da República muito acima de toda a trapalhada jornalístico-politiqueira, a suprema reserva cívica da Nação e as dúvidas ficaram lançadas em muitos espíritos.
Imaginara-o inteligente, analisador cuidadoso, imparcial e persistente, mas vi apenas um homem obcecado e refém de ideias fixas.
Imaginara-o ainda, há dias, decidido, esclarecedor e fiquei com a sensação plena de vê-lo totalmente metido numa embrulhada da qual soube ainda fechar a sua própria saída.
Imaginara-o interessado, honesto em apresentar um cabal desmentido a um e-mail fatídico, e provas irrefutáveis a sustentar a sua hipótese de virgem ofendida e ouvi apenas suposições vagas.
Imaginara-o, pois, a lembrar factos concretos, e notei que passava ao lado deles, a deixar simplesmente suspeitas no ar…
Imaginara-o, ainda que por momentos, a assumir eventuais falhas do sistema informático da Presidência da República, de que é o único responsável, e tratou de desviar as culpas a terceiros.
Imaginara-o, finalmente, sempre isento e austero, acima de escutas de meia tigela, de ditos, parvoíces, recados, conselhos, receitas, boatos, conversas ou intrigas que circulam na imprensa do dia-a-dia, e eis que, trinta e cinco anos após o 25 de Abril, surge na berlinda uma personalidade discutível.
Não imaginara sequer, no princípio da década de 90, quando vi na Imprensa escrita e na TV o Primeiro-Ministro em Exercício, metido na água até à cintura na sua praia algarvia preferida, rodeado de não sei quantos seguranças, ou o carro oficial rodeado de gorilas correndo, à americana, que o futuro Presidente conservasse ainda os mesmos complexos, os mesmos tabus, como se fossem fantasmas intransponíveis.
Não imaginara um Presidente refém de obstáculos interiores, de preconceitos de natureza político-religiosa.
Não imaginara um Presidente da República calado ou de riso forçado, ensimesmado, macambúzio, sempre rodeado de protectores, com medo de hipotéticas forças de bloqueio, julgando-se vilmente cercado por uma corja de malvados, espiões, violadores de e-mails, e não sei que mais.
Não imaginara, finalmente, ver um Presidente da República como factor de desestabilização política do seu próprio país, numa época de dificuldades em que a congregação de esforços é essencial.
Apesar de tudo, não creio ainda que o Presidente tenha concorrido para isso, de forma intencional determinada. Fê-lo por inépcia, vítima dos seus próprios fantasmas. Mas será só isso? Estarei a ser ingénuo?
No mínimo, não soube agir politicamente, nem no tempo, nem nos objectivos, nem nas razões expostas. Errou em toda a linha.
De qualquer forma, o país não merecia mais esta novela politiqueira que alguns ainda pretendem ampliar alegremente, com adição de novos episódios. Já cheira mal…