A mulher mais velha do mundo, a portuguesa Maria de Jesus morreu, esta sexta-feira, na freguesia da Madalena,
Levantou-se, tomou o pequeno-almoço como habitualmente, e foi enviada por precaução ao hospital, numa ambulância, devido a um pequeno inchaço...
Aqui fica mais um registo para o Guiness, no que a senhora parece ter sido fértil. Na realidade, Maria de Jesus nasceu a 10 de Setembro de 1893 na freguesia de Urqueira, concelho de Ourém, acabando por percorrer três séculos, sobrevivendo a numerosas dificuldades da vida, tendo como única precaução conhecida a abstenção de bebidas alcoólicas e de café. De há um tempo a esta parte, tomava, como único remédio, um comprimido de conhecido hipotensor.
Mas o mais interessante da vida desta senhora nem é a sua resistência física, num ambiente de trabalho e de pobreza, rodeada de filhos, netos e demais descendentes, mas a sua vontade de viver, pois já depois de fazer os cem anos, aprendeu a ler, corajosamente.
Também é de realçar a coragem desta mulher que atravessou não sei quantas crises económicas, políticas e sociais, mudanças de regime e de formas de vida, guerras, fomes, misérias, revoluções e desatinos sem conto. A tudo conseguiu sobreviver, devido talvez à sua postura cheia de bondade e isenta de radicalismos, dando aos portugueses e ao mundo em geral uma lição tremenda e inesquecível de trabalho, numa convivência exemplar em sociedade.
Em Portugal, apesar das páginas e páginas de notícias aberrantes com que os jornais e as TVs se esmeram em preencher todos os cantinhos das nossas vidas, já cheias das numerosas dificuldades do dia-a-dia, sabe bem, de vez em quando, ao menos, ter conhecimento de exemplos destes, aos quais deveria ser dado mais espaço jornalístico do que um cantinho em rodapé, no meio dos grandes relatos dos assaltos do dia. Honra seja feita ao Diário de Notícias que já noticiara, há meses, a ida do Presidente da Câmara de Tomar à homenagem do último aniversário da senhora, apresentando-lhe os cumprimentos da população e trocando dois dedos de conversa com a velhinha que ainda mostrava razoável entendimento.
O Diário de Notícias de hoje, noutro espaço a desdizer do habitual décimo de coluna reservado geralmente a estes acontecimentos, dá a notícia de que, na freguesia de Grijó, vila nova de Gaia, vive o «jovem» Augusto Moreira, de 112 anos feitos a 6 de Outubro de 2008, o homem mais velho de Portugal desde o falecimento, ontem, de Maria de Jesus.
Trata-se do quarto homem mais velho do mundo e o segundo da Europa! Como curiosidades, a notícia dava os seguintes factos da sua vida atribulada, também cheia de trabalho e de dificuldades: aos 108 anos ainda andava de enxada na mão, lavrando os campos, e bebia a sua pinguinha de tinto, desde jovem!
Não dizia a notícia se o Augusto Moreira sabia ler ou não, como a Maria de Jesus. No entanto, podemos estar cientes de que ambos podem ser considerados uns autênticos sábios da verdadeira postura moral a seguir na vida, certamente donos duma felicidade interior sem ambições, sem exageros, sem condecorações, mas duradoura...
Alguém disse já que a felicidade não tem idade. Mas que dizer de quem soube mantê-la durante uma vida mais que centenária?
Um outro caso citado no jornal, fazendo igualmente jus ao espaço concedido, é o de um médico de 93 anos, com 68 de exercício da profissão, que já tratou mais de um milhão de doentes ao longo da sua carreira, e continua a exercer durante cinco dias por semana, num verdadeiro sacerdócio tão raro nos nossos dias.
Vem esta notícia a propósito de outra muito mais destacada, acerca de uma medida em estudo pela Ministra da Saúde que prevê a possibilidade de utilização voluntária de médicos reformados para colmatar a falta de clínicos em algumas áreas do sobrecarregado Serviço Nacional de Saúde.
A qualquer um poderia ter ocorrido semelhante ideia, que em tempo de guerra não se limpam armas. Mas o trágico da reacção a esta medida é que o Sindicato dos Médicos e a respectiva Ordem vieram já protestar, defendendo os seus interesses corporativos a todo o custo!
Não é a primeira vez. Há uns meses, a Ordem e o Sindicato protestaram violentamente contra a Administração e contra um médico reformado que exerceu sem uma queixa, durante quinze dias no Posto de Saúde de Odemira, a substituir o clínico oficial doente.
É caso para perguntar, a estes senhores onde acham eles que está a felicidade e o cumprimento mais adequado do Regimento de Hipócrates, no desempenho altruísta de um colega com 93 anos, ou na defesa calculista dos seus negócios, sem respeito pelos doentes?
O mundo está às avessas e não é por culpa da cultura, da ciência ou da sapiência dos homens, mas unicamente por causa das suas ambições desmedidas, da sua concupiscência.
Como foi, e ainda é diferente a atitude daqueles idosos que até teriam razões de sobra para protestar, como a Maria de Jesus, o Augusto Moreira e o médico Armindo Ribeiro, que levaram uma vida exemplar ao serviço do próximo, sem falácias nem penachos!...
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