quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

TRÂNSITO, ACIDENTES E COMBUSTÍVEIS


A postura adequada dos cidadãos

Segundo o relatório da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, no ano de 2008 houve menos 82 mortos e 529 feridos graves que no ano anterior, o que nos deve deixar, no mínimo, animados. Estes números não são aqueles que toda a população deseja, mas a redução de mortos e feridos é sempre uma boa notícia. A curva descendente tem vindo a verificar-se de há uns bons anos a esta parte, devido à melhoria das vias de circulação, aos dispositivos de segurança introduzidos nas máquinas, apesar do seu aumento de potência, a exigência de novas normas de fiscalização impostas aos veículos e aos condutores, etc., etc. Não haverá ninguém que não se congratule com isso.

Já o aproveitamento politiqueiro desta circunstância será muito menos consensual, embora não possamos retirar dos motivos originários a acção dos sucessivos governos e autoridades administrativas que têm feito intervenções nesse pelouro -e têm sido várias.

Mas não é correcto colocar de parte a importância da melhoria, lenta mas persistente, da atitude dos cidadãos, autoridades, peões e automobilistas, do seu comportamento na estrada, no melhor conhecimento do código e da sinalização do trânsito, do aumento gradual do respeito pelos peões e pelos condutores e de muitos outros factores humanos. Penso que estes factores humanos reveladores de uma melhoria de civismo e cidadania, em geral, são de suma importância na interpretação dos resultados, embora não sejam de afastar da apreciação as acções humanas repressivas das autoridades de fiscalização, os radares, as multas, as campanhas anti-álcool, e as relacionadas com o ensino como a idade, as escolas e os exames de condução, e muitas outras. O aumento do custo dos combustíveis, reduzindo o número de viagens e a sua velocidade, também não pode ser descartado.

O presidente da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados concorda também com tudo isto, mas acaba por colocar a tónica especial da sua apreciação na alta do preço do petróleo, como um dos factores que contribuiu para essa diminuição.

Na opinião de Manuel João Ramos, "o aumento do preço da gasolina é coisa para continuar" devendo o problema da segurança rodoviária "resolver-se por si próprio".

Várias outras considerações foram proferidas, mas esta frase infeliz merece destaque especial e permite definir o sentido de uma certa maneira de estar na vida. Certo que o seu autor tentou minorar o efeito da frase, acrescentando que (...) se não há uma continuidade na aplicação de medidas e campanhas, muito rapidamente os números se alteram, porque há sempre novos condutores a entrar no sistema",etc. Ora, se tudo isto é verdade dentro de um certo contexto, também é certo que não pode desvalorizar-se, e muito menos da parte do Presidente da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados, o incentivo e a persistência no ensino e na educação de condutores e peões como o factor número um na diminuição da sinistralidade. Quem poderá desvalorizar este factor, em favor do aumento do preço do petróleo? E, se este terá os seus efeitos no número de quilómetros percorridos, quem poderá ignorar, por exemplo, o aumento do número de cartas de condução concedidas e de veículos em circulação, de ano para ano, com todas as consequências negativas evidentes para o trânsito e os acidentes?

A notícia da diminuição de mortos, de feridos graves e de acidentes durante o ano deve ser motivo de congratulação, mesmo sem focar as causas no aumento do custo do petróleo, do custo de vida, do desespero e da fome, dos assaltos e do desemprego, etc. etc., etc. Na minha modesta opinião, a tónica deste tipo de Associações ou Clubes, como o A C P e outros, não deveria ter por base o preço dos combustíveis, embora não o ponham de parte, mas a melhoria do civismo, do conhecimento e utilização dos equipamentos, da obediência às regras de circulação por parte dos condutores e dos peões que usam as nossas vias de comunicação. A par das nossas escolas, poderiam e deveriam ter aqui uma acção primordial importantíssima. Porque aí está a chave de grande parte do nosso problema de sinistralidade.

É humano cada um arranjar desculpas para os seus fracassos... errar também é humano, mas o erro deve ser combatido com todas as forças possíveis. E o bom resultado dessa luta nunca é demais ser relevado.

Qualquer que seja o custo do petróleo.

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