quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

CABELO BRANCO É SAUDADE


Os homens são uns malandros!

Mais um estudo, igual a tantos outros, vem hoje publicitado na Comunicação Social. Pretende demonstrar que são os genes os principais responsáveis pelos cabelos brancos que se vão adquirindo ao longo da vida e que o stress ou a dieta pouco interferem nesta equação, ao contrário do que muita gente pensa.
Ora eu, que sou um ignorante em matéria de cabelos, sejam brancos, pretos ou oxigenados, fiquei a saber, sem margem para dúvidas, que tudo o que até aqui se vem dizendo a este respeito, pelo mundo fora, desde tempos imemoriais, deve ter sido uma invenção de Matusalém transmitida através de gerações incultas, tanto mais que, na época do várias vezes centenário patriarca bíblico não havia universidades nem estudos, nem outras fontes de conhecimento avançado que permitissem à meia dúzia de humanos carecas e barbudos seus compatriotas concluir outra coisa ou o seu contrário. De facto, filosofando um pouco sobre este tema, nem mesmo outra conclusão diferente Matusalém poderia ter sugerido ao mundo porque, no seu tempo, não havia computadores, nem stress, nem Mac Donald´s, e as dietas, se existiam, não eram naturais, mas naturalmente provocadas pela eventual escassez de alimentos, ou mesmo pela fome acidental. Interiorizou e legislou para s vindouros que as dificuldades e as amarguras da vida eram a causa dos cabelos brancos…Só nos nossos dias é que nasceram os stresses e as dietas.
Por outro lado, desde que a descodificação do ADN entrou na berlinda do nosso quotidiano, nada haverá que não seja atribuído aos genes ou às suas potenciais combinações, por cientistas (cada vez em maior número) ou simples cavadores de enxada (quase em vias de extinção).
Para mim, este estudo só peca, pois, por defeito, porque o interessante seria a identificação do gene ou combinação de genes responsáveis pelo aparecimento dos cabelos brancos. E, chegados a este ponto, verificamos que os autores do tal estudo (parece que a maioria era de mulheres) não tiveram estaleca para tanto, e se quedaram pela trivial conclusão agora publicitada num conhecido periódico, entre artigos de caça à droga, violência doméstica ou fofoca do Face Oculta.
Mas foi assim, através da leitura da notícia, que me lembrei de um fado velhinho que o malogrado Alfredo Marceneiro cantava, mesmo sem estudos literários ou outros quaisquer, incluindo o da própria guitarra que o acompanhava, «cabelo branco é saudade» … Nunca foi desmentido, que eu saiba.
A sorte dele e dos actuais fadistas, aliás, é que os fazedores de estudos, que hoje pululam por aí, não gostam nem percebem nada de fado. E, sendo assim, poderão estar descansados. Mal fora, se algum destes investigadores se lembrasse de estudar a relação dos cabelos brancos com a saudade, para concluir, cheio de glória, que isso não passava do efeito de um maldito gene…
Mas há maduros capazes de tudo.
Os genes originam coisas engraçadas, a par de outras que não têm graça nenhuma. Um amigo que conheci, com cabelo mais retinto que a graxa com que tingia os sapatos, foi vitimado por uma terrível doença que, em curtos anos, os deixou quase da cor da cal da parede. É mais que sabido que certos agentes químicos utilizados em terapêutica, em casos como este e outros, podem provocar a descoloração do cabelo ou mesmo o aparecimento de brancas.
O estudo a que me refiro, contudo, foi realizado, segundo a notícia, em duzentas irmãs gémeas, homo e heterozigóticas, de idades entre os cinquenta e nove e os oitenta e um anos, sendo que, segundo uma investigadora, os resultados apenas nas falsas gémeas destoavam um pouco, o que era natural. Porém, a estudiosa, cientista e dermatologista britânica, acrescentava no fim, à cautela, que pode haver excepções…
E assim, ainda não foi desta que os tês biliões de mulheres que há neste mundo ficaram a saber a partir de que idade necessitarão de ir ao cabeleireiro tingir os cabelos, para mudar de visual…
Quanto aos homens, nada é referido, provavelmente porque muitos deles cedo ficam carecas. São uns malandros!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DA SUCATA À LIPOASPIRAÇÃO

Abusos da estética

As notícias dão conta de que o treinador do Nacional da Madeira está e perigo de vida, depois de ter sido submetido a uma «banal» lipoaspiração.
Este tipo de intervenções está na moda. De há uns anos a esta parte, montes de lipoaspirações são praticadas no nosso país, de tal modo que, especialmente entre as mulheres, fazer uma lipoaspiração é como dizer que vou ali e já volto…
Infelizmente, algumas foram e já não voltaram.
A face oculta destas anomalias, -se é que se pode chamar simples anomalia àquilo que acontece quando executado em cima de outra anomalia que é a vulgarização de uma plástica absolutamente desnecessária, levada a cabo exclusivamente por motivos estéticos, de que não andará certamente afastada a cumplicidade e ganância de alguns executantes menos sérios -reside provavelmente na existência na medicina, como na Política, como na Justiça, como em todas as profissões, de autênticos sucateiros.
Longe de mim tentar denegrir esta profissão que agora está na moda tomar como paradigma para tudo o que de mau venha a lume, por uma imprensa aberrante de sensacionalismos oportunistas, na ânsia pura da sobrevivência ou de fazer negócio, muito mais do que informar simples e honestamente o público. Agora, por exemplo, estão também na moda, pelos maus motivos, os sucateiros, como ontem estiveram os habitantes da Pedreira dos Húngaros, da Bela Vista, do Aleixo ou da Cova da Moura e por aí fora, estigmatizados desde então para cá com um ferrete de que não conseguirão libertar-se, nos próximos cem anos! Ora, sucateiros há muitos e dignos, exercendo uma profissão tão digna como qualquer outra, e o crime de um sucateiro transviado não poderá ser transferido para o seu mister e generalizado de ânimo leve a todos os outros, como se fosse um bando ou uma quadrilha organizada de malfeitores, imagem que é passada aos leitores subliminar e inconscientemente.
Quando chamo sucateiros a alguns profissionais, ressalvo, pois, que não pretendo denegrir aqueles, mas simplesmente dizer que alguns destes não estão à altura das suas responsabilidades na defesa da vida humana e nada mais, coisa que aos homens da sucata não pode exigir-se no mesmo grau.
Várias mortes têm sido anunciadas, na execução da técnica de lipoaspiração, algumas talvez acidentais, mas outras por mera incúria, rotina ou até um certo facilitismo que tende a atribuir a um acto médico desta natureza um alto grau de banalidade inócua. Numa das mortes, por exemplo, averiguou-se que o operador era um habilidoso especialista de Urologia! Muitos dos lipoaspiradores não são especialistas, como reconhece a Ordem dos Médicos, e há já um rol de histórias lamentáveis, na própria Ordem e na Deco. A Justiça, pelo seu lado, parece nunca ter culpado ou penalizado quem quer que fosse.
Não sei o que haverá influenciado o treinador do Nacional, no sentido de efectuar a liposapiração. Mas, muito provavelmente, terá pesado na decisão uma opção estética doentia e o facilitismo de quem o induziu a tomá-la ou a praticou. Num mundo cada vez mais regido por problemas de economia, vulgo lucro criminoso, e pelo abuso de padrões de beleza completamente aberrantes, em prejuízo dos verdadeiros cânones da Moral e da Estética que nos regeram durante milénios, tudo é possível acontecer.
Com a extensão da globalização a Portugal, já vimos médicos ucranianos a fazer de trolhas e portanto, não deverá surpreender-nos agora ver sucateiros a fazer de médicos. Só que, neste caso, a gravidade dos erros cometidos é muito maior…
Não dá para fazer humor negro com estas situações tão bizarras quanto trágicas, mas é caso para lembrar a notícia de um crime hediondo que fez parangonas na Comunicação Social, há uns dias atrás, segundo a qual índios semi-selvagens andinos assassinavam compatriotas para lhes extrair gordura, a negociar eventualmente com laboratórios de cosmética europeus. Se a moda pega por estas bandas, sobretudo depois da vulgarização campeã do fast food, muita gente não escapará.
Pela minha parte, jamais me apanharão. Nem que tenha que morrer de fome!
Não sei se o caso que ocorre com o treinador do Nacional se deve a descuido, a erro de rotina, ou a puro acidente imprevisto mas, desde já, faço votos para que ele escape desta.