quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

SÁBIOS, TEIMOSOS E INSOCIÁVEIS


Mensageiros falhados

Há sábios que apregoam a sua sabedoria pelos quatro cantos do nosso pequeno país, mas nem mesmo assim conseguem passar uma insignificante mensagem que seja, aos governantes e às populações, de forma eficaz.

Ao contrário, limitam-se a dizer mal de toda a gente, em especial dos governantes, dos autarcas, dos partidos e dos políticos em geral, das instituições públicas e até dos fazedores de riqueza ou de todos aqueles que mostrem desejo real de fazer qualquer coisa, seja bem ou seja mal. Para eles, tudo vale o mesmo. Todos são rotulados de gente incapaz, ignorante, «burros chapados» que não conseguirão nunca levar o país a qualquer lado.

Num vídeo que corre na Internet, retirado de uma entrevista passada na TV, um desses sábios chega mesmo a dizer que, no nosso universo político, só conheceu em toda a vida três políticos sérios, considerando o resto uma «corja» de incompetentes, corruptos, oportunistas...Também compara os nossos políticos de hoje aos do século XIX, valendo-se das tiradas tão bem escritas como demagógicas do Ramalho ou do Eça. Zurzia meio mundo num século em que só o Fontes Pereira de Melo merecia salvar-se do naufrágio, apesar de ter imposto a construção dos caminhos-de-ferro, fiados aos ingleses, contra toda uma oposição que insistia nas carroças a pronto pagamento.

Claro que estas são considerações que este sábio e os outros fazem à distância de cento e cinquenta anos, são sempre fáceis. Já as comparações com os tempos de hoje são altamente tendenciosas, maledicentes e nunca isentas.

São opiniões. Cada um pode ter a sua, mas o peso delas nem sempre é o mesmo. A minha não valerá nada, mas a de um sábio como esses é importante, é passada nos meios de comunicação social, chega a metade da população, e até pode ter consequências.

O principal problema desses tais sábios é que se sentem mesmo sábios, nas suas diatribes e sentenças, coisa que nunca acontece com os grandes sábios, geralmente humildes, passando despercebidos da maioria, nada fazendo para aparecer nos areópagos, na comunicação social, nos «mentideros»...até que a sua obra, a sua sabedoria seja lentamente reconhecida e apreciada pela comunidade. Algumas vezes o reconhecimento da sua inteligência e da sua obra só acontece depois de darem a alma ao Criador...

Também curiosa é a forma de convivência destes Homens Sábios, com letra grande, com a sociedade que os rodeia. Podem ter que defender as suas teses, mas fazem-no inteligentemente, sem insultar ninguém, quantas vezes até perseguidos e insultados pelos ignorantes e os radicais de serviço.

Ora o contraste desses Génios com os nossos pequenos sábios não pode ser mais chocante. A estes não lhes basta expor as suas teses e defendê-las com argumentos e cordialidade, pois são totalmente dependentes de uma certa agressividade insultuosa e malcriada, sobretudo para quem os contraria ou não partilha das suas ideias. A sua sapiência não passa, na verdade, duma capa fina e quebradiça.

Tenho em mente especialmente três destes pequenos sábios cujos nomes não cito por educação, de que uma certa comunicação social se apoderou, ou eles dela, servindo-se desse meio para zurzir tudo e todos, muitas vezes com termos impróprios, como se fossem o supremo «dictator» da República.

Pergunto a mim próprio donde lhes terá vindo esse radicalismo, essa agressividade absurda e constante manifestada na sua maneira de estar e de tratar os outros que não concordam com eles, em especial os políticos dos principais partidos, e parece-me ter encontrado a resposta adequada.

É que todos três foram políticos, na Assembleia ou no Governo, sem deixar sequer vestígios de obra feita. Culpa de outros e não deles, dirão para quem os interrogar sobre isso...

Mas não deixaram de ser uma nódoa, porque a Política é uma Ciência Social e disso dão mostras de não perceber nada, apesar de escreverem, falarem, criticarem e insultarem muito.

São sábios teimosos e insociáveis, politicamente mensageiros falhados das suas ideias muito próprias, muito suas, muito postas nos píncaros...mas que não servem para nada, porque não sabem, não conseguem impô-las a ninguém, apesar dos poderosos meios que têm à sua disposição. Eles são retórica pura, nada mais, afinal.

Dizer sempre mal de todos, fazer o bota-abaixo permanente, arrasar tudo o que aparece pela frente, numa táctica de terra queimada, é certamente muito mais fácil que mostrar argumentos sérios, tentar construir algo e, apesar do derrotismo ser infelizmente uma característica comum a muitos portugueses, também acaba por cansar.

O conselho que humildemente lhes sugiro, se teimam na mesma, é que vão pregar a outra freguesia, porque não precisamos de sábios destes.

Precisamos, sim, de alguém que nos ilumine, nos indique soluções, nos consiga transmitir ânimo, neste momento de dificuldades a que ninguém sabe dar a volta.

Já basta a crise para nos deixar a todos de rastos.

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