sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

PÁSSAROS, PASSARINHOS E PASSARÕES


A Ecologia por um canudo

Há uns largos anos, Hitchcock produziu um filme genial, «Os Pássaros», que deu a volta ao mundo e fez recordes de bilheteira. Naquela altura, a Ecologia ainda não tinha despegado dos fundilhos e aqueles pássaros foram simplesmente classificados, pelos espectadores, de malvados, ladrões, bandidos, assassinos, não sei quantas coisas mais. Eles apareciam, sorrateiramente mas em força, e davam cabo de tudo aquilo de que não gostavam.

Claro que se tratava de uma ficção, provavelmente tendo por base o assalto descarado dos bandos de pardais às searas, o que fazia arrancar os cabelos aos agricultores, impotentes. Pensavam eles que os espantalhos eram suficientes para afugentá-los mas, com o tempo, os passarões fizeram caso omisso desse estratagema. Também alguns fulanos espertos tentaram arranjar venenos para dar cabo dos assaltantes, mas estes foram postos de lado, pelo perigo que traziam para as populações.

Esse tempo já lá vai. Se fosse hoje que isso se passasse, ai do sábio que tentasse inventar um produto destinado a liquidar os passarinhos, espécies protegidas por decreto, credoras de todo o nosso respeito e angariadoras de coimas valentes ao fisco, em prejuízo dos prevaricadores.

Nas nossas aldeias, os garotos andavam, tempos atrás, de fisga na mão a fazer a pontaria aos pardais, numa altura em que os protegidos eram a espécie humana e os diversos cereais. Agora são os pássaros. Foi proibida a caça aos pardais com fisga e os bichos desconfiados de outrora até já vêm comer à mão, nalguns parques de Lisboa. Ainda bem! Nas cidades, actualmente, pardais e pombos podem multiplicar-se até ao infinito, sujar fachadas e monumentos, que não lhes acontece nada.

Há que proteger os seres vivos. Eles fazem parte do equilíbrio ecológico e da biodiversidade do nosso Planeta, para regalo dos nossos olhos, e inspiração dos poetas, cada vez mais raros neste mundo, um mundo cada vez mais matemático, cada vez mais eivado de coisas positivas e negativas, cada vez mais a preto e branco...Por isso gosto das aves coloridas das zonas tropicais, das florestas do Amazonas ou do Bornéu, tão densas, mas cada vez menos, onde a mão do homem nunca deveria ter posto o pé, como diz a anedota, e muito bem.

A verdade é que todas estas ecologias que agora fazem escola e criam emprego são muito bonitas, assentam em bons princípios, mas muitas vezes resultam em práticas aberrantes. Falam de equilíbrio e utilizam práticas radicais. Pior, os seus mentores e propagandistas utilizam ferozmente, em seu proveito, as maldades que criticam a terceiros.

A protecção das lagartixas, dos leões, das cegonhas e por aí fora, são a coroa de glória, embora tardia, dos ecologistas do passado século XX. Se eles tivessem existido uns séculos antes, possivelmente ainda hoje teríamos que gramar a peste bubónica veiculada pelas pulgas e pelos ratos que inundavam as cidades. Mesmo no nosso tempo, não sei como não se lembraram ainda de proteger o mosquito Anopheles que inocula a malária e causa a morte a muitos milhões de seres humanos, anualmente. Contudo, permite-se que esse flagelo continue a matar impunemente pessoas, lá longe da nossa civilização, talvez para não utilizar algum insecticida de efeitos tóxicos na fauna e na flora circundantes. Coisas insondáveis da Ecologia.

De vez em quando, alguém se lembra da gripe das aves, e vá de encerrar as galinhas em telheiros herméticos ou matar todos os largos milhares de frangos dos aviários suspeitos (que poderiam matar a fome a muita gente), mas não há ecologista nenhum que defenda a exterminação das aves selvagens contaminadoras.

Também os aviões e os automóveis poluem a atmosfera, todo o mundo sabe que o caminho a seguir é a obtenção e exploração de energia não poluente, mas ainda não vi nenhum ecologista ir de bicicleta para o emprego, em Portugal. A verdade é que pedalar, custa a todos, que o país não é plano.

Agora que tanto se fala do novo aeroporto em Alcochete, que vai passar perto da rota das aves migratórias, protegidas com lâmpadas anti reflectoras e tudo, seria bom pensar no perigo dessa passarada para os aviões e os seus passageiros. Não sei quantas vezes num milhão, um passarão desses terá possibilidade de entrar pelo motor de um jacto adentro e mandar tudo para o lixo! Também pouco importa. O cálculo das probabilidades é isso mesmo, um cálculo que não diz a ninguém quando, muito menos a hora exacta do acontecimento.

Nos Estados Unidos pátria das tecnologias avançadas e das teorias ecologistas de exportação, a populosa e anacrónica cidade de Nova Iorque esteve ontem quase a ser vítima de um enorme desastre, por causa de um pássaro tresmalhado (não sei se protegido pela Quercus lá do sítio) ter entrado pelo motor de um jacto com mais de cento e cinquenta pessoas a bordo. Bonita protecção essa!

Não quero tirar toda a razão aos ecologistas. È bom que existam, que chamem a atenção para os graves problemas que o crescimento da população mundial, a exploração descabelada dos recursos da Terra, e a sua utilização exclusiva em conforto sem contrapartidas, trará à própria humanidade. Onde o bicho homem entra, toda a fauna e toda flora da Terra são destruídos, mais cedo ou mais tarde. O mal é que, por vezes, há que escolher entre o homem e outros seres vivos, agora mesmo e não daqui a cem anos.

É bom que ponhamos os olhos na grande diversidade de todos estes problemas, com realismo e sem fantasias. O tempo de S. Francisco de Assis já vai muito longe e a humanidade de um bilião de seres do seu tempo ultrapassa hoje os seis biliões...numa evolução inversa da população dos restantes seres vivos da nossa adorada Terra.

Felizmente, os passageiros do jacto americano foram salvos a tempo, utilizando igualmente helicópteros e barcos salva vidas com motores a gasolina, para desespero dos ecologistas radicais.

O genial Hitchcock, se ainda fosse vivo, fazia uma nova versão de «Os pássaros».

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