quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

PÃO E PROZAC

Maria Antonieta e os brioches

Por causa de uma fuga do país mal conseguida e de umas respostas absurdas e infelizes dadas à populaça faminta, mas que ficaram na História, Maria Antonieta perdeu a cabeça. Outras razões não interessam para este caso.

Há uns anos, apareceu no mercado um psicofármaco, com indicações terapêuticas nos casos de depressão, de bulimia nervosa e de doença obsessiva compulsiva, a fluoxetina, comercializada inicialmente sob o nome de Prozac. Cedo começou a ser utilizado como panaceia na cura dos mais diversos males da cabeça e não só, não obstante um bom número de reacções adversas e contra indicações referenciadas. Dessa maneira, tomar Prozac passou a ser o mesmo, para muita gente, que levar pão à boca. E portanto os resultados destes exageros não se fizeram esperar.

Hoje, passados vários anos do início da utilização desse medicamento, sempre em maré-alta e por vezes descuidada, apareceu na imprensa um estudo de investigadores ingleses deitando abaixo a acção do Prozac, em determinadas circunstâncias. Logo alguns oportunistas tiraram as suas conclusões apressadas, chamando a atenção do público para os altos rendimentos das empresas farmacêuticas, com a venda do produto. Dias passados, logo a mesma imprensa publicitava que estas estavam a ficar preocupadas com as notícias que circulavam.

Também alguns comentaristas nacionais embarcaram na onda desse comentário superficial ou tendencioso. Um deles iniciava o seu artigo de opinião com a publicação da seguinte notícia:

Uma equipa de investigadores de uma universidade britânica está a deixar em pânico a indústria farmacêutica, nomeadamente os fabricantes de antidepressivos como o Prozac, o Seroxat ou os genéricos de fluoxetina, que em Portugal vendem cerca de seis milhões de embalagens por ano.

E continuava:

«O que dizem eles? Que os doentes “moderadamente deprimidos” não notam a diferença entre serem tratados com antidepressivos ou com placebos……... O género humano vive de substituições: um amor por outro, um gesto por outro, uma palavra por outra. O importante é que se acredite que a promessa de redenção e de felicidade se mantém, original e intacta. Imaginando que este estudo tem pernas para andar, iremos assistir a outra etapa: psicanalistas, psicólogos e terapeutas terão a vida mais difícil.»

Tem a sua graça, mas ofende.

A verdade é que todos os medicamentos, antes de ser aprovados e lançados no mercado, são testados contra placebos em milhares de casos e depois em populações significativas. Infelizmente, acontece que o uso que depois se faz deles, pelos pacientes e mesmo pelos próprios médicos, é muitas vezes desajustado às situações, abusivo e até contra indicado. Esse é o verdadeiro problema que deve afligir-nos.

O mesmo senhor comentava desta maneira o anunciado aumento de preço do pão:

«O preço do pão pode aumentar 50%. Há uns anos faria muita diferença; mas o País que sobrevivia a pão e sardinha já não existe e hoje evita hidratos de carbono para não prejudicar a linha. Se no séc. XVIII Maria Antonieta recomendou ao povo que comesse brioches por não ter pão, hoje diria que comessem bolachinhas. De dieta

O caso é que, mesmo hoje, no nosso país com tantos obesos, o pão ainda faz imensa falta a muita gente. Sem hidratos de carbono não se pode viver e o pão ainda é dos hidratos de carbono mais baratos.

Não dá para brincar com tal subida de preço, ainda que sob a carapaça de Maria Antonieta que por essas e por outras acabou por ficar sem cabeça. E mesmo que o país já não viva a pão e sardinha!

É claro que, se o preço dos cereais vier a subir, esse aumento irá reflectir-se imediatamente no preço do pão…e das bolachinhas referenciadas, as quais, por isso, nem sequer poderão ser consideradas alternativa fiável para ninguém!

. É provável até que, com a subida do preço do pão, venha a assistir-se, paulatinamente, ao aumento do consumo do Prozac, ou dos outros antidepressivos da concorrência....

Não se trata de nenhuma ficção. Estas são previsões para as quais não será necessário fazer nenhuma investigação, nem no Reino Unido, nem em qualquer outro país.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

JUSTIÇA VIRGULISTA E BIRRENTA

Consequências de um atropelamento mortal

A Justiça até pode ter razão, do seu ponto de vista mas, do ponto de vista do cidadão comum, não se livra da opinião generalizada de ter demorado…e de ter realizado um mau juízo. Nos tempos de hoje, não são admissíveis à gente adulta e culta, nem a as demoras, nem as vírgulas a despropósito, nem as birras em assuntos sérios. E à Justiça, muito menos! A esta, na minha modesta opinião, deve competir a interpretação correcta da lei, sempre no seu espírito (que é primordial) e menos na sua forma (que é secundário). Assim fazem os juízes ingleses, no que se refere à sua Constituição que nem sequer é escrita!
Mas a Justiça também tem as suas justificações. Para nós, latinos, uma simples vírgula num código, faz toda a diferença e pode gerar as interpretações mais diversas da lei…embora o seu espírito não devesse sequer ser posto em causa.
Infelizmente, a caricatura que vem hoje publicada num dos nossos diários é o exemplo claro do que acabo de dizer.
Deus nos livre de que algum familiar nosso venha a ser atropelado numa passadeira com o sinal amarelo para as viaturas! O melhor será limitar-se a chorar a vítima e desistir, logo à partida, de levar uma queixa à Justiça. Arrisca-se a perder vários anos amargurados, perante a «exemplar e rápida» actuação desta e, como se não bastasse…a vê-la arquivada sem remédio, perante as birras dos magistrados, em guerrinhas infantis…com ar compenetrado. Esta das birras não é invenção minha, é novidade. Estamos sempre a aprender!
Aqui vai a notícia, para quem queira divertir-se um pouco. Chorar já não adianta:

«05/01/2004. A estudante do 10.º ano saía das aulas, na Secundária do Restelo, às 13h15 de 5 de Novembro de 2004. Atravessou a estrada para apanhar o autocarro mas o sinal ainda estava vermelho para os peões. Dois carros pararam no amarelo para as crianças passarem; enquanto G.R.A., ao volante do seu Porsche, passou pela terceira faixa e colheu Rita.
«O corpo de Rita foi projectado a cinco metros. Bateu no semáforo e arrancou-o do chão. A rapariga de 15 anos acabava de ser colhida por um Porsche junto à escola, na passadeira. Morreu.
«Foram ouvidas 11 testemunhas e várias falaram em excesso de velocidade. Mas o cálculo que faria fé em tribunal deveria ter sido pedido ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil.»
«26/04/05. Ministério Público (MP) decide acusar o condutor por homicídio negligente, apesar de não referir na acusação qual a velocidade excessiva em causa.
«19/01/06 Juiz de instrução criminal devolve a acusação ao MP. O processo não segue para julgamento sem que o magistrado estime a velocidade em causa.
«03/10/06. MP insiste em não alterar a acusação e obriga o juiz a arquivar todo o processo
«31/01/07. Pai da vítima recorre para a Relação mas já nada há a fazer. Três desembargadores acusam o MP de ter prejudicado a investigação por “birra”. Resta ao pai pedir uma indemnização cível.
«O acórdão refere ainda que a “birra” do procurador também é contra o seu colega que representou o MP no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. PGR MANDA ARQUIVAR»
O comentário do pai, que copio, a seguir, pode não ser o mais correcto mas, que outra coisa, além deste desabafo, poderia esperar-se dos factos ocorridos e atrás descritos?
«Três anos e quatro meses depois de a filha morrer atropelada, António Marques da Silva continua “à espera de justiça” e diz que há-de conseguir. “Para comentar a actuação do Ministério Público, tenho de me socorrer das recentes declarações do bastonário da Ordem dos Advogados... Ele está dentro do meio e lá saberá o que diz – ou a justiça está a dormir ou há aqui interesses que se levantam. Mas, sabendo nós que se trata [o condutor do Porsche] do filho de um alto oficial da Marinha na reserva não sei o que estará por detrás de tudo isto”. Resta-lhe para já o recurso ao cível – mas “nunca será com uma eventual indemnização que se fará justiça...”.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

VINHAS, VINHOS E TASCAS

Crónica de uma certa evolução alcoólica

No princípio do Verão passado tive a ideia brilhante de dar uma passeata a Barca de Alva, atravessar o Douro e percorrer vários quilómetros de curvas e contracurvas por entre as vinhas plantadas nos socalcos que bordejam o rio, a verdadeira origem do tão afamado Vinho do Porto. Há muito tempo que não fazia semelhante viagem e pude apreciar de novo a paisagem magnífica de cores únicas, impossíveis de descrever, de uma beleza incomparável.

Deu-me para pensar, durante o percurso, como teria sido possível a construção daqueles muros, daqueles patamares imensos com a plantação intensiva e exclusiva daquelas vinhas a perder de vista, tudo sem máquinas, só a pulso e com o esforço de muitos braços, num terreno agreste, de uma inclinação complicativa que apenas terminava no rio profundo, perigoso, de corrente violenta e rápida.

Lembrei-me da primeira vez que fizera tal trajecto e da impressão fantástica que tivera, sobretudo porque era Outono e as folhagens apresentavam aquela mistura indefinida de tons entre o verde, o ocre, o vermelhão, o castanho. E no meio, salpicando a paisagem, as casinhas brancas, as adegas…

A certa altura, cansado da perigosa e demorada viagem, parei, já não sei onde, para descansar, sentei-me por momentos numa pequena esplanada, a tomar um café e a apreciar calmamente o panorama que se divisava dali.

E então os meus pensamentos levaram-me até uns cinquenta anos atrás e ocorreram-me algumas descrições fabulosas que tinha lido, de escritores do romantismo do século XIX sobre as Terras, as gentes, os seus usos e costumes, a sua difícil forma de vida no meio daquela beleza, provavelmente a única coisa susceptível de lhe trazer alguma felicidade…

As coisas evoluíram bastante, desde esses tempos do carro de bois e do cesto de vime ao ombro, vezes sem conta, montes acima.

Sempre desejei ler tudo o que me aparecia sobre esta região e o seu principal produto - o vinho. Mas mesmo há cinquenta anos, parecia-me bem difícil encontrar livros sobre vinhos, mesmo percorrendo boa parte das livrarias de referência. As edições que se encontravam eram escritas por alguém de certa elite social ou a ela ligado, eram limitadas, feitas em papel couché, primorosamente encadernadas e pouco acessíveis à maioria das bolsas.

Continuávamos ainda, nessa altura, na época das vinhas tradicionais tão idolatradas, com as cepas cuidadas sempre da mesma forma, utilizando técnica que passava de pais para filhos, desde centenas de anos atrás. Também era a época das tascas a cada esquina, aos milhares por esse país fora, quase tantas como os bêbados que ziguezagueavam nas estradas, ou caíam roncando com esforço até cair de mortos nas valetas.

O alcoolismo tornara-se uma doença comum, uma verdadeira epidemia sufragada pelas sopas de cavalo cansado a que nem as crianças de tenra idade escapavam, ao pequeno-almoço, antes de partir para a escola, ou para os trabalhos do campo. Adaptararam-se hospitais para tratar desta lacra social e a utilização ou compra de vinho foi mesmo proibida nos estabelecimentos de venda ao público, a menores de 16 anos.

Mas foi preciso entrarmos na CE para se estabelecerem regras rígidas na preparação de áreas demarcadas para o cultivo da vinha, no fabrico do vinho, na sua armazenagem, no seu transporte, na sua comercialização. E hoje, ao desaparecimento das tascas e das zurrapas, sobrepôs-se o aparecimento de bares e de marcas de qualidade declarada, registada e apreciada!

De repente, apareceram dezenas de livros sobre vinhos, de todas as formas e feitios, nas livrarias ou nos supermercados, escritos pelas mais diversas personagens, promovidos pelas mais diversas marcas e empresas do ramo, ou simples exploradores turísticos.

Um grande progresso teve lugar, portanto, nestes últimos trinta anos, quanto ao cultivo da vinha e à exploração vitivinícola.

E ainda bem.

No entanto, nesta época em que vivemos, e em contraposição, se os bêbados desapareceram das estradas onde circulavam a pé porque os carros eram raros e o nível de vida era baixo, parece que se transferiram para o interior dos milhares de automóveis que agora circulam nelas.

Que tal evolução!

Ora, se antigamente acontecia os alcoólicos virem a falecer nas bermas, agora sucede que, não só morrem eles próprios ao volante, como matam quem os acompanha ou quem apanham pela frente, tanto faz que seja na berma, como no alcatrão…

Paguei o café, enchi-me de coragem e meti-me no carro, de regresso a casa, trezentos e tal quilómetros adiante. Felizmente não encontrei bêbados no caminho e cheguei sem novidade.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

DURA LEX, SED IRS…

Crónica da Quercus e do ambiente fiscal

No país das capitais, onde já contei mais de trinta e provavelmente não são todas, começando na Capital do Norte e acabando na Capital da Chanfana, as anedotas sucedem-se na C. S., a um ritmo avassalador, sempre de acordo com o aumento do número de páginas publicadas. E ainda bem que assim é, porque os portugueses já não têm pachorra para ler coisas sérias sobre assuntos ridículos e coisas aberrantes sobre assuntos sérios, todos os dias passadas na imprensa diária. Talvez assim os leitores descuidados ou desprevenidos tenham papel de sobra para as suas necessidades ou emergências íntimas. Porque, num periódico de 100 páginas, podem ser aproveitadas 95 para esse efeito e apenas 5, com muitas reservas, para arquivo. Menos mal que agora se vão alargando as zonas dos ecopontos pelo pais fora devendo atingir, dentro de breves anos, a totalidade das zonas habitadas e, sendo assim, há sempre uma possibilidade cada vez mais alargada de reciclar o papel tão absurdamente desperdiçado, mesmo depois de usado em assuntos tão fundamentais ao corpo humano.

Já o mesmo não se passa com as árvores donde se fabrica a pasta de papel, cada vez mais cortadas cerce, sem possibilidade de reposição, tanto mais que os famigerados ecologistas se atiram como macaco à banana, aos plantadores nacionais de eucaliptos que, segundo dizem, chupam a água dos terrenos em proveito do papel, mas cujas folhas alguns poucos agricultores mais esclarecidos colhem e exportam para a extracção, sempre e só no estrangeiro, de essências para a Indústria Farmacêutica, Cosmética e outras, com lucros assinaláveis para os quais não somos, nem queremos sobranceiramente ser perdidos nem achados.

E aqui está como a Quercus, interessando-se pelo supra sumo da qualidade de vida do país, do aproveitamento integral da água e da conservação da natureza, consome muito mais papel que eu (que utilizo quase 99,9% das vezes em que escrevo, o computador), mandando para a Comunicação Social balelas atrás de balelas, a fundamentação zero!

Interessante seria que a Quercus combatesse a utilização intensiva do petróleo, promovesse a pesquisa, o fabrico económico, a armazenagem, o transporte e a utilização fácil de energias alternativas limpas baratas, como o hidrogénio, por exemplo, e se deixasse de exageros, enquanto faz uso do automóvel até à exaustão, mais do que muitos outros humanos que nem são ecologistas, ou ainda vegetam à fome, de rastos como as lagartixas que tanto protegem …

Agora está na moda destes senhores o biodisel, lançado como a panaceia universal, promovendo a reserva de milhares de hectares de terrenos, alguns ocupados por florestas protectoras, para o cultivo de plantas para abate e combustão, mas esquecendo-se de que a alimentação está em primeiro lugar para a Humanidade, com organismos geneticamente modificados ou não. Os cereais começam a aumentar de preço, as populações não comem biodisel, as áreas agrícolas depressa se degradam, e ficaremos entregues à sorte de alguém descobrir mais uma solução de recurso para quinze ou vinte anos…

Claro que estes problemas ainda não estão bem visíveis neste país das capitais, porque a C.S. perde o seu tempo com a fofoca, embora cada vez haja menos castanhas na Capital Carrazeda de Anciães, ou carne de cabra na Capital Nacional da Chanfana que é Foz de Arouce. E, quando o petróleo escassear ou estiver a uns bons centos de euros o litro, até a Capital Nacional das Rotundas que é Viseu ficará entregue aos bichos…se eles ainda tiverem que comer, nessa altura!

Também os pais vão ter, então, grandes dificuldades para obter alimentos para os filhos, mesmo que o Pai da Engenharia Nacional ressuscite, mesmo que o Pai do Satélite Português se esfalfe por resolver equações matemáticas para trazer benefícios de outros mundos, mesmo que o Pai do IRS e do IRC em Portugal ganhe todas as questões que o opõem ao fisco, como relata uma notícia caricata de hoje. Deus nos acuda!

Entretanto, e até lá, sigamos a velhinha máxima das Selecções: «Rir é o melhor remédio».


Aqui vai a transcrição da notícia, para quem não acredite no que estou dizendo:

25-02-2008 7:27:23

«Pai do IRS e IRC alvo de penhora após pagar dívida
O Fisco mandou congelar conta bancária de Paulo Pitta e Cunha, considerado o pai do IRS e do IRC em Portugal, mas o fiscalista denunciou a situação e a penhora foi entretanto anulada, revela o jornal Público esta segunda-feira.

A Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) penhorou uma conta bancária ao fiscalista e presidente da comissão que preparou a introdução do IRS e do IRC em Portugal, em 1989, Paulo Pitta e Cunha, por uma alegada dívida de pouco mais de 340 euros…».

domingo, 24 de fevereiro de 2008

CRÓNICA DO XEQUE-MATE SALOIO

Deixem trabalhar a PJ

Acabei de ler o comentário de um «opinion maker» da nossa praça, em que referia, entre outras passagens pouco felizes, que a demissão de um Director da PJ que reside no Porto, a Capital autónoma do Norte e do Trabalho, tinha sido um xeque-mate ao Procurador-Geral da República, que reside em Lisboa, a Capital do Poder, dos burocratas e dos malandros…Não foi escrito, mas subentende-se, é tradicional.

Achei uma certa graça e não dei grande atenção ao comentário. Trivialidades destas estou já habituado a ler, há muitos anos.

Mas, aquilo que eu julgava uma bolinha de sabão, afinal era algo mais. Tinha-se transformado num aerostato! Isto porque, mais adiante, outro comentarista encartado atirava-se ao governo como gato a bofe, culpando-o de tudo o que estava a acontecer na PJ, a coitadinha de serviço neste caso, desde o descontentamento pelos vencimentos e reformas, às guerras entre Norte e Sul, às interferências «abusivas» do Ministério Público, etc, tudo por causa da não publicação de uma certa lei reformadora…

E um terceiro referia-se às rivalidades de protagonismo entre o Ministro da Justiça e o Procurador-Geral, que teria sido ultrapassado, desautorizado, etc.

Já não aguentei mais. Que será preciso para que as pessoas que escrevem se dediquem a dar ideias, a fazer comentários justos, e deixem a fofoca permanente e destruidora? O país não necessita dessas coisas

Mas a verdade é que está na moda atirar pedras, seja a quem for que tenha um mínimo de autoridade ou queira fazer um pouco de governação. A Intifada, da invenção do Yasser Arafat e seus apoiantes, tornou-se um símbolo de luta por uma liberdade ideal inatingível, aquela que não vai a lado nenhum a não ser a guerra, a destruição, a fome e a miséria.

Ora o Governo e o Procurador são, neste momento, os detentores da Palestina cá deste Burgo e vá de atirar-lhes pedras até fartar. O magistrado, que até há uns meses era o supra sumo, despromovem-no ao nível de um vulgar funcionário. O Governo que já foi, no início, o depositário de todas as esperanças para corrigir os nossos males passados e futuros, culpa-se de todo o mal que existe, de autismo, de autoritarismo feroz, de fazer tudo à bruta…e agora, a dois anos das eleições legislativas, de tudo fazer apenas para propaganda política eleitoralista...

E aqui está o retrato fiel do espírito burguês campónio, finório e oportunista do portuguesinho desta aldeia que embandeira em arco nas festividades saloias e mata à sacholada na discussão pela gota de água do poço que já não chega ao rego da horta.

A qualquer comentarista sério que se preze exige-se, acima de tudo, independência, honestidade para lá do xeque-mate tortuoso e inteligente, da intifada violenta e popularucha, de tantos malabarismos adequados às circunstâncias ou de terrorismos alqaédicos da moda, mesmo literalmente falando.

Ninguém foi capaz de chamar a atenção, e isso era o primordial, dos senhores da PJ e do Ministério Público para o facto de que a virtude está no trabalho eficaz de conjunto para que foram criados, não na fragmentação de interesses mesquinhos. Tentou explorar-se ao máximo a polémica desnecessária e a desunião que não conduz a nada.

Deixem ao menos a PJ e o Ministério Público trabalhar, que bem são precisos ao país! Não lhes inventem ou aumentem os problemas que os afligem e, sobretudo, não fabriquem ou explorem novas tricas entre eles, que só servem para corroer as instituições e a própria Sociedade.

E quanto ao governo, ponham os erros da governação a nu, sem medo e, se souberem, alvitrem soluções e correcções, não se envergonhando de confessar também quando se enganam, ou de elogiar quando ele merece. A honestidade vale milhões!

Imaginar um xeque-mate para preencher o comentário obrigatório do dia, desancando o primeiro que aparece pela frente, não é coisa que deva fazer-se, muito menos de que eu goste.

Nem o xeque-mate foi inventado para fofocas destas.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

O PESSIMISMO NACIONAL E A MÁ-LÍNGUA

Pequena crónica das profecias do Bandarra

22-2-2008. Um grupo selecto de personalidades especialistas em tudo e mais alguma coisa, sábias nas mais diversas disciplinas, armou-se em profeta das desgraças, inundou a imprensa do dia prognosticando um futuro negro para o país, tão escuro que nem o Prior do Crato, depois da derrota da Ribeira de Alcântara, foi capaz de prever!

Não fora o hábito inveterado que os portugueses cultos têm de fazer sobressair o seu pessimismo sobre as coisas mais importantes da nação, da mesma forma como eles e os restantes nacionais aplicam a má-língua quando se expressam sobre o vizinho do lado, o discurso destes senhores poderia ser tomado com alguma seriedade. Assim, com o derrotismo nacional tradicionalmente instalado de alto a baixo na sociedade portuguesa, propagandeado diariamente pela Comunicação Social como uma fatalidade, mais uma achega como esta pouco ou nada importa já.

Discursos deste tipo fazem parte da idiossincrasia pátria cultivada desde há séculos, neste país pequeno como uma aldeia grande, com as virtudes e defeitos inerentes. A elevação aos píncaros das vitórias insignificantes convive com o afogamento nas profundezas pelas derrotas mais mesquinhas e incríveis, levando sistematicamente ao desânimo sem fim à vista.

No fundo, no fundo, este é o resultado da má-língua institucionalizada, ou melhor, da maledicência ensinada nas escolas, profissionalizada nos empregos, vivida na própria vida familiar e cívica em geral, publicada e propagandeada finalmente, badalada aos quatro ventos por forma a que ninguém fique imune aos seus efeitos.

O resultado é este país de casmurros pessimistas a propósito de tudo e de nada, vestidos de cinzento e negro, com os olhos postos no chão, esperando a cada momento a chegada da sentença de morte, porque nada é bem feito por ninguém, nada se aproveita em parte nenhuma, todos os outros são uma corja de incompetentes, corruptos e criminosos e cada um é sempre vítima de qualquer carrasco ao virar da esquina.

E descobriram então estes Bandarras que a nação estava em perigo de morte!

Claro que, ao longo de séculos, muitos outros já haviam profetizado o mesmo, sem resultado. Bandarra só houve um, era natural de Trancoso onde tem justamente o seu monumento, e a história prova que foi sapateiro de profissão. Não consta que artistas de outras profissões se tenham distinguido nas profecias em Portugal, por mais cultos que sejam os seus membros!

Para grandes males (a toda a hora tão apregoados), lá diz o povo, há grandes remédios. É que, nos tempos de hoje, já ninguém acredita em profecias.

Estarei errado?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A LEI DO TABACO E OS FURA-REDES

Crónica do país sem polícias, sem ficais e sem juízes

Há bastantes anos, ainda eu era novinho, o Belenenses contratou um jogador oriundo das colónias, o conhecido Matateu que, durante vários anos, foi a dor de cabeça dos guarda-redes dos clubes adversários. Marcou tantos golos que os comentadores desportivos da imprensa diária o apelidaram de fura-redes! A verdade é que o Belenenses nunca voltou a ter, desde então, nenhum marcador de golos que se lhe assemelhasse. O Matateu ficou célebre e ainda hoje é lembrado pelos adeptos do futebol, tantos anos passados, e depois de tantos fura-redes mais tarde aparecidos nos nossos relvados.

Vem isto a propósito da «famigerada» Lei do Tabaco tão badalada, requerida e elogiada antes de ser posta em prática, sobretudo pelos não fumadores, como igualmente badalada, contestada e denegrida, especialmente pelos viciados do fumo do tabaco.

Apesar das discussões eternas prévias e de todos os obstáculos levantados à aplicação da lei, coisa que em Portugal sempre acontece quando ela é publicada no Diário da República, a Lei do Tabaco lá se vai aguentando, mesmo depois dos violentos protestos contra a ASAE, cujo Director Geral foi apanhado a fumar numa zona considerada, conforme a conveniência, de fumadores por uns, ou de não fumadores por outros…

E assim, dando este caso como exemplo, muitos outros tiveram lugar, ou simples hipóteses foram levantadas sobre a aplicação correcta da lei, os seus exageros, os parágrafos a mais ou a menos, aparecendo pelo meio da discussão estéril e parva, uns quantos fura-redes fumando ou permitindo fumar, à socapa ou à descarada, com base na simples displicência…ou na sua «superior» interpretação dos parágrafos do citado diploma legislativo.

Durante muitos anos, convenci-me de que, no estudo das leis e na sua aplicação, a palavra final era dos juízes, os homens íntegros legalmente destinados para o efeito, os quais, devido ao exagero que por vezes punham na sua interpretação, eu chamava até de virgulistas…

Mas agora, com o acirrar dos ânimos dos cidadãos que por tudo e por nada, por todos os meios buscam iludir uma lei que não lhes convém, com pleno desprezo dos outros, os fura redes foram aparecendo, cada vez mais numerosos, cada vez mais refinados e virgulistas, tentando arranjar fugas para o não cumprimento dos diplomas. Às vezes conseguem, no seu preciosismo doentio, levar a melhor sobre os polícias, os fiscais e os juízes, fazendo de bobos ou incompetentes os próprios legisladores.

Ontem pude apreciar um desses desplantes que os diários assim apresentam:

Diário Digital: «20-02-2008 17:44 Fuga à legislação do tabaco: Bares e discotecas do Porto dizem ter encontrado falha na lei. A Associação de Bares e Discotecas do Porto diz ter encontrado uma falha na lei do tabaco, que permite aos empresários contornar a proibição do fumo. Basta criarem associações sem fins lucrativos para que, de acordo com a legislação, já seja permitido fumar. »



SIC: «A Associação de Bares da Zona Histórica do Porto (ABZHP) apresenta quarta-feira dois espaços que conseguiram contornar as limitações impostas pela nova legislação sobre consumo de tabaco, revelando quais os argumentos jurídicos que permitem «fugir à lei», refere a Lusa. »

«Vamos apresentar dois off-shores para a Lei do Tabaco», afirmou António Fonseca, presidente da associação.»

Parece que, neste paraíso à beira-mar plantado, não há mais nada que fazer.

E aqui está um exemplo do que existe de mais caricato na nossa legislação, por mais parágrafos que contenha, e que a torna diferente da de outras paragens; há sempre, neste país de sábios de algibeira ou espertalhões de tasca, quem descubra nas linhas impressas no D.R. a falta de alguma vírgula, nalguma passagem estratégica! O que quer dizer que, apesar dos mil cuidados postos na redacção e tecedura das leis e, apesar deles, há sempre fura-redes especializados a viciá-las, no interesse próprio ou da pandilha …

Há dias, num grupo de amigos, um deles, inocentemente, na sua boa intenção, dizia que era necessária uma polícia ou uma fiscalização implacável, para meter tudo isto nos eixos. E logo outro fazia ver que isso não daria resultado nenhum, dado o extraordinário «profissionalismo» dos tais fura-redes, e o melhor era fazer sempre leis consensuais, para não haver a tentação das fugas…Um terceiro argumentou logo que isso seria impossível, mesmo utópico. E um quarto disse ainda:

-Quem me dera que em Portugal houvesse civismo quanto baste da parte dos cidadãos!

O sexto rematou:

-A verdade é que, se esses fura-redes não existissem, os polícias, os fiscais e os juízes não seriam precisos para nada!

Também eu me atrevi a formular o meu comentário:

-Meus caros, um país sem polícias, sem fiscais nem juízes, só no Céu! Nós estamos numa democracia apenas com trinta e quatro anos de existência onde o fura-redes Matateu ainda é rei, provavelmente mais humilde e honesto que muitos outros fura-vidas emproados que por aí vingam, dando voltas à lei ou à sombra dela…

Mas tentar modificar a mentalidade de dez milhões de paisanos, enraizada de séculos, seria pura utopia, tarefa inglória e sem fim à vista. Mesmo que fosse exibido o maior poder persuasivo do mundo!

Na verdade, e por muito que isso custe a uns quantos bem intencionados, entre os quais vaidosamente me incluo, só nos resta aguentar!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES

Quem não deve não teme

A avaliação está na moda. Que coisa haverá, nesta hora, em Portugal que não seja avaliada? Provavelmente, nada! Mas lá fora, há muito tempo que já é assim, existindo uma consciência cívica de rigor e cumprimento dos deveres que em certos países, como no Japão, chega a ser um exagero. Por muito que isso nos custe, andamos sempre a reboque do que se passa no estrangeiro.

Nas empresas privadas, a avaliação é norma imposta pela ética e pela própria lógica do negócio. Os empregados são avaliados pelo que produzem e os administradores são avaliados pelos resultados que conseguem, sendo reconduzidos ou demitidos pelos patrões ou pelos votos expressos dos accionistas nas assembleias gerais.

Também os alunos são avaliados pelos resultados que obtêm nos seus exames.

E os professores? E os restantes funcionários públicos?

Na vida pública, o grande número de funcionários, o laxismo das chefias, das autoridades e do funcionamento das instituições, foi tornando as avaliações obsoletas, na prática inexistentes. Quase não há memória de funcionários públicos despedidos ou que não tenham recebido nota para a sua promoção ou aumento salarial, no fim do prazo estipulado. Funcionalismo público significou sempre a estabilidade no emprego e a progressão na carreira garantida em todas as circunstâncias, devido à avaliação virtual e automática que se estabeleceu. Por isso, inverter a tendência e colocar o funcionalismo nos carris da eficiência e no apoio efectivo ao cidadão que lhe paga o salário é tão difícil.

Mas será que, quem paga aos funcionários públicos não tem o direito de exigir-lhes produtividade, como ocorre com os sócios e patrões de uma empresa privada relativamente aos empregados a quem remuneram?

Por outro lado, se todas as profissões são passíveis de avaliação, porque será que os funcionários públicos, e em especial os professores, não querem sê-lo, de verdade? Claro que é isso que pretendem, no fundo, embora não seja o que querem fazer crer para o exterior da classe, com as manifestações e as reclamações antigovernamentais sem sentido a que já nos vêm habituando, a que alguns juízes arcaicos por vezes dão cobertura aprovando providências cautelares aberrantes.

Julgam-se intocáveis, invejam que alguns colegas possam obter classificação superior, ou têm medo de ser preteridos pelo pouco que muitas vezes produzem?

Provavelmente. Mas quem não deve, não teme…

domingo, 17 de fevereiro de 2008

SELVAJARIAS NUM PAÍS CIVILIZADO

Crónica de pessoas e animais

Está a cair uma chuva miudinha, a conhecida chuva molha tolos e optei por ficar em casa, sentado ao computador, a catrapiscar notícias on line ou entretido com outros passatempos úteis. A certa altura, a propósito não sei de quê, lembrei-me de uns quantos casos há dias surgidos na Comunicação Social, e meti-me a escrever algumas linhas.

Um desses relatos mostrava a tradição de uma aldeia em que a população, pelo Carnaval, caçava um gato, metia-o numa panela de barro pendurada por uma corda no cimo de um poste, na base do qual era ateada uma fogueira, para gáudio da populaça. Quando as chamas cortavam a corda de amarração, o pote caía no chão, partia-se em mil bocados e o animal saia, se estava vivo e ainda tinha forças, fugia pelo meio da fogueira, aos saltos, perseguido pela rapaziada até ser morto à paulada, como suprema vitória.

Não sei se essa tradição vem da Idade Média ou coisa que o valha, mas seria interessante descobrir como foi possível manter-se até aos nossos dias. Em pleno século XXI, selvajarias destas são inadmissíveis, num país que se diz civilizado. Mas permanecem, como divertimento das gentes que, provavelmente, outros não têm. Por outro lado, também não sei se na Idade Média ou antes, essas populações não comeriam gatos e cães, como ainda fazem os chineses, tal como hoje em Portugal e em toda a Europa se comem coelhos, porcos, ovelhas, vacas e tantos outros animais, coisa que nada nos repugna.

Mas a forma de utilizar gatos domésticos para uma diversão selvagem, não nos dignifica nada!

Infelizmente, não fica o povo português só por aqui.

Quando era miúdo e passava férias na aldeia, havia uma festa religiosa a 15 de Agosto, em honra de N.ª S.ª da Guia., com missa cantada, procissão, foguetório até rebentar os tímpanos e, de tarde, após um almoço de quinze ou vinte pratos e largas canecas de vinho, uma banda de música tocava, num coreto, em volta do qual se realizavam divertimentos vários. Entre outras coisas, havia um leilão de ofertas para custear algumas despesas. Uma das animações promovidas pela comissão das festas, era a morte do galo.

Um galaroz avantajado, ofertado por algum devoto, era enterrado vivo, deixando-lhe apenas a cabeça de fora. Uma linha recta de uns dez metros de comprimento, era traçada no chão e apresentavam-se então os concorrentes à posse do galo, quase todos já bem bebidos, aos quais era colocada uma venda e dado um grosso cacete. O tirocinante tinha de calcular, às cegas, a distância e a posição da cabeça do animal, avançar direitinho, adivinhando o risco traçado e desferir o golpe fatídico na altura própria, o que lhe dava a sua posse. Se uns concorrentes eram desastrados, outros exibiam uma razoável pontaria e alguns chegavam mesmo a acertar no bico do animal. Até que lá vinha um mais sortudo que escaqueirava a cabeça do galo com o cacete, bebia mais um copázio de carrascão como prémio e entregava o galo à mulher para depenar e cozinhar para a pândega da noite.

Nas nossas aldeias, contudo, há muitas mais selvajarias encaradas com naturalidade e ai daquele autarca que tente opor-se a elas, mesmo a coberto de leis mais recentes. Não tenho a pretensão de descrevê-las. No entanto, não poso esquecer uma, a mais selvagem, para mim, a da matança do porco.

O suíno foi sempre uma tradicional forma de alimento das populações rurais e da confecção de enchidos, a maneira de conservar os alimentos nas épocas em que não havia frigoríficos e mesmo o sal era um luxo, nas zonas de interior. Ainda hoje a carne de porco é indispensável à alimentação do povo português e isso não está em causa, mas a forma selvática utilizada para matar o animal, amarrado pelas patas, de focinho tapado para abafar os gritos estridentes do desgraçado, seguro pelas mãos dos esbirros a uma banca, esfaqueado finalmente nas carótidas ou na aorta, condenado a esvair-se lentamente em sangue, colhido pelas mulheres num alguidar de barro e mexido com uma colher de pau para não coagular, com destino ao saboroso enchido.

Tendo assistido em criança, por duas ou três vezes a esta barbárie nunca pude esquecer as risadas dos matadores, animados pelo cálice prévio do mata-bicho nas manhãs frias de Inverno, antes da cena, nem fui jamais capaz de comer as morcelas, nem as afamadas papas de sarrabulho…

Claro que os autarcas nem abrem a boca, com medo de perderem os votos.

É também muito interessante ver os inúmeros defensores dos animais muito caladinhos, quando se fala da matança do porco, eles que tanto alarido fazem quando algum cão é açaimado ou metido num canil, em vez de andar por aí à solta!

Há dias, mais um desses cãezinhos ferozes de estimação que são utilizados como guardas, sem as devidas precauções, atacou e colocou às portas da morte uma criança de tenra idade que se encontra num hospital, às portas da morte e que, se sobreviver, vai ficar marcada para toda a vida. Como de costume, os protectores dos animais vieram logo defender o cão, certamente provocado, colocado perante um contexto para o qual não teria sido ensinado, e outras alarvidades.

Anacronismos da nossa sociedade.

Já ninguém se importa grandemente com as criancinhas que aparecem violentadas, mortas, abandonadas, ou bebés metidos em depósitos de lixo. As manifestações públicas vão todas para coisas mais superficiais e sem importância, ou para captar umas quantas regalias sociais que os governos são sempre avaros em conceder.

A inversão de valores morais, nesta época de civilização avançada em que nos prezamos de viver, é o prato forte que somos obrigados a apreciar nas notícias de todos os dias, calmamente sentados, ante um jornal e uma chávena de café.

Já descarreguei a minha indignação por hoje.

Continua a chover. É quase noite.

Os postos de rádio e de televisão, como de costume aos domingos, a esta hora, destilam futebol e outras banalidades sem interesse.

Fico por aqui

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

CRÓNICA DE UM ABSURDO POSSÍVEL

Hipóteses e perguntas pertinentes

Até hoje, não garanto que nenhum governante se tenha lembrado de mandar estudar a passagem do TGV, pela nascente do Rio Mondego, na Serra da Estrela, ou, na sua impossibilidade, pela nascente do Rio Zêzere, no Cântaro Magro! A paisagem era paradisíaca, sobretudo em dias de neve, com as faias muito direitas a bordejar o afluente do Tejo, qual chamariz de turistas como nunca se teria visto no nosso país. O comboio do chamado PI deitado, da linha proveniente de Madrid, entraria em Portugal pelas serranias de La Peña de Francia e Sierra de Gata, passava facilmente o Côa alcantilado, agreste e granítico em viaduto turístico de várias dezenas de quilómetros de comprimento e umas largas dezenas de metros de altura e, ultrapassadas facilmente as Serras da Estrela e da Gardunha, chegaria ao Entroncamento dos Fenómenos pelo curso do Zêzere, atravessando, num caminho de belas e agrestes paisagens, as lindas povoações de Vila Velha de Ródão, Constância e de Vila Nova da Barquinha com os pescadores à linha entretidos em fileira contínua a caçar barbos para fritar a saudosos apreciadores de petiscos antigos…Uma variante dessa travessia do Côa poderia conduzir ao atravessamento um pouco mais a norte, perto de Marialva ou de Castelo Melhor, para poder estimular a visita guiada às ruínas e às célebres gravuras mais o museu de sítio previsto há quinze anos, para Foz Côa ou arredores. Daí para Viseu e Aveiro seria um passo, permitindo ainda estações em S. Pedro do Sul, Vouzela e Águeda, conforme pedido dos respectivos autarcas.

Claro que, tecnicamente, todos estes projectos grandiosos eram viáveis. Os esquiadores nacionais, por exemplo, rejubilariam de alegria, as freguesias do Sabugueiro e de Marialva ensaiariam mesmo requerimentos para estações locais, na base de empreendimentos de utilidade turística, bem assim como as outras vilas à beira Tejo acima referidas, prevendo-se facilmente algumas manifestações populares de apoio.

Mas voltemos à realidade!

Estou certo, pensando melhor, de que a razão de não ter sido equacionado este espectacular projecto da Serra da Estrela se deveu, não a um esquecimento governamental, mas a uma imposição dos espanhóis durante o tratado de cooperação ibérico pois, dessa maneira e como se faz crer, a ser eventualmente concretizado, faria perder clientes nas pistas de esqui da Guadarrama que ficariam, assim como a cidade de Madrid, irremediavelmente condenadas.

Um professor do LNEC muito perspicaz, suspeitando entretanto da possibilidade desta opção e suas variantes, ainda teria adiantado, por sua conta e risco, que subscreveria projecto idêntico, apenas com a execução de um túnel sob a Estrela, com uma estação subterrânea no Sabugueiro, dotada de elevadores rápidos adequados, desembocando mesmo na proximidade do célebre restaurante que prepara o Cabrito com Castanhas, seguindo os esquiadores por um tapete rolante até ao alto da serra para comprar presuntos, queijos e chouriços, ou para as respectivas pistas artificiais.

Não faço ideia de qual seria a opinião dos ambientalistas a este respeito. Estamos a falar de áreas de paisagem protegida, com um subsolo rico em pedras raras pela sua dureza, cuja perfuração e destruição poderiam por em perigo a sustentação das giestas e da erva que crescem à superfície, para regalo dos pastores e dos rebanhos tradicionais de ovelhas da despovoada zona dos queijos da serra.

O certo é que, felizmente, os espanhóis, finórios e pragmáticos como sempre, bateram o pé e obrigaram-nos a meter o TGV no Alentejo, pelo meio das searas e das varas de porco preto, com as bolotas a cair sorrateiramente dos sobreiros sobre as rápidas locomotivas, espantando a sonolência natural dos condutores do comboio. Foi trigo limpo!

O grande problema que se colocou então ao governo foi ter de decidir quais seriam as estações do bólido, entre as candidaturas de Montemor-o-Novo, Vendas Novas, Estremoz, Évora, e Elvas, não falando já de Campo Maior, o feudo do maior exportador de café torrado para a vizinha Espanha. Perante isto, as hipóteses levantadas sobre a localização das pontes sobre o Tejo, a passagem da via no meio do Aeroporto de Alcochete ou pelo centro das salinas do Samouco nada valem, embora a hipótese de fazer encostar o TGV ao terminal de um avião, proporcionando a entrada directa dos passageiros, fosse de considerar, no meio de tantas outras opções fantásticas postas já em cima da mesa.

Mas o governo é o governo e o povo é o povo. Já basta de filosofias!

O interessante e fundamental para o país, segundo alguns, neste momento crucial, qual encruzilhada de histórias, é apenas saber se o ministro das Obras Públicas mentiu ou não, se o fez ontem, há quinze dias ou há dois meses, se recuou ou não nalguma das decisões, se desautorizou ou foi desautorizado pelo primeiro ministro, enfim, se disse ou não que o Alentejo era um deserto, se afirmou ou não que jamais -em francês! -era uma palavra irredutível ou circunstancial….

Parece, contudo, não estou muito seguro disso, que ainda ninguém se lembrou de perguntar-lhe se fazia dieta, ou quantos quilos tinha engordado (ou emagrecido) desde a tomada de posse. Mas ainda estamos a tempo de saber…

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O SEXO DOS ANJOS

Os incríveis milagres de Ourique

Acho que não vale a pena embrenhar-me na discussão do sexo dos anjos. Os teólogos da Idade Média já o fizeram, quase jogaram à pancada e não foram longe. Parece-me, a avaliar pelas esculturas e pinturas dessa época, que resolveram dar um aperto de mãos e arrumar a discussão criando para os anjos uma terceira via. Até hoje, como a seguir iremos ver, não foram contraditados.

Mas, na época em que vivemos, onde tudo é novo e muda a cada hora que passa, as velharias são postas de lado, à primeira mirada, é interessante passar uma vista de olhos pela rubrica que serve de título, nos jornais diários que animam a nossa existência com o seu infindável manancial de pilhérias. Vejamos o que por lá é dito, ou melhor, o que é escarrapachado em parangonas. Não me refiro aos anúncios sobre sexo, com fotos sugestivas e tudo, ou às revistas popularuchas que inundam as barbearias, os cabeleireiros, as oficinas de autos e os consultórios médicos, numa proporção quase equivalente à das casas de má fama.

Limito-me a apresentar três notícias «sérias» com datas recentes e que têm, ainda bem, a sua graça. Aqui vão:

«10-02-2008

Reino Unido: Metade dos homens prefere TV plasma a sexo

Perto de metade dos homens britânicos não faria sexo durante seis meses se isso lhes valesse uma televisão plasma de 50 polegadas, de acordo com um estudo revelado por uma empresa de electrodomésticos.

Segundo a pesquisa, 47% dos dois mil homens inquiridos afirmou que desistiria de ter relações sexuais durante meio ano por uma televisão gigante, um dos mais recentes «produtos obrigatórios» para os consumidores do Reino Unido.

«Parece que o tamanho importa mais para os homens do que para as mulheres», salienta a empresa, sublinhando que apenas um terço das entrevistadas deu a mesma resposta.

Um quarto dos participantes no estudo afirmou que parava de fumar, caso a recompensa fosse a televisão plasma e quase o mesmo número de entrevistados abdicaria do chocolate.»

«10-02-2008

Reino Unido lança campanha para promover sexo como remédio

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) do Reino Unido lançou uma campanha, que tem como objectivo promover o sexo como alternativa ao ginásio, uma vez que acredita uma arma na luta contra a obesidade e como remédio para problemas cardíacos.

A ideia, disponível no site do SNS, incentiva os britânicos a terem mais actividade física, principalmente aqueles que dizer não ter tempo para ir ao ginásio. «A solução», diz a página, «está em casa, debaixo dos lençóis».

As relações sexuais levam o organismo a produzir endorfinas, uma substância natural que tem efeitos benéficos a nível da prevenção dos problemas do coração, assim como para a pele, os músculos e até para o cabelo.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, especialistas defendem que tais conclusões não têm fundamento científico. Contudo, o SNS garante que o sexo é vantajoso até para dores de cabeça e constipações.»

«28-11-2007

Sexo na via pública

Um idoso de 73 anos foi detido no passado sábado depois de ter sido apanhado em flagrante pelas autoridades a praticar actos sexuais com um jovem de 17 anos, em plena via pública, na vila de Ourique, no distrito de Beja.

De acordo com uma fonte da GNR, o septuagenário foi ontem presente ao Tribunal de Ourique, que determinou que fique a aguardar julgamento em liberdade, com termo de identidade e residência e apresentações periódicas às autoridades.»

Ora aqui estão três notícias de arromba! A primeira faz furor, mesmo na época das estatísticas a pataco e mostra como os ingleses estão acabados, isto é, precocemente envelhecidos. Trocar um plasma por sexo, onde é que já se viu?

Pelos vistos, só na Inglaterra! 47% ficam plasmados!

Também, provavelmente este é dos poucos países em que estatísticas desta natureza são levadas a sério. E por isso, nessa linha de conduta, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, modelo de eficiência para toda a Europa, aconselha o sexo como receita para diversos males … como medida higiénica, preventiva e proporcionadora de saúde e bem-estar.

Claro que tudo isto faz sorrir os portugueses. Se o nosso vilipendiado SNS resolvesse fazer o mesmo, seria logo criticado por gregos e troianos, crucificando os ministros da Saúde e da Segurança Social por tomarem medidas puramente economicistas!

Mas a verdade é que, se o nosso SNS copiasse as recomendações do SNS inglês, acabariam de vez as dores de cabeça e as constipações em Portugal, metade das faltas ao trabalho dos funcionários públicos e metade dos atestados médicos requeridos. A Ordem dos Médicos protestaria imediatamente, pela perda de uma fatia tão importante dos seus proventos…mas, paciência!

Quem não esteve com mais aquelas, foi um velhote de 73 anos, natural de Ourique onde o nosso primeiro rei, segundo a tradição combatendo valentemente numa batalha de forças desproporcionadas, fez o milagre de derrotar sete reis mouros, como consequência de outro milagre ali representado em azulejos e recordado por tudo quanto é sítio nas ruas e praças da histórica vila.

Aos setenta e três, este idoso que deve ter tomado em excesso, sem saber, o remédio inglês como preventivo de ataques cardíacos ou, mais provavelmente, foi inspirado no celebrado milagre de Ourique em que D. Afonso Henriques fo… os mouros e, apesar da idade provecta, ainda teve força milagrosa para dar cabo, em plena rua… de um infiel de dezassete anos!

É obra!

E aqui ficou a prova provada, ante este simples facto, de que já não adianta perder tempo a discutir mais o sexo dos anjos, se é que alguém ainda ande interessado nisso... Nem o dos demónios, que são os anjos caídos em desgraça.

A GNR é que não quis saber de nada disso! Cumpriu a sua obrigação e só fez bem!

Portugal é um país de gente decente. Não tem nada a ver com os ingleses, nem com as suas estatísticas, nem com as recomendações do seu avançado SNS. E Ourique, terra de milagres, muito menos! Viva D. Afonso Henriques!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

VIVA A PÁTRIA !

À espera de um novo milagre

Os portugueses são fantásticos! Num instante, sobem aos píncaros da autoestima, vulgo gabarolice, em que nos supomos os melhores do mundo…e no momento seguinte descem às profundezas do derrotismo, isto é, à sensação de total incapacidade de alguma coisa de jeito, em que até apetece morrer…

Outras populações de outros povos sobem e descem também nos seus próprios conceitos, mas com mais moderação, provavelmente devido ao seu melhor conhecimento das realidades, à sua literacia superior, ao seu calculismo estudado, à sua força de vontade comedida, persistente e nunca exagerada.

O conhecimento, o célebre «saber de experiência feito» que tão propagandeado tem sido desde há séculos, no nosso país, tirou aos portugueses a capacidade de pensar a frio, de programar seriamente o que quer que seja, sempre na sequência das experiências passadas, ou na expectativa de uma nova experiência rasteira e bacoca que venha salvar as situações mais delicadas. É o desenrascanço!

Agora, a malta está numa fossa. Não há emprego, não há dinheiro, não há perspectivas de melhoria imediata de nada…e então, que seria de esperar? Uma luta cerrada pela melhoria da situação, um esforço titânico para vir à superfície? Uma conjugação das forças vivas da nação, dos mais pequeninos aos maiorais? Uma publicidade feroz das melhores qualidades do povo e o investimento a todos os níveis na sua exaltação, na sua formação académica e profissional?

Pouco disto se nota. À subida de impostos, a maneira mais fácil e menos imaginativa de colmatar as dívidas, correspondem os portugueses com a aceitação passiva, os queixumes esperados…mas sem pensar ou procurar fazer nada susceptível de alterar a situação.

Os pequenos aguentam enquanto dura o fundo de desemprego ou o auxílio dos familiares…e depois, se não dormem ao relento nem vão à sopa dos pobres, logo se vê. Os grandes espreitam o lugar mais conveniente onde melhor rentabilizar o seu dinheiro sem esforço, até há pouco no imobiliário e agora nos empréstimos aos pequenos, afogando-os em juros altíssimos, o espectacular aumento de produtividade à portuguesa, pela negativa!

A propósito, quem falou, em tempos, no aumento da produtividade? Alguns, uns quantos visionários, ainda começaram a dizer que ele era possível, que os portugueses eram trabalhadores e iriam conseguir dar a volta ao texto…

Mas como dar a volta ao texto, se a maior parte mal sabia ler?

E foi assim que, apesar de umas quantas almas bem intencionadas e com ideias aproveitáveis, capazes de levantar o moral da rapaziada para produzir qualquer coisa, os portugueses foram metidos mais depressa no fundo, subvertidos pelos fazedores de opinião mais derrotistas, já que deitar abaixo ou mandar alguém para casa do diabo, é sempre mais fácil que indicar o caminho derto, que construir o que quer que seja.

Ontem mesmo, um conhecido jornalista do bota abaixo sistemático, atirava-se, como faz semanalmente, contra os políticos, como gato a bofe, tudo porque, segundo ele, eram peritos em mentirolas, e estariam a converter o LNEC a um determinado projecto antecipado de ponte sobre o Tejo. No fim, esperava que, com um pouco de sorte, seriam mandados para o Campo de Tiro de Alcochete…

E eu, que também não gosto de enredos e mentiras, comentei da seguinte forma, no reduzido número de caracteres permitidos:

«Mas por quê meter só os políticos no Campo de Tiro de Alcochete? Eles são apenas a amostra do resto do país, incluindo os que atiram a torto e a direito e nunca acertam. Coitado do LNEC, agora que, apesar da sua competência, até ele está na mira dos franco-atiradores!

Viva a Pátria, acima de todos os derrotismos que nos querem impor!»

Claro que também não chega dar só vivas e não fazer nada!

E, como em Portugal pouco se faz e muito se destrói, cá vamos andando «nesta apagada e vil tristeza», esperando um novo milagre, que o de Fátima já lá vai.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

TROCA DE DOENTES, A DOMICÍLIO

A anedota da semana – I I

A vida tem destas coisas. A saúde, como todos sabem e badalam aos quatro ventos, é um bem inestimável. No entanto, quando se é novo e se desfruta dela, não se lhe dá nenhuma importância.

A saúde só se torna importante quando começa a escassear, os azares da vida nos levam a fragilizá-la ou a velhice vai chegando, quando chega, de mansinho, com todas as suas mazelas.

Uma das vantagens de viver no século XX ou XXI, num país dito civilizado, é ter à mão um sistema de saúde económico a que recorrer, em condições de eficácia e urgência, quando necessário, com transportes, hospitais, e serviços médicos e de outros profissionais preparados para todas as eventualidades.

Muito se tem discutido em Portugal, sobre as bondades e defeitos do nosso SNS que durante alguns anos permaneceu adormecido no meio das suas dificuldades que os portugueses sofridamente aguentavam e calavam. A verdade é que os números do SNS nunca pararam de crescer, desde o seu início até hoje, em milhares de consultas e cirurgias, medicamentos, análises, centros de atendimento, camas instaladas, ambulâncias, etc. Mas os grupos etários da população foram-se alterando com o aumento acentuado das pessoas idosas. A transferência das gentes para o litoral e a desertificação do interior trouxeram novos problemas acrescidos pela falta de médicos e enfermeiros para preencher todas as necessidades e a dificuldade de instalar correctamente equipamentos cada vez mais sofisticados, mais caros e requerendo sempre pessoal mais especializado.

Há anos atrás, um governo qualquer, já não me lembro qual, levou a peito todos estes problemas, manifestou intenção de corrigi-los e criou uma comissão de sábios da Saúde para estudar a reestruturação do SNS, no sentido da melhoria da sua rentabilidade operacional, técnica, social e económica. O estudo resultante foi consensual e destinado a ser levado à prática por todos os partidos. A única dificuldade para fazê-lo era ter vontade política, porque algumas medidas a tomar seriam bastante impopulares. Este facto determinou um atraso na sua implementação, atravessando vários governos que não tiveram a coragem suficiente o para o executar. E o tempo foi passando.

Mas logo que se pensou iniciar a reforma do sistema, coisa que todo o mundo já requeria com urgência, para corrigir os seus defeitos, começaram a aparecer dificuldades de toda a ordem, com os lobies da Saúde a funcionar em pleno, a discussão politiqueira do costume a adquirir foros de insanidade, o aproveitamento das tradicionais falhas para deitar abaixo aquilo de que se não gostava ou era apregoado pelos adversários políticos de momento. A imprensa, os partidos da oposição e os autarcas mobilizaram imediatamente a opinião pública, exigindo, no fundo, uma reforma milagrosa, em que todo o mundo saísse rapidamente beneficiado, não houvesse dores para ninguém, nem perda das benesses que uns quantos oportunistas do sistema usufruíam. E assim, o povo simples lá foi arrolado, umas vezes com alguma razão, outras sem ela, para protestos, manifestações, exigências, ameaças, pedidos de demissão de ministros, sei lá que mais.

Para além do oportunismo político entretanto verificado, duas coisas fortemente negativas foram, contudo, postas em evidência, no meio desta gritaria que se estabeleceu: a ignorância e a falta de civismo, não só de parte de alguma população atingida pelas medidas impostas, mas também de alguns agentes e profissionais da saúde que as põem em prática. Ambas mostraram à evidência o atraso do país no que toca a educação e ao respeito pelo bem geral…

A demissão do Ministro da Saúde chegou a ser pedida pelo nascimento de crianças nas ambulâncias de bombeiros, pela demora dos serviços de transporte e de socorro urgente, pelo rapto de uma criança num hospital, pelo falecimento de um doente idoso que caiu de uma maca, num corredor da espera, pela demora nos atendimentos das urgências, pelo encerramento da urgência em centros de saúde com médias de um ou dois atendimentos diários, etc., etc., etc. … O ministro foi-se, deixou de haver tragédias, o alarido cessou e os problemas ficarão, mais uma vez, por resolver!

Mas com tudo isto e, para além do mais, inúmeras situações caricatas, se não fossem graves e se tratasse da saúde, foram postas a nu pela imprensa, mas com resultados praticamente nulos, além do alarido provocado.

A anedota trágico cómica da semana, no que toca aos serviços de saúde, é a seguinte:

Uma ambulância dos bombeiros deslocou-se aos Hospitais da Universidade de Coimbra para recolher um idoso a quem tinha sido dada alta médica e transportá-lo a casa. Ao chegar à residência, a esposa preparada para recebê-lo de volta não pode conter um grito de espanto:

-Este não é o meu marido! Ele não estava ferido nem com ligaduras na cara. Ele não foi descalço para o hospital e o pijama não tinha risca! …

Os bombeiros nem queriam acreditar.

-A morada deste senhor é aqui mesmo! É a que está na papeleta!

Perguntaram o nome ao doente, mas ele não falava, estava num estado deplorável. A senhora insistia.

-Não recebo em minha casa um homem que não é o meu marido! Era o que faltava!

Entretanto começara a chover e os bombeiros pediram-lhe que, ao menos transitoriamente, enquanto a situação não fosse aclarada com o hospital, o pobre do homem incapaz de falar, descalço e de cabeça atada, fosse deixado ali...

Nada foi capaz de demover a senhora.

-Resolvam o problema, como quiserem. Este senhor, aqui não fica! Tragam-me o meu homem de volta.

Os bombeiros telefonaram aflitos para o hospital, mas lá não conseguiam compreender nada daquilo. Por isso decidiram regressar às urgências com o doente que voltaram a meter à pressa na ambulância.

Aceleraram a caminho do hospital.

Depressa se descobriu, ao chegarem, que havia numa maca, em espera, um outro doente idoso com alta, para levar a casa. Perguntaram-lhe o nome e a morada. Não coincidiam com os da papeleta posta em cima.

Tudo se tornou claro, num instante: alguém, com alguma precipitação ou ainda maior descuido, colocara as papeletas trocadas sobre as respectivas macas.

Era só o que ainda faltava, para completar tanta pilhéria com que a C.S. nos brinda diariamente! A sorte do ministro foi já ter sido substituído, senão ainda apanhava alguma tareia…

Não sei se, a esta hora, alguém com mais sentido de humor que eu, teve já o arrojo de mandar a notícia para os tablóides mundiais e para o Guiness:

Em Portugal, pela primeira vez na Europa

Troca de doentes com alta médica, ao domicílio

Uma senhora recusa a recepção do marido que o hospital e os bombeiros lhe queriam impingir…

Coitados dos velhotes!

Valente mulher!

Sem ela não teria conseguido escrever a anedota número dois desta semana!

Falta-me só dizer mais uma coisa, antes de terminar. O inquérito habitual deve acontecer a seguir…com os resultados do costume.

Se me enganar, pedirei desculpa.

Com a saúde não se brinca!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

PISTOLAS NOVAS PARA CANHOTOS

A anedota da semana


Ainda não recuperei totalmente da notícia que encheu as páginas dos jornais de ontem e de anteontem, sobre a entrega das pistolas Glock, encomendadas com pompa e circunstância a uma fábrica austríaca.

Durante muito tempo, a imprensa deu conta do deficiente armamento da PSP, utilizando pistolas do tempo da outra senhora. Essas pistolas tinham sido enaltecidas quando da sua chegada a Portugal, tendo feito as delícias de outras polícias europeias, pela sua segurança, rapidez de tiro, etc. Agora eram já uns mostrengos sem segurança nenhuma, ficando a quilómetros das usadas pelas polícias estrangeiras e até pelos meliantes que por aí vêm aparecendo…sendo acusadas por alguns acidentes havidos e pela fraca actuação da PSP com o seu uso.

Vai daí, o Governo acabou por pedir às entidades competentes um estudo sério para substituir as malvadas por outras, qual último grito da eficiência e da moda, a preço conveniente, com o aval da experiência de países mais conhecedores da matéria, etc. O concurso internacional aberto para o fornecimento das cerca de 50000 pistolas foi ganho por um conceituado armeiro austríaco, comprometido, desde logo, à sua entrega num prazo pré estabelecido.

Até que enfim! A notícia foi publicitada, a polícia exultou de felicidade, a imprensa calou os apitos, os leitores e os cidadãos encheram-se de esperança no futuro combate perfeito ao crime por aí à solta.

O tempo foi passando, e a certa altura todo o mundo ficou a saber que as pistolas estavam a caminho, com algum atraso sobre a data prevista, mas nada de grave. As entregas iam iniciar-se, com a remessa das primeiras dez mil. Os guardas em breve iriam iniciar o seu treino, antes de serem feitas as atribuições definitivas e a recolha das antigas.

Mas dois factos anedóticos ocorreram então.

Em primeiro lugar, um pormenor bem pequeno veio logo ensombrar todo o esquema. Não havia coldres adequados às novas armas, pelo que todo o processo iria sofrer atraso, sabido que a sua aquisição exigia novo concurso público com prazos, formalidades e burocracias a cumprir!

E, passado o primeiro impacto dessa grande descoberta, foi decidido pelos comandos, para ganhar tempo, dar início às acções de treino dos guardas utilizadores do material recebido. O mais caricato veio logo a seguir.

A patilha de segurança e desbloqueamento das armas estava colocada no lado errado, impedindo a sua utilização eficiente e rápida, em caso de urgência, a não ser pelos guardas canhotos!

A fábrica austríaca havia mandado armas para canhotos!!!

Lá teriam as suas razões e, das duas uma: ou na Áustria os polícias atiram todos à esquerda, ou pensaram que os portugueses eram esquerdinos anormais!!! As autoridades nacionais apressaram-se logo a desmentir tal suposição. Nas forças policiais portuguesas só havia 5% de canhotos e a fábrica austríaca prontificou-se a mudar a patilha para o lado correcto, sem custos para o comprador. Do mal, o menos.

Mas o motivo da minha estupefacção não foi a colocação errada da célebre patilha, mas a falta, mais que provável, de especificação correcta e completa das características da arma encomendada, porque não vi, da parte dos comandos e na imprensa, nenhuma reclamação ou pedido de indemnização à fábrica pelo suposto erro.

E se, em vez das dez mil enviadas, tivessem chegado, de uma só vez, as cinquenta mil armas previstas na encomenda?

Por isso é que ainda não recuperei totalmente da notícia da chegada de pistolas para canhotos!

Só cá, e a complementar os problemas havidos com a entrega, por outra fábrica austríaca, de uma encomenda de carros de combate! Em conclusão: os austríacos serão assim tão broncos, ou fazem-nos? O mais certo é eu ter razão no meu diagnóstico...e preferia não ter.

Não sei se terei coragem para ler, na altura própria, a notícia da chegada da encomenda dos coldres, não venham eles também para mãos trocadas…

E, apesar de tudo, não quero ainda acreditar que os fora da lei sejam mais profissionais que as nossas forças de segurança na escolha, na compra e no manejo das armas com que atiram sem escrúpulos à polícia e aos cidadãos. Cada macaco no seu galho.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

GOZEMOS O ESPECTÁCULO

Olhemos sem medo, as nossas misérias

Liguei a net e logo me apareceu o site do Correio da Manhã, com os títulos espantosos que a seguir transcrevo:

Uma desbunda grande esta nova vergonha

O velhíssimo trauma lusitano perante a potência italiana acrescentou mais uma vergonha à tradição: desta vez os italianos tiveram o prazer de tirar ...

Corrupção mais vigiada

O PS vai propor a criação, até ao Verão, de uma entidade “com autoridade” para a prevenção da corrupção, recusando a proposta do PSD, reiterada por ...

Disputa democrata está para durar

Sem surpresas, a maratona eleitoral da super terça-feira nos EUA confirmou aquilo que já se sabia: John McCain é o grande favorito à nomeação ...

Inspectores do Fisco temem processos

Os inspectores tributários vão recusar-se a fazer correcções à matéria colectável dos contribuintes com base nos chamados métodos indirectos. Aqueles ...

Hospital entrega doente a família errada

Um homem de 74 anos, residente em Miranda do Corvo, recebeu alta dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) na sexta-feira, mas, devido a uma ...

Polícias só com pistolas de canhotos

PSP e GNR ficaram insatisfeitas com os testes realizados depois de a Glock (fabricante austríaco de armamento) ter entregue a primeira tranche das 50 ...

Ministro segura Alípio

As críticas ao director nacional da Polícia Judiciária já alastraram de todos os sectores da

Ambulâncias com GPS

O INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica está a equipar todas as ambulâncias de socorro, incluindo as que se encontram localizadas nos ...

PSP protegia prostitutas

Foi uma chamada telefónica que alertou, às 05h00 de ontem, a PSP do Porto. Um dos seus agentes tinha sido baleado

Não vou criticá-los. Eles são certamente uma opção do corpo redactorial do Jornal e, se não escolhesse estes, dentre milhares possíveis, teria encontrado outros, uns melhores e mais adequados às notícias que encabeçam e outros menos. Também poderia surgerir títulos mais sugestivos, mais apagados, mais fantasiosos, mais aberrantes, eu sei lá.

O que me preocupa não são os títulos em si, mas a selecção das notícias, com a já tradicional propaganda do que é mau, do que é deficiente, do que não deveria ter acontecido, do crime, do desastre, da miséria, da bandalheira, do moral e profissionalmente incorrecto…

Reparemos que, dos nove títulos citados, apenas dois poderão ser tomados pela positiva, o que significa que mais de 77% da informação aqui posta a circular para uso público é basicamente negativa!

E, perante este panorama, não sei já que mais admirar, se a facilidade com que se explora este tipo de notícias, se a avidez com que as gentes as apanham no ar e as engolem com sofreguidão, desprezando as outras, as sérias, as de conteúdo técnico, científico, profissional, artístico, moral…

Há cerca de um mês, enviei um mail a um conceituado jornalista, chamando a sua atenção para os destaques das «más» notícias e a fraca difusão das «boas», insistindo que a Imprensa deveria sobrepor a sua acção formadora à informadora…e, mais ainda à acção tantas vezes desinformadora. Respondeu-me delicadamente que a Imprensa tinha que resolver muitos problemas na escolha dos títulos e das notícias a publicar, mas que, se o público gostasse das «boas» notícias, isso ajudaria muito…

Foi tão diplomata na sua resposta, envolvendo a culpabilidade em tal delicadeza, que consegui acalmar a minha fúria inicial ao ler o seu mail. Cheguei a escrever mais ou menos que, se ele tivesse um filho, de acordo com a sua teoria não deveria ensiná-lo nem castigá-lo, mas fazer-lhe todas as vontades, todos os gostos…nada mais. Assim vender-lhe-ia a sua bela imagem de pai «baril» sempre ao dispor, sempre pronto a perdoar e ainda por cima, a mostrar-lhe, a pedido, tudo o que fosse menos aconselhável…

No ponto em que as coisas estão, não valia a pena responder desta maneira.

Não o fazendo, contudo, encontrei finalmente o caminho da posição cómoda, ridícula de encolher os ombros…perante o espectáculo diário que nos mostra a Imprensa Portuguesa.

Na realidade, qualquer dos títulos referidos poderia proporcionar uma crónica irónica ou um comentário crítico. Tem matéria para muitos dias de trabalho. Pode ser que, noutra ocasião, com mais vagar e melhor disposição, ainda volte aqui. Mas, por hoje, basta!

Ao menos por um dia, enchamo-nos todos de coragem. Olhemos sem medo as nossas misérias.

Gozemos o espectáculo!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

REVIRAVOLTAS DOS NOSSOS MENTORES

Anacronismos a metro…

Ainda há quinze dias era um coro de lamúrias e queixumes acompanhados de protestos e insultos de parte de populares e seus mentores, e propagandeados na Comunicação Social. Aqui pontificavam os comentários mais destemperados dos redactores de serviço e dos fazedores de opinião no activo, atirando pedradas ao desgraçado ministro da saúde Correia de Campos que tivera a triste ideia de encerrar Postos e Centros de Saúde no interior, incentivar a poupança racionalizando, fiscalizando e cortando nos gastos excessivos, fazendo cumprir horários de trabalho negligenciados, tudo medidas necessárias e propostas há já alguns anos, que ninguém tivera a coragem de por em prática…

O simples despertar do sono morno em que a Saúde vegetava e de que ninguém se atrevia a fazê-la acordar, foi uma pedrada no charco da passividade nacional e de todos os problemas daí decorrentes. Centros de Saúde fisicamente presentes ou perto de populações mas sem condições de funcionamento adequado, bombeiros cheios de voluntarismo e boa vontade mas sem qualquer preparação para socorrismo de emergência médica, farmácias, médicos, enfermeiros, auxiliares em número limitado pelas organizações de classe em que até as autonomias universitárias souberam actuar como defensoras do seu status, edificações velhas e nalguns casos quase imprestáveis aos fins em vista onde, mesmo assim, uns abnegados de ocasião conseguem fazer maravilhas…tudo veio ao de cima, quando se pretendia finalmente mudar algo com base em estudos consensuais sólidos.

Tudo serviu, afinal, para trazer ao de cima os interessesinhos que a sonolência mantinha debaixo da manta. Era preciso, isso sim, e antes de mais, pintar a manta!

Esquecendo um passado recente, como por encanto, os bebés recomeçaram a nascer todos os dias nas ambulâncias dos bombeiros, os idosos a falecer de novo nos corredores dos hospitais, os doente a esperar horas e horas em demoras incríveis no socorro, no transporte, no atendimento, na medicação, nos cuidados com os doentes do foro cardíaco. exaltou-se o acumular dramático das operações de oftalmologia, com as cataratas à cabeça. Enfim, ouviu-se um rol de lamúrias, e descobriram-se mil maleitas de que o ministro passou, num ápice, a ser o exclusivo culpado, com o aproveitamento cúmplice da partidarite nacional de oposição política, mas também de todos os poderes instalados…desde as Juntas de Freguesia, às Câmaras, às Ordens dos Farmacêutico, dos Médicos, dos Enfermeiros, às Associações dos Bombeiros, todos agindo em nome do Povo, mas na maior parte das vezes, na defesa das suas próprias benesses ou posição social.

E descobriu-se, no meio de tudo isto, a ignorância quase geral dos verdadeiros temas em discussão e a falta de civismo em grande escala perene e atentatória de qualquer intenção de progresso que se queira por em prática no país.

Mais grave que a ignorância de certas faixas da população, porém, foi o aproveitamento da Imprensa no seu derrotismo fácil e tendencioso, buscando o populismo fácil, a venda a todo o custo, pondo de lado a própria ética que obriga a informar com verdade e a formar as gentes a tempo inteiro e com dedicação.

A Imprensa em geral, que pretende saber tudo e julgar tudo e todos, não pode manter-se permanentemente na sua ignorância atrevida. Não pode arrogar-se de mentora em certas ocasiões e de vítima noutras. Os comentaristas de serviço, por seu lado, não podem alegar ignorância, devem obrigatoriamente cultivar-se e estudar mais profundamente os temas que comentam, em vez de contentar-se com aparências fáceis e emitir conclusões adequadas às situações mais convenientes do momento político ou profissional…

Agora que o Ministro Correia de Campos partiu, com o aplauso sincero de alguns autarcas ou hipócrita dos políticos da oposição, um coro de manifestações ainda mais hipócritas de simpatia, algumas contendo até atitudes elogiosas, se têm levantado de todos os lados, desde os jornais à TV, advertindo esses mesmos críticos ferozes de há pouco que as reformas por ele implementadas com ardor deveriam continuar sem tréguas até ao fim, doa a quem doer, sob pena de não se chegar a lado nenhum…

É triste observar com algum distanciamento, de fora da política e dos media, as suas lágrimas de crocodilo, as suas patéticas reviravoltas e, neste problema da Saúde em Portugal, dos seus lobies, das suas vítimas e, sobretudo, das frustrações e dos castigos dos bem intencionados…Parece que há sempre necessidade de morrer, de não fazer mais sombra a ninguém, para se ser louvado.

Há menos de uma semana, o maior e mais conhecido semanário da nossa praça resolveu fazer um apanhado da evolução do Serviço Nacional de Saúde, desde a sua fundação, até hoje. E notava, em consequência, a urgência das medidas em curso, para colmatar o crescimento em flecha do número de consultas, cirurgias e simples actos médicos e cuidados de enfermagem verificados de ano para ano, a juntar aos quais existe ainda um problema não menor, o aumento do número de idosos no país, os mais carenciados de tudo! Claro que esta reportagem teria um efeito mais eficaz, na formação das populações, se tivesse sido publicada quinze dias antes...

Coisas que certamente têm a sua justificação, talvez nem sempre a mais linear.

Neste dia da comemoração do nascimento, há quatrocentos anos, de um português de excepção, o Padre António Vieira, apraz-me chamar a atenção para a sua actividade, a sua sabedoria, a sua luta através de uma conduta moral exemplar, sem mancha, sem desânimo, lutando contra tudo e contra todos, o que o fez passar privações, o exílio e a prisão, entremeados com os altos cargos da Diplomacia e a estima de altas Figuras do Poder e da Igreja, na época dificílima de recuperação da independência…

Nunca acreditou na falência do País, apesar de mil dificuldades, ao contrário dos nossos escrevinhadores de agora, que só clamam desgraças e lamúrias a cada coisa que não lhes corre de feição! E ainda lhe sobrou tempo para nos legar uma obra ímpar, na literatura portuguesa.

Mas, além de uma reduzida classe culta, quem saberá, neste país de críticos do vizinho do lado, quem foi o Padre António Vieira?

Há dias, falei no hino nacional, estímulo de coragem a um povo aviltado pelo ultimato de 1890, nos seus oito séculos de história e de heróis, e dizia que gostava de saber quantos cidadãos conheciam a sua letra…e muito menos o patriótico autor dela…

Ponhamos os olhos nestes dois exemplos e sigamos em frente, sem medo.

O Serviço Nacional de Saúde precisa que continuemos a tratar dele com a clarividência, a vontade e o carinho com que se trata um doente muito estimado e que ainda nos faz muita falta.

Com qualquer ministro, de qualquer partido, que se preze.

Com a ajuda de todas as pessoas de boa vontade.

Sem comentaristas a metro.

Sem oportunistas de ocasião.

E contra todo o derrotismo instalado no País.