terça-feira, 6 de janeiro de 2009

ECONOMIA DE POLEIRO


Cada cabeça, sua sentença

Já passava da meia-noite, resolvi dar uma vista de olhos pelas sentenças abalizadas dos nossos economistas encartados, na cerimónia da comemoração do décimo aniversário do euro. Pensava eu que iria encontrar a solução para os numerosos problemas da nossa economia e algumas dicas interessantes sobre a crise financeira e económica que atinge o mundo inteiro, mas fiquei desapontado.

Tudo o que consegui apurar foram lugares comuns, bocas para a plateia enquadradas nos conhecidos chavões tornados populares como bens de consumo, inflação, recessão, deflação, rendimento disponível, produtividade, emprego, crédito, endividamento, investimento, união monetária, e por aí fora.

É certo que a economia já não é o que era dantes, na minha óptica uma ciência altamente positiva onde o único chavão que se ouvia era o «produzir e poupar», como mandava o Salazar. Hoje trata-se de uma ciência de muitos chavões, muitas complicações, muitos palavrões, onde a maioria das cabeças especialistas na matéria andam a reboque dos acontecimentos, emitem muitas sentenças lapidares, e obtêm os fracos resultados bem consolidados que vemos... Mesmo os Prémios Nobel da Economia, tão celebrados na sua altura, não conseguem mais de três ou quatro anos de confirmação das suas teorias, caindo redondamente, ultrapassados pelos acontecimentos, o que significa, num certo sentido, que a Economia anda sempre a reboque desses mesmos acontecimentos, embora fosse suposto que os seus gurus deveriam andar à frente.

Curiosos hoje são também os títulos da imprensa que pretende acompanhar as sumidades: A entra em colisão com B e C. C discorda de B e A. B concorda com A e manda recados a C ...

É assim a vida. Cada qual se julga o supra-sumo, mas estatela-se ao comprido logo a seguir, isto é, a crise bandarilha-os a todos, e muito bem estaremos nós se eles não acabarem com uma estocada igual à que lhes aplicou a crise dos anos trinta.

O que me preocupa é que não sei o que andaram a fazer desde essa altura até aos dias de hoje. Já nessa ocasião o fiasco da Bolsa lhes tinha dado uma lição formidável, mas não serviu de nada, mantendo-se eles teimosamente nas suas pomposas teorias de economia falaciosa. Por incrível que pareça, também nada devem ter aprendido da lição de economia centralista do Bloco Além Muro.

E agora, não sei se uns quantos aldrabões da Banca Norte Americana e Europeia que aprenderam as técnicas comezinhas e bem portuguesas do Alves dos Reis e da D. Branca, e as executaram numa escala muito maior, chegarão para abrir-lhes os olhos, porque continuam a não querer pensar a sério numa modificação do sistema económico-financeiro mundial e persistem na mesma panaceia da Bolsa...Qual?

Estou certo de que, resolvida a crise actual ao fim de dez ou quinze anos, por si própria e não por acção dos sábios economistas, é certo e sabido que lá estarão eles de novo todos encostados à Bolsa, até que apareça outro Madoff para lhes ensaboar a cara outra vez e nos deixar de rastos a todos nós. Bem sabemos que é o que acontece de tantos em tantos anos...mesmo sem ter aprendido mais que a economia caseira.

No intervalo das crises, esses sábios lá se vão entretendo, executando cálculos de sumir, fazendo jus aos seus belos ordenados e mandando recados ao pagode aflito que conta os tostões para sobreviver...

Agora até se apoiam no desgraçado do Barak Obama que julgam ser remédio santo para tudo, e ainda nem tomou posse. Coitado dele, nos tempos que se aproximam! E os economistas todos, que andam a fazer? Nada! Acusam os políticos, lavam as mãos como Pilatos, mandam bocas uns aos outros, fingem resolver mil equações de mil resultados para as mil incógnitas... e aguardam tranquilamente!

Mas, afinal, que sei eu de Economia, para estar também aqui a mandar dicas e a fazer avaliações de tantos entendidos na matéria, eu que apenas sei gerir com pinças a minha magra reforma?

Peço desculpa a todos esses senhores, se os ofendi. Foi sem querer.

É que, meus caros, só ouço o pessoal a falar da crise, mas numa barafunda de acusações mútuas e de soluções sempre inconclusivas, como se ela fosse, em Portugal, um bicho-de-sete-cabeças! Não sabem nada de História. Ela já vem do tempo de D. Afonso Henriques e só a valentia e a abnegação de uns quantos heróis conseguiu iludi-la, de vez em quando, ao longo dos séculos. Provavelmente é o que nos falta agora, num tempo em que só abundam as teorias, a corrupção e as lamentações...

De positivo, ainda não vi quase nada, nem da parte dos senhores economistas nem de outros especialistas, para debelar a tal crise para a qual alguns, muito bem caladinhos, já tinham chamado a atenção há tempos e outros, mais ratões ainda, tinham ou têm a solução ideal mas não dizem!...

É por estas e por outras «palermices» que apregoam e tentam impingir-me diariamente que estou triste e descrente, mais uma vez. Ponham-se de acordo, trabalhem a sério e, ao menos, não chateiem!

A minha última esperança é que apareça entretanto um novo Roosevelt na América (como na crise dos anos trinta), e ponha em prática alguma nova ideia luminosa para nos tirar a todos do fosso. Até lá, há que aguentar o mais estoicamente que for possível.

Desculpem, mas isto é grande demais, não vai só com as vossas desencontradas e baratas generalidades de poleiro.

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