sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

ESGOTOS NO TEJO


Como foi possível?

Quem diria que o Tejo dos poetas e dos golfinhos era um esgoto a céu aberto, desde que os gregos, os cartagineses e os engenhosos romanos por aqui andaram, tendo estes até feito cá um dos seus teatros? Em Pompeia, em Éfeso em Roma, pude observar as canalizações romanas que eram obra asseada, naquela época...embora não houvesse as famosas ETARes que hoje preocupam os municípios pelos custos de construção, bombagens e condutas, e sobretudo pela higienização das povoações. As populações impõem-nas, sem mais delongas, e ainda bem.

Vários anos se levou a discutir a construção de ETARes por esse país fora e a execução caríssima da grande conduta que permitiu tirar do Tejo os esgotos da maior parte da margem direita, entre Lisboa e Cascais. Sanearam-se assim, definitivamente as praias da Linha, outrora lindas e poéticas sarjetas mais ou menos encapotadas dos dejectos das povoações ribeirinhas. Eis que rebenta agora a bomba do desaguadouro do Terreiro do Paço.

Os esgotos de cerca de 100.000 lisboetas são vertidos no Tejo, quase em frente da Praça do Comércio. Nem sempre isso ocorria à socapa, porque às vezes notava-se e as pessoas desconfiavam...

Há coisas que não são fáceis de compreender. Lá que os romanos, há quase dois mil anos, fizessem teatros e mandassem os esgotos de meia dúzia de gatos-pingados para o Tejo, ainda se tolera. Mas que uma cidade com mais de 500.000 habitantes utilize, nos dias de hoje, o rio emblemático, para se ver livre da sua porcaria, não pode tolerar-se.

Igualmente é intolerável que o município mais importante do país tenha passado o tempo a fazer obras locais continuadas de infra estruturas várias, pavimentações, estações e túneis do metro subterrâneo, durante vários anos, sem dar-se conta de que porcaria corria mesmo por ali, na direcção do rio...Ou fizesse mesmo vista grossa...

Pura incompetência ou simples laxismo? Já não me entra na cabeça que alguma administração vidente tenha ocultado o fenómeno e o deixado para os vindouros, com intuitos menos confessáveis.

A verdade é que a actual administração municipal vai, finalmente, deitar mãos à obra que já deveria ter sido executada há dezenas de anos ou, pelo menos, nos últimos anos, aproveitando os numerosos trabalhos efectuados no Terreiro do Paço e imediações.

Eu, que já tinha planeado, com a chegada de alguns dias de sol sem nuvens, sair a fotografar o D. José e as novas colunas do cais, que bem merecem, após tantos anos de perfurações, desmontagens e tapumes, vou ter que me abster durante mais um ano ou dois, antes de matar saudades...

Isso é o menos, ante os tapumes, as chatices de trânsito e o pivete que as obras irão causar na tão celebrada Sala de Visitas de Lisboa. Mas tudo valerá a pena, se os esgotos forem retirados do Tejo e definitivamente enviados para tratamento na ETAR de Alcântara.

Os golfinhos, os turistas e os lisboetas irão agradecer. Até eu, que não sou de Lisboa!

Vale mais tarde que nunca!

E já pensaram, por acaso, o que seria se, por uma contradição da natureza, os esgotos corressem para cima e desaguassem no Castelo?

Dá vontade de rir, mas não é assim tão absurdo.

O recinto de um bonito e histórico Castelo de que não vou dizer o nome, há largos anos foi transformado no cemitério da respectiva cidade...

Em que outro país se poderia ver tal coisa, a não ser neste Portugal de contrastes, onde tudo parece funcionar ao contrário?

Deus nos livre, ao menos, de uma forte maré-cheia, antes das obras estarem concluídas no Terreiro do Paço...

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