Ainda as eleições vêm a quilómetros de distância e já os politiqueiros do costume começam a lançar as suas farpas a tudo o que mexe, neste país onde todos se acusam mutuamente de videntes sábios, oportunistas lampeiros ou imprevidentes grosseiros. A política tem coisas aberrantes, mas nem tudo o que de mal acontece pode assacar-se apenas à política. Tal confusão provém da interpretação que se dá da política, em geral.
Para muitos pensadores, política é a ciência moral normativa do governo da sociedade civil. É a definição mais nobre.
No uso trivial, vago e às vezes um tanto pejorativo, política, como substantivo ou adjectivo, compreende as acções, comportamentos, intuitos, manobras, entendimentos e desentendimentos dos homens (os políticos) para conquistar o poder, ou uma parcela dele, ou um lugar nele: eleições, campanhas eleitorais, comícios, lutas de partidos etc. Quer dizer que vale tudo menos tirar olhos...
Como os gregos foram os iniciadores da política, como meio de governar as suas cidades-estados, com Atenas à cabeça e no sentido mais nobre, como se pode ver nas descrições da República, de Platão, é fácil deduzir que muita coisa mudou, desde a interpretação original até hoje. E como nem sempre tudo se regeu pela transparência e pelas boas intenções, a Politica Ciência Social, veio a perder cada vez mais terreno, em favor da politiquice permanentemente imposta pela comunicação social dos nossos dias, ou com a sua indispensável ajuda.
O caso das diversas e futuras eleições merece ser referido.
Há dias, uma estação de TV procurava arrancar ao Primeiro-Ministro que estava a entrevistar, as datas que preferia para as próximas eleições e, sobretudo, a sua opinião sobre a já falada junção de algumas eleições na mesma data, como as autárquicas com as legislativas, estas com as europeias, ou tudo ao molho e fé em Deus...
O desgraçado lá se conseguiu desenvencilhar das várias armadilhas que lhe foram sendo montadas sobre o tema, mas nem sempre a coisas são assim tão fáceis.
No passado sábado, um conhecido semanário resolveu dar a notícia bombástica de que o Presidente da República iria fazer uma vaquinha pela junção das legislativas com as autárquicas, de modo que, quem se opusesse, teria que havê-las com ele.
Logo no dia seguinte o Presidente, apanhado de surpresa pela publicação de frases e intenções que nunca tinha manifestado, (embora pudesse tê-las pensado, coisa de que muitos suspeitam, mas que ninguém poderá provar), viu-se obrigado a fazer um desmentido oficial, etc.
Logo a seguir os partidos políticos, um a um, não querendo perder o comboio, sentiram-se na obrigação de fazer os seus comunicados, acentuando que era cedo para se discutirem as datas das eleições.
Enfim, o desenrolar da questão visto por um leitor externo tem o seu quê de ridículo, ao confrontar o aparato dos comunicados, com a nítida falta de interesse das notícias postas a circular. Porque haveria alguém de se preocupar com elas, logo a seguir às festas do Ano Novo?
Era por demais evidente que a Comunicação Social, na grande falta de notícias internas, tinha interesse em dar um grande golpe no escuro, para atrair clientes e leitores, mas as populações não estavam interessadas, a tal distância, deste problema, apanhadas no redemoinho da crise que as preocupa, mais que nunca.
Para mais, se a política nunca fosse misturada com a politiquice, todos acreditaríamos nela, a comunicação social e os políticos seriam os nossos deuses, como nos tempos de Platão e dos gregos. Assim, não passam muitas vezes de santos de pau carunchoso...
Lembrei-me, a propósito, de que apresentei acima duas definições de política e ainda nenhuma da palavra politiquice. Não vou fazê-lo, mas apenas acrescentar dois comentários a respeito, apanhados num jornal brasileiro. Dizia um: politiquice é manobra política irrelevante. Dizia o outro: politiquice é prefeito que constrói ponte sem ter rio...
Adorei!
Aqui está como, de uma maneira bem simples, se retrata este oportunismo feroz, esta ânsia de apanhar o comboio em andamento e chegar primeiro, esta maneira maquiavélica de passar notícia, de caçar o voto para ficar à frente do vizinho, mesmo que seja à custa de mentiras, de inverdades, de contos, histórias, dicas, invenções, eu sei lá que mais...no meio sempre de verdades inquestionáveis...ou demagógicas...
Que difícil é, nos dias de hoje, onde a informação é rainha omnipresente, saber muitas vezes simplesmente a verdade sem subterfúgios nem sofismas!
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