segunda-feira, 30 de março de 2009

«TREINADOR ADJUNTO DE CLASSE MUNDIAL»

Queiroz, campeão dos sub-21...

Está mesmo a ver-se que o actual treinador da selecção nacional de futebol já começou a ser crucificado na praça pública, e ainda não estão reunidas todas as provas. É o costume, neste país de má-língua onde poucos fazem alguma coisa de jeito e os que tentam fazer são logo amachucados à partida, necessitando de grande esforço e determinação para continuar.
O mundo do Futebol não escapa à regra, ainda mais exacta quando se trata de treinadores nacionais. Nos clubes clubes isto já era coisa velha e corriqueira
Na selecções nacionais, como Portugal nunca chegava dantes a parte nenhuma, os treinadores lá iam escapando umas vezes, outras passando por entre os insultos mais soezes e até por algumas agressões. A partir de certa altura, Portugal começou a ficar conhecido pelos campeonatos de sub 21, com resultados honrosos e até uma taça mundial, cujo herói, o treinador Carlos Queiroz teve o condão de reunir jogadores de grande classe e de lançá-los como profissionais de grande nível, mais tarde celebrizados nos clubes nacionais e depois pagos a peso de ouro por equipas estrangeiras de enorme projecção mundial.
Desta forma, com persistência e sapiência, Carlos Queiroz conseguiu ganhar o interesse de algumas selecções e clubes nacionais ou estrangeiros. No Sporting não foi muito feliz. Mas na selecção da África do Sul conseguiu ele realizar meritório trabalho. No mítico Manchester United, onde permaneceu vários anos como adjunto de Alex Fergusson, foi igualmente louvado, chegando a ser proposto para treinador principal, quando este se retirasse. Uma passagem de C. Queiroz pelo campeoníssimo Real Madrid, saldou-se num fracasso, culminando com o seu regresso a Manchester. Também as equipas de sub 21 nunca mais ganharam algum título, com desempenho algo irregular, nem sempre meritório.
Na equipa principal, Portugal lá foi melhorando, pouco a pouco, a sua imagem, sobretudo depois da contratação de um treinador ganhador do Mundial, o brasileiro Luís Felipe Scolari. O homem, para além dos seus grandes conhecimentos de futebol, alicerçados em provas dadas, conseguiu ultrapassar os compadrios tradicionais para escolha dos seleccionáveis, impôs disciplina, respeito e ordem ao trabalho dos jogadores, meteu num bolso a Comunicação Social coscuvilheira, fofoqueira e derrotista do costume, deu largas às suas ideias, sem se preocupar um pepino com umas quantas más línguas residuais e conseguiu um palmarés invejável para a Selecção Nacional, nos poucos anos à frente dela, levando-a a ser vice-campeã da Europa e quarta no Mundial, colocando-a entre as melhores do Mundo.
Mas a Scolari também foram apontados pela imprensa portuguesa alguns defeitos, entre os quais a prepotência, a frontalidade sempre na ponta da língua e a teimosia foram menores, comparados com os seus altos vencimentos. A imprensa desportiva começara a sair do gueto onde ele a tinha metido, e estava a ganhar confiança. A Federação tinha que escolher um sucessor.
O treinador brasileiro, com o seu carácter rígido apesar do bom trabalho desempenhado não foi, talvez por isso, grandemente ovacionado pela imprensa portuguesa, na sua saída. Na altura escrevi um pequeno artigo onde augurava que ainda viria o tempo em que Scolari haveria de ser lembrado com saudade, como também é normal, no nosso país.
Carlos Queiroz não podia deixar de ser o treinador escolhido mais consensual até hoje, pelos seus méritos e pelo seu prestígio e foi logo colocado nos píncaros, pelos comentaristas desportivos. Infelizmente, os resultados em campo não apareceram e Portugal corre o risco de não ser apurado para o mundial a realizar na África do Sul, até porque alguns dos adversários, são de respeito. Poucos meses depois de ter sido endeusado, começa a ser crucificado, como habitualmente.
Um conhecido comentarista de um importante diário já emitiu o seu veredicto final. Como treinador de bancada tradicional, depois de discordar das opções do responsável no desafio com a Suécia, terminado com um empate a zero, sentenciou sem piedade: Queiroz é um treinador adjunto de classe mundial!
Esta é apenas uma amostra do que já vai por aí, na tentativa de destruição rasteira de Carlos Queiroz, como responsável da Selecção Nacional, e ainda a procissão vai no adro. O sistema é conhecido, é habitual entre nós.
Ao desgraçado treinador só restará aguentar, daqui em diante, as pedradas que lhe serão atiradas sem descanso, pelos mesmos que o vitoriavam há pouco, no seu caminho solitário e triste até ao Calvário. A morte súbita ocorrerá antes, se houver uma derrota apenas, nos jogos que faltam. Dizem por aí os sábios donos da bola que ele tem obrigação de ganhar, que para isso foi contratado, que para isso lhe pagam bem...senão, rua!
Olha a novidade, dirão já alguns. Mas na realidade, em Portugal, a quem ocupa cargos de responsabilidade ou de simples visibilidade pública, exige-se, muito mais do que conhecimentos e profissionalismo com alguma sorte nos resultados à mistura. Exige-se sobretudo uma grande, enorme capacidade de sofrimento, coisa que abunda entre os portugueses. Não sei se feliz, se infelizmente...

domingo, 29 de março de 2009

SOL E SOMBRA


Visões espúrias a preto e branco

A vida a preto e branco é simplesmente uma miragem, embora o subconsciente nos segrede, de vez em quando, que assim é que é, ou assim é que deve ser, ponto final. Alguns deixam-se embalar nessa cantiga, e por isso têm aparecido ao longo dos séculos, exageros e aberrações incríveis. As consequências da insistência sistemática nas visões espúrias do mundo a preto e branco absolutos são as mesmas que conduzem às guerras entre nações e, no seu aspecto mais radical, às limpezas étnicas, aos holocaustos, às lutas civis ou de carácter religioso.

As religiões proclamando, todas elas, o entendimento entre os homens, a tolerância, a piedade e a misericórdia, não cedem um milímetro nos seus princípios que julgam certezas infalíveis e defendem até à morte. Pior ainda é a tentativa, quase sempre falhada, de impor pela violência física as suas crenças aos semelhantes que com elas não estão de acordo. A História tem mostrado quão vãs são essas intenções, apesar de cimentadas em êxodos, ostracismos, castigos e crueldades sem conta, prisões atrozes e muitos milhões de mortos.

A Humanidade já devia ter aprendido ao longo de milénios de erros dolorosos e recuperações lentas e difíceis, que não é por esse caminho que se transforma para melhor, que não é pela via da imposição religiosa ou política de ideias ou normas tidas como indiscutíveis que se cultiva, se regenera, ou se torna mais virtuosa, antes pela abertura do espírito às descobertas da Ciência e do Pensamento, ao Estudo permanente e sem preconceitos dos inúmeros problemas que a afligem e da melhor forma de resolvê-los.

E no entanto, o recurso à violência ainda hoje se encontra enraizado ou simplesmente incentivado por motivos religiosos ou interesses económicos e políticos, depois de tantas lições que deviam ter sido aprendidas, trazendo à maioria das populações a desgraça, a fome, a miséria e a intranquilidade, à custa do gozo, do egoísmo e da ambição desmedida de uns quantos oportunistas que se julgam iluminados...

Todas estas contradições parecem estar actualmente reunidas na guerra, real ou silenciosa, de cariz económico, racial, político-religioso, movida pelo Islamismo contra a Civilização Ocidental, eventualmente o próprio Cristianismo.

Responder da mesma maneira, portanto, não sei se será a melhor solução. Combater um radicalismo com outro não irá conduzir a Humanidade à paz dos espíritos, a única definitiva mas que não pode ser imposta pela força. As desgraças sem fim da Palestina, do Afeganistão e do Iraque são disso exemplos flagrantes. O mal foi feito e remediá-lo continua a ser muito difícil, ou será mesmo impossível, anos e anos passados.

A tentação de intervir no Irão, na Coreia do Norte e noutros pontos do Globo, ainda não está totalmente posta de parte pela omnipotente administração americana, a qual, de vez em quando parece esquecer-se da guerra do Vietnam, onde a luta contra o comunismo foi bandeira hasteada furiosamente, levada até à insanidade, como se o Mundo acabasse ali mesmo. Terminou com tristes resultados. Agora, ao ver nas notícias a celebração de acordos comerciais entre os Estados Unidos e o Vietnam, e a abertura do país ao turismo internacional, poucos ficarão convencidos ainda da utilidade desse cataclismo no Sudeste Asiático que acarretou milhões de mortos e estropiados e de que alguns, confortavelmente instalados na vida, continuam ainda a não aprender a lição.

Também por cá, o Estado Novo incorreu na tal visão espúria do mundo a duas cores, chegando a colocar nos selos de correio o lema de tudo pela nação, nada contra a nação, tendo subjacente outro mais egoísta de quem não é por nós, é contra nós, que a PIDE se encarregava de lembrar constantemente aos cidadãos, privando de sol os discordantes e metendo-os à sombra do Limoeiro. Felizmente, no Portugal de hoje, sol ou sombra só na praça de touros e, mesmo assim, pela escolha dos espectadores.

Recorda-se agora o infausto desastre da Ponte das Barcas, no Rio Douro, onde cerca de 4000 habitantes do Porto, acossados pelas tropas de Soult que invadiam a cidade, morreram afogados. De nada valeu a Soult, reforçado com tropas espanholas e aureolado pelo prestígio de Napoleão, efectuar a segunda invasão francesa de Portugal, com o seu rol de desgraças e morticínios. Não conseguiu atravessar para Vila Nova de Gaia, e teve que retirar para Espanha, ele próprio perseguido pelo exército anglo luso e acossado por uma guerrilha que não lhe deu tréguas. A terceira invasão francesa, no ano seguinte, foi detida também, depois das batalhas do Buçaco e das Linhas de Torres, demonstrando a Napoleão que de nada servira a sua teimosia de mandar neste cantinho do Ocidente.

O conjunto de guerras de que o Imperador dos Franceses foi promotor por essa Europa fora, originou 15 milhões de mortos de quase todos os países que o aceitaram ou foram vítimas da sua visão a preto e branco. Quem pode aceitar que esta hecatombe justifique as estátuas, o túmulo gigantesco e os monumentos sumptuosos que desde a sua morte foram construídos em sua honra, numa França que ele deixou finalmente exausta e vencida?

O monumento singelo aos mortos do desastre da Ponte das Barcas, no Cais da Ribeira do Porto, esse sim, continuará a perpetuar a memória dos que lutaram contra a tirania de quem desejava impor a sua sombra a um pequeno país que depreciava e elegeu como vítima, mas cheio de sol, de liberdade e de gente heróica.

Apenas alguns metros mais acima, num clima de paz e colaboração que sempre deveria existir entre as nações, Gustave Eifel, um francês também célebre, mas desta vez por grandes projectos inovadores em várias partes do Mundo, planeou e executou a notável ponte metálica de D. Luís I, emblema da Cidade do Porto.

sábado, 28 de março de 2009

CERTEZAS INCERTAS


Sim, não, ou nenhum deles?

A Comunicação Social desempenha nas democracias um papel inestimável, na informação dos cidadãos.
Dessa informação fazem parte inúmeras alíneas, qual delas a mais importante. Entre elas, o jornalismo de investigação desempenha hoje um papel essencial, dando conhecimento às populações, às autoridades e à Justiça, de situações, de factos ocultos ou que passaram despercebidos, muitos deles suspeitos ou acusados pelo senso comum de ilegalidades de vária ordem. Em Portugal temos que agradecer à Comunicação Social o facto de ter denunciado situações irregulares de maior ou menor gravidade, originando a intervenção imediata das forças policiais e da Justiça.
Até aqui, creio não ter dito nada de novo, nada mesmo que a maioria dos portugueses não possa subscrever.
Os problemas da Comunicação Social começam quando, embalada nos seus próprios êxitos, pretende que a Justiça confirme tacitamente aquilo que ela investigou e passou à população como certo.
Mas geralmente, até que essa certeza venha a ser certificada pela Justiça, vai muitas vezes uma grande distância, medida em anos de trabalho da polícia, de advogados e de tribunais que não se regem exactamente pelas mesmas bitolas. E assim, das propostas frequentemente feitas e sustentadas diariamente ante a opinião pública, muitas acabam metidas no caixote do lixo pelos tribunais.
Ultimamente, diversos casos e situações dadas como crimes de colarinho branco ou de corrupção administrativa tiveram esse destino. Fruto deste aparente desentendimento entre juízes e jornalistas, resulta o desencanto cada vez maior das populações perante a Justiça. Mas os Média vão sofrendo também os seus rombos, perdendo algo da sua credibilidade.
O povo olha as notícias que a Comunicação Social lhe fornece com pouca desconfiança e chama ineficaz à lenta Justiça Portuguesa. Mas não tenho dúvidas também de que alguns apreciadores destas valorizações diferentes das mesmas situações se interroguem se são certezas ou incertezas, aquilo que nos apresentam a Comunicação Social e a Justiça, cada uma de sua maneira?
É a Justiça que falha constantemente, ou é a Comunicação Social que frequentemente não fala verdade? Sim, ou não, ou nenhum deles?
A única certeza resultante destes casos julgados prévia e apressadamente na praça pública, com a sentença posterior de ilibação de culpa, é que todos os portugueses ficam a perder um pouco da sua capacidade de discernimento, deixando cair o seu interesse pelo que se passa no país, ou chegando mesmo à descrença nas suas próprias instituições.

sexta-feira, 27 de março de 2009

OS RATOS DECIDEM


O governo obedece

Hoje mesmo, a Lusa deu a notícia de que o Governo tinha desistido de uma estrada, em Trás-os-Montes, travada pela presença de uma colónia de ratos de Cabrera, protegidos pela UE, tendo optado por outra solução, devido aos inúmeros condicionalismos ambientais.

Vimioso, concelho limítrofe de Bragança e de Miranda do Douro, tem cerca de 5000 habitantes e 14 freguesias, três das quais ainda praticam o dialecto mirandês. A vila de Vimioso, sede do concelho, não possui mais de 1200 almas. Nestas condições, dado o isolamento e o esquecimento a que as gentes têm sido votadas, e a enorme falta de recursos, qualquer melhoramento que o Governo possa fazer em seu benefício será sempre bem vindo, quanto mais uma estrada de ligação de Outeiro ao Vimioso. No entanto, embora a nova estrada esteja incluída num pacote de melhoramento das acessibilidades que abrange ainda as ligações de Rio de Onor e Vinhais a Bragança, José Rodrigues, presidente da Câmara de Municipal de Vimioso, não sabe se será desta que a estrada que ficou célebre graças ao rato cabrera - por se supor que existia no local uma colónia daqueles animais, o que inviabilizou um projecto - irá desencravar.

Desde 1995 que já foram realizados vários estudos, nenhum saiu do papel. "Vamos ver se não é mais um", vaticinou.

E aí está como uma colónia de muito espertos ratos transmontanos inviabilizou durante anos uma estrada e mandou o Governo às urtigas. O presidente da Câmara de Vimioso ainda não está certo, portanto, de que a obra vai ter luz verde...

Não seria de admirar. Os ratos são animais determinados. Reza a História que um rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia, e muitos outro, na Idade Média ou mesmo depois, foram os principais veículos de transmissão da peste que periodicamente dizimava as populações, como até em Lisboa aconteceu algumas vezes.

Agora, certamente porque a peste bubónica está quase erradicada na Europa e já ninguém se assusta com os ratos, como antigamente, não por acção das ratoeiras há muito caídas em desuso, mas pela prática da higiene e pelo uso eficiente dos raticidas da Bayer ou da Monsanto, a UE rabiscou uma directiva protegendo os ratos de cabrera, que devem ser tratados e preservados como animais de estimação, mesmo que para isso sejam inviabilizados caminhos ou estradas de comunicação entre povoações votadas ao abandono.

Até aqui, nada de novo. Quem projecta estradas, pontes ou túneis, deve abster-se de assustar a bicharada que circula nos campos vizinhos e nada mais. Manda a Ecologia.

Assim, depois de termos assistido à construção de viadutos enormes, a quilómetros de desvios aberrantes, ao congelamento de obras prioritárias de vulto, à montagem de barreiras defensivas, e à importação de candeeiros especiais (neste caso por causa das aves migratórias que agora nos trazem o vírus H5N1), das lagartixas que apanham moscas distraídas, dos linces invisíveis, dos sapos que coaxam alto e dos coelhos a que os caçadores chamam um figo, quando os apanham a jeito, etc., que mais poderíamos esperar?

Vale a pena referir, mesmo de raspão, as incidências ocorridas com a Ponte Vasco da Gama, o atravessamento do Rio Sado, perto de Alcácer do Sal, pela Auto-estrada do Sul, os problemas junto de Castro Verde e da Serra do Caldeirão, a qual se salvou milagrosamente de ser atravessada por um túnel quilométrico, à custa de umas quantas alterações bizarras ao trajecto inicialmente previsto, e a uns tantos desvios manhosos...

Ao lado destas ou doutras dispendiosas e demoradas ocorrências, as peripécias ocorridas com a estradita de terceira ordem a construir no Vimioso, são anedota pura.

E no entanto, neste caso, uma simples colónia de ratos, ecológica e «presumivelmente» referenciada, conseguiu valer mais que uma «vilória» de 1200 habitantes, ou mesmo um concelho de 5000, que necessitam de acorrer às Urgências Médicas de vez em quando...ou então o bom senso é uma batata.

Aqui, não há discussão possível.

Os ratos decidem e o Governo obedece. E é se quer... Caso contrário, eles apelam para a UE.

Não devemos rir. A Ecologia é uma coisa muito séria e deve ser tomada, sempre, como tal

quinta-feira, 26 de março de 2009

ESTÁ TUDO PODRE


La Palisse não teria dito melhor

Ao ler a crónica com este título (o subtítulo é meu) de um eminente comentarista, invadiu-me uma tristeza infinita e o desejo de escrevinhar duas linhas de desabafo. Não quero acrescentar nada ao que foi passado à opinião pública, porque realmente os podres da Sociedade Portuguesa reflectem-se na Política, na Economia, na Justiça, na Educação, na Administração Pública e em todos os itens que nos lembremos de enumerar. É uma desgraça pegada, que o articulista toma como referência para fechar o seu texto extremamente derrotista de vários parágrafos, com uma tirada tão verdadeira e cabal, como banal e ridícula: A verdade é só uma. Estamos definitivamente condenados ao triste fado dos desgraçadinhos. Estávamos em crise antes desta crise começar, vamos ficar em crise depois da crise passar.
Estou de acordo. É evidente. É mesmo intuitivo. Mete-se pelos olhos dentro. O próprio La Palisse não teria dito melhor!
Mas o que me entristece não é a constatação que o articulista faz destas misérias. É, sobretudo, a ligeireza, a vulgaridade com que são ditas, a repetição absurda, persistente, que se faz delas, contribuindo para entranhar ainda mais nas gentes a sensação quase tradicional de impotência, de desânimo, de impossibilidade de sair do atolamento que parece nascido propositadamente há trinta e cinco anos, segundo este e outros comentaristas saudosistas e derrotistas de profissão, quais profetas das desgraças dos tempos modernos:
-Olhai, oh gentes! Quando virdes estes sinais, o fim está próximo!
O que me entristece é que este desânimo dos portugueses, este derrotismo permanentemente acentuado com a desvalorização sistemática das nossas possibilidades, de tudo quanto é genuinamente nosso, iniciado há muito, mas acentuado de há cento e tal anos a esta parte, não encontra contrapartidas válidas nas classes mais cultas e poderosas do país, moralmente responsáveis pelo seu engrandecimento ou, pelo menos, pela sua saída do fosso. Pelo contrário, o seu entretenimento preferido é a desvalorização do país, à qual a imprensa se junta alegremente, de bombos y platillos, com a justificação ingénua, tradicional e de certo modo até irresponsável, de que a informação tem que ser dada, os males devem ser relatados, o esclarecimento das populações deve ser feito na íntegra, todos os podres devem ser publicados, doa a quem doer, para que sejam conseguidos ou preparados os remédios necessários, etc.
Conversa fiada. Palavras que são tomadas como a verdade plena, mas que soam efectivamente, a quem estiver atento, apenas a uma meia verdade. A outra metade é aquela que nunca aparece: a que reflectiria o esforço de elevação, a tentativa de exaltar o que de bom existe no íntimo do povo português, permanentemente acabrunhado, vergado ao peso das porcarias que lhe mostram todos os dias até à exaustão. Não quero, nem por sombras, dizer com isto que não devam ser mostradas. Mas não chega! Elas fazem parte da tal meia verdade transformada de forma aberrante em verdade plena, desde que os escritores donos do culturismo inoperante do século XIX se armaram em pitonisas, em salvadores de uma nação de analfabetos que, mais de cem anos depois, conseguiu apenas obter uma literacia medíocre, à custa da Democracia e dos dinheiros da CE.
A lição de descrença e derrotismo veiculada por essa geração de gente que sabia escrever e bem viver, mas não soube fazer, foi bem passada à imprensa nacional, que ainda hoje se revê nas virtudes e nos vícios dessa época.
Foi o analfabetismo, o desânimo e o derrotismo, adicionado à inépcia dos governantes, que conduziram o País às peripécias que conhecemos, desde meados de um século cheio de transformações sociais e políticas, para cúmulo acompanhadas do romantismo contemplativo, piegas e inoperante.
A maioria dos países europeus, vítimas de diversas guerras destruidoras, ou períodos revolucionários sangrentos, soube elevar-se acima das suas desgraças e dos seus erros. Portugal, escapando milagrosamente a esses cataclismos como entre os pingos da chuva, conseguiu o feito espectacular de manter-se na cauda do pelotão, vitimando-se de forma permanente e masoquista, esperando que algum milagre, ou algum salvador oportuno, o viesse um dia redimir das suas misérias, sem trabalho, nem esforço próprios.
Está tudo podre, repete uma e outra vez o articulista, não fazendo mais do que repetir, ele próprio, o que o Eça, o Ramalho e outros badalavam há cento e cinquenta anos e que sempre foi permanentemente publicado até à exaustão, tornando-se hoje um lugar comum da imprensa e das conversas banais.
Está tudo podre… e daí? Também eu poderia escrever todos os dias, por encomenda, uma crónica com esse título. Mas para quê, se toda a gente sabe, se já a minha trisavó dizia o mesmo?
O que me entristece ainda é que alguns perdem o tempo com estas constatações simplistas e a maioria, em lugar de reagir, vai atrás repetindo, repetindo e ampliando alegremente, como se nada pudesse acontecer mais, como se nada mais pudesse fazer…
É que sair da podridão exige esforço, imaginação, inteligência, trabalho árduo de todos os portugueses. Se eles não interiorizarem isso, nunca o conseguirão. Podem os nossos sábios ditar sentenças ou praguejar contra a Justiça, a Economia, a Política, enfim, contra tudo o que quiserem, porque elas fazem parte do país que somos. A única forma de dar a volta ao texto é fazer acreditar o povo nas suas capacidades, incentivá-lo, meter na sua cabeça que pode fazer tanto ou melhor que os outros, que pode conseguir chegar ao pelotão da frente, como fizeram os seus antepassados, se trabalhar para isso. E cabe à imprensa da linguagem tradicional miserabilista, do coitadinho permanente, do desgraçadinho, do insignificante, do incapaz, um papel importantíssimo na modificação das mentalidades derrotistas, modificando também a sua. Não é tarefa fácil, numa altura em que sobram os problemas do dia-a-dia de cada um.
O discurso diário do velhinho, secular «está tudo podre» pode ficar só para os masoquistas que gostam de repeti-lo, sem honra nem proveito.
Poderão estar certos de que, por essa via do negativismo permanente, sob a capa de um louvável patriotismo inoperante de retaguarda, nunca o País chegará a parte nenhuma, nem eles conseguirão sair da podridão que descrevem, a não ser que consigam emigrar. Essa é, aliás, a ideia que já passou pela cabeça de alguns desses eminentes patriotas, pese embora o pesado lastro de oitocentos e cinquenta anos de História…
A resolução dos problemas nacionais ficará, como sempre, a cargo dos resistentes de boa vontade.

quarta-feira, 25 de março de 2009

AMADORISMOS DA JUSTIÇA DESPORTIVA


Das arbitragens aos conselhos disciplinares

Antes de mais, quero dizer que os meus fracos conhecimentos de Justiça, de Desporto em geral e de Futebol em particular, provavelmente me levarão a alguns erros. Serão erros normais, porque não sou profissional da escrita, e anormais porque me meti em seara alheia.
A Justiça tradicional, como qualquer instituição humana, não é cem por cento fiável. No entanto, as normas consensuais de moral, a tradição multissecular, a sua organização e a legislação, cada vez mais aperfeiçoada com sabedoria e também com a aprendizagem nos erros cometidos, instituíram na Justiça, a pouco e pouco, mecanismos de verificação, reconsideração, apelação, alteração ou confirmação de sentenças que fizeram dela uma instituição com grande credibilidade por parte da sociedade onde se insere. Quando, nessa mesma Sociedade se torna necessário dirimir questões, castigar ou ilibar cidadãos por crimes, é à Justiça que ela recorre, em última instância.
Com o grande desenvolvimento das actividades desportivas, a partir dos meados do século XIX, e o aperfeiçoamento das competições, foi necessário encontrar juízes desportivos ou árbitros, capazes de decidir, no acto, da verificação, da justeza ou irregularidade de algumas situações, o seu enquadramento ou não, nas regras de jogo pré estabelecidas, o castigo dos infractores ou da sua equipa, etc. A uma primeira escolha de juízes ad hoc entre os simples curiosos, os amantes ou prosélitos do desporto, ou os oportunistas de ocasião, seguiu-se a criação de regulamentos cada vez mais elaborados, mas ainda não foi possível, como alguns desejariam, exigir árbitros profissionalizados.
Em certas modalidades de maior impacto social, como acontece no Futebol, parece-me que a legislação desportiva já devia ter-se encaminhado nesse sentido, porque é uma aberração o futebol ter milhares de funcionários profissionais nas mais diversas áreas, em todos os países onde se pratica, administrações e quadros cada vez mais profissionalizados, treinadores e jogadores profissionais (estes frequentemente a partir da adolescência), normas de funcionamento com abrangência nacional e internacional feitas por profissionais de alta estirpe, e possuir árbitros ou juízes apenas amadores!
Essa aberração é tanto mais evidente quanto o Futebol é hoje, para além da sua vertente desportiva, um negócio que movimenta milhões e milhões de euros em todo o mundo, envolve igualmente milhões de espectadores, os governos e as autoridades de todos os países onde se pratica.
No Futebol, à falta de melhor, recorreu-se, frequentemente a juízes reformados da função pública, mas esses mesmos têm dado um triste espectáculo aos cidadãos, com grande aproveitamento da imprensa desportiva e não só, de tal modo que os sindicatos e outros órgãos da magistratura já emitiram pareceres no sentido de proibir os juízes aposentados de ocuparem cargos directivos ou de consultoria nas federações ou mesmo nos clubes desportivos.
Verdade seja dita também que a Justiça Desportiva tem características muito diversas da vulgar Justiça Civil. Por isso mesmo, a profissionalização dos árbitros deveria ser encarada com a maior das naturalidades e tomada mesmo a sério porque, numa época dominada por tecnologias de ponta tornadas corriqueiras, já lá vai o tempo dos amadorismos. Se antigamente os erros dos árbitros podiam facilmente ser desculpados como meros enganos sem importância devidos a miopia, ou dar origem a discussões infindáveis entre adeptos, hoje, dados os valores em jogo nas competições, e o avanço das técnicas de observação e registo, há mil e um meios de tornar os erros de arbitragem evidentes e indesculpáveis.
Simultaneamente, no Futebol, como em várias outras modalidades desportivas, ganhar ou perder um jogo deixou de ser apenas uma questão de fair play, pode representar o ganho ou perda de milhões, por vezes até a própria salvação ou afundamento irremediável de uma das equipas ou do clube que representa. E assim, neste mundo tecnológico, profissionalizado, baseado no lucro como sobrevivência, mesmo no Desporto, o amadorismo já não faz sentido, nas arbitragens, como os conselhos de arbitragem, conselhos disciplinares, enfim, em todas as vertentes da Justiça Desportiva, sob pena de continuarmos todas as semanas a discutir ridiculamente, como nesta última, se os erros dos árbitros são normais ou anormais...
Outra caricatura extraordinária foi conseguida também pelo árbitro condenado na praça pública e que veio a terreiro com uma anacrónica desculpa sobre a marcação da grande penalidade anormalmente assinalada. Digo anacrónica, porque ninguém viu, senão ele, a bola tocar na mão do jogador e, para mais, todo o lance, duvidoso que pudesse ter sido, ocorreu simplesmente fora da própria grande área!
De qualquer modo, é a primeira vez que ouço falar de erros normais e de erros anormais, como classificou um dirigente leonino. Sempre julguei que os erros eram anormalidades tornadas possíveis, no comportamento humano considerado normal. A anormalidade do erro resulta da normal ausência de infalibilidade de julgamento na espécie humana. Haverá sempre erros. Uns serão maiores, outros menores, resultantes de enganos, de más execuções, de falsas percepções das circunstâncias, de anormais julgamentos, etc.
Provavelmente, no julgamento rápido, sumário, preciso dos lances, num jogo de futebol, os erros só virão a desaparecer com a ajuda instantânea de meios tecnológicos convenientemente adaptados às circunstâncias e às situações passíveis de acontecerem. E entretanto, o único contributo válido para a diminuição dos erros, no Futebol (não digo o seu fim!), só será dado com a profissionalização dos árbitros e de toda a cadeia hierárquica da arbitragem.
Para já, pese embora o que custa a uns o prejuízo da amargura da derrota, e a outros o lucro da alegria da vitória, não há volta a dar-lhe. Mesmo com o erro anormal do árbitro, o Sporting poderia ter ganho o jogo e o Benfica poderia tê-lo perdido. Quem pode garantir que esse famigerado erro anormal foi a causa da vitória do Benfica ou da derrota do Sporting?
Entretanto, vale a pena fazer algumas perguntas pertinentes a este respeito:
Erros anormais, como este, são apenas apanágio dos jogos entre grandes equipas?
A comunicação Social teria dado o mesmo relevo a um erro anormal ocorrido num jogo entre equipas menos cotadas?
Quantos erros anormais acontecem nos jogos da semana, nos campeonatos da Superliga e da Liga de Honra do Futebol Português?
Uma coisa é certa. Mesmo sem recorrer a estatísticas, a frequência de erros de arbitragem com incidência grave no desfecho das partidas de futebol é um facto e cada vez menos desculpável.
A Federação, a Liga de Clubes, a Comissão de Arbitragem e os Órgãos Disciplinares devem, nem que seja por dever de ofício, fazer um esforço meritório para resolver este problema. O tempo dos amadorismos, no Futebol e na maioria dos Desportos de Competição, já acabou, sejam normais ou anormais os erros que tenham acontecido.

terça-feira, 24 de março de 2009

OFFSHORES E COISAS PIORES


É tão lindo o maganão!

Alguém descobriu que um quarto das riquezas privadas de todo o mundo estava na mão de offshores, o que equivalia a dizer que, se todos aqueles que depositam o seu dinheiro em paraísos fiscais pagassem impostos, daria para cobrir os Objectivos do Milénio, definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Poderemos fazer uma ideia dos valores em causa? Provavelmente, não. Os paraísos fiscais são muito numerosos, as suas contas são fechadas ao comum dos mortais, os circuitos dos dinheiros ali depositados nunca é confessado, os nomes dos beneficiários das contas são segredos muito bem guardados, porque o segredo é a alma de todo este negócio. O problema dos offshores se fosse resumido apenas às fugas ao fisco, seria já um golpe muito sério nas economia das nações mas, por detrás deste subterfúgio que rotula o sistema, aparecem, ou desaparecem estrategicamente, muitos outros negócios obscuros, entre os quais a lavagem de dinheiro sujo vem à cabeça, como as luvas do narcotráfico, do contrabando de tabaco e diamantes, enfim, de mil e um negócios ilícitos, na maioria dos quais o processamento através da Internet torna praticamente impossível descobrir a sua origem e o seu rasto posterior.
Não sou perito nestas matérias que há pouco tempo ainda desconhecia totalmente, mas o que consegui apurar das notícias ultimamente vindas a lume, permite-me fazer um quadro negro da situação do país, no que a esta aberração contabilística se refere. Realmente, Portugal, como pequeno país, também neste item dos meandros da banca privada, não sobressai. Mas países ainda mais pequenos são sedes de offshores que deixam localmente enormes riquezas, colocando-os, como acontece com o Luxemburgo, por exemplo, no topo dos de maior produto interno bruto do mundo inteiro.
Ao cidadão comum custa a aceitar que assim seja, isto é, que um país, uma ilha, uma cidade, se transformem em paraísos fiscais onde são «lavados» e postos a render de forma legal, mas secreta, os fundos geralmente ganhos de forma ilícita na maioria dos países que têm falta de capitais para o seu próprio desenvolvimento e lutam desesperadamente para consegui-lo, através de inúmeros problemas de índole social, sanitário, económico, educacional, etc.
Não andaremos longe da verdade se considerarmos os offsores como uma das principais causas da grave crise financeira e económica em que o mundo se precipitou. E ainda há, por esse mundo fora, mesmo assim, quem apoie o sistema e não se atreva a modificá-lo, acabando de vez com esta verdadeira anomalia. Certamente, é legítimo pensar, agem sob a poderosa influência dos que dela se aproveitaram ou ainda dela retiram os seus enormes e imorais lucros…
Do ponto de vista estritamente moral, a existência dos offshores fiscais é absolutamente indefensável, ainda mais no mundo globalizado e sem fronteiras em que vivemos. O próprio Papa já se referiu a essa imoralidade, e parece que está para breve a publicação de uma encíclica sobre o tema, o que não quer dizer que o problema fique resolvido, dado o materialismo feroz e ditatorial da Humanidade, nos dias de hoje.
Também em Portugal, Nação onde tudo o que de bom ou de mal se copia do estrangeiro, para não perder o comboio da civilização, ou da barbárie, alguém decidiu autorizar a instalação de um offshore na ilha da Madeira, certamente na mira de caçar as benesses daí provenientes para o progresso interno, mas certamente ninguém fará ideia, actualmente, da quantia aproveitada pelas autoridades legais em benefício da população.
Desde há vários dias que a imprensa nacional se diverte a publicitar certos documentos enviados pelo líder da extrema-direita dentro de um cobertor colocado de forma anónima à sua porta, referentes a contas em offshores, de um familiar do Primeiro- Ministro, nas Ilhas Caymann, datados de 2001. Não sei qual o valor desses documentos, perante as autoridades judiciais, mas a intenção não foi tanto a de descobrir as imoralidades possíveis, mas a de tentar relacionar com elas o PM., porque ele não é intocável. Mas tudo fica por aí. Interessaria igualmente saber quantos portugueses que se dizem de gema andam embarcados neste mar encapelado, a que níveis, com que funções públicas ou privadas, tratando de emagrecer a Nação enquanto eles próprios engordam extraordinariamente. É tão lindo o maganão!
Seria interessante, por exemplo, descobrir como pessoas de baixos rendimentos e pequenos salários, ainda há quinze ou vinte anos rogando favores, movimentam hoje grandes contas, ostentando sinais de riqueza que fazem inveja aos portugueses em geral, e também a outros detentores de riqueza, legal e correctamente adquirida. Os offshores devem ter nestes casos, têm de certeza, um papel sujo que deve ser tirado a limpo, porque o caso do BPN, tenhamos a certeza, é apenas a ponta de um grande iceberg onde a Justiça parece ter encalhado, como aconteceu com outros de igual tamanho, noutras áreas da sua responsabilidade… E há quem diga que as consequências destas falhas da Justiça são coisas talvez piores que os próprios offshores!
Apesar de tudo, ainda creio em Portugal e penso que a grande maioria dos portugueses devem crer, para além destas e doutras enormes dificuldades. Se fosse um derrotista inveterado, limitar-me-ia a gritar pelo megafone:
-Salve-se quem puder!!!
Ora dessa maneira, está bem de ver quem é que iria salvar-se, enquanto todos nós nos afundaríamos sem remédio.

segunda-feira, 23 de março de 2009

ATÉ QUANDO, CATILINA?


Provedor ou promotor de desavenças

Já vai em cerca de nove meses a desavença entre os dois principais partidos sobre a escolha do novo Provedor de Justiça.
Segundo reza a Constituição da República, esta alta entidade pública deve ser aprovada por uma maioria de dois terços dos deputados eleitos. Estabeleceu-se, por isso, um consenso segundo o qual seriam os dois maiores partidos a escolher o provedor, visto que, pelo número de deputados envolvidos, não seria viável a confirmação legal do nome proposto, sem os votos de qualquer deles.
O consenso partidário tem funcionado razoavelmente. Mas agora não se verifica, com o extremar de posições do maior partido da oposição, para quem o cargo de provedor representa uma arma caída do céu, das poucas que o maior partido no poder lhe permite usar, pela desproporção de deputados eleitos. O caso tem-se revelado difícil de resolver.
A situação de impasse continua, depois de nove meses de teimas e acusações mútuas, algumas das quais são, no mínimo, ridículas e incompreensíveis para a maioria da população.
É interessante ler as notícias da imprensa e os comentários, quase sempre alinhados por um ou outro dos contendores, escasseando uma visão independente e séria da questão. Por mim, estou farto destas discussões ou comentários politiqueiros que já passaram para os comunicados diários com acusações ou justificações para eleitor ver, pedidos de intervenção aos Presidentes da República e da Assembleia da República, apelos aos partidos responsáveis pela escolha, e até uma infeliz frase de cariz partidário do actual provedor, pessoa isenta durante todo o seu mandato, considerada por todos, mas farto já da longa espera pelo sucessor.
A pouco e pouco, ante a demora na resolução do problema, foram surgindo na Comunicação Social, filtrados conveniente e manhosamente pelos interesses partidários, os diversos nomes apresentados de cada lado, e alguns aspectos de um suposto pacto de regime para a escolha, que a outra parte contesta, de que o provedor pertenceria a uma personalidade conotada com o maior partido da oposição.
Resolvi fazer uma pesquisa pessoal a este respeito e pude verificar, preto no branco que, muito simplesmente, desde 1990, isto é, durante 19 anos sem excepção, todos os provedores de justiça foram escolhidos entre membros ou simpatizantes do PSD, num período em que os governos foram repartidos por ambos os partidos maioritários.
Ora estas e outras significam que muitos dos argumentos apresentados são altamente falaciosos. A questão resume-se apenas, no fim de contas, a obter ou não mais uma cadeira do poder, o que não é desprezável desde este ponto de vista porque, ainda que o provedor seja uma personalidade isenta no exercício das suas funções, tem assento no Conselho da República, onde as cores são favoráveis por um voto ao PSD neste momento, podendo eventualmente passar para a cor rosada, de acordo com a escolha do novo provedor.
O PS resolveu apresentar em público uma proposta à primeira vista irrecusável: o Professor Jorge Miranda, emérito constitucionalista, assumindo um consenso quase nacional, homem da esfera do PSD.
Mas o caricato da questão não se fica por aqui. À última hora, o PSD rejeita este nome, porque foi apresentado pelo seu opositor, e avança com o nome de uma Senhora Professora de Direito, com um novo argumento: é altura de escolher uma mulher para um alto cargo da Nação!
E assim surge de novo o impasse, que se manterá até que saia um coelho da cartola, já que umas tantas bordoadas à antiga, como muito boa gente desejaria, estão fora de questão em democracia...
Como não sou mágico, sugiro apenas que se encontre rápida e previamente um Provedor de Desavenças, porque promotores delas há com fartura. A partir daqui, e por seu intermédio, a escolha do Provedor de Justiça seria fácil...
Mas não estou seguro que isso suceda de facto. Por isso dou uma segunda sugestão aos partidos, esta de resultados garantidos, a de ir escolhendo e rejeitando candidatos, alternadamente, cada vez de mais baixo nível, até chegar a um qualquer pobre diabo que conseguiria o consenso geral, pela força das circunstâncias.
Não sendo assim, que mais poderá acontecer?
Só me ocorrem as palavras de Cícero, no Senado Romano:
«Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?»

OPORTUNOS, HERÓIS E OPORTUNISTAS


Reflexões de circunstância

É interessante constatar o que nos diz o dicionário sobre estas palavras oportuno e oportunista e confrontá-lo com o sentido maldoso que frequentemente lhes é dado na linguagem corrente, sobretudo à segunda.
Na verdade, tantas vezes vai o cântaro à fonte, que um dia se parte. Uma vez, e outra, e outra, as palavras oportuno e oportunista foram utilizadas no mau sentido, tantas vezes que hoje o significado mais generalizado é esse mesmo, aquele que todos estamos já a pensar...
Efectivamente, os significados das palavras, como as coisas na vida, como a própria moral que julgamos imutável, evoluem ao longo dos tempos, em que as circunstâncias acabam sempre por ter uma importância acrescida naquilo que acontece ou se faz, apesar de alguns continuarem a afirmar que não, que há princípios que não mudam nunca. Devem ser muito poucos.
Ontem, por acaso, deixei correr o pensamento livremente, sobre os grandes feitos da História Mundial ou mesmo da História Pátria, engrandecidos em todos os compêndios, arquivados e fechados a sete chaves em todas as Torres do Tombo que há por aí, ou expostos em museus para apreciação dos estudiosos, e também dos turistas ou de muitos papalvos.
Cheguei à conclusão, talvez considerada estúpida por muitos, de que tudo não passou ou passa de um oportunismo mais ou menos sério, mais ou menos oportunista!
Assim, vistas as coisas por um prisma menos idealista do que aquele que muitas vezes utilizamos, acabamos por desmontar milhões de mitos ou de mistificações que vêm registados na História, nos próprios Livros Sagrados das diversas Religiões, e reduzir tudo às dimensões terrenas com as quais nos comparamos diariamente, nesta vida que a tecnologia endeusada, que tudo supervisiona, ainda não conseguiu descodificar e fabricar e portanto eternizar, mas onde os milagres são cada vez menos.
Deste modo, é possível, pois, que grandes heróis não tenham passado de meros aproveitadores de oportunidades, simples oportunistas a uma escala superior à da maioria dos seus compatriotas.
Dessa maneira, D. Afonso Henriques, por exemplo, foi um grande oportunista! Soube ver e aproveitar ao máximo as oportunidades que lhe apareceram, e tornar-se rei. Não só. Ele próprio e os seus apaniguados fabricaram mesmo óptimas oportunidades para conseguir o seu intento, contra todas as regras morais ou civis estabelecidas na época, os tratados, as escrituras, os juramentos, as normas da igreja, as próprias bulas papais. Foi um grande traste, um oportunista sem vergonha, como afirmaria o Egas Moniz, de corda ao pescoço ante o rei de Leão, também não sabemos se ele próprio com intenções reservadas ou não...
Contudo, D. Afonso conseguiu o seu desiderato, conseguiu pôr um país no mapa, conseguiu transformar-se no maior herói nacional, o pai da própria nacionalidade, e tudo à custa de muitas trapaças, de faltar à honra da palavra dada quando isso lhe convinha, do seu oportunismo feroz, da sua ambição desmedida de ser rei um dia, o que tudo justificava, na sua óptica e dos seus conselheiros...ainda por cima numa época em que valia tudo menos tirar olhos. Ou também.
E, no entanto, todas essas falcatruas nós hoje pomos de parte como coisas de somenos importância histórica, para endeusarmos a figura do nosso primeiro rei, mostrando a sua visão, a sua coragem e determinação, coisas que teriam ficado no esquecimento total se não fossem coroadas de êxito...se ele não tivesse sido oportunista, isto é, coroado.
Ora D. Afonso Henriques foi um homem de muitas qualidades e defeitos, como tantos outros em escalas diferentes, talvez. Assim como aos Santos só se reconhecem as virtudes, aos Heróis só se enaltecem os feitos grandiosos e, quando muito, passam-se os restantes em rodapé.
Não vamos chamar, portanto, ao D. Afonso Henriques um oportunista, nem ao Mestre de Avis, nem ao Vasco da Gama, nem ao Magalhães, nem mesmo ao D. Sebastião. Este, quando muito, seria um oportunista falhado!
Também não vamos chamar oportunista ao Serpa Pinto, nem ao Manuel de Arriaga, nem mesmo ao Salazar ou ao actual Presidente da República!
Mas que poderemos chamar aos donos do falido BPN senão, no mínimo, oportunistas? E no entanto se, por circunstâncias favoráveis, o BPN, apesar das suas trapaças e malabarismos, tivesse sido um sucesso, como seriam eles apreciados pela Sociedade? Muito possivelmente não seriam tratados apenas como sábios empreendedores clarividentes, apenas com algumas insignificantes, banais oportunidades perdidas, no meio de tantos êxitos, de tantas virtudes?
A Sociedade é muitas vezes injusta e até perversa, nos seus julgamentos, e as palavras também são perigosas, quando se faz mau uso delas. E ainda mais quando se fazem generalizações.
Há dias, num artigo de opinião, um desses derrotistas profissionais que agora estão na moda, afirmava sem papas na língua que Portugal, outrora uma nação de oportunidades, era agora simplesmente um país de oportunistas. Também nem tanto!
Provavelmente auto excluía-se, está visto, embora ainda não tivesse pensado, como outros, na ideia de emigrar...
Achei, pois, exagerado. Poderia ter dito, com mais certeza e pontaria, parafraseando o um ditado popular que o Aleixo celebrizou: não são todos os que vês, nem estão todos os que o são...
Enfim, deixemos os nossos heróis e as nossas figuras públicas em paz.
O certo, porém, infelizmente, é que cada vez há menos oportunos e mais oportunistas por aí. E não creio que seja só fruto da crise…

EGIPTO, HÁ 3500 ANOS


A câmara funerária do escriba

Só agora, 3500 anos depois, foi descoberto o túmulo do escriba máximo da Mulher-Faraó Hatshepsut, filha de Tutmosis I ( mais conhecida por Tutmosis II), numa câmara funerária em Luxor (antiga Tebas) , na margem do Nilo. O tecto e as paredes pintadas com desenhos e hieroglifos, constituem uma obra de arte notável e por isso a câmara funerária já foi chamada de Capela Sistina do Antigo Egipto, pelos seus descobridores, um arqueólogo espanhol e seus colegas egípcios. Se esta maravilha, como tantas outras, for devidamente protegida e conservada pelas autoridades egípcias, certamente com o patrocínio de entidades internacionais, será mais uma mostra, um ícone sagrado exposto à veneração dos entendidos de vários ramos da Ciência e, provavelmente, à contemplação dos turistas ou simples visitantes de museu. Até lá, um largo caminho terá que ser percorrido, por historiadores e arqueólogos e, seguramente pelas relíquias agora encontradas.
O que espanta, mais uma vez, nestas descobertas do Vale do Nilo, é a sua razoável conservação, o que parece ficar a dever-se aos cuidados postos pelos autores no seu resguardo e ocultação, e também a factores ambientais e climatológicos favoráveis. Seja como for, o facto de só após 3500 anos terem sido descobertas é uma façanha de primeira ordem. Mas nem sempre esta preservação dos olhares e da concupiscência alheia foi conseguida, pois alguns túmulos, e outras maravilhas milenares, mesmo nas grandes pirâmides, foram violados e roubados pelas mais variadas gentes, desde ladrões encartados, a negociantes de antiguidades, a agentes de vários Governos, etc. Na França, na Alemanha, na Inglaterra, na Turquia, na Itália, até nos EUA e por esse mundo fora, existem famosas peças histórico-artísticas, trazidas pela imposição das armas ou do dinheiro, muitas delas com a conivência ou a própria ajuda interesseira de autoridades locais.
Desta vez, isso não acontecerá. E ainda bem, porque estas pinturas, obras de arte de valor incalculável, para além de pertencerem ao Egipto, em cujo solo foram pintadas, são património mundial e da civilização.

quinta-feira, 19 de março de 2009

OBESIDADE


A gordura que não é formosura

Um estudo, mais um, desta vez da universidade de Oxford, parece demonstrar que a obesidade é causa de uma diminuição de 10 anos, na esperança de vida. Há muito que se suspeitava que isso pudesse acontecer, mas o ser humano gosta de ultrapassar certos problemas de saúde, fazendo por esquecê-los, e este não foge à regra. Algumas vezes, o abuso da comida e o vício da gula dão-lhe um prazer invencível. Outras vezes, contudo, a força de vontade não é suficiente para lutar contra o prazer gastronómico ou simplesmente a tendência orgânica para engordar.
A obesidade é como uma praga, nos dias de hoje. A alimentação desregrada e incorrecta e o sedentarismo parecem ser as suas causas principais. Passando na rua, depressa damos conta deste fenómeno, coisa que raramente era dado observar, algumas décadas atrás, em que o povo, provavelmente pouco fornido de carnes ou até mal alimentado, se comprazia a dizer que «gordura é formosura» ante alguém mais anafado. Nos países do Ocidente a situação era mais ou menos a mesma.
A obesidade manifesta-se nos adultos, mas actualmente é frequentemente observar crianças obesas ou no limiar do índice de massa corporal tido como preocupante.
Os governos da Europa Ocidental e da América do Norte estão seriamente preocupados com este fenómeno da nossa geração e as suas consequências, especialmente com o aumento de população jovem considerada obesa, e procuram intervir na orientação das dietas alimentares nas cantinas escolares que se encontram sob a sua administração. Portugal procura seguir estes bons exemplos de defesa da saúde pública.
Infelizmente, tal como há dois anos com a lei anti tabaco, também agora já apareceram por aí alguns defensores de uma certa liberdade democrática ao contrário, a liberdade para o seu vício, sem se importarem com o que de mal vão causando aos familiares, aos vizinhos, aos amigos, a toda a toda a sociedade não viciada que os rodeia, como se quisessem convencer-nos a todos de que, na obesidade como no tabaco, Deus é nosso e o Diabo é para os outros. Porém, se são felizes por momentos, se querem matar-se cedo a fumar desalmadamente ou a saborear constantemente lautas e pouco saudáveis refeições, o problema é deles. Mas vão curtir o seu vício para longe, em liberdade plena, não façam as crianças fumar ou a comer por conta, ensinando-lhes vícios que não devem, nem nos obriguem a pagar-lhes depois as anormais e acrescidas despesas de saúde.
As crianças, tanto num caso como noutro, são as maiores vítimas da inconsciência, da ignorância, ou do egoísmo dos pais, dos familiares ou dos adultos mais próximos. Que raio de «liberdade» é essa que esta gente esgrime em sua própria defesa, que nem lhe permite o respeito e a defesa das suas próprias crianças?

À BEIRA DO ABISMO


A tendência para a crise e o D. Sebastião

Desde o berço da nacionalidade, Portugal esteve sempre à beira do abismo, umas vezes real, outras imaginário. A tendência para o abismo foi sempre uma constante, e o escape no último momento só uma vez claudicou, em 1580, com a perda da independência durante sessenta anos.
Passada a euforia da Restauração e, depois, a febre dos diamantes do Brasil, só com mão de ferro o Marquês de Pombal conseguiu fazer reformas importantes, algumas com efeitos a longo prazo que ainda hoje são visíveis. A crise das invasões francesas acabou por ser resolvida com custos enormes, mas trouxe inovações tremendas à vida social e política da Nação. De então para cá, Portugal nunca mais voltou a ser o que era, para o bem e para o mal.
A partir do fim da guerra civil da década de 30, parecia que o liberalismo vencedor iria finalmente conduzir o país na via das reformas de fundo que urgentemente necessitava. Algumas foram feitas, mas muitas mais deveriam ter sido terminadas e outras nunca chegaram a ser iniciadas. A discussão, a contestação permanente, a fragilidade dos governos, o compadrio e as revoluções não permitiram mais. A queda do regime monárquico era previsível.
A crise por todos então badalada e instalada teria que ser dominada, mas resultou no seu prolongamento sem fim à vista durante a Primeira República. Foi preciso vir outra vez alguém com mão de ferro, para meter os portugueses na ordem, afastar o país do fio da navalha onde se equilibrava perigosamente. De qualquer maneira, as circunstâncias e alguns erros costumeiros fizeram com que Portugal viesse de novo colocar-se à beira do abismo, de que só a entrada na CE conseguiu salvá-lo.
Gastos os milhões então e depois recebidos, grande parte sem honra nem proveito ou com proveito de alguns, eis de novo Portugal exposto à crise, agora acentuada pelos efeitos de uma gravíssima crise financeira e económica mundial, de consequências ainda imprevisíveis.
Os governos em todo o mundo esbracejam com frenesim, em várias direcções, sobretudo reúnem-se e estudam medidas de contenção e reforma do sistema. Isso não foi a tempo de impedir que alguns bons alunos tomados ainda há pouco como referência pelos gurus da economia portuguesa, especialmente os que se encontravam de fora das cadeias de comando, caíssem praticamente na banca rota, num fosso de que tardarão a sair.
Como de costume, Portugal, que nunca saiu da crise na boca de alguns, entrou nela em força, definitivamente, segundo outros, esbraceja na borda do abismo, segundo terceiros, sem possibilidades de salvação de acordo com os mais pessimistas. Mas o que me entristece não são estes comentários dos profetas das desgraças os quais estou cansado de ouvir desde a minha meninice, com os habituais avisos para a crise económica, social, moral e de valores…
O que me entristece, verdadeiramente, é o derrotismo permanente dos sábios, ampliado pelos média, feito lugar comum da população em geral. O que me deixa perplexo é a apatia de todos, a badalação permanente e excessiva sobre tudo e nada, a questionação sistemática das leis, dos governos, das autoridades públicas ou privadas a todos os níveis, com base numa suposta liberdade que não é mais que a falta de compreensão da verdadeira liberdade democrática. O que me amargura de verdade é que ninguém assuma as suas responsabilidades como cidadão, que cada um procure sistematicamente atirar as culpas das dificuldades para quem está acima, que uma boa parte dos portugueses se entretenha, simultaneamente, a tirar proveito das falhas legais existentes, e a maioria ocupe o tempo livre na maledicência do país, pouco contribuindo para a sua regeneração.
Um dos paradigmas que se tornou em obsessão geral, desde meados do século XIX, é a necessidade de reformas profundas, em Portugal. Nada escapa. E contudo, essas reformas profundas nunca, salvo raríssimas excepções, conseguiram ser postas em prática, a não ser por governos autoritários e de forma muito parcial, como o Estado Novo. Mas também ele falhou, a partir de certa altura.
Agora, com o país vivendo em regime democrático, onde era suposto que a liberdade e o civismo nacional iriam levar a melhor sobre a habitual «bandalheira» deixada pelo vazio de poder, todos se tornaram sábios e todos discutem tudo, mas nunca conseguem pôr-se de acordo com nada, excepto dizer alto e bom som que tudo está mal. Pior ainda, pouco ou nada conseguem fazer de jeito, e a custos tremendos.
É fácil, claro, dizer permanentemente que a crise é da Educação e Ensino, que os Bancos são uma corja de ladrões, que a Polícia se esconde atrás das secretárias, que as Empresas abrem falências fraudulentas e os Trabalhadores pagam sempre a crise, que o défice externo é enorme, que os subsídios não chegam nunca, que há fome por aí, que não há médicos de família suficientes, etc., etc., enfim, que a vida está difícil, que todos sabiam há muito que a crise iria acontecer e que os governos não fizeram nada para evitá-la ou não fazem nada para mitigá-la…
Mas, independentemente do partido que esteve ou está no Governo, qualquer medida a aplicar, por pequena ou por mais justa que seja, é sempre de difícil execução, provavelmente pelos eventuais interesses privados postos em causa, mas essencialmente pela falta de civismo dos portugueses em geral, apesar da sua aparente passividade. A burocracia existente também colabora bastante.
É curioso ouvir os personagens das mesas redondas ou quadradas com que as TVs nos brindam. Ontem, por exemplo, um sábio dizia que o problema principal estava na reforma urgente do sistema partidário português, mais precisamente dos próprios partidos, coisa que não há ninguém que não diga, por esse país fora, mesmo que não saiba ler nem escrever. Disse também que antigamente os partidos tinham menos clientelismo e mais gabinetes de estudo, mas que actualmente não tinham capital para isso…embora, por outro lado, funcionassem através das Jotas, como início do carreirismo político em voga, etc.
Há dias outro sábio lançava impropérios contra os investimentos previstos, os altos salários da banca, as fracas medidas adoptadas para a contenção da crise, do desemprego e da miséria social.
Um terceiro atirava-se ao ar, com os altos salários que tinham sido negociados e aprovados para a função pública, os mesmos que há três meses apenas eram considerados baixíssimos pelos analistas de serviço, excepção feita aos ligados ao patronato…
Um quarto atira-se às estatísticas governamentais, às previsões falhadas ou à falta delas, ou ainda à desvalorização das que tiveram a infelicidade de ser acertadas.
Um quinto clama contra a Justiça…mas justifica logo, pelo sim pelo não, que a culpa é apenas das leis que estão todas mal feitas, que a Assembleia e os deputados são todos uns ignorantes, uns malvados que deixam sempre vírgulas ou parágrafos de interpretação duvidosa para defender-se da eventual corrupção ou das suas trapalhadas políticas…
Um sexto atira-se ao Código Penal, aprovado pelos dois maiores partidos, como causa de todos os males que ocorrem no Ministério Público e não só.

Um sétimo berra contra o Ministério da Educação, as avaliações de professores, o estatuto de carreiras…
São todos contra todos. Vale tudo menos tirar olhos e, mesmo assim, vontade não faltaria a alguns…
Enfim, poderia estar aqui a enumerar lugares comuns para todos os gostos, e até eu próprio poderia também subscrever outros que não foram citados, de tão comuns que eles são, de tão inócuos que eles também são na resolução das dificuldades com que a nação se debate.
Porque o mal não está na Democracia, não está no Presidente, não está na Assembleia, nos Partidos ou nos Governos, nas Autarquias, na Justiça, nas Autoridades em geral, nas Organizações Estatais ou Privadas, nas Empresas, mas nos Pais, nas Escolas, no Civismo Nacional, no lastro de um analfabetismo ultimamente transformado numa iliteracia aberrante, na insignificância da riqueza criada…
Não posso deixar de lembra-me dos sábios e dos letrados do final do século XIX, senhores dos média da época, onde se entretinham a escrever artigos mordazes e derrotistas uns contra os outros ou contra as correntes políticas e governos que representavam. Como tudo me parece igual, nos dias de hoje!
Almeida Garret insurgia-se contra a construção da linha-férrea de Lisboa ao Porto, porque era cara e só tirava dois dias à diligência.
Os Professores da Universidade de Coimbra não permitiram que o comboio passasse sequer ao lado na cidade, porque estorvava o estudo aos estudantes, o seu silêncio e o seu bucolismo.
Eça atirava-se aos políticos do tempo, como gato a bofe, ora porque sim, ora porque não, igualzinho a alguns escritores e média hoje de serviço.
Ramalho Ortigão clamava contra a crise, mandava as célebres farpas e punha diariamente os políticos no pelourinho, por dá cá aquela palha.
E, no entanto, nessa altura como agora também poderá acontecer, o que todos foram capazes de fazer, com as suas patacoadas de cátedra, foi ajudar o país a colocar-se mais perto do abismo. Porque não foram capazes de gerar consensos, devido aos seus próprios interesses, pessoais ou partidários.
Como a maioria do Povo português, não tenho neste momento qualquer dúvida de que nunca será nenhum destes oráculos sábios de retaguarda que conseguirá afastá-lo desse ponto crítico, porque não se chegam à frente, porque nada mais sabem que ditar sentenças, falar, falar, falar, para gente que não vê os programas ou que não lhes liga nenhuma. É preciso dar o corpo ao manifesto (coisa que politicamente não sabem nem querem saber), e fazer, fazer, fazer… A responsabilidade moral dos sábios de pantufas, pela sua passividade e incapacidade de acção prática, não pode deixar-se abafar pelas «boutades» ou pelos gritos que emitem, da mesma forma que as responsabilidades políticas dos maus actos de governação nunca poderão ser escamoteadas por uns quantos sucessos, nem a corrupção dos aproveitadores do sistema deverá ser desvalorizada na Justiça, nem a falta de empenho dos cidadãos, com a justificação de que o vizinho também fez ou não faz…
Todos somos responsáveis por este país, uns mais que outros, como diria J. Orwell. Tanto mais, quanto mais sabemos ou podemos, e nada fazemos.
Feliz ou infelizmente, Portugal ainda não conseguiu ultrapassar a sua dependência dos heróis salvadores, ou dos executores providenciais de reformas e de obras de fundo, à custa de algumas quantas cabeças. A prová-lo lá está a estátua do Marquês de Pombal na Rotunda Monumental de Lisboa, com a memória bem enaltecida na maior estátua erguida no País, que faria inveja ao Fundador da Nacionalidade, se voltasse a este mundo.
Entretanto, cá estamos tranquilamente, ditando soluções para as paredes ou jogando a bisca, à lareira, alguns dos mais causticados pela crise já pedindo esmola pelas esquinas, mas todos à espera da chegada (talvez numa manhã de nevoeiro) do D. Sebastião…
Azar, que em 1580 apareceu Filipe II de Espanha.

quarta-feira, 18 de março de 2009

COMUNICAÇÃO SOCIAL


Leitores, literatos e votantes

Um dia destes, li um interessante artigo de opinião sobre a crise que agora também parece ter chegado à imprensa nacional.
Dizia o articulista, por outras palavras, que durante a época das vacas gordas, a imprensa, escrita ou rádio televisiva, tinham descoberto e explorado o filão da propaganda para aumentar as vendas, em detrimento da captação dos leitores que eram, no fundo, a sua própria razão de ser. A caça aos anúncios de todo o tipo, muitos deles de qualidade discutível e de moralidade duvidosa, conduziu a guerras acirradas entre vários protagonistas, e ao esvaziamento dos leitores, já de si muito limitados, em prejuízo dos coleccionadores de talheres, de brinquedos, de CDs e até de livros ou de enciclopédias a metro, destinados a enfeitar as estantes dos novos ricos ou remediados que nunca terão lido grande coisa.
A crise económica veio trazer ao de cima muitas dificuldades que estavam encobertas pelo crédito sempre em alta, supondo-se que o dinheiro nunca mais acabava. As vítimas começaram a cortar no acessório, antes de racionarem a alimentação, e assim, numa primeira medida de emergência, acabaram com os talheres, os brinquedos, os CDs, os livros, as enciclopédias…e por último os jornais de que eram o suporte!
Não admira que algumas empresas editoriais comecem a apertar o cinto e, logo a seguir, a reduzir pessoal. Assiste-se agora ao fenómeno que parecia apenas passar ao lado dos redactores e dos comentadores da nossa praça. Gritaram logo aqui d´El Rei, ou ameaçaram com as greves que dantes se limitavam a descrever e a comentar de poleiro, etc.
Claro que estar de fora destes problemas teve as suas vantagens. Deu-lhes uma visão mais alargada e sem pressões, destes problemas, mas colocou-os finalmente como observadores pouco atentos da sua própria realidade. O argueiro do olho do vizinho…
Tudo parecia seguro pelos talheres e pelas enciclopédias, e nada mais incerto. A única coisa válida teria sido, segundo o citado articulista, apostar a tempo e horas numa boa imprensa, cativando leitores de texto inteiro, deixando mesmo de lado o marketing da oferta tentadora, os anúncios enganadores ou libidinosos e os títulos bombásticos. Agora, como escasseia o dinheiro para dar talheres, e falham os anúncios de que toda a gente também estava a ficar farta, restam os títulos bombásticos que encantam os papalvos que passam devagarinho ao lado dos quiosques, mas não se atrevem a comprar…
As próprias revistas da fofoca que pululam por aí numa profusão de títulos e capas com as banalidades mais banais que podem imaginar-se, também começam a sentir os efeitos da crise, para já iniciando a diminuição paulatina das páginas e das fotos, enquanto não chegam medidas mais drásticas. O mesmo pode dizer-se dos jornais desportivos. Até os jornais gratuitos, dependentes da publicidade, mas com gastos limitados, estão a tomar medidas de contenção de despesas e a reduzir tiragens. Alguns já foram...
E assim, à imprensa cheia de lucros e de importância que ainda há poucos anos se gabava de ser o quarto poder, capaz de deitar abaixo ou fazer eleger os seus preferidos, resta agora uma fase de adaptação, com um pouco mais de seriedade, comedimento e humildade.
Uma mensagem, desses muitos milhares que circulam na Internet, dizia, entre outras coisas, que os nossos eleitores eram os grandes culpados dos fracos eleitos que tinham, dos quais tanto se queixavam, simplesmente porque não liam os jornais! Quereria significar assim que, provavelmente para o seu autor, os jornais seriam os detentores absolutos da verdade? E que toda a população deveria ler jornais diariamente, o ano inteiro, no mínimo e sobretudo na altura das eleições?
Realmente, o número de leitores a sério de jornais, em Portugal, é irrisório, muito inferior ao daqueles que os compram e que passam os olhos a correr, pelas gordas das páginas principais. Os leitores fiéis, de verdade, são uma insignificância, porque no país não existe essa tradição, porque a literacia geral não vai mais além, e também porque, finalmente, os artigos publicados não são suficientemente apelativos. Acresce que a rádio e a TV obrigaram a imprensa escrita a um esforço de melhoria que nem sempre foi conseguido. Por último, a chegada e expansão dos telemóveis e da Internet veio criar a todos os tipos de imprensa grandes dificuldades, qual ultimatum com curta data de expiração, qual faca apontada ao peito, com uma ameaça bem implícita: ou se modificam a tempo, ou morrem!
Também a falácia corrente de que os portugueses não percebem nada de política nem de qualquer outra coisa, não passa disso mesmo. Os eleitores já não ligam nenhuma aos programas partidários, mas também não votam assim tanto a olho.
Provavelmente o panorama em Portugal é idêntico ao da maioria dos países democráticos, onde a propaganda política nunca se faz de programas partidários na mão, mas com personalidades cativantes, bem falantes, defensores acérrimos de argumentos e com as suas promessas encantadoras. Os principais partidos há muito arquivaram os respectivos programas e, muito antes ainda, as razões e os princípios sociais, económicos, políticos que presidiram à sua fundação. Só meia dúzia de caturras se lembram deles, para consumo puramente teórico, ou os directores de Marketing das campanhas que os desenterraram para mandar gravar algum chavão esquecido nas canetas, nas T-shirts, ou nos sacos plásticos de propaganda que fizeram época. Agora nem isso.
Realmente, tem razão o articulista. A grande maioria do povo que vota não lê jornais, não vê o Canal 2, nem as politiquices da Assembleia da República ou das mesas redondas da TV, discute o futebol e as telenovelas, contorna as leis e o fisco o mais que pode, diz mal de tudo e de todos mas, entre muitas qualidades que também tem, adora à sua maneira o país onde nasceu e possui um sexto sentido político invejável que o protege das mil e uma patranhas que os oráculos da Terra pretendem impingir-lhe, já que adivinhar é proibido.
É o que há, e não há volta a dar-lhe.
Se os portugueses fossem todos leitores inveterados, literatos de alma e coração e votantes exemplares, provavelmente não se sentiriam iguais a si próprios, como diria La Palisse…

terça-feira, 17 de março de 2009

SÓCRATES E A CICUTA


Importância do peso na governação de Sócrates

Ao longo de vinte e cinco séculos, poucos filósofos terão sido tão referenciados como Sócrates, apesar de não ter deixado nada escrito pelo seu próprio punho, para a posteridade. Os seus discípulos Platão, Xenofonte e outros se encarregaram de divulgar as lições do mestre e até as causas e os pormenores da sua morte decretada por envenenamento com cicuta. A visibilidade de Sócrates, o criador da maiêutica, não tem sido, no entanto, famosa, em Portugal, nos últimos tempos, devido à ignorância geral e também pela existência de um outro Sócrates, o político que tem absorvido a maioria dos títulos da nossa imprensa diária.
Claro que o nosso primeiro-ministro não é nenhum filósofo, e seria muito difícil sê-lo num país que foi pátria de navegadores e de homens corajosos, mas nunca se distinguiu na Filosofia (de que os gregos praticamente foram os grandes inventores), a não ser pela filosofia barata com que se exercitam, por dá cá aquela palha, sem honra nem proveito.
Em Portugal, a Filosofia é outra. A de procurar sempre, por todos os meios, nunca chegar a parte nenhuma!
Não foi assim, na época gloriosa dos Descobrimentos, em que os portugueses, com garra, perseverança, estudo e muita coragem, navegavam por esses oceanos fora e chegavam sempre ao porto almejado. Agora que já nem temos barcos para navegar a sério nos largos mares que nos banham, nem sequer nos nossos rios poluídos pelas suiniculturas e cada vez com menos água, entretemo-nos a filosofar sobre as mesquinhices do dia-a-dia, o que já não é nada mau, nos tempos de crise que correm. Que me perdoe o Eduardo Lourenço, provavelmente a excepção, o único filósofo português de renome, em toda a História do País.
Certamente para contrariar ou compensar essa falta do conhecimento de Sócrates em Portugal, o nosso Primeiro-Ministro, o único que os portugueses actualmente conhecem, é explorado pela imprensa até à exaustão. Poucos nomes devem ter sido por ela usados com tanta frequência, como este, à excepção talvez de Cavaco Silva, na sua época de primeiro-ministro. Se quisesse referir aqui as vezes que ela inscreve o nome de Sócrates nas suas páginas, não seria capaz de fazê-lo, tantas são. Muito menos se desejasse citar as vezes em que Sócrates aparece na Internet, por bons ou, geralmente, por maus motivos.
Por passatempo puro, não resisto, contudo, a lembrar alguns títulos corriqueiros com que nos brindou ultimamente a imprensa diária:
Sócrates disse
Sócrates ameaçou
Sócrates está nervoso
Sócrates assumiu atitude provocatória
Sócrates é mentiroso
Sócrates é teimoso
Sócrates leva comitiva
Sócrates é suspeito de peculato
Sócrates não é engenheiro
Sócrates não assinou projectos
Sócrates aprova decreto
Sócrates insiste
Sócrates vai a Bruxelas
Sócrates apoia os seus amigos
Sócrates orienta o partido
Sócrates foi insultado
Sócrates não terá maioria absoluta
Sócrates anda enganado
Sócrates defende o orçamento
Sócrates apoia a Ministra
Sócrates está cercado pelas preocupações com a crise
Sócrates seria um ídolo nacional, se o país merecesse…
Sócrates disse que o número não é argumento
Sócrates queixa-se muito de que o perseguem
Sócrates tem uma casa…
Sócrates vive cada vez mais num universo paralelo…
Enfim, Sócrates para aqui, Sócrates para ali, mais estas belezas:
Sócrates enfadou-se
Sócrates não gosta que gostem dele
Sócrates vai correr na Maratona de Lisboa
E, finalmente,
Sócrates engordou 11 quilos! (com foto e tudo!)
Estes títulos, só por si, não valem grande coisa.
Ora um Primeiro-Ministro tem que ser devidamente apreciado na praça pública, pelo que de bom ou de mau executa na governação do país e não pelos quilos de engorda.
O pior é que a maioria dos artigos que esses títulos encabeçam não vale um pepino. São puras superficialidades, por vezes sobre temas que até exigiriam reflexões profundas…
Não há dúvida de que somos um povo de gente muito rigorosa, mas apenas naquilo que não devemos, isto é, no acessório, no que não tem importância nenhuma. E só assim se compreende que existam no país tantos jornais e revistas de fofoca e tão poucos de coisas sérias.
Anormalidades nacionais ou ridicularias?
Ora, voltando ao Sócrates de há dois mil e quinhentos anos, nunca o grande filósofo grego se terá metido em tais alhadas! Consta que foi militar, combatente e cidadão exemplar e não se conhecem citações acerca de participações em provas desportivas populares ou fofocas de circunstância. Durante toda a sua vida, até às vésperas de ser executado, ou ao momento de beber a poção fatal de cicuta, não consta que alguém se tenha preocupado com o seu peso…
Platão, tão minucioso nas descrições do mestre e das suas lições, não diz nada a esse respeito.
Coisas da Grécia antiga e do Portugal de hoje.

segunda-feira, 16 de março de 2009

SPORTING EM BOLANDAS


Derrotas, arbitragens e ameaças

Há alguns anos a esta parte, a culpabilização das arbitragens pelos maus resultados tem sido a melhor solução encontrada pelos futebolistas e, particularmente pelos dirigentes dos clubes, para justificar os maus resultados conseguidos em campo, da mesma forma que dar a garantia de conquista do campeonato tem sido o prato forte para a aquisição de novos elementos e, sobretudo, para a eleição dos corpos gerentes. O abuso destas desculpas ou intenções, num tipo de linguagem acusatória e populista, atingiu o máximo, com a desacreditação geral das arbitragens, terminando na abertura de processos a alguns dos dirigentes que ganham os desafios e aos árbitros que os fazem perder.
Os árbitros não são santos infalíveis e, como qualquer humano, são susceptíveis de errar. Até a Justiça erra, de vez em quando, mas teremos que dignificá-la e depositar nela a nossa confiança, sob pena de transformarmos a Sociedade num bando de selvagens.
Atacar os árbitros com despudor, a torto e a direito, por alguns erros que involuntariamente cometem, ou pela maioria dos que se inventam e publicitam ao sabor das conveniências, atribuindo-lhes intenções malévolas, é atitude reprovável e anti desportiva.
Ultimamente, o exagero a que se tem chegado neste capítulo, veiculado e ampliado pela Comunicação Social nem sempre inocente e isenta, vai conduzindo os adeptos mais acérrimos a extremos de agressividade, com o cúmulo manifestado pelas claques organizadas dentro dos recintos desportivos e até fora deles, com as correspondentes e frequentes intervenções da polícia, para além da vigilância dos adeptos nas entradas dos recintos desportivos, como se fossem aeroportos estratégicos…
O certo é que a exigência de bons resultados das equipas, como garantia de um equilíbrio financeiro cada vez mais difícil de conseguir, e o abuso desta prática corrente de desculpabilização pelas derrotas, à custa da acusação dos elementos da arbitragens, conduzem fatalmente ao fim anunciado do desportivismo, abalado já pelos exageros de profissionalismo exigidos e pelos altíssimos ordenados pagos aos jogadores.
O enorme capital e outros grandes interesses (económicos, sociais, políticos, etc.) postos em jogo pelo futebol, nacional e internacionalmente, concorre fortemente para o extremar das posições e dos correspondentes comentários.
Como consequência, a necessidade de ganhar a todo o custo tornou-se também no objectivo de topo que acabou por sobrelevar o desportivismo, nas mais variadas circunstâncias.
Assim se chega a situações desagradáveis e até de certa gravidade, como a veiculada pela Comunicação Social através do título; Elementos do Sporting ameaçados de morte, precisando logo a seguir que algumas personalidades receberam uma carta de ameaça de morte motivada pelos recentes resultados da equipa.
Ontem à noite, um conhecido comentarista desportivo, mandava algumas indirectas aos dirigentes do clube que não sabiam comunicar adequadamente com a massa associativa… Enfim, outros dirão coisas diversas, todos com boas intenções mas fracos resultados.
Ora, o problema de fundo, toda a gente bem formada sabe qual é: a falta de educação cívica que se traduz num radicalismo tornado lei, nos objectivos, nas situações, nos resultados. Infelizmente é o que mais se verifica por aí, e agora também no desporto, o que é bem lamentável. O caso do Sporting é apenas um pormenor, no panorama geral
.

domingo, 15 de março de 2009

HERÓIS DA ROTUNDA


As placas toponímicas sem rosto

Dizia um artigo que acabei de ler, de um presumível neoderrotista, passadista encartado:
Antigamente, dar nome a uma rua pressupunha um feito distinto. Basta passear por aí: políticos, militares, escritores ou artistas enfeitam as nossas cidades porque o mérito era coisa séria.
Tudo mudou: num país onde o mérito não existe e a vulgaridade igualitária abunda, quem sobra? Sobram, como muito bem defenderam os autarcas Carlos Encarnação e Moita Flores, duas mulheres vítimas de violência doméstica, que terão os seus nomes a enfeitar a toponímia de Coimbra e Santarém.
Nada mais verdadeiro e mais falso ao mesmo tempo que a afirmação do primeiro parágrafo. Ou o articulista foi demasiado superficial na apreciação, ou pretende passar uma mensagem a alguém, o tal recado, como agora se diz por aí.
Percorrendo as esquinas das nossas povoações, desde as aldeolas até à capital, o que mais se pode ler nas placas toponímicas de rua são nomes de pessoas, de coisas e de animais, e ainda de números, alcunhas, países, cidades ou simplesmente localidades ou lugarejos, conceitos diversos, feitos heróicos ou aberrantes, indivíduos anormais, datas de factos importantes ou mesquinhos, enfim, tudo o que é possível imaginar!
Em Lisboa, por exemplo, desde a Rua da Bica do Sapato, a Travessa do Funil, a Rua do Forno do Tijolo, a Rua Vinte e Nove ou a Azinhaga do Monturo, a Travessa do Fala Só, até à Alameda Afonso Henriques, à Avenida da Liberdade, ou à Rua Luís de Camões, tudo é possível, numa escala nunca vista por quem se der ao trabalho de espiolhar atentamente o roteiro da cidade. Dizer que antigamente, dar o nome a uma rua pressupunha um feito distinto é uma enormidade tão grande que não cabe na vastidão deste país onde o individualismo feroz, e consequentemente a diversidade e o anacronismo, se fundem para contrariar, em todos os capítulos, aqueles que pretendem pôr ordem nos conceitos ou reduzir tudo a esquemas organizados. E este facto não se manifesta apenas nas ruas. Ainda há pouco, Miguel Esteves Cardoso escreveu um artigo acutilante e jocoso sobre os nomes das Terras em Portugal, onde faz um retrato fiel, simultaneamente triste e hilariante, da idiossincrasia do nosso povo, no que a este tema se refere.
Portanto, dizer ainda que tudo mudou só porque dois autarcas resolveram colocar nomes de vítimas de violência doméstica nas ruas das suas cidades, é o mesmo que afirmar que o sol se apagou para sempre, só porque vieram algumas horas de sombra.
Também insistir no derrotismo corrente feito lugar comum, de que o mérito não existe e a vulgaridade igualitária abunda, pode significar simplesmente falta de observação, ou tomar aquilo que se vê por aquilo que não se deseja. A nossa História é fértil nos exemplos de heróis ou grandes homens que hoje consideramos celebridades e com nomes nas esquinas das principais cidades, e que no seu tempo foram contraditados até à exaustão, vilipendiados, expulsos da Sociedade, reduzidos à maior das vulgaridades, não raro considerados abaixo de cão, pelo poder ou pelos próprios concidadãos…
O terceiro e último parágrafo do artigo, diz assim:
No Portugal de 2009, o ‘herói’ não é aquele que comete actos ‘heróicos’. Para se ser ‘herói’, basta levar porrada e, de preferência, morrer durante o processo. Se a moda pega, desconfio que até eu darei nome a um beco qualquer: esta pontada nas costas, que eu aguento heroicamente, mata-me dia após dia.
Mas quem pode dizer que aguentar uma vida ao lado de um energúmeno, por amor ou por defesa do bom nome dos filhos, levar porrada, ficar estropiada ou até dar a vida por um acto de nobreza, mesmo que não venha nos livros de História, não é heroísmo puro? Provavelmente até de muito maior dimensão que os Heróis da Rotunda que a ironia popular vulgarizou.
Isso não tem nada que ver com heróis de pontadas nas costas, ou de unha esgaçada ao abrir uma garrafa de cerveja. Mas pode ser tomado com certa indulgência, como pilhéria para preencher algumas linhas obrigatórias num periódico de referência.
Há por aí, nos dias de hoje, mais heróis verdadeiros do que se imagina.
Enfim, num país livre, cada um escreve como sabe e pode.

sábado, 14 de março de 2009

ESCRITA SEM SAL


O sal no pão, sem razão

Ao abrir as notícias e os respectivos comentários, deparei com mais um curto artigo que me fez rir. Digo mais um, porque artigos destes que me causam riso aparecem com certa frequência.
Não é de estranhar. Entre a catadupa de notícias com que somos brindados diariamente, mal fora se uma ou outra, no meio do mar de tristezas que nos apresentam, não tivesse características hilariantes. Não me refiro só às notícias, mas também aos comentários e aos artigos de opinião. Quem tem a obrigação de produzir artigos a metro, diariamente, ou pouco menos, nem sempre tem imaginação suficiente para escrever coisas interessantes. E assim, muitas vezes saem pepineiras do arco-da-vélha.
O artigo referenciado, por sinal sob a rubrica «a voz da razão» e o título «Chamem a polícia», começava assim:
Que bonito: o país caminha para a bancarrota e o Parlamento discute o sal no pão. Sal em excesso faz mal, dizem os deputados, que trataram de reduzir os níveis da coisa. Sem esquecer, claro, outras ‘recomendações’ para combater a obesidade nos petizes.
E terminava desta forma:
Se comemos, ou não comemos, frutas e legumes; se fumamos, ou não fumamos, em frente a crianças e animais; se fornicamos, ou não fornicamos, cumprindo as regras de segurança. Num país que sempre apreciou a servidão, a liberdade já deu o que tinha a dar.
Desatei a rir!
Não porque o que ali se escrevia não fosse verdade, em boa parte, mas apenas por ver quanto é fácil, infelizmente, utilizar essa verdade para conclusões diversas ou até perversas. E sempre a rir…
Realmente, o articulista não contesta a verdade do efeito maléfico do excesso de sal no pão contra o qual os médicos nutricionistas lutam sem êxito, que todos conhecemos mas de que não fazemos caso, que os padeiros esquecem por causa do sabor e do negócio, de que a imprensa séria devia fazer-se eco, numa atitude pedagógica responsável e abstrai, pura e simplesmente, ou faz notícias de rodapé.
Há dias fiquei a saber, por exemplo, que em Portugal, o pão era o mais salgado da Europa e que, de uma forma geral, os portugueses consomem quase o triplo de sal que os nossos compatriotas europeus. Também venho notando, só não nota quem é cego, que as crianças, magrinhas de antigamente, se transformaram em verdadeiros batoques, com tendência a aumentar…Sabemos, por outro lado, que os portugueses não ligam nenhuma a isso, como não ligavam ao tabaco, nem se preocupavam com o mal que estavam a fazer às crianças e aos restantes fumadores passivos que também têm os seus direitos!
Ora a liberdade de cada um é sagrada, em democracia. O sol quando nasce é para todos, lá diz o povo, nas suas palavras mais simples e mais compreensíveis que todas as constituições do mundo. E, se os fumadores e os pais portugueses são irresponsáveis e a imprensa não se importa com isso um pepino, ou até reage às avessas, não vejo mal nenhum que seja o Estado a tomar medidas que os próprios não tomam de motu próprio, ainda para mais impostas pela CE, para defender as crianças e os que não fumam, silenciosos a quem os «agressores» sovam alegremente.
Mas tenhamos em conta que as refeições nas cantinas escolares são da responsabilidade das autoridades, tal como a gestão da saúde pública, para a qual a maioria dos contribuintes paga ou já pagou a sua cota parte. E que todas as leis, por mais mesquinhas que pareçam, passam obrigatoriamente pela Assembleia da República.
Infelizmente já começamos todos a estar fartos das parvalheiras que todos os dias se ouvem nessa mesma Assembleia da República ou se publicam na Imprensa Diária, sobre a crise. Para nossa desgraça, porém, ela não se resolve com simplistas decretos de circunstância, nem com jocosas tiradas jornalísticas tentando imitar os conhecidos treinadores de bancada, ou soprando maledicências a quem passa.
Não posso deixar de rir de novo ante a frase final do artigo referenciado onde se diz que em Portugal, a liberdade já deu o que tinha a dar…
Discordo! Infelizmente, no nosso País, ainda há muita gente a conduzir em contramão.
Que escrita sem sal!

sexta-feira, 13 de março de 2009

A SOCIEDADE CONSUMISTA



Fabricantes de ilusões e de misérias

Grande parte das pessoas, na sua vida rotineira e descontraída, não se dá conta de que vive numa sociedade consumista, cheia de anacronismos, vítima de si própria e incapaz de melhorar por seu próprio esforço, antes de cair na grande desgraça que se avizinha, chamem-lhe crise económica, financeira e social, ou ainda desastre ecológico universal, segundo os mais pessimistas.
A ordem do dia é comprar cada vez mais, comprar sem travão, comprar até esgotar os proventos, comprar a crédito, comprar tudo o que se mete pelos olhos dentro, nem sempre o que é necessário, e muitas vezes o que é desnecessário.
São os próprios que compram que se iludem, que criam as suas próprias falsas necessidades, numa sociedade que pretende ter o máximo, seja do que for, especialmente ter cada vez mais que o vizinho do lado, ainda que outros vizinhos menos afortunados vegetem na miséria mais incrível. A esses que muitas vezes a infelicidade ou as vicissitudes da vida só trouxeram desgraças ou não conseguem sair do atolamento onde se encontram dirão, calma e displicentemente, que trabalhem, que façam por ganhar mais, que aguentem, que tenham paciência…
A sociedade sabe ser cruel, em Portugal e no Mundo inteiro. Se passarmos do panorama individual ou nacional para o internacional, compreenderemos melhor essa crueldade, comparando o PIB de alguns países, com valores máximos de quase 100,000 dólares per capita, com o de outros, rondando os míseros 400!!! É como se estes povos infelizes sobrevivessem (ou não) com os restos que outros deitam fora…
Acabei de ler que, só nos Estados Unidos da América, 426.000 telemóveis são atirados para o lixo, diariamente, a maioria dos quais em perfeito estado de conservação e ainda em uso. Essa aberração apenas é devida ao anacrónico consumismo das gentes, na ânsia de ter o melhor, de possuir o que o vizinho ainda não conseguiu obter, e não fruto de qualquer necessidade urgente.
Um empresário que conheço, e a quem indiquei a leitura desta notícia, respondeu-me simplesmente que eram as regras do mercado, a auto regulação que permitia o funcionamento das fábricas, o pleno emprego, o bem-estar das populações, o incentivo para novas descobertas da Ciência e da Técnica…Que até hoje, nenhuma escola ou teoria teria ensinado ou proposto nada melhor, para o progresso e o dito bem-estar da Humanidade, que o liberalismo económico em que vivemos, à escala global.
-Mas que faremos aos milhões de telemóveis rejeitados, aos milhões de carros, de pneus, de televisores, de electrodomésticos, de roupas, de bugigangas de toda a espécie?
-Serão reciclados em unidades fabris adequadas, dando emprego a muita gente.
É a pescadinha de rabo na boca, o círculo vicioso do sistema. Poucos se lembram de que, a cada reciclagem corresponderá sempre uma degradação de energia e da qualidade dos bens obtidos, uma necessidade de procurar novas matérias-primas usando novas tecnologias para repor a ilusão dos compradores, até atingir o fatal desastre ecológico do planeta que alguns já anunciam, porque as riquezas da Terra não são ilimitadas.
Infelizmente somos todos, cada um na sua medida, fabricantes conscientes de ilusões e de misérias, por mais que pretendamos justificar-nos ou atirar as culpas para outros.
Além de ser cruel para com o seu semelhante, a sociedade também é egoísta e imprevidente. Na ânsia de querer o máximo para si, sem olhar a meios, vai destruindo tudo na sua passagem, sem se preocupar muito com as consequências catastróficas anunciadas.
É evidente que a Humanidade seria muito melhor, se trocasse um pouco deste consumismo endeusado e tornado obrigatório, um pouco desta ganância feita virtude e ensinada automaticamente desde o berço, por um pouco mais de solidariedade entre os homens. E, para isso, bastaria talvez que boa parcela dos individualismos e seus interesses fossem postos de lado. Assim, poderiam chegar a acordo os políticos e os sábios economistas, de forma a limitar, entre regras mais estreitas e mais humanas, este liberalismo feroz que tomou conta da generalidade das nações. Antes que a força das circunstâncias a isso os obrigue algum dia, de forma drástica e impiedosa, com trágicas consequências para todos nós.

quinta-feira, 12 de março de 2009

ASAE


Acudam, senão mato-me!

Ainda há pouco, os abencerragens defensores das antigas tradições d0 atar e pôr ao fumeiro se atiravam à ASAE como gato a bofe, temendo ficar sem as morcelas e as chouriças que usavam nas patuscadas, entre amigalhaços. A ASAE tinha entrado a matar sobre os mixordeiros, contrafactores e oportunistas no aproveitamento do lucro fácil, à custa de muita falta dos requisitos mínimos de higiene, das licenças e dos comprovativos legais exigidos, etc.
Durante anos, a propaganda impiedosa da imprensa fazendo eco da vox populi, foi toda orientada para as deficiências que se verificavam nos cuidados de higiene mais elementares dos restaurantes, causadores de inúmeras diarreias ou intoxicações alimentares, merecedores portanto de castigo adequado. Mas raramente os denunciantes se atiravam aos fabricantes dos acepipes tradicionais, enaltecidos sempre até à exaustão. E entretanto, a culpa de tudo o que de mal acontecia por aí era simplesmente atribuído à falta de fiscalização.
Já o mesmo não acontecia com a ausência dos alvarás de licenciamento dessas pequenas empresas, abertas ao público em desespero, depois de anos de espera sem resultado, no rescaldo da costumada burocracia autárquica. Por esse país fora, milhares de pequenas empresas do ramo funcionavam nesse esquema, guardando na gaveta a cópia comprovativa do requerimento da licença pedida há não sei quantos anos, facto com o qual ninguém se preocupava. Grande número de cafés, pastelarias, pequenos restaurantes e outro pequeno comércio tinham assim as portas abertas, à confiança. O público desconhecia ou, desvalorizava.
Mas logo que a ASAE entrou em força sobre as irregularidades e as ilegalidades que inundavam o País, um coro de protestos se elevou no ar, ameaçando alto e bom som, à portuguesa: acudam, senão mato-me!
As receitas tradicionais culinárias, os enchidos, os queijos, as frutas, os figos secos do Algarve, as mais conhecidas iguarias cozinhadas no país estavam condenadas a desaparecer, mandando para o desemprego os seus pobres e incautos preparadores. Até a consagrada bica corria o risco de deixar o uso da saborosa chávena besuntada com baton, para passar ao copo de papel insípido, a esquentar os dedos. Era o escândalo máximo, para os profetas das desgraças.
Como se tudo isto não bastasse, ficaram ameaçadas as maravilhosas farturas poeirentas e os presuntos curados à pressa, das feiras, os espectaculares pastéis requentados vendidos nas praias, os bolos fabricados pela Ti Maria e vendidos à porta das escolas, ou para as pequenas pastelarias de bairro, etc.
Nas feiras, os ciganos tremeram pela descoberta, finalmente, como se de coisa muito rara se tratasse, da venda de produtos de marca contrafeitos que davam jeito a muita gente, que os comprava bem caladinha, sabendo que não devia.
Os Partidos Políticos da Oposição e os consagrados comentaristas da nossa Comunicação Social ávida de escândalos, atiraram-se à ASAE sem piedade, chamando-lhe desumana, rigorosa em excesso, castradora das tradições gastronómicas regionais, prepotente, exagerada e não sei quantas coisas mais. Até os seus fiscais foram ridicularizados por, em certa altura, na feira de Santarém, se precaverem, pelo sim, pelo não, com colete anti-balas…
Por último, quando tudo parecia entrar na normalidade, a famigerada lei anti-tabaco veio de novo colocar todo o mundo em alvoroço, e prender a ASAE de novo ao pelourinho.
Tardou algum tempo até que a poeira assentasse sobre tantas aberrações, a sua repressão necessária, os comentários de uns tantos, os interesses de outros, as diversas vicissitudes de um processo que já deveria ter ocorrido há várias dezenas de anos, em Portugal e que ninguém tivera a ousadia de implementar.
Hoje, uma das grandes notícias da imprensa diz o seguinte:
A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) recebeu, em 2008, cerca de noventa mil reclamações, mais vinte mil do que no ano anterior, segundo as estatísticas anuais do Livro de Reclamações. Os principais motivos das 93.195 queixas que seguiram para a ASAE dizem respeito ao cumprimento defeituoso ou não conforme o contrato (produto ou serviço defeituoso, atrasos e problemas de garantia), atendimento deficiente, informação pré-contratual insuficiente ou errónea e deficiente assistência pós-venda.
As reclamações relacionadas com falta de requisitos, venda de bens por preço superior ao preço fixado, falta de asseio e higiene em estabelecimentos de restauração e bebidas, falta de higiene e condições de segurança e falta de afixação de preço também reuniram um grande número de reclamações.
Não faço a menor ideia, se o número reflecte ou não alguma melhoria da situação existente há três anos, mas uma coisa é certa: os portugueses começaram, finalmente, a ter consciência dos seus direitos e um deles é o de reclamar para a ASAE ou para a autoridade correspondente, pelos serviços que outros lhes prestam, em más condições. As coisas que não estão bem têm que ser corrigidas e não vale a pena continuarmos todos a enterrar a cabeça na areia, como a avestruz.
Felizmente, contrariando tanto alarido e as anteriores expectativas derrotistas de uns quantos, é possível verificar, passando pelos hipermercados, a melhoria geral notória do fabrico, da diversidade, da apresentação e da conservação dos nossos produtos regionais. Podem ser usados com perfeita segurança, sem correr o risco de eventual intoxicação alimentar. Só pela qualidade poderão sobreviver e suplantar a venda dos concorrentes estrangeiros.