domingo, 4 de janeiro de 2009

MÉDICOS FALTOSOS


A falta de competição

Quem não faz nada, um dia há-de ter vergonha. Foi com estas palavras que o administrador do Hospital de S. João, no Porto, vai publicar, em locais de acesso aos funcionários da unidade, os nomes dos médicos com elevado absentismo. O objectivo é sensibilizar os profissionais de saúde para aumentar a qualidade de trabalho.

Poderá parecer um exagero de gestão, tratando-se de funcionários com um índice cultural elevado, mas o cumprimento do dever não se mede pela cultura nem pela sapiência, ou pela falta delas.

Há cerca de três anos, a administração dos hospitais viu-se na necessidade de implementar um sistema de marcação de ponto, utilizando as impressões digitais do indicador direito, devido à burla das presenças verificada na assinatura dos livros de ponto, o que já era uma vergonha intolerável. Nessa altura, os protestos dos Sindicatos e da Ordem foram tremendos, para vergonha dessas próprias instituições. A Ordem, ao menos deveria dar, na altura, uma boa reprimenda aos seus associados e aconselhá-los a cumprir as suas obrigações.

Agora, verifica-se que nem a assinatura digital resulta, na totalidade, porque há médicos que faltam sistematicamente, justificando com atestados continuados as suas desmedidas ausências. Mas não são só os médicos a faltar despudoradamente.

Diz ainda o administrador do S. João: “É preciso que se desmistifique a ideia de que só acontece com os médicos”, sublinhou António Ferreira. Contudo, explicou a estratégia de alguns funcionários públicos: “Temos profissionais que faltam 59 dias, vêm trabalhar dois ou três e faltam mais 59, com base em atestados”.

Chama ainda a atenção para dois factos que revelam a falta de sentido do dever que ronda por aí. No funcionalismo público, a taxa de absentismo bruta é de 14-16%, enquanto nos contratos individuais de trabalho anda à volta de 1%, o que explica muita coisa...

Não quero dizer com isto que toda a Função Pública é incumpridora das suas obrigações, pois tem, como todos os empregos, bons e maus profissionais, mas a ideia que, desta maneira, se passa para o exterior, não pode ser boa.

Pessoalmente, com mais de trinta anos passados em empresas privadas com numerosos trabalhadores, nunca verifiquei que se ultrapassasse a fasquia de 3% de faltas!

No caso dos médicos dos hospitais, onde muitos serviços são executados em grupo ou em inteira dependência uns dos ouros, como nas cirurgias, certas análises, etc. a falta de um elemento pode acarretar graves problemas. Eu próprio, em determinada ocasião, estive três horas medicado, numa maca, aguardando a entrada para a sala de operação que não chegou a realizar-se pela falta de um elemento da equipa...

Que poderá optimizar-se ou fazer-se de forma razoável, com funcionários injustificadamente faltosos, trabalhando ainda por cima, num hospital?

A falta de médicos, resultado de largos anos de numerus clausus corporativa e disfarçadamente aprovados, conduz a estas e outras aberrações. Este é o maior problema do nosso Sistema de Saúde, não tenhamos dúvida, e só terminará quando existirem médicos suficientes, em competição pelo emprego, como sucede nas noutras profissões.

Mas quanto tempo ainda vai isso demorar, no passo de cágado em que andamos, com cerca de 2500 médicos estrangeiros contratados, com numerosos alunos a cursar Medicina em Espanha, em Inglaterra, na República Checa, em França, eu sei lá mais onde, e os doentes a sair para Cuba, Espanha, etc. a fazer simples operações de cataratas, rapidamente e a metade do custo?

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