sexta-feira, 30 de novembro de 2007

GREVES, NÚMEROS E OUTRAS COISAS

A notícia

Portugal, C.M.30-11-2007

Greve com adesão superior a 80%

Não é novidade, mas mais uma vez Sindicatos e Governo não entendem quanto aos números de adesão à greve. A Frente Comum fala numa adesão superior a 80 por cento, enquanto o Governo, pela voz do secretário de Estado da Administração Pública, João Figueiredo, afirma que apenas 20 por cento dos funcionários públicos aderiu à paralisação....

GREVES, NÚMEROS E OUTRAS COISAS

Mais uma vez, a juntar a todas as outras, os números referente à adesão à greve são contraditórios. A culpa não é da C. Social, muito embora o título da notícia acima pareça controverso. Por que motivo se destacou 80% e não 20%, como vem no fim da linha? A redacção do jornal responsabiliza-se pela não colocação, no mínimo, de um ponto de interrogação final no título? Assume a sua completa veracidade e a mentira da última frase em letra miúda?

Qual é o verdadeiro sentido do título? Não sei, nem quero saber. Só ela sabe, ou nem isso…

Num país onde o antigo sindicalismo e o corporativismo oficial foram banidos, com o fim da constituição de 33, o seu espírito permanece ainda no coração dos portugueses, especialistas em dar a volta ao texto e fazer o que muito bem lhes apetece, até que um camartelo lhes tire a vontade de devanear. É o camartelo, aliás e infelizmente, a única voz que se impõe e se faz cumprir, nesta democracia a quem todos batem palmas, mas que todos desrespeitam, à descarada ou à socapa. Também essa «lei» do camartelo, descendente da ditadura salazarista abolida pelo 25 de Abril, não conseguiu desvincular-se completamente da cabeça dos cidadãos e transformar-se na «lei» do diálogo democrático.

Provavelmente os mais velhos não conseguiram modificar hábitos antigos solidificados em cerca de cinquenta anos, e os mais novos não conseguiram adquirir e interiorizar a moderna forma de estar na sociedade. Mas o civismo também não é só diálogo. Exige cumprimento dos acordos e das leis, por vontade própria, sem necessidade de recorrer ao dito camartelo, quer seja ele imposto pelos radares, pela polícia, pela fiscalização, pela Justiça…O caminho a percorrer ainda é longo e não bastam as greves das sextas-feiras, os lock-out das segundas, as bastonadas das terças, os despedimentos das quartas e as reformas compulsivas das quintas, para levar este país a entrar no caminho do progresso.

Voltando à vaca fria. A greve é um direito dos cidadãos consignado na constituição e esta foi, sem dúvida, das maiores. Tenha ela sido cumprida por 20 ou 80% dos funcionários, não importa à Comunicação Social que se limita a ser o porta-voz dos órgãos informativos responsáveis, com maior ou menor independência, competência, tendência ou rigor. Mas discrepâncias de tal magnitude entre os números apresentados, não surpreendendo já o cidadão comum, leva-o a pensar, frequentemente, ao ler a primeira página dos jornais:

-Vão para o diabo! Lá estão eles com as suas aldrabices do costume!

E passa à frente.

Mas a coisa não é assim tão linear. Um cidadão verdadeiramente interessado no que sucede no país pode também fazer uma pergunta pertinente:

-Quem está a mentir?

Ou ainda tentar, na leitura atenta dos textos sequentes, tirar as suas próprias conclusões. Será coisa de um número mais reduzido, que a maior parte já não tem paciência para isso, intuindo-as a priori a partir dos títulos, quaisquer que sejam, ajustando-as à sua própria maneira de ver a realidade.

Sem querer fazer a quadratura do círculo, atrever-me-ia a sugerir que, em teoria, as percentagens expostas pela Comunicação Social possam ambas ser consideradas correctas, fazendo delas uma interpretação, talvez abusiva, mas bem intencionada. Assim, uma referir-se-ia ao número de trabalhadores que aderiram à greve e a outra, ao número de repartições de que fazem parte. Assim, contentar-se-iam gregos e troianos, ninguém seria considerado mentiroso, a Comunicação Social sairia certificada no seu duro trabalho de pesquisa, e todos, incluindo os cidadãos preocupados, poderiam já dormir descansados!...

Mas trata-se apenas duma sugestão. Não tenho nenhuma certeza que assim seja.

E não vale a pena especular mais sobre este assunto. Os vários sindicatos, os governantes e as diferentes corporações, vulgo «lobies», na moderna fraseologia, atirar-se-iam a mim como gato a bofe, na sua implacável intransigência.

Ficam satisfeitos assim, no seu radicalismo. Deixá-los lá!

Eu só aspiro, neste momento, viver tranquilo durante mais algum tempo…

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Evidente, meu caro Watson!

A CONSTITUIÇÃO POR MEDIDA

Volta e meia, lá vem o estafado tema da Mudança da Constituição. Quase sempre é levantado, compreensivelmente, por partidos em momentânea oposição.

É interessante observar, de fora, as jogadas dos políticos mais interessados na reforma da constituição, de tribunais, etc., ao sabor das suas conveniências de momento.

Neste caso, como o Presidente é da cor, pedem-se para ele mais poderes. Como o Tribunal é de maioria contrária, retira-se-lhe o efeito de maioria. Como o Governo Regional da Madeira é do mesmo partido, dá-se-lhe mais força. Como o dos Açores é de outro, retira-se-lhe. Entretanto, como o Governo é de facção diferente, obstaculiza-se a propósito de tudo e de nada, com razão ou sem ela. Se o outro anterior foi do mesmo sentido de voto, defende-se e aplaude-se até à morte, igualmente com razão ou sem ela…

O certo é que ser independente e honesto, em política, é sempre muito mais difícil que ser apenas deputado de uma cor qualquer. Que o digam os deputados expulsos dos respectivos partidos por terem, em dado momento, tentado retirar dos olhos as talas que usava o azeiteiro para o seu jumento, salvo seja…Para ser-se deputado, não é preciso saber muito sobre o círculo eleitoral, nem ser de lá natural, nem lá residente, na prática, mas estar inscrito numa qualquer máquina partidária, de preferência numa das mais votadas. Muitas vezes o povo nem o conhece!

Por outro lado, exercer o cargo de deputado também não custa nada! Basta dizer sim a tudo o que a máquina partidária manda fazer! E a máquina partidária tem apenas um objectivo: a conquista do poder, a qualquer preço, sendo o mais barato a destruição dos adversários políticos, com razão ou sem ela, onde quer que se encontrem!

As coisas ficarão, claro, muito mais facilitadas, se os mecanismos de voto forem favoráveis, na próxima eleição. Para isso, altera-se convenientemente a Constituição! Geralmente a Oposição reclama e a Situação desvaloriza…

Evidente, meu caro Watson!

É por estas e por outras que não vale a pena dizer, que as alterações da nossa Constituição são tão frequentes e corriqueiras como as máquinas partidárias mudam de cor e os deputados mudam de camisa…nem que, por vezes, pouco mais mude nelas que algumas palavras e vírgulas estratégicas.

Ao Povo patriota, tranquilo e cumpridor que não entende nada destas mudanças, embora feitas sempre em seu nome, tanto se lhe dá, desde que tenha emprego, comida certa e ganhe o Benfica. Mas a vida está a ficar difícil e, aos poucos, vai dando conta de que alguém tira mais proveito que o devido destas patriotices de meia tigela, consubstanciadas no enorme esforço que fazem os elementos das comissões partidárias. «Pescadinha de rabo na boca!...»

E assim perdem o seu tempo aqueles que não deveriam ter horas para nada, que representar bem o povo ocupar-lhas-ia integralmente, sem vagar para maus pensamentos…

Trabalhar é preciso.

Apetece-me remeter para a constituição inglesa, basicamente tradicional de vários séculos, não escrita, sem vírgulas nem alçapões estratégicos, metida na cabeça de todos - povo indiferenciado, políticos, juízes, autoridades, professores, etc., - aos quais nem passaria pela tola mudar o que quer que fosse…

Mas estamos em Portugal!!!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

As escutas-carta a um senhor comentarista

AS ESCUTAS


Aí há uns quinze ou vinte dias, um certo comentarista jornalístico-televisivo escrevia um interessante e longo artigo sobre as escutas telefónicas, a sua legal ou ilegalidade, o seu exagero, a utilização como prova de crime, e ainda, para terminar, referia-se à Justiça, à Judiciária, aos Advogados, aos Legisladores e às últimas declarações do Procurador Geral que, além de se sentir escutado, tivera que prestar declarações aos deputados que não tinham mais nada que fazer, lembrando-lhes apenas que havia no mercado aparelhos próprios para escutas telefónicas ao preço da chuva, etc.

Coitado do Procurador! Como todos aqueles que se propõem dar entrevistas ou mandar recados pela C.Social, quer sejam bem ou mal intencionados, ficou logo «entregue aos bichos» … Mas é bem feito! Já devia saber que, quem escolhe a C. Social para mandar «bitates», apanha também uns quantos, porque ela é a proprietária do sítio e não se ensaia nada para dar-lhe o troco, sempre durante uns bons quinze dias, mesmo que se trate de moeda falsa…

Já andava farto de tanta «bagunça» e quem pagou a minha factura foi o jornalista que escreveu o tal artigo, por sinal o melhor que li, de toda aquela malfadada série, assinado e ainda por cima com endereço de e-mail.

Não me contive, pois, e resolvi mandar-lhe o meu comentário, infelizmente reduzido ao tamanho que o jornal sábia e espertamente permite. Ele é o dono da bola!

Agora, lendo casualmente na memória do computador o dito comentário, achei que seria interessante colocá-lo no blog. Diz assim:

Meu caro senhor:

As escutas tornaram-se um vício dos portugueses, depois da Inquisição. Agora, quem tem dinheiro compra um aparelho de escuta ou um espia. A Justiça gasta parte do tempo a autorizar escutas ou a ouvi-las. Os Advogados esfalfam-se a desconstitucionalizar escutas aos seus clientes. As Polícias fazem-nas à socapa, para rentabilizar a investigação. Os que não têm onde cair mortos escutam atrás das portas, fazem-se bufos ou enviam cartas anónimas. E a C. Social aproveita as fontes …

Os meus cumprimentos.

Não obtive resposta.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O LNEC; AS CÂMARAS E OS PATOS BRAVOS

O prédio na Praceta Afonso Paiva, em Setúbal, onde na quinta-feira se deu uma violenta explosão, “não é um grande exemplo de resistência a sismos” e “tem falhas na sua construção”. Quem o diz é o director do Departamento de Estruturas do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), João Almeida Fernandes, que ontem apresentou o projecto de estabilização do edifício.(C.M.27-11-2007)

O LNEC, AS CÂMARAS E OS PATOS BRAVOS

Não é preciso ser especialista ou professor do LNEC para detectar que o edifício «não é um grande exemplo de resistência a sismos e tem falhas de construção»... Provavelmente, noventa e tal por cento das construções do país arriscar-se-iam a um diagnóstico semelhante, se fossem devidamente inspeccionadas! O mal é que nunca o foram... e jamais o serão, para nossa desgraça e lucro de uns tantos patos bravos.

Certamente o relatório de LNEC terá muitos mais elementos para além daqueles que são fornecidos pelo repórter do C.M. E nem sequer está em causa a competência do LNEC. Era o que faltava! Mas dá para rir com a verdade de La Palisse que a notícia apresenta ao público, este mesmo público descendente daquele que sofreu diversos e aterradores terramotos, ao longo da sua história e, como diz o Zé Povinho, só se lembra de Santa Bárbara quando troveja!

Na verdade, de tempos a tempos, sobretudo quando há algum ligeiro estremecimento, lá vem um alerta, uma carta de intenções piedosa a lembrar a necessidade de corrigir os defeitos e de implementar a fiscalização rigorosa das novas edificações, mas não se passa disso. E, nos grandes centros urbanos do litoral sísmico do País, o risco que se corre e de que ninguém quer ouvir falar, é imenso.

Seria bom que as Câmaras dessem mais visibilidade à fiscalização de obras, apoiando a sério a formação e a actuação dos seus agentes, etc., pondo de lado o nacional porreirismo, nosso principal inimigo público. Leis, existem muitas. Falta cumpri-las, como de costume…

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Crónica do dia-Café de valor acrescentado-

Medicamentos e Produtos: Um café por dia pode prevenir Alzheimer

Publicado: segunda-feira, 26 de Nov de 2007 - 08:00

Investigação desenvolvida na Universidade de Coimbra

Adágios como “somos o que comemos” ou “one apple a day keeps the doctor away” (uma maçã por dia mantém o médico à distância) são antigos e têm por base ideias relacionadas com as propriedades de alguns alimentos que contribuem para o bem-estar de quem os consome. Uma equipa de cientistas do Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra concluiu agora que também uma chávena de café por dia poderá ser útil na prevenção da doença de Alzheimer.

CAFÉ DE VALOR ACRESCENTADO

Quando era Salazar quem mandava, atribuíam-lhe a frase: beber vinho é dar de comer a não sei quantos milhões de portugueses. Hoje, não sei quantos devem a vida à pinga que outros bebem, nem quantos a perdem, na prática da tradicional bebedeira, ou ainda nos atropelamentos diários com origem na utilização em excesso da bebida espirituosa emborcada por condutores viciados no sumo da uva fermentado. A única coisa que sei é que, naquele tempo, a marca de vinho mais vendida era o Vinho a Martelo distribuído pelas tascas de todo o país e de teor alcoólico por elas convenientemente ajustado, o qual deixava no fundo dos copos quase um centímetro de borra e cujas manchas no vestuário eram impossíveis de tirar. Por outro lado, a plantação de sabugueiros e a venda da milagrosa baga não sei quanto dinheiro dariam a ganhar aos artesanais produtores da mistela, certamente muito mais que as reduzidas e conceituadas marcas, essas sim distribuídas pelas mercearias finas e de aquisição preferencial nas alturas festivas, ou regularmente pelas famílias de maiores posses.

Como os tempos mudam! Já o Camões dizia o mesmo há mais de quatrocentos anos e, certamente não foi ele a fazer a descoberta. Também não fui eu a descobrir que agora, nos supermercados, nos bares, restaurantes, em todo o sítio em que imperam bebidas, as marcas de vinhos portugueses são às centenas, com os mais variados gostos, cores, preços, embalagens, propagandas e clientes! Abundam igualmente os catálogos, os livros que expõem os melhores vinhos, os que ensinam a apreciar e os que incentivam a comprar, os quais se vão editando já anualmente, por força do acrescentamento de novas marcas e novos sabores, etc., conforme o tempo foi seco ou chuvoso, o míldio ou o oídio marcaram as castas, os cascos de cura são ou não de carvalho puro…

Uma coisa é certa: o vinho de hoje, propagandeado como agente antioxidante (certamente não tanto como o vinho a martelo!), já não tem o sabor de pezunho de antigamente. As máquinas que substituíram os pés dão cabo dos cachos enquanto o diabo esfrega um olho, isto é, o tempo que dura ligar a ficha à corrente e carregar no botão…pouco mais! Os lagares de pedra com a respectiva prensa são já quase uma relíquia, tendo as dornas sido substituídas por enormes tanques de aço inoxidável 316, polimento fino, e os românticos escravos transportadores de cestos às costas para os ronceiros e chiadores carros de bois, substituídos igualmente por funcionários de recipiente plástico a tiracolo ou com rodinhas, levando os frutos para grandes camiões rápidos, seguros, economizadores de tempo, mão de obra e dinheiro…

Também já vai longe o tempo em que os trabalhadores das vindimas bebiam o seu copito de vez em quando, para animar as hostes, acompanhando com álcool a imprescindível merenda, agora mastigada com ajuda da cervejinha ou da coca-cola, tornadas já tradicionais em Portugal, de algum tempo a esta parte. E, para finalizar, café!

O cafezinho com o qual os brasileiros nos colonizaram, mais rapidamente que nós a eles, valha a verdade, pegou por todo o lado, incentivado o seu uso pelas máquinas inventadas pelos italianos espertalhões compradores do grão…tirando do facto um valor acrescentado notável!

É o que falta aos portugueses, afinal: persistência na acção. Contentamo-nos com descobrir, fabricar e exportar o básico: a cortiça, o vinho do Porto (ou foram os ingleses?), o galo de Barcelos, o queijo limiano, os figos do Algarve, a cravagem do centeio, o volfrâmio, a pimenta e o caril da Índia, etc., o café da Arábia…e descansamos sempre sob os louros da descoberta fácil, que trabalho é para o preto, sem desprimor para a raça negra, claro!

Essa do valor acrescentado, também por redundante acréscimo, não foi inventada pelos portugueses. Dava muito trabalho! Mais fácil foi pegar no IVA que outros em aflição teriam descoberto e aumentá-lo, de 10, para 12, 15, 17, 19, 21%, coisa que não tinha lembrado antes ao diabo, muito menos aos nossos amigos europeus…

Mas nós, portugueses, penso que não devemos ser assim tão depreciados. Acho que devemos ter um mínimo de orgulho nacional. Há inventos dos quais, por força do seu uso corriqueiro, nem chegamos a avaliar a importância. Também é certo que algumas descobertas da nossa gente, pela sua tradicional humildade, nunca chegaram a ser personalizadas e premiadas, como é o caso do vinho a martelo! Outras estão em risco de desaparecer, como o galo de Barcelos que um maduro qualquer teve a ideia de certificar, matando assim os candongueiros, graça e alma do negócio. Já a situação do queijo limiano é muito diferente. Veio mais um espertalhão estrangeiro, levou a arte para Vale de Cambra, onde o leite era a pataco, e fez o seu próprio Agosto, para desgosto do carismático presidente de Ponte de Lima; numa segunda fase, levará o queijo para Itália, a fim de recuperar as finanças da Parmalat, vendendo-o depois com o tal valor acrescentado (provavelmente só um rótulo novo) ao Jumbo, ao Continente, etc… Também o inventor dos figos secos do Algarve teve certamente uma história triste, pois era moiro e aí os portugueses, com a conquista, apropriaram-se dos direitos do homem; mas cometeram o erro sistemático de não registar a patente e assim desataram a aparecer os concorrentes ciganos com os cestinhos de figo, as caravelas, os bonecos, etc., etc., Como o produto nunca foi também certificado, começaram a aparecer cópias com lagartas, as figueiras deixam-se ultrapassar pelos arranha-céus e os turcos fizeram o resto, levando o know how dos algarvios para a sua terra, donde vendem e exportam agora o produto, com enorme valor acrescentado, aos portugueses, algarvios incluídos!

A cravagem do centeio, o célebre «lenticão» que no tempo da segunda Guerra Mundial foi uma ajuda preciosa aos rurais da Beira Interior, nunca foi aproveitado pelos industriais nacionais, cujos familiares utilizam, sob receita médica, os seus alcalóides terapêuticos, vendidos pelos suíços com o tal larguíssimo valor acrescentado…

Do volfrâmio, nem vale a pena falar. Trocado aos alemães, durante a guerra, por dentes de ouro dos judeus internados nos campos de concentração, por ali ficou, enterrado na Panasqueira, logo que deixou de haver dentes disponíveis!

A pimenta e o caril da Índia, depressa foram moídos e embalados pelos ingleses, holandeses, franceses, alemães, etc., e logo vendidos aos nossos supermercados em embalagens de rótulos vistosos, ou dentro de engenhosos, práticos, artísticos moinhos de levar à mesa…com o valor acrescentado correspondente.

Não sei quanto tempo a cortiça vai resistir aos russos impulsivos. Estou mesmo a ver que o Amorim, com o tempo, ainda se farta dela e se mete a produtor de petróleo e deixa os sobreiros para os tipos da Portucale ou outros empreendimentos turísticos, isto se a virose que está a espalhar-se pelo Alentejo não tomar a dianteira. Tratar das árvores é caro e dá muito trabalho. Transformar as que estão doentes em lenha para a lareira dos novos-ricos caçadores e compradores de montes de fim-de-semana é muito mais rentável. Assim como assim, segundo uma notícia que vi há umas horas atrás, na internet, está a ser descoberto petróleo e gás natural nos concelhos de Alenquer e de Alcobaça, o que vai lixar a Ota, de vez…e talvez os pomares do Oeste e o mosteiro que o D. Afonso Henriques mandou erguer com os lucros das conquistas aos mouros e uma grande visão, religiosa e comercial. Pena que o tal valor acrescentado tão patrioticamente conseguido pelo nosso primeiro rei venha a ser delapidado pela perfuradora de algum megalómano do Texas ou do Mar Cáspio…

Falta falar do Vinho do Porto das marcas inglesas que criam o tal valor acrescentado paras uvas que a falida Casa do Douro se entretém a proteger, não vão os ingleses perder o seu gosto por essa pinga secular…Nas Caves de Gaia, da Sandeman, da Calem, da Croft, da Kopke, da que já foi Ferreirinha, lá andam os portugueses a fazer de finos, em pequenas pândegas turísticas, para inglês ver…e tirar proveito.

Parece que terminei de apreciar os itens acima indicados. Poderia continuar por largas páginas, mas seria fastidioso demais para quem se atrevesse a ler isto. E até para mim. Não tenho antioxidante para tanto!

Quase me esquecia do café da Arábia que os portugueses levaram para o Brasil e agora compram com marcas italianas…portanto de duplo valor acrescentado!

A propósito, apetece-me um cafezinho…quero dizer, uma bica bem tirada numa máquina que tenho na cozinha. É fácil: tiro o café em grão, da embalagem Buondi ou Segafredo, meto uma porção no moinho Braun, tomo duas medidas para a máquina de café Krupp, recolho a bica, vulgo cimbalino, na chávena de porcelana italiana, mexo o líquido adoçado com Canderel da Searl, utilizando a colherinha de aço inglês e delicio-me, tomando e saboreando devagar o líquido quente aos golinhos, sem queimar os dentes e as gengivas postiças de material alemão…

Que bem que sabe! Ainda para mais, a água do Luso, apresentada em garrafas de plástico da Marinha Grande, que meti no depósito da Krupp, é do melhor que há e não sabe a cloro. Dá para apagar as tristezas de tanto desperdício que referi.

Mas uma dúvida me assalta, de repente. Será ainda nossa, a Água do Luso? E a fábrica da Marinha Grande não estará a pagar uns estratégicos royalties pelas técnicas e as máquinas que usa?

Sei, não, como dizem os colonizadores brasileiros.

Também não importa. Este cafezinho já ninguém mo tira.

E o melhor é que ainda há pouco li a notícia de última hora de uma investigadora científica da Universidade de Coimbra, publicada e enviada patrioticamente para todas as partes do Mundo, afirmando categoricamente que uma chávena de café, tomada diariamente, era o melhor preventivo para a doença de Alzheimer!!!

Avante portugueses! Aqui está uma descoberta científica com um valor acrescentado dos diabos!

E eu que cheguei a tomar, durante vários anos, dez cafés por dia… Estou salvo!

Mas, pensando bem, seriam mesmo dez?... Ou nove?...

Chatice! Terei utilizado correctamente a Krupp? Terei metido sempre a quantidade certa de Segafredo na máquina?

Estou perdido! Já não me lembro…

domingo, 25 de novembro de 2007

Estou frito!

A FRASE do Público:

"Vivemos sobre um despotismo 'iluminado' que não aceita a irregularidade, a dissidência, o direito de cada um à sua própria vida e ao uso irrestrito da sua própria cabeça." Vasco Pulido Valente, 25-11-2007

ESTOU FRITO!

Já sinto a cabeça à roda, depois de ler esta tirada.

Esta tarde fui fazer algumas compras ao hipermercado, lugar desaconselhado e nunca visitado por alguns irregulares dissidentes de zonas bem (único sítio, segundo alguns, onde há direito à vida) que não se misturam com multidões e preferem a mercearia da esquina onde são tratados com a maior deferência, aliás, sem as filas de pagamento nem os encontrões involuntários. Aos sábados e domingos eles levantam-se pelas dez e meia, saem depois do pequeno almoço, muito aprumados, a comprar o jornal de referência, sentando-se depois no café da elite, o melhor da zona, a lê-lo tranquilamente, ante a consabida bica normal, servida a pedido em chávena previamente escaldada, pedido que o moço atende, solícito, com o sorriso nos lábios e uma leve inclinação de pescoço…

Mas eu prefiro o hipermercado. Ando metido no meio da gente, ouço, mesmo sem querer, os seus comentários à carestia da vida, aos problemas dos filhos nos ATL, às dificuldades nos transportes públicos, às sequências das melhores telenovelas, aos resultados do futebol, às doenças da família, eu sei lá que mais!... Quase não necessito de ler o jornal!

Meto as compras para toda a semana, na bagageira do carro, e lá vou direito a casa, satisfeito com o dever cumprido. Longe de mim, pois, deslocar-me diariamente à mercearia para adquirir o açúcar para o chá, ou a alface para a salada, ou as anonas que haviam ficado esquecidas… nem à padaria da rua em frente, todas as manhãs, logo cedinho, quer chova ou faça sol, a comprar o pão fresquinho para o pequeno almoço ou os croissants para o lanche…

Faço parte do maralhal e não dos irregulares dissidentes que tratam da sua vida com exclusividade, no uso restrito (não restritivo) da sua cabeça, que não escutam nunca as opiniões dos outros, os quais julgam, por andarem em grupo, por andarem nos mesmos lugares, por comprarem todos as mesmas coisas, por vestirem todos roupas idênticas, por viverem todos em andares de bairro, por mandarem todos os filhos para as escolas públicas, por andarem todos em carros rascas, por contarem todos o dinheiro até ao último cêntimo e por festejarem sempre nos restaurantes de terceira...como seres inferiores a contactar o menos possível.

Mas é este maralhal de supermercado que constitui a grande maioria da nação, que discute a carestia da vida, que discute a bola e também outras coisas quando é necessário, que reclama quando se sente prejudicada, que por vezes leva ainda a sua bastonadazita, mas que não entende nada desse «despotismo iluminado» que tanto choca a gente fina que também escreve nos periódicos de referência feitos por ela e só para ela ler...

Já disse tontarias em excesso. Perdi a cabeça. Aí vem o «despotismo iluminado» do V.P.V….

Estou frito!

Lugares comuns

A ENTREVISTA E OS RECADOS

O Inspector Geral da Administração Interna, provavelmente não tendo coragem para expor directamente ao Ministro, os seus próprios problemas, ou não tendo recebido deste o apoio que pretenderia, resolveu mandar a alguém uns recados, via entrevista à Comunicação Social como agora vai sendo hábito, no aproveitamento simultâneo que esta vem fazendo na capitalização, em seu proveito, do descontentamento alheio…

Como resultado imediato, conseguiu alinhar todos os sindicatos, organizações profissionais, partidos da oposição e todos aqueles cuja profissão (ao contrário do que apregoam) é denegrir e deitar abaixo quem não concorda com eles, contra o desgraçado, solitário Ministro, desta forma obrigado a vir a terreiro quando não contava…Mas a vida de político é isto mesmo: desfrutar de bombos e festas por um lado, sofrer picardias e traulitadas por outro.

«Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele», lá diz o povo, na sua infinita sabedoria que eu cada vez aprecio mais.

Mas, bem vistas as coisas, entrevistas e recados é o que está a dar na Comunicação Social! Geralmente, com este sistema matam-se dois coelhos, de cada vez. Por poucos patacos, enchem-se umas boas páginas com temas que eventualmente vão agradar aos leitores superficiais e coscuvilheiros e, por via disso, consegue-se aumentar ou sustentar as vendas que eventualmente começavam a cair…Por outro lado, a técnica para obter uma entrevista deste tipo tornou-se quase um lugar comum e não necessita de grandes estudos ou pesquisas.

Com uma sociedade cada vez mais virada para o lucro fácil e o confronto de ideias -ou parvoíces – a propósito de tudo e de nada, com a seriedade dos factos e das notícias (que dão trabalho inegável), cada vez mais a perder terreno para a fofoca que todo o mundo apreende e explora num ápice sem custar qualquer esforço…a entrevista superficial e fofoqueira tem a vantagem de chegar e ser vendida rapidamente a toda a gente e, ao mesmo tempo, servir aos patos-espertos entrevistados para escoamento de prosápias, ressentimentos ou acusações aos inimigos de ocasião…

Alguém sai, portanto, geralmente sujo no retrato feito na entrevista. Provavelmente, em muitas delas, será esse mesmo o objectivo subjacente na artimanha jornalístico-informativa, o que é ainda mais deplorável.

Mas numa coisa tenho que tirar o chapéu à Comunicação Social: saber tirar lucro a dobrar deste tipo de entrevistas e nunca perder a embalagem para a próxima. Faz-me lembrar uma certa definição que uma vez, há muitos anos, li no Borda de Água:

«Judeu: indivíduo que, com uma pedra mata dois coelhos…e ainda quer a pedra!»

Os judeus que me perdoem.

sábado, 24 de novembro de 2007

O ovo de Colombo!

TER OU NÃO TER...

Um rapaz estava numa entrevista para conseguir um emprego.
- Muito bem meu rapaz, estás contratado e podes começar amanhã às 9h00. - disse o director.
Todo atrapalhado, o rapaz explica: - Mas senhor... esqueci-me de mencionar... é que tenho um pequeno problema físico.
- Sério? Que problema tens? Não vejo nada de diferente em ti!
- É que, na guerra, tive uns problemas com uma granada e acabei por ficar sem testículos.
- Ah, não há problema, faz o seguinte: entras às 10h00, tudo bem?
- Sim, mas por quê essa diferença de horário?
- Bom, todos aqui entram às 9h00 e ficam a coçar os tomates até às 10h00.

Não está mal, como anedota. O pior é que, em Portugal, na vida real, a sabedoria popular está precisamente de acordo como diagnóstico da última frase: todos… ficam a coçar os tomates até às 10! Damos de menos, claro, o que fazem as madames, até essa hora…

Felizmente que os portugueses fazem das fraquezas forças, riem quando as situações são de chorar e contam anedotas quando as coisas já não têm concerto! É o caso.

E continuam os governantes líricos a falar diariamente na melhoria da produtividade nacional, sem saber como fazê-lo. Incompetentes!

Para o povo sábio, é bem simples: para começar, todos os homens deveriam coçar os tomates apenas até às nove e meia e daqui a três ou quatro anos, acabava a coçadura. Para as mulheres, acabava de uma penada a hora matinal da má língua…


A lei e a independência da Magistratura

.

Aos treinadores de bancada

Cada qual quer a lei à medida das suas inclinações pessoais…No caso da lei que tanto preocupa os senhores magistrados, e em especial o seu aberrante sindicato, das duas, uma: ou a lei é inconstitucional e não será promulgada (com ou sem «recados» ao Presidente da República), regressando ao Parlamento, ou é constitucional e será promulgada, devendo a partir daí, ser acatada por todos os cidadãos, magistrados à cabeça. Tudo o resto é conversa de que o povo começa a estar enjoado

Precisa-se de um veto (Artigo de E.Rangel no C.M., comentado acima)

Incomoda pensar que (...) ninguém avaliou as consequências de uma decisão que significaria (...) o fim da independência dos tribunais.......

A Esmeralda de novo

A ESMERALDA DE NOVO

O povo sábio começa a estar farto desta confusão em que até a Justiça anda metida há anos. Do que se necessita é de menos conversa, de um pouco mais de bom senso e de menos vírgulas. A criança, a única vítima de tanta barafunda, não tem culpa dela. Deus ilumine os agentes decisores do caso, que bem precisam. Os riscos da decisão são grandes. A criança, que não é nenhum brinquedo, agradecerá mais tarde, ou condená-los-á definitivamente, no tribunal inapelável da sua consciência.

A notícia do C.M.(24-11-2007) comentada:

Carlos Barroso
Admite-se no meio jurídico que Esmeralda possa continuar mais tempo com os seus pais afectivos
Admite-se no meio jurídico que Esmeralda possa continuar mais tempo com os seus pais afectivos

O Tribunal da Relação de Coimbra pode vir a alterar o acórdão que determina a entrega de Esmeralda Porto ao pai biológico, com base nos pareceres médicos que prevêem danos graves para a saúde mental da criança. Segundo apurou o CM junto de um juiz-desembargador, o pedido de afastamento dos técnicos do Departamento de Pedopsiquiatria de Coimbra “não irá ter reflexo na execução da

A frase da discórdia

A FRASE

"A administração fiscal converteu-se numa organização cujo principal objectivo é gerir com eficácia um aparato burocrático e legislativo dedicado a extorquir dinheiro aos cidadãos". Manuel Carvalho, PÚBLICO, 23-11-2007

Carta ao Director do Público (23-11-2007…22:29)

Senhor Director:

Li com alguma apreensão a frase do dia 23-11, escolhida pelo Público, sobre um «aparato burocrático e legislativo dedicado a extorquir dinheiro aos cidadãos». Já tenho lido coisas piores, mas esta também não tem graça. Não conheço, nem boa parte dos leitores, o contexto em que a frase foi escrita mas, de qualquer maneira, fez-me lembrar um e-mail que recebi, pedindo cadeia de transmissão a prevenir os amigos, a propósito dos «criminosos» radares instalados nas portagens das auto-estradas, proporcionando multas de 150 euros ou até a retenção da carta, aos passadores além dos 60Km horários estipulados…

Não há dúvida que Portugal é um país de brandos costumes e, sobretudo, de uma permissividade tradicional relativamente ao cumprimento das leis. Os cidadãos entretém-se, nas horas vagas, a descobrir ou publicitar a maneira de transgredi-las. Só faltava, já agora, a Imprensa também a colaborar nessa rebaldaria, demitindo-se, mais uma vez, da sua função de formação do cidadão comum!

Uma frase como aquela, uma vez escolhida, merecia, por isso mesmo, o comentário adequado, da parte do jornal. É evidente que, se todos os cidadãos pagassem honradamente as suas contribuições, quase poderíamos dispensar a tal máquina burocrática…a fazer o papel de polícia. E assim, talvez cada um de nós pagasse um pouco menos…

Eis Portugal no seu melhor!

Os melhores cumprimentos.




quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Ignorâncias da Justiça


18.11.2007 - 22h53 Catarina Gomes

O Tribunal da Relação de Lisboa considerou justificado e legítimo o despedimento de um cozinheiro infectado com HIV que trabalhava na cozinha de um hotel, confirmando decisão semelhante já tomada pelo Tribunal de Trabalho de Lisboa.

O meu comentário:

É incrível que dois tribunais tenham dado e confirmado uma sentença abominável. Já seriam erros imperdoáveis, se resultassem apenas de ignorância científica pura, o que também parece transparecer da decisão destes senhores juízes. Efectivamente, eles não são médicos, farmacêuticos, biologistas, virulogistas, analistas ou sequer e muito menos cientistas. A verdade, porém, é que não são simplesmente ignorantes na matéria julgada, o que não seria crime mas, pior que tudo, na sua falta de rigor na leitura de relatórios científicos mostrando a evidência de dados adquiridos e há muito comprovados. Não há dúvida, para quem tem um mínimo de conhecimentos, de que a Justiça, destas duas vezes foi, no mínimo, infeliz! E não falemos do clínico que denunciou o portador do virus, infringindo todas as regras de sigilo profissional! Tudo coisas más de mais para poderem ser esquecidas tão cedo. Mesmo que, mais tarde, venha a fazer-se a verdadeira Justiça!

Os Donos da Diplomacia


Portugal -uma diplomacia do Caracas…Foi assim que eu li, há pouco, um interessante artigo de opinião de Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias, onde descrevia com agrado e alguma malícia à mistura, as virtudes da nossa curvilínea diplomacia, face à truculenta diplomacia espanhola, bem consubstanciada no já célebre «por qué no te callas» do rei Juan Carlos. Cem por cento de acordo.

Resta-me acrescentar que a nossa diplomacia dá cartas, não só à diplomacia da Espanha, mas à dos maiorais da Europa e dos outros Continentes. Com um saber de experiência feito, ao longo de mais de oito séculos, nem outra coisa seria de esperar.

Aposto que ninguém, neste pequeno rectângulo à beira mar plantado, pensou que a nossa existência como país independente se deveu, mais à sabedoria diplomática (quer nos tempos da Monarquia, quer mesmo nos dias mais recentes da República) que aos feitos de coragem e bravura de tantos heróis que povoam a nossa história. Provavelmente, irei chocar, com estas afirmações, muito boa gente, mas a verdade é que um pequeno país em área, população e recursos, apertado em terra e no mar por fortes potências militares, não poderia ter sobrevivido apenas com recurso a actos de bravura, por maiores que fossem. Esta maneira de estar na Europa e também nos diversos Continentes onde permanecemos, foi-se afirmando e enriquecendo, com curvas e contracurvas, talvez, mas com um objectivo fixo e até hoje quase sempre conseguido: a independência e o engrandecimento de Portugal. Este facto, aparente e paradoxalmente esquecido no dia-a-dia das verticais gentes cultas que dizem mal de tudo e todos, está bem entranhado na maneira de ser deste povo valente que sempre foi carne para canhão, nas alturas mais difíceis. Não quero terminar sem um conselho ao rei e aos espanhóis convencidos, das gentes sábias deste Portugal diplomaticamente invencível: «não é com vinagre que se apanham moscas»!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Eça de Queirós e a situação do país

SITUAÇÃO DO PAÍS EM 1871

"O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. (.)
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. (.)
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: O país está perdido!"

Eça de Queirós, 1871. Este texto merece ser publicado, pois passados 135 anos continua bem actual.

As escutas-carta a um senhor comentarista

Caro senhor:

As escutas tornaram-se um vício de muitos portugueses, depois da Inquisição. Agora, quem tem dinheiro compra um aparelho de escutas ou um espia. A Justiça gasta parte do tempo a autorizá-las e a ouvi-las. Os Advogados esfalfam-se a desconstitucionalizar escutas aos clientes. As Polícias fazem-nas à socapa, para rentabilizar a investigação. Os que não têm onde cair mortos escutam atrás das portas, fazem-se bufos ou enviam cartas anónimas. E a C. Social aproveita as fontes …