quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O MÊS DE JANEIRO E OUTRAS COISAS

Contra os canhões, marchar, marchar!

A História de Portugal anda, nestes tempos de politiquice barata e de educação informática a metro, tremendamente esquecida dos portugueses e, quem teria mais obrigação de activar-lhes a memória, demite-se das suas responsabilidades, abusando da propaganda da notícia soez e do incentivo ao negativismo de tudo o que são valores cívicos, pátrios ou morais.

O mês de Janeiro é o primeiro do ano e, talvez por isso, por coincidência ou não, uma fonte de notícias estranhas, algumas das quais agora recordadas com azedume por uns, com saudade por outros, com apego a velhas tradições dos antepassados, ainda por alguns. Por exemplo:

O 11 de Janeiro de 1890 ficou durante muitos anos na memória dos portugueses, pelos maus motivos: um ultimato feito ao governo português pela nossa velha aliada, a Inglaterra. E foi um dos motivos que mais fortemente concorreu para a queda Monarquia em Portugal, embora cerca de vinte anos depois. Nessa altura, o major Serpa Pinto foi obrigado a retirar-se do interior africano situado entre Angola e Moçambique, onde tencionava instalar forças militares a defender a soberania portuguesa proposta no célebre Mapa Cor-de-Rosa que ligava Angola à Contra-Costa (Moçambique). Um surto de nacionalismo meio adormecido e a sua exaltação por efeito do descontentamento popular, foi aproveitado pelos republicanos contra a Monarquia vigente e caduca, nascendo daí a letra e a música do actual Hino Nacional, da autoria dos patriotas Henrique Lopes de Mendonça (a letra) e Alfredo Keil (a música)! Vinte anos depois, a Portuguesa viria a substituir o oficial Hino da Carta. Interessante que o último verso não era, como agora, Contra os Canhões, mas Contra os Bretões…os britânicos autores do célebre ultimato.

Esse descontentamento provocado pelo ultimato abominável, a juntar ao descontentamento pela governação, teve como reacção, um ano depois, a célebre revolta de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, onde foi proclamada a República da varanda do edifício da antiga Câmara da cidade. Durou uma manhã essa República ali proclamada e até apoiada por bastantes populares. As chefias do exército estavam com o regime, os revoltosos cometeram erros de puro amadorismo, a revolução foi afogada em sangue pela Guarda Municipal, fiel à Monarquia, e os cabecilhas foram presos ou deportados para Angola.

Com a atmosfera política a adensar-se cada vez mais, o 30 (ou o 31) de Janeiro de 1908 foi a data decisiva dos conspiradores do regicídio do Rei D. Carlos I e o Príncipe Herdeiro D. Luís Filipe que teve lugar a 1 de Fevereiro e que iniciou a descida acelerada até à queda final do regime monárquico e a proclamação da República, a 5 de Outubro de 1910.

A rua de Santo António, no Porto, palco dos combates da revolta republicana de 1891, foi por ela rebaptizada de Rua 31 de Janeiro.

Viria mais tarde a ser renomeada pelo seu nome original, pelo Governo do Estado Novo.

E voltaria a ser 31 de Janeiro, depois do 25 de Abril.

Nada disto tem sido referenciado na Comunicação Social. Mas a fofoca costumeira tem vindo a assumir aspectos caricatos, com os escassos partidários da Monarquia a tentarem chamar a atenção para a data do Regicídio a 1 de Fevereiro, trazendo à memória a diplomacia, o humanismo e a apetência científica do Rei D. Carlos, coisa que ninguém contesta, mas com um sentido panegírico do sistema monárquico que, para eles, interessa não esquecer…De tal forma que a data vai ficar conhecida, nos tempos mais próximos, pelo desígnio de utilização da Banda de Música do Exército e a respectiva negativa das autoridades. Os regicidas Costa e Buíça, a esta hora já bem transformados em pó, nas suas campas rasas, devem ter tremido de desespero, e o Rei assassinado, lá do Panteão, deve ter sorrido de agradecimento aos seus partidários, ainda resistentes quase um século passado. Mas quem quer saber da Historia, para nada?

Algumas crianças das escolas primárias, quase de certeza, devem ter aprendido que o rei era um tirano ou um valdevinos a abater e os assassinos uns heróis injustiçados…e viva a República. Mas nem sabem também o que se passou a 11 de Janeiro de 1890 e a 31 de Janeiro de 1891, apesar da perpetuação desta última, numa rua das mais importantes do Porto!

Nem conhecem, que ninguém lhes terá dito, qual a origem da Portuguesa. Nem quem a escreveu e a musicou. Conhecem, que todo o mundo os proclama em voz alta, os ídolos do futebol e das telenovelas em curso. E já não é mau…

Nesta época de computadores e de sondagens a pontapé pelas coisas mais absurdas, quem se lembra de pesquisar quantos alunos, da Primária à Universidade, conseguem soletrar ou cantar a Portuguesa? Devem ser muito poucos. Mas os alunos não têm culpa disso. Se os pais e os próprios professores também não sabem o Hino Nacional…

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A ESPECTACULAR EFICÁCIA PORTUGUESA

Não há pachorra!

«Enquanto altos responsáveis da Judiciária lamentaram ao CM o “silêncio” das autoridades inglesas ao longo de todo o mês, os serviços de justiça britânicos desfizeram ontem o mistério: não receberam “quaisquer pedidos de colaboração para que sejam feitos interrogatórios” a amigos dos McCann. E faltava contactar a Procuradoria-Geral da República – que, afinal, confirma o impensável para a PJ. As cartas não seguiram mesmo.»

Não vale a pena transcrever o resto da longa explicação para o facto citado, na verdade um enredo tão complexo como a telenovela «Morangos Com Açúcar», mas muito mais opaca, muito menos interessante que esta, apesar de não ser do meu género.

Também não me apetece ler uma segunda vez. Uma só chega e basta! Provavelmente, da próxima nem sequer olho de raspão. E farei mal, que todo o cidadão deve procurar saber sempre quais as linhas com que o cozem!

De qualquer maneira, fico sempre triste, mesmo muito triste, quando vejo estes espectáculos anacrónicos e bizarros denunciadores, não só da nossa consabida burocracia que serve para camuflar muitas outras deficiências, mas de uma falta de profissionalismo a toda a prova, da parte de quem deveria dar só bons exemplos. Que outra coisa se poderá chamar, ou acrescentar a esta falta de profissionalismo? Talvez abandono, desleixo, laxismo, ignorância…para não pensar noutros palavrões mais acutilantes como o despeito, a vingançazinha entre pessoas e instituições concorrentes para o bem comum, mas que parecem trabalhar em linhas paralelas, as tais que só se encontram, por hipótese, no infinito…

Frequentemente me insurjo contra a Imprensa coscuvilheira e propagandista do acessório, do fútil, do crime, daquilo que não deveria interessar a ninguém, mas não sei como classificar uma notícia destas, dentro das minhas linhas normais de apreciação. Provavelmente terei que alargar o perímetro.

Nos tempos do Estado Novo, uma notícia destas era impensável, por dois motivos: em primeiro lugar, porque os factos, possivelmente devido ao medo e à fiscalização existente, não teriam acontecido; em segundo lugar porque, mesmo tendo ocorrido, levariam o lápis vermelho da censura e não seriam publicados, portanto muito menos seriam do conhecimento do grande público. Deste modo nunca eram conhecidos os erros ou descuidos da Justiça, da PJ, da PIDE, dos Médicos, das Administrações Públicas ou Privadas de peso, das Universidades e Institutos, do Clero, enfim de tudo o que pudesse por em causa o Regime ou a sua política.

E veio a Democracia, com todas as suas vantagens e a liberdade para o cidadão comum. Ele tem o direito de conhecer tudo o que se passa no País, para poder julgar, na altura devida, aqueles a quem entregou a direcção do Estado e das Instituições…que todos queremos com letra grande! E a Imprensa tem também o dever de informá-lo com verdade, isenção e honestidade.

Claro que a Imprensa cumpriu aqui, correctamente, o seu dever.

Há dias, acabava eu meia dúzia de linhas mal amanhadas, em desânimo fruto de umas quantas notícias parecidas com esta que encima a minha crónica, dizendo que, mesmo contra os meus princípios, quase era tentado a acreditar que estava num país de caca…

Quase!

Por enquanto ainda não acredito que este seja o país de caca que tantos se esforçam por fazer. Provavelmente estavam habituados à eficiência do cacete. Por isso abusam da liberdade democrática que teimam em não compreender, qualquer que seja a classe em que se insiram na nossa Sociedade.

De quanto tempo necessitarão ainda, para que aprendam de vez que o direito alienável à liberdade de que desfrutam lhes impõe o dever sem excepções de cumprir lealmente e com profissionalismo as leis da República, ao serviço do bem comum?

Não há pachorra!

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

OS ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO

Viva a festa! O Carnaval está à porta…

Diário Digital / Lusa

29-01-2008 9:26:00

Alunos do secundário do Porto manifestam-se quinta-feira.

Alunos de escolas do Ensino Secundário do distrito do Porto manifestam-se quinta-feira para protestar contra o que consideram ser «o grave ataque à escola pública, gratuita, de qualidade e democrática».

«Sairemos à rua para exigir do Governo a escola a que temos direito», afirma em comunicado, Nicole Santos, da comissão organizadora do protesto, que vai decorrer no Porto.

Os estudantes vão reivindicar «educação sexual transversal a todas as disciplinas já no próximo ano lectivo, condições materiais e humanas nas escolas e o fim dos exames nacionais».

Exigem também «o fim da privatização das escolas (cantinas, bares e reprografias) e o fim do estatuto do aluno».

Nicole Santos acrescenta que os estudantes do Ensino Secundário do distrito do Porto estão «contra a aprovação do novo regime jurídico que abre as portas das escolas aos privados».

Só falta a entrevista respectiva, a complementar o comunicado, mas há-de vir na quinta-feira, no notiário das vinte.

Realmente, há coisas na vida que seriam incompreensíveis, como diria La Palisse, se não fossem tão fáceis de compreender!

Uma manifestação pública de alunos do secundário do Porto, conscientes e sabedores dos seus direitos, regateando e protestando especialmente contra o estatuto do aluno e os exames nacionais, a gestão das cantinas e reprografias, a falta de educação sexual e a intromissão dos privados no ensino público, etc…poderá ser encarada como sinal de maturidade cívica acelerada, pelas pessoas adultas de sólida formação moral ou académica?

A juventude sempre foi voluntariosa e atrevida, e não era agora que ia deixar de sê-lo. Mas sempre tive a ideia de que era simultaneamente permeável ao bom senso, aos ensinamentos dos mais velhos e ao respeito das leis por eles impostas, dimanadas da sua legalidade democrática, trabalhadas pela sua sabedoria e experiência da vida. Mesmo assim, as leis nem sempre saem perfeitas. Por vezes há que mudá-las ou aperfeiçoá-las e os Pais, como adultos responsáveis, têm que colaborar nisso, através da sua intervenção necessária, legal e oportuna. Neste caso dos problemas da educação, são eles os chamados a colaborar na melhoria do ensino, tal como os Professores, os Autarcas, o Ministério da Educação e até o Parlamento, se necessário.

Ou estarei errado?

Serão agora, nesta época de fenómenos, os filhos menores os mentores dos Pais, dos Professores e dos Gestores Públicos democraticamente eleitos?

Apesar dos tempos serem outros, não posso esquecer a expressão com que um professor respondeu a um colega meu de desasseis anos (a idade da contestação!) que se atrevera a refilar a um delicado pedido seu:

-Já a formiga tem catarro!...

Mas isso era naquele tempo. Agora, a formiga não tem só catarro, mas garganta afinada, apoios partidários, mascarados de ajuda à juventude inquieta…

A idade dos protestos e das reclamações vai baixando, a cada ano que passa.

Há dias, uns miúdos da primária montaram guarda a uma escola fechada a cadeado pelos pais e responderam às perguntas de uma jornalista que perguntava, esperta e clarividente:

-Em que classe andas?

-Na terceira…

-Então que estás aqui a fazer? A montar guarda à escola? Sabes porque puseram o cadeado no portão? Teria sido por causa da chuva que entrava pelo telhado, não?

-Sim…

E como este entrevistado parecia não dar troco, interrogou um segundo:

-Olha lá tu aí, em que classe andas?

-Na quarta…

-Parece que chovia na tua sala de aulas…

-Sim…

-E isso atrapalhava as aulas? Vocês não tiveram medo de ficar molhados?

-Sim…atrapalhava… a professora pôs um balde ao pé do quadro…

-Ai, sim? E vocês continuaram na sala, ou saíram?

-A professora mandou sair todos…

-E achas bem colocar o cadeado no portão?

-Sim. O meu pai disse que era preciso…para ter uma escola nova…

-E tu gostarias de andar numa escola nova?

-Eu gostava…

Valentes miúdos!

Valente jornalista!

Estou à espera de que, um dia destes, os bebés de ano e meio, que mal sabem soletrar papá e mamã, protestem ruidosamente e se oponham ao uso das fraldas compradas em saldo no hipermercado! Com o apoio das para farmácias…

Cá fico à espera.

Só não sei como vão fazer os jornalistas para as respectivas entrevistas.

Mas hão-de desenrascar-se…

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A LISTA INTERMINÁVEL


Crónica de domingo passado…

Num dia agradável, como este domingo passado, resolvi, depois do almoço, dar um passeio até à beira-mar, aspirar o ar salgado e apreciar as gaivotas nos seus voos imprevisíveis e graciosos, rasando a praia. Foi o que fiz, e não estou arrependido. O mar estava tranquilo, uma brisa ligeira quebrava, de vez em quando, a monotonia, mas não dava para perturbar a calma que inundava as pessoas e o ambiente. Por isso, abri a porta do carro virada para o sol e sentei-me no banco do condutor, olhando ao longe, sem objectivo, gozando o sol, o silêncio, o infinito do mar azul…

Alguns minutos depois, lembrei-me de que tinha trazido comigo, para uma eventualidade, o último livro do J.R.S. e pus-me a ler, meio a sério, meio distraído, até me fartar. Não vi as horas e não dei conta da passagem do tempo.

A certa altura comecei a sentir frio. A verdade é que o sol já estava bastante baixo no horizonte, e decidi-me a regressar a casa, prudentemente.

Fora um domingo bem passado, para uma pessoa da minha idade.

Hoje, segunda-feira, logo de manhã, que os velhos acordam cedo, comecei a ver as notícias na net, um dos meus desportos matinais favoritos, e foi então que descobri, a seguir à largas páginas de fofoca e comentários ao jogo forte de futebol do fim-de-semana, e da politiquice costumeira, o comunicado aterrador da GNR.

Não se tratava de qualquer referência a uma sexta-feira 13, mas simplesmente ao domingo, ao meu domingo de sol e leitura, ao 27 de Janeiro de 2008, no qual houve 3 mortos na estrada, em 199 acidentes de viação, de que resultaram ainda 82 feridos, 10 dos quais em estado grave, segundo o comunicado.

Lista interminável!

Fiquei triste e indeciso entre parar aqui ou continuar a ler até ao fim o rol das misérias. A frequência deste tipo de acidentes é tal, que a maioria dos portugueses desvaloriza as notícias que quase diariamente aparecem nos órgãos de Comunicação Social. Mas isso ainda não é o pior.

O mais grave é a falta de civismo de condutores e peões, os sábios a tempo inteiro na arte de condução e de bom comportamento nas vias que são de todos, embora muitos se arroguem a extravagância de se julgarem donos exclusivos delas, sem o mínimo respeito pelos outros que nelas circulam.

Os custos morais, e materiais de tais desmandos são enormes, mas nem mesmo assim os ases do volante ficam sensibilizados para os desastres que garantidamente, pensam eles, só podem acontecer aos outros…o que, todos sabemos, não é verdade. E o mal é que, na maior parte das vezes, paga o justo pelo pecador, sofrendo as piores consequências quem foi apanhado casualmente nos acidentes e não tem culpa nenhuma do sucedido.

Esses artistas culpam sempre, quando algo lhes acontece e o interlocutor tem a razão plena, o mau traçado da via ou a sua má conservação, a pouca ou má sinalização da mesma, a deficiente iluminação do local, a falta de passadeiras ou sua deficiente visibilidade, a chuva repentina, o nevoeiro sem aviso, um cão ou um gato matreiro…E, no entanto, a maioria deles circula em velocidade superior à permitida por lei, ou não respeita os semáforos e outros sinais de trânsito, como a paragem obrigatória nos stop e nos vermelhos, a proibição de ultrapassagem em lugares referenciados e tantas outras regulamentações de todos nós conhecidas, que eles acham estúpidas, no mínimo desajustadas…à sua realidade.

Mas, mais ainda do que pelo número de mortos e de feridos, o comunicado de hoje impressionou-me pelo tipo de contravenções detectadas.

A GNR tinha fiscalizado 1993 condutores, elaborando 911 autos de contra ordenação, dos quais 484 correspondiam a infracções graves e 105 a infracções muito graves. Detectaram 430 condutores em excessos de velocidade e 101 com excesso de álcool dos quais 51 ficaram detidos, alguns deles sem carta de condução e ainda 31 sem cinto de segurança e 13 sem seguro da viatura!

É obra! E tudo isto num domingo de Janeiro com sol primaveril, convidativo a uma boa tarde de lazer com a família ou com pessoas amigas…

Em vez disso, alguns comemoraram com cozido em excesso ou excederam-se na pinga, outros, mesmo sem carta de condução, tomaram de assalto ou por empréstimo uma viatura sem seguro e sem pôr cinto de segurança, carregaram forte no acelerador, passaram a faixa central, e uns quantos mataram alguém ou foram parar eles próprios ao hospital…ou ao cemitério.

Supunha-se que os dias úteis da semana eram os mais problemáticos em relação ao trânsito, mas agora vemos que os fins-de-semana o são muito mais. Dá medo sair de casa ao domingo, para fora do burgo…sobretudo ao fim do mês ou nas pontes de feriado.

Tinha planeado já, com a minha mulher, dar um pequeno passeio a uma bonita e tranquila zona rural, no domingo próximo, mas estou desmoralizado. Estamos na época do Carnaval onde tantos excessos são permitidos e todos os cuidados são poucos. E, como se isso não bastasse, meio mundo anda mascarado…O mais certo é ficar em casa, ao quentinho, a terminar a leitura do livro do JRS ontem começada.

E faço votos para que a Brigada da GNR consiga o seu intento de prevenção e ajuda, nestas patrulhas carnavalescas. Oxalá!

Valia a pena, mesmo estragando a festa a uns quantos irresponsáveis que andam por aí, mascarados de ases do volante.

domingo, 27 de janeiro de 2008

O DIREITO DEMOCRÁTICO À INDIGNAÇÃO

Pequena revista de imprensa

Estava o País muito sossegado, gozando os restos do sol do Outono e o rescaldo das reuniões cimeiras da CE, quando as primeiras chuvas começaram a cair, manchando a publicidade empresarial ou politiqueira exposta nos cartazes afixados nos postes espalhados por aí, estrategicamente.

Quase pela mesma altura, começou a chegar ao fim a novela do novo aeroporto que mantinha o pensamento dos opinadores de serviço tremendamente ocupado e o folhetim do desaparecimento da pequena Maddie já tinha perdido muito do seu interesse inicial.

Urgia decobrir um novo e sensacional motivo de entretenimento e, caída do Céu, apareceu a novela do BCP, com o seu quê de politiqice barata à mistura com assuntos sérios.

Perguntei-me então, que mais poderia ser inventado agora, para estimular os tranquilos portugueses e obrigá-los a sair da sua prolongada modorra?

E, de repente, como por encanto, vieram a lume os postes de alta tensão junto às casas, as antenas dos telemóveis em cima dos telhados, as fugas de gás quase diárias…

Parece que, de um momento para o outro, desabou sobre este pobre país uma catadupa de males, desastres e recriminações nunca vista, com a contestação aos radares, à lei anti tabaco, à ASAE, à co-incineração, a tudo o que mexe…

De repente, começaram a emergir notícias de nascimentos de bebés nas ambulâncias, da morte de idosos nas urgências dos hospitais, da permanência de doentes em horas à espera de transporte para um hospital, à descoberta da falta de meios e de formação dos agentes de intervenção imediata, etc…

O próprio bastonário da Ordem dos Advogados, recentemente eleito, resolveu inaugurar o seu mandato com um ataque feroz aos políticos, às leis e ao Magistério Público, culpados todos pela corrupção geral e, em especial, da grande corrupção que todo o mundo conhece e ninguém tem a coragem de denunciar e extirpar…

A verdade é que toda a gente começa a sentir-se vítima de qualquer ocorrência, a acusar alguém do sucedido, a saber tudo de tudo, a desresponsabilizar-se, simultaneamente das coisas mais comezinhas que lhe dizem respeito…

O que origina esta onda de indignação são factos reais, mas tantas vezes distorcidos pela partidarite aguda que cega as pessoas generosas e sofredoras deste País de tantos problemas e tão pouca riqueza para resolvê-los. Por isso se exige tanto sacrifício e esforço, para obter tão pouco. Por isso também o Povo deve exigir aos políticos mais clarividência, mais produtividade e menos fofoca, e uma honestidade blindada.

Serão justas ou desajustadas as reclamações dos que sofrem?

Terão sido exageradas ou não as palavras do Bastonário da Ordem dos Advogados?

A democracia permite estas afirmações e outras tantas dúvidas.. Cada um é responsável e será responsabilizado por aquilo que fizer ou disser. Na certeza, porém, de que ninguém por isso, será queimado vivo na fogueira pública, ou ir parar ao presídio do Tarrafal…

E quem é que não tem direito à indignação, num país democrático?

Há dois ou três meses, alguns «democratas» decidiram impedir a Câmara de Santa Comba Dão de abrir um museu com o nome do maior filho da Terra.

E, há dias, também outros «democratas», ou os mesmos, se sentiram indignados com a sepultura de Salazar no Cemitério do Vimieiro, em Santa Comba Dão, resolvendo manifestá-lo de maneira rápida, barata, eficiente e visível, por meio de eventual apedrejamento. A figura do estadista ficou quase irreconhecível, mas na lápide pode ler-se perfeitamente, conforme fotografia do DN, o seguinte epitáfio, colocado por debaixo:

O homem mais poderoso de Portugal

do século XX, e modesto sem igual

nasceu humilde e humilde cresceu

viveu humilde e humilde morreu

medíocre é o povo que com ele nada aprendeu…

Mesmo não gostando do estilo ditatorial, não pudemos deixar de pensar nestas linhas singelas que pouca gente conhece e vieram publicadas numa página interior do jornal diário. Com qualidades e defeitos que a História se encarregará de julgar, Salazar deixa aqui, em campa rasa, um exemplo de humildade a todos os portugueses e uma norma de trabalho e honestidade pessoal a todos os políticos da nossa democracia. Apesar dele não permitir a indignação pública que tanto prezamos…

sábado, 26 de janeiro de 2008

CRÓNICA DE ADVOGADO DO DIABO

A anedota de Felgueiras e outras

Hoje, depois de ler as últimas notícias, apeteceu-me fazer de advogado do diabo. Também tenho direito à indignação!

Então por que é que, nos diários, só são publicadas as reclamações, os roubos, os assassinatos, as corrupções, as vigarices, os raptos, as infracções, as bebedeiras, as orgias e os anúncios sexuais, as bandalheiras de toda a espécie…e eu estou proibido ou vejo-me aflito para poder meter um comentário de quatrocentos caracteres, só autorizado para dizer amem a tantas alarvidades impressas, ou bater muito de mansinho? …

Que não há espaço, que se reservam o direito de publicar, que não autorizam referências pessoais e outras que tais de que tanto abusam…mas no fundo, o que está em causa é a censura interna, feita por quem se opõe -e acho muito bem! -a qualquer tipo de censura imposta do exterior. Também eu mando no que é meu. Os jornais não querem publicar o que não lhes convém…estão no seu direito. Mas nesse caso, também, por inerência, não devem arrogar-se de independência, de tolerância, de detentores da verdade à qual nem sempre são permeáveis, nem consentem críticas…

É bem difícil, neste mundo globalizado de notícias fáceis e falaciosas, navegar com um rumo certo, sem sofrer os efeitos dos ventos, das marés e doutras intempéries com que a imprensa nos brinda diariamente. Também tenho notado que, ultimamente, não sei se por efeito do corte de alguns privilégios, se pela obrigatoriedade de uma responsabilização mais efectiva do que se escreve, se por dificuldades económicas ou falta de vendas, se por oposição ao governo, se por causa do mau humor provocado pela lei anti tabaco ou do ataque à bica em chávena mal lavada, a imprensa está a dar mostras de uma acidez e uma violência por vezes inaudita, nos artigos de opinião de certos comentaristas da nossa praça, verdadeiros especialistas num bota-a-baixo geral de alta produtividade...

Por desfastio, há dias, resolvi retomar uma leitura de algumas páginas jornalísticas publicadas há dois anos atrás. Falavam da necessidade urgente de reduzir muitos milhares de funcionários públicos, no absurdo do novo aeroporto e do TGV, do regabofe dos professores que não cumpriam as suas obrigações, da Saúde que estava de rastos e havia que cumprir o plano feito pelas eminências há vários anos, dos malefícios do tabaco que exigiam cuidados e atenção das autoridades e dos perigos da falta de higiene na restauração, responsável por frequentes surtos de problemas ou infecções intestinais em escolas e não só…E agora, passados esses dois anos, o que vejo é a defesa do oposto, com afinco, determinação, nalguns casos com ódio transparente em certos artigos.

Mas há sempre uma defesa jornalística para todas estas mudanças: as milagrosas fontes ocultas que dão para tudo.

Seja! Mas o que vem publicado, como o povo bem sabe, é um conjunto de contradições e aberrações de morte, ao sabor de muitas conveniências de momento.

Agora, por exemplo, nota-se que a Função Pública ainda perdeu poucos funcionários relativamente aos previstos, gastaram-se milhões na operação, ficaram milhares deles sem emprego ou na prateleira e nem Nª Sª de Fátima ajudou a fazer o milagre da quadratura do cíurculo…

O novo aeroporto e o TGV eram um luxo desnecessário que iria custar milhares de milhões que faziam falta para tantas outras coisas, e agora são uma necessidade urgente cuja resolução anda atrasada, que será o motor da economia e da diminuição do desemprego, e que alguém deverá ser culpado deste atraso…

Os professores que faltavam, que se baldavam a estudar previamente as suas lições e a incentivar os alunos ao estudo, que tinham falta de formação, agora são vítimas de perseguição da fiscalização desenfreada ao trabalho, da falta de condições, das agressões milagrosamente tornadas visíveis de pais e alunos, de desemprego de muitos antigos e novos licenciados…As universidades cuja abertura era estimulada ao gosto do negócio que se perspectivava, com professores polifacetados e poliempregados, de ensino apressado e livresco, são agora acusadas da sua fraca produtividade, com cursos ou licenciaturas repetitivas sem interesse que a autoridade supervisora não deveria ter deixado abrir ou até deveria fechar…

A Saúde, especialmente o SNS, alvo das críticas acérrimas da imprensa a todos os governantes que não implementavam as reformas há tanto tempo preconizadas, é o preferido ponto de mira que agora descobre como por encanto –e explora -os atrasos dos bombeiros, os deficientes cuidados médicos em geral, as insuficiências do INEM, os hospitais inadequados, a coordenação deficiente, a falta de meios, os buracos da própria reforma e a incompetência dos que a aplicam…

O tabaco, que era uma maleita que urgia excluir da sociedade, transformou-se num vício a defender, encapotadamente é certo, através de deficiências descobertas na lei que os viciados, embora digam o contrário, verdadeiramente não estão interessados a cumprir…

E quanto à falta de higiene e contravenções verificadas na restauração, o melhor é continuarmos a conviver com elas, afinal como com tudo o resto, aplicando sempre as leis com bom senso, protegendo os pequenos infractores, que o que não mata engorda, imaginando até o fim das especialidades regionais, da bica em chávena (de que eu até gosto muito), um crime hediondo! …

Poderia continuar até ao infinito.

O denominador comum pode facilmente ser encontrado: há dois anos, como agora, a muita falta de rigor informativo, o extrapolar do acessório, o apoio sistemático ao cumprimento dúbio e permissivo das leis, a posição contrária a tudo, a todos os níveis, em vez da posição positiva e formadora de que a nossa sociedade tanto precisa e agradeceria, certamente, se fosse levada a cabo.

A todas essas aberrações citadas e muitas outras se dá cobertura eficaz, no transporte inocente de alertas, opiniões, reclamações, muitas vezes acompanhado de insultos mais próprios de quem tem a força da pluma de arremesso mas nem sempre tem a razão…

A propósito de insultos, com destinatário explícito, directos ou disfarçados, mandados ou veiculados pela imprensa aos destinatários, apetece-me referir alguns, muito especiais, que me ficaram de memória, apanágio de conhecidos opinadores ou fazedores de opinião, nem sempre primando pela elevação e pelo civismo de que deveriam dar exemplo: estúpidos, fascistas, parolos, burros, cretinos, sem juízo…

Anedotas não faltam.

«O procurador do Ministério Público Pinto Bronze, que está a acompanhar o julgamento da presidente da Câmara de Felgueiras, anunciou ontem, no início de mais uma sessão, que há pelo menos um crime que já prescreveu. Trata-se de um caso de abuso de poder cuja moldura penal varia entre os seis meses e os três anos de cadeia e cuja prescrição aconteceu a 25 de Outubro do ano passado. O magistrado só agora o assinalou, mas Artur Marques, que defende Fátima Felgueiras, não ficou surpreendido. E prometeu “oportunamente” divulgar aos juízes a lista de crimes que já prescreveram e cuja apreciação em julgamento se torna inútil.»

Não sei, nem quero saber se a Fátima Felgueiras é culpada ou não, mas uma coisa é certa: ao ler estas linhas, indirectamente pouco abonatórias da nossa Justiça, quase me convenço, mesmo contra os meus princípios, de que ESTAMOS NUM PAÍS DE CACA.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O ASSADO AO DOMINGO E OS RISSÓIS

A obesidade na berlinda

Hoje, ao abrir a net, deparei logo com um título que trazia água no bico:

«Há uns tempos, o Presidente da República discursou sobre a necessidade de práticas legislativas que castigassem a obesidade e a falta de saúde dos portugueses».

O comentarista alongava-se em considerações sobre a tendência, a obsessão legislativa feita por muita gente à solta, convencida de que vai mudar o Mundo por decreto. Entre as vítimas do comentário estava o presidente da sociedade de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, coitado, porque havia defendido medidas de saúde pública muito agressivas para combater a obesidade, insistindo em que era preciso mudar as mentalidades e a própria cultura, alvitrando que era conveniente acabar com a ingestão de gorduras, de álcool, com o assado do domingo, os rissóis e o pão com manteiga…

Tudo lugares comuns, que todos ouvimos a cada passo e a que não ligamos nenhuma, no nosso dia-a-dia.

Mas o nosso comentarista é um indivíduo perspicaz e remata assim:

«Logo o assado de domingo e os rissóis, justamente. Esta gente tem razão, mas não tem juízo nenhum.»

Esta fez-me lembrar um ditado espanhol muito antigo, referindo-se a pessoas recalcitrantes de qualquer medida, levadas para a prisão, provavelmente sem qualquer culpa:

«Tienen razón, pero van presas!...»

E diz ainda: «Esta gente à solta que faz decretos para mudar o Mundo, tem razão, mas é preciso avisá-la sobre o tom que adopta nas suas mensagens: além de evangelizador (que já irrita) pode ser malcriado. Veja-se o caso do presidente a sociedade de…», como referi acima.

Enfim, à falta de melhor assunto para escrever o artigo de opinião encomendado pelo periódico, saiu esta prenda.

Mas não há nada a fazer neste País, em que os que têm o dever de formar o povo, ocupam o seu tempo a espalhar no chão que ele pisa as imprevistas e apetecidas cascas de banana…

Por isso lhe respondi, na volta do correio:

Começo a compreender como é difícil tentar mudar mentalidades e até legislar, mesmo dentro da razão, quando há sempre detentores da verdade (geralmente fumadores inveterados e amantes do assado ao domingo e do rissol) que acusam os autores de falta de juízo. Que tais mentalidades!

Da janela da minha sala vejo, a qualquer hora, passar pessoas de todas as idades, quase todas bem gordinhas! As crianças que brincam no jardim que lhe fica por debaixo, também elas já se apresentam, na sua maioria, bem rechonchudas… apesar das recomendações feitas às cantinas escolares.

Curiosamente, ao domingo, estas gentes não aparecem nos campos de jogos e no jardim contíguos à minha casa. Devem estar a comer o assado de algum restaurante próximo ou a comer rissóis, para desespero dos evangelizadores e dos legisladores agressivos, e para gáudio de muito boa gente.

De qualquer modo, sempre é melhor que fazer dieta para aparecer na TV em passagens de modelos, quais esqueletos vaidosos semi-nus…

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

UMA MENSAGEM DA NET

Quem é que trabalha?

A propósito da tão badalada e vilipendiada lei anti tabaco, ou lá como se chama, sempre muito discutida e provavelmente muito mal cumprida, como é costume na nossa Terra, recebi um mail espectacular, destes que circulam diariamente na Internet sem origem conhecida e que faz ressaltar uma ideia feita que também por aí circula, muito tempo antes da net haver aparecido e os computadores serem nascidos em Portugal.

Que a nossa língua é muito traiçoeira, já todos sabemos. Mas que uma lei possa ser aproveitada tão facilmente, para descrédito de uma classe de funcionários incluindo os responsáveis pela sua feitura, pela sua posta em prática e pelo julgamento das infracções cometidas no seu cumprimento, é o máximo!

Como não li todo o articulado da lei, nem sei qual o contexto em que a notícia vem inserida, abstenho-me de mais comentários. E aqui segue o texto integral do mail recebido:

«O legislador foi honesto!!!

Artigo 4º

Proibição de fumar em determinados locais

1 -É proibido fumar:

a) nos locais onde estejam instalados órgãos de soberania, serviços e organismos da Administração Pública e pessoas colectivas públicas;

b) nos locais de trabalho;

Está institucionalizada a (já mais do que conhecida e claríssima) diferença entre as alíneas a) e b)... ahhhh pois é!... »

É caso para averiguar quem trabalha e onde, em Portugal...

Rir também faz bem, de vez em quando!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

NO MEU PAÍS DE BRANDOS COSTUMES


Crónica da república do faz de conta

Infelizmente os problemas que afligem os cidadãos do meu País não se reduzem às simplistas e superficiais opiniões da maioria dos senhores comentaristas de serviço na Imprensa. Claro que eles ganham a vida, por vezes, emitindo essas opiniões e por isso os técnicos que se matam a estudar a sério esses problemas e as situações deles decorrentes, correm sempre o risco de serem atropelados e chamados qualquer nome feio por esses senhores, se não correspondem às suas belas ideias feitas. Mas de belas ideias está o mundo bem cheio. De belas obras, bem pouco!

Quando os romanos invadiram a Ibéria e expulsaram os cartagineses, conseguiram uma coisa importante, a romanização dos povos autóctones, deixando-nos como prenda, além de monumentos espectaculares e outros benefícios, a sua ímpar cultura jurídico-administrativa. A Idade Média não conseguiu apagar essa cultura que saiu vencedora, após mil anos, e foi a base de toda a arquitectura jurídica dos países ocidentais da Europa, fazendo juz ao aforismo romano DURA LEX, SED LEX, seguido à risca por todos menos por um…Portugal!

Este meu País de Brandos Costumes que foi submetido pelas legiões romanas de César, entre outros, sem esforço de maior, tornou-se uma nação sabedora, feita de experiência, habituada a dar a volta às grandes dificuldades com jeito e artimanha, ultrapassando assim a violência e a força dos vizinhos poderosos.

Mas não há bela sem senão. O carácter da gente nacional foi-se fazendo à imagem dessa necessidade, vencendo pela astúcia tudo e todos, e a última vítima, depois da derrota do Feudalismo Medieval, da Inquisição e da Tirania Monárquica Iluminada, foi a própria Lei Democrática.

No meu País de Brandos Costumes é dificílimo fazer leis simples, pela discussão eterna que suscitam, e fazem-se leis incrivelmente complexas com uma facilidade espantosa, porque pouca gente ou ninguém as discute. O pior vem quando essas leis, quaisquer que sejam, chegam ao grande público. E então, a discussão começa sempre com uma violência inaudita, que as torna de muito difícil aplicação.

Ao contrário dos restantes países europeus, o cumprimento das leis aprovadas pela Assembleia da República, o órgão legitimo para fazê-lo, é sempre questionado pelos cidadãos, na busca sistemática de torneá-la e à própria autoridade, à própria Justiça, se possível.

O curioso - e trágico! - é que são muitas vezes as classes mais cultas a manter, apoiar e até incentivar esta maneira de actuar da restante população quando ela acata as leis, aparentemente sem grandes oposições….

Assim, olhando de fora, de longe e sem interesses económicos ou partidários, toda a panóplia de artigos comentados na Comunicação Social, depressa nos apercebemos do tom anti-lei que prospera na Imprensa, criando-se uma ideia muito pouco abonatória para ela. Mas que outra coisa seria de esperar, se os comentaristas fazem parte do povo português?

E assim, meu País dos Brandos Costumes, onde a permissividade às leis é, pois, um lugar comum, assisto, com razão e infelizmente, ao espectáculo de uma Imprensa, que se faz mentora da Sociedade, comportar-se como defensora dessa mesma permissividade.

Agora, o prato do dia na Comunicação Social são os excessos da ASAE, da mesma forma que há algum tempo atrás eram os excessos da Polícia, o autismo e a prepotência excessiva do Fisco, a insensibilidade estúpida do Ministro da Saúde, a violência parva da Ministra da Educação para com os professores, a tirania das autarquias e do Governo ditatorial que atenta contra as liberdades individuais com radares, os videos de protecção dos cidaddãos, ou pelo simples motivo de querer fazer cumprir a lei implacavelmente na Imprensa, na Saúde, no Trabalho, na Educação, na Justiça, no Desporto, nas Obras Públicas, na Economia e Finanças, na Administração Pública, etc.

Deste modo, no meu País de Brandos Costumes, as novas leis são sempre torpes. Há que rebuscar todas as vírgulas, por ao sol as todas as dificuldades da sua aplicação, evidenciar todas as possibilidades de fintá-las e, se isso não chega, por a tónica na violência e desumanidade das autoridades que zelam pela sua aplicação: a polícia, os fiscais da ASAE, os funcionários do fisco, os administradores dos hospitais, os respectivos ministros e o chefe de Governo, se ainda não basta. Todos os meios são válidos. Invocam-se todos os deuses.

No meu País de Brandos Costumes, por outros também chamado de País do Faz de Conta, o objectivo final de muita gente é um só: tornear as leis. em benefício próprio, o que será tomado como esperteza e elogio digno de nota; cumpri-las é pura tontaria…ou beatice, mesmo nas coisas mais comezinhas. E assim, o aumento da produtividade nacional é uma miragem.

Como deve ser bom, para esses fazedores de opinião encartados, fumar um cigarrinho à socapa, num local onde é proibido, e atirar a beata para o chão, só para chatear. Ou ir à caça para uma zona proibida, à revelia da GNR. Ou tomar uma bica numa chávena mal lavada, numa tasca perdoada pela ASAE, por uma questão humanitária…

Para o diabo a lei, os fiscais, o director da ASAE, o Sócrates ou qualquer outro, a CE…

Viva a república dos finórios do costume!

sábado, 19 de janeiro de 2008

OS RADARES

Notícias, factos e comentários

Os radares implantados pelas câmaras de Lisboa e Porto, tomados em princípio como uma medida necessária para disciplinar o trânsito nas cidades e proteger em especial os peões, logo começaram a ser contestados na imprensa, de todas as formas e feitios. Questionaram-se os aparelhos, o seu custo, a sua fiabilidade e certificação, a sua localização, os limites de velocidade impostos, etc. e, por último, antevia-se de antemão, o fraco rendimento na execução das tarefas para que tinham sido criados, etc. Alguns periódicos excederam-se nas suas considerações e, não conseguindo levara melhor sobre as autoridades camarárias, ficaram a jogar à defensiva, tendo chegado a levantar-se problemas de liberdade individual do cidadão…

Em 16-1-2007 enviei ao Público, jornal que citava o elevado número de reclamações, com muitas das quais estava de acordo, a seguinte nota:

«Caros senhores:

Onde é que já vi uma qualquer medida, por mais insignificante que seja, sem a correspondente discordância? Geralmente quem discorda não o faz pelas melhores razões; é quem frequentemente prevarica e se julga sempre superior a qualquer regra, por melhor e bem intencionada que possa ser. Neste caso, é fácil invocar excessos da polícia, da caça às multas, dos erros de concepção das estradas, da redacção do código, dos altos funcionários do governo, da chuva, dos imigrantes, dos transportes públicos, da falta de passadeiras e da indisciplina dos peões...Estaria aqui a noite toda a catalogar razões sem qualquer razão, para justificar o injustificável -a indisciplina dos automobilistas portugueses, filha primogénita de uma falta de civismo que pais e escolas ainda não foram capazes de contrariar. Será por isso que os portugueses só obedecem a medidas drásticas?

Até amanhã, se não for atropelado, no meu regresso a casa, por algum dos tais habilidosos aceleras que não respeitam radares, nem sinais, nem outros que tais! Longe vá o agoiro…»

Passados uns largos meses, já em Janeiro de 2008, foi noticiado que, só em Lisboa, os radares haviam detectado mais de 250000 infracções, algumas das quais contravenções graves. A notícia foi acompanhada de uma nota da imprensa fiscalizadora chamando a atenção para a desalmada caça à multa e para o provável entupimento dos tribunais, já tão sobrecarregados…Claro que, se este problema não chegar a verificar-se ou for ultrapassado, outras cascas de banana serão lançadas aos implementadores do sistema, com cópia aos adeptos e aos defensores mais fervorosos.

Mesmo assim, é interessante verificar uma melhoria no ordenamento do trânsito nos locais onde foi posto a funcionar. Na minha óptica, o sistema só peca por uma coisa: deveriam ser automáticos a notificação do infractor e a cobrança respectiva. Seria ouro sobre azul. Entretanto, quem a pusesse a funcionar, deveria fazer um bom seguro de vida e usar permanentemente uma couraça das mais eficazes.

O FOLHETIM BCP-II

BCP e BP versus FCP

Não bastava, evidentemente, um só episódio para fazer um folhetim ou uma telenovela de cordel. O espectador gosta de enredos complicados que lhe agucem a curiosidade mórbida e os fazedores de folhetins, os editores e seus respectivos proprietários, e os donos dos interesses ocultos sabem disso e aproveitam a ocasião. Há um ditado popular bastante controverso em Portugal que reflecte apenas em cinco palavras aquilo que, neste caso, como em tantos outros, se passa por esse país fora, tanto a nível criminal, como a nível empresarial e até de muita da Comunicação Social que nos pretende informar a seu gosto: «a ocasião faz o ladrão!» É preciso agarrar a ocasião pelos cabelos ou, como dizem os mais violentos, com unhas e dentes. E assim, dada a frequência desvalorizadora da aplicação do adágio a torto e a direito, e invertendo os termos ao quebrado divisor, na linguagem matemática de trazer por casa, apareceu o ditado sábio, certeiro, acutilante: «o ladrão faz a ocasião!»

Não vale a pena discutir aqui qual é o melhor. De discussões parvas e inúteis está o mundo cheio…embora o Mundo Português esteja muito mais cheio que os outros. Creio já ter referido em qualquer outro escrito, que os americanos ilustrados (que os outros nem sabem sequer onde fica Portugal!) nos admiram e desprezam, simultânea e convictamente, afirmando que nós somos os melhores do mundo a discutir e os piores a realizar.

A discussão politiqueira, jornalística, folhetinesca que se arrasta em torno do desgraçado BCP é o cúmulo da desvergonha nacional, do aproveitamento de interesses mesquinhos, feito por quem deveria ter um pouco mais de honestidade, bom senso e até de simples patriotismo. Poderá parecer exagero, esta palavra patriotismo, mas a defesa daquilo que é de todos, embora tratando-se de um grande banco privado, devia estar instalada na mente dos propagandistas de misérias, sempre prontos a ampliá-las em seu proveito, rapidamente, antes que outros o façam, e à custa de um qualquer desgraçado ou empresa que se pôs a jeito. O que é preciso é encontrar, e na maior parte dos casos fazer, um culpado para o folhetim. Geralmente, ainda antes deste ser levado à cena, já está encontrado. Mas noutras ocasiões, como nas telenovelas de maior sucesso, há que dar tempo ao tempo, até descortinar o criminoso mais adequado ao gosto popular, isto é, o que vende mais. Agora quem está na berlinda dos novelistas de serviço é o BP (não confundir com a BP, que não tem nada a ver com isto!).

E nós, pobres coitados, que havemos de fazer?

Olhar apenas, pacientemente, na imprensa diária, o sucessivo desenrolar da meada que ela própria apanha no ar, enrola, tece, com a ajuda dos interessados do costume.

Não há pachorra para mais!

Há coisa de meia hora, ia eu no carro, muito descansadinho, e tive a triste ideia de ligar o rádio sintonizado no posto que se auto intitula o mais noticioso do burgo, na intenção de ouvir algo sério e apelativo…

Só consegui o apelativo (?). Tratava-se da discussão profunda, altamente motivante e nacionalista, salvo seja, sobre uma frase proferida ontem pelo treinador do FCP (não confundir com o BCP) que havia mandado a «boca», como agora se diz, de que o clube se propunha, nesta época, ganhar todas as competições em que está inscrito, incluindo a Liga dos Campeões. Logo, como «a ocasião faz o ladrão» ou «o ladrão faz a ocasião» (sem ofensa para ninguém) …dois noticiaristas comentaristas de serviço discutiram até à exaustão, durante dez minutos (!) a frase bombástica do «desgraçado» Jesualdo Ferreitra! Ou felizardo, não sei bem…que por vezes há fazedores de «frases bombásticas» que já sabem muito e também se aproveitam das fraquezas dos jornalistas. O caso é que o Jesualdo teria este ou aquele objectivo, esta ou aquela intenção oculta, esta ou aquela possibilidade de fazer verdadeira a afirmação proferida, seria compelido ou não a fazê-la, por este ou aquele dirigente, tendo em visa esta ou aquela finalidade, ou a venda futura deste ou daquele jogador, ou a motivação da equipa, etc., e tudo sendo provado por isto e aquilo …

E assim se ganha a vida, conjecturando, enrolando, espalhando…para os pacóvios (como eu também fui, desta vez, por curiosidade pura, a ver até onde ia a pepineira) e talvez também para outro tipo de pessoas que já não aguentam a politiquice fofoqueira do dia-a-dia…

Cheguei à papelaria onde tencionava comprar um jornal isento de trivialidades e parvoíces, mas não consegui desviar os olhos do que se me apresentava, apelativamente (como sempre) no escaparate, sabiamente montado para os inocentes. Uma revista da semana passada que terminava ontem, dava conta da separação garantida do presidente do FCP da sua última aquisição amorosa. E uma outra, desta quarta-feira que termina na próxima, mostrava, na capa, a fotografia do presidente do FCP com a sua esposa mais recente, remetendo para a cumplicidade romântica a dois, nas páginas interiores, no teatro, com Felipe La Féria a cumprimentar. Quase ao lado, a edição actualizada da primeira tão prontamente desmentida, desmentia a segunda, por sua vez, em grandes parangonas, garantindo que tudo eram aparências, nada mais!...

Lembrei-me logo daquela piada muito antiga das duas centopeias que iam pela rua, de braço dado, e assim sucessivamente…

Comprei, enfim, o jornal que me pareceu o mais comedido e honesto, entre a fofocada presente, e regressei a casa, a tempo de ver o noticiário das 13. Pensava eu que iria ver coisa melhor, mas também aqui me enganei. Logo a abrir, um canal punha a notícia de que a ex-mulher do P. da Costa o acusava de comprar o árbitro de não sei que jogo, com determinada quantia. Mudei para outro noticiário, e este acusava aquela de ter-lhe roubado a quantia citada…

É disto que a Imprensa se alimenta e serve prazenteiramente aos portugueses famintos. Justifica-se argumentando que é disso que os portugueses mais gostam…E se eles gostam de porcaria, ela acha que tem o dever de dar-lha!

Apaguei a televisão e almocei calmamente, saboreando uma rica caldeirada de peixe fresco, muito melhor e agradável que aquela que a Comunicação Social me pretendia servir.

Carapuças destas, não enfio. Nem que sejam do BCP, nem do BP, nem do FCP, nem do diabo que os leve a todos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O FOLHETIM BCP

A semelhança entre o Banco e o Futebol

Não sei se está a chegar ao fim a telenovela do BCP. O mais certo é ainda só ter terminado o primeiro capítulo. No entanto, o que foi dado conhecer já deu para perceber que há três crises no argumento, em vez de uma. É o três em um!

A crise do BCP deveria ter sido resolvida internamente, sem necessidade de recurso ao exterior. A busca de importânca e os erros de uns e a defesa e justificações de outros, usando todos a imprensa publicitária, levou a este imbróglio.

A sede de protagonismo, mascarada com objectivos políticos claros, arrastou também alguns gestores de qualidade, convencidos da vitória final nas eleições internas ontem efectuadas na Assembleia Geral do BCP, apoiados na tal imprensa oportunista e respectivos comentadores que chegavam a vaticinar, contra toda a evidência (não sei se ingenuamente, se com outros intuitos) a derrota do candidato ganhador ou a divisão dos votos a meio, na pior das situações!

Afinal, toda a encenação levada a cabo deu em nada e a montanha pariu um rato, para sua própria vergonha.

Finalmente, encheu-me de tristeza a propaganda infeliz feita ao BCP pelos piores motivos e a reacção final do concorrente derrotado na A.G, com pouco mais de 2% de votos, clamando uma grande vitória moral. Fez-me lembrar os resultados da nossa selecção nacional de futebol dos anos cinquenta, em que os jornais noticiavam as frequentes derrotas acompanhando sempre com o subtítulo de mais uma vitória moral, chegando a escrever que o nosso país era considerado no estrangeiro como campeão do fair play e da correcção desportiva. Assim, conseguiam dar um pouco de ânimo aos frustrados milhões de adeptos que nunca reconheciam que os rapazes jogavam mesmo mal…

Depois de tanta fofoca que a última semana tornou quase insuportável, propunha-me escrever um comentário em termos jocosos a tudo isto, já que tristezas não pagam dívidas, quando catrapisquei o artigo de imprensa de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias, dos poucos a reduzir o folhetim aos merecidos termos. Qualquer coisa que eu viesse a escrever não seria mais acutilante e objectivo. Aqui vai:

«O BCP COMO O FCP: SEM OPOSIÇÃO
Ferreira Fernandes

Admirou-me a cabazada: 98 a 2! Um resultado que só acontece de millennium em millennium. Eu e todos os taxistas estávamos convencidos de que a coisa seria renhida. O último com quem falei até me fez calar quando entrei no táxi. Apontou-me a rádio sintonizada na TSF: "Estão a dar o resultado. " Fiquei, não o escondo, orgulhoso por pertencer ao único país do mundo - com excepção, talvez, do paraíso fiscal das ilhas Caimão - onde o povo segue com interesse os jogos de cadeiras nos conselhos de administração. Se o capitalismo popular não é isto, onde está o capitalismo popular? Mas, repito, desiludiu-me o final: 98 a 2 não é resultado que se apresente. O treinador de bancada da equipa perdedora, aquele senhor de Gaia, mais valia estar calado. E o treinador principal, o mister Cadilhe - especialista de números, aposta em 51% e leva só 2 para casa -, esse, teve a chicotada psicológica merecida. Não devia estar sentado no banquinho quanto mais no maior dos bancos.»

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

AS FARPAS DAS FARC

Filmes em perspectiva

Foram libertadas duas mulheres, de centenas de reféns em posse das FARC, numa guerra de guerrilha sem sentido, mantida apenas pela teimosia e radicalismo de uns quantos energúmenos que se julgam detentores da verdade e da violência…que na virtude certamente já não acreditam.

Estes guerrilheiros fazem-me lembrar os de Pol Pot no Camboja, responsáveis por muitas centenas de milhares de mortos cuja única culpa foi terem sido apanhados na voragem lúgubre de uma seita de visionários desumanos, sanguinários, irracionais.

A história de uma dessas mulheres, raptada, violada, com um filho da guerrilha feito à força e posteriormente separado dela com oito meses de idade, enviado à socapa para Bogotá e recolhido casualmente por um orfanato, daria, à vontade, para argumento de um filme extraordinário, culminando com o encontro entre mãe e filho, após as análises confirmativas dos respectivos ADN…Tudo é possível.

Cerca de 700 reféns ainda se encontram em poder das FARC que pretendem usá-los como moeda de troca para impor as suas reivindicações absurdas, numa época em que a célebre Cortina de Ferro já caiu e o regime de Mao se encontra em franco processo de transformação e…humanização.

Ao radicalismo feroz da guerrilha, opõe-se o radicalismo absolutista dos moralistas de serviço, com toda a razão certamente, mas concorrendo também eles, para a manutenção de uma guerra de crimes hediondos sem fim à vista.

O populista presidente da Venezuela que conseguiu, negociando com os insurrectos, a libertação das duas reféns, advoga provavelmente uma paz negociada, iniciada com o pedido de retirada do rótulo de terrorismo posto pelo Governo da Colômbia aos guerrilheiros. Mas estes já deram provas de pouca seriedade, no cumprimento de outras promessas. E aqueles jamais abdicarão dos seus princípios.

O mais absurdo desta guerra ainda é o seu financiamento feito, mais do que pelos assaltos e vandalismos, pelos cartéis da droga que navegam nas mesmas águas da ilegalidade, embora com objectivos totalmente diferentes. E assim, o contrabando da droga feito através dos portos e dos aeroportos governamentais, sob o seu controlo ou não, serve igualmente para pagar as armas dos bandidos da cocaína e as dos guerrilheiros, como garantia de imunidade mútua perante as forças democráticas da nação colombiana.

Ao cidadão comum ocorre, pois, perguntar porque é que as forças da ordem constitucional do país, com muitos milhares de soldados operacionais e armamento moderno, não conseguem apanhar e destruir uns quantos bandos acantonados nas montanhas e florestas, armados muito deficientemente, com fracos meios de transporte e mesmo em condições precárias de subsistência. Provavelmente a sua permanência activa mantêm-se com a ajuda de muitas cumplicidades, do lado contrário.

Por outro lado, não deve ser nada fácil manter em cativeiro 700 reféns, o que permite suspeitar já de um número de largos milhares de combatentes apoiados em certos núcleos populacionais, provavelmente forçados. Eis como um país rico de gente pobre é mantido em sobressalto constante do qual não vejo maneira de sair nos anos mais próximos.

Por isso, penso que o populista presidente da Venezuela, país com uma fronteira de difícil controlo com mais de mil quilómetros, com a Colômbia, no seu jogo aparentemente favorável aos guerrilheiros colombianos pretende, antes de mais, que a guerrilha não alastre ou ganhe adeptos no seu próprio território. Será a atitude correcta? E quem pode dizer qual é a atitude correcta, nesta promiscuidade de interesses em jogo?

Uma coisa é certa: os princípios morais não valem muito, nesta guerra, a menos que se queira morrer depressa.

Este filme está para continuar.

Que podemos fazer nós, portugueses, para terminar a rodagem? Provavelmente, nada!

Deixá-los andar até que se cansem, que não é nada connosco!...

domingo, 13 de janeiro de 2008

PORTUGAL NO SEU MELHOR

Os donos da Diplomacia

Portugal -uma diplomacia do Caracas…Foi com este título que eu li, um interessante artigo de opinião de Ferreira Fernandes, no Diário de Notícias, onde descrevia com agrado e alguma malícia à mistura, as virtudes da nossa curvilínea diplomacia, face à truculenta diplomacia espanhola, bem consubstanciada no já célebre «por qué no te callas!» do rei Juan Carlos.

Cem por cento de acordo.

Resta-me acrescentar que a nossa diplomacia dá cartas, não só à diplomacia da Espanha, mas à dos maiorais da Europa e dos outros Continentes. Com um saber de experiência feito, ao longo de mais de oito séculos, nem outra coisa seria de esperar.

Aposto que ninguém, neste pequeno rectângulo à beira mar plantado, pensou que a nossa existência como país independente se deveu, mais à sabedoria diplomática (quer nos tempos da Monarquia, quer mesmo nos dias mais recentes da República) que aos feitos de coragem e bravura de tantos heróis que povoam a nossa história. Provavelmente, irei chocar, com estas afirmações, muito boa gente, mas a verdade é que um pequeno país em área, população e recursos, apertado em terra e no mar por fortes potências militares, não poderia ter sobrevivido apenas com recurso a actos de bravura, por maiores que fossem.

Esta maneira de estar na Europa e também nos diversos Continentes onde permanecemos, foi-se afirmando e enriquecendo, com curvas e contracurvas, talvez, mas com um objectivo fixo e até hoje quase sempre conseguido: a independência e o engrandecimento de Portugal. Este facto, aparente e paradoxalmente esquecido no dia-a-dia das verticais gentes cultas que dizem mal de tudo e todos, está bem entranhado na maneira de ser do povo que sempre foi carne para canhão, nas alturas mais difíceis.

O rei Juan Carlos perdeu a cabeça, o que pode acontecer a qualquer um mas não a ele, por mais razão que possa ter.

Não quero terminar sem dar-lhe o meu conselho amigo, e a alguns espanhóis convencidos, ensinando-lhes um ditado das gentes sábias deste Portugal diplomaticamente invencível: «não é com vinagre que se apanham moscas»!

TIRO AOS PATOS –III


Outra história de Alcochete

Ainda estava longe a aprovação da localização do novo aeroporto e o prato forte da Comunicação Social, nos princípios de 2007, era a gripe das aves e o perigoso vírus H5N1, surgiu no Correio da Manhã de Fevereiro desse ano, uma notícia estrondosa que agora, passado quase um ano, ganha actualidade com a escolha de Alcochete, e transcrevo a seguir:


«Europa em risco…

«Tamiflu sob protecção da GNR

«A reserva estratégica do Estado, de 2,5 milhões de tratamentos de Tamiflu para combater um eventual surto de gripe das aves, estará depositada no Centro de Tiro de Alcochete, segundo o CM apurou. Estas instalações são o destino habitual de grandes operações de segurança, tal como aconteceu com a chegada do euro a Portugal, sob a protecção dos ‘ninjas’ da GNR. Na altura chamaram-lhe o ‘Fort Knox Português’. Confrontado pelo CM, o director-geral de Saúde, Francisco George, recusou-se a confirmar a localização do Tamiflu, dizendo que “é segredo, pois trata-se de uma questão de segurança nacional”.

Essa do Fort Knox Português, desconhecia, simplesmente mas, pelos vistos, já estava desactivado…Quanto ao Tamiflu, iria então o Campo de Tiro de Alcochete, finalmente, servir de novo para mais alguma coisa, além dos disparos?

E, por redução ao absurdo, não poderia ser usado, já agora, para apontar e atirar às aves migratórias contaminadas que sobrevoassem a região?

Na altura, mandei ao C.M. um comentário mais ou menos do seguinte teor:

«Caros senhores:

Tamiflu em Alcochete? Seria muito mais interessante os portugueses poderem ler comentários informativos e formativos sobre a gripe das aves, em vez da anedota que escreveram sobre os soldados da GNR a guardar o Tamiflu nos armazéns da super protegida Carreira de Tiro, sendo que estes senhores têm, normalmente, muitas outras tarefas importantes a desempenhar.

O que nos vale é que o Carnaval está próximo e tristezas não pagam dívidas…»


Como se vê, Alcochete já era notícia muito antes da chegada dos aviões ao local.

CRÓNICA DE UM DIA DE CHUVA

Os magistrados e o futebol

O escândalo do Apito Dourado, com escutas ou sem elas, e outros escândalos mais nas áreas do desporto, com o futebol à cabeça, vieram destapar aquilo de que toda a gente falava, mas muitos não queriam ver exposto ao sol: a cumplicidade bizarra entre alguns magistrados e certos órgãos estatutários das agremiações desportivas.

As situações foram vindo a lume, o incómodo da classe tornou-se evidente, e o Conselho Superior de Magistratura, como guardião da ética corporativa, fez uma petição ao Governo para que estudasse e pusesse em prática uma lei, proibindo os juízes de exercer cargos nos órgãos estatutários das entidades envolvidas em competições desportivas profissionais, o que ainda não foi deferido, para sua grande mágoa, um ano depois de feito. Disso se queixa, neste momento.

É interessante, no entanto, apreciar a situação e o pedido do CSM. Se, por um lado, os juízes se reclamam sempre, e muito bem, de todos os direitos de soberania que lhe cabem, e defendem, com todo o direito também, as suas liberdades de cidadãos a tempo inteiro, por outro pretendem abdicar desse direito neste caso particular…porque temem não poder conseguir cumprir os deveres que a ética exige minimamente a qualquer cidadão que se preze e por aí, deitar abaixo o bom nome que a classe deve preservar a todo o custo.

É como agarrar o touro pela cauda.

Os juízes fazem parte, e ninguém se insurge contra isso, de numerosos Conselhos de Administração e de Justiça de empresas, mas disso não pretendem abdicar, provavelmente porque os erros por vezes ali cometidos, como acontece a qualquer ser humano, aliás, não têm a visibilidade que adquirem no futebol.

É natural também que a presença dos magistrados, com a sua cultura superior e a sua especialização profissional na aplicação da Justiça, seja sempre bem vinda no mundo do desporto, como no das empresas, públicas ou privadas, apesar de alguns maus exemplos que se têm verificado. Uma árvore nunca fez a floresta e a nossa Justiça tem dado, paralelamente, muitos e bons exemplos de dedicação e cumprimento do dever, aos cidadãos.

Não faço ideia do que o Governo, irá fazer a respeito deste assunto, nem me interessa. Sei apenas que, curiosamente, numa anterior proposta governamental para restringir a presença de magistrados nas entidades desportivas profissionais, já em 1993, o Tribunal Constitucional votou contra!

Mas isso pouco importa. O que me preocupa é que uma classe que até gosta de lembrar aos cidadãos que é parte de um órgão de soberania da Nação e tem o dever de zelar pelos bons costumes, aplicar a lei e defender a cidadania nacionais, não seja capaz de fazê-lo ela própria sozinha, de consciência tranquila, acima de todo e qualquer ruído de fundo, e necessite de pedir ajuda ao Governo para solucionar as suas próprias questões de ética!

Algo vai mal na Nossa República.

Estou muito triste.

Chove lá fora.

sábado, 12 de janeiro de 2008

ESCUTAS PROVIDENCIAIS


Portugal salva a Torre Eiffel

Quando, há anos, visitei Paris pela primeira vez, fui ver, como toda a gente, a celebrada Torre, o emblema da Cidade Luz, e ocorreu-me uma coisa que talvez não passasse pela cabeça a muitos: subir a pé pelos férreos degraus, até onde a força dos músculos o permitisse. Não se tratava de uma prova de resistência, mas apenas de ir apreciando, á medida que ia subindo, a própria construção da torre, espectacular em muitos aspectos, e o desenrolar paulatino da paisagem, cada vez mais grandiosa, mais abrangente, mais bela…aproveitando a circunstância para fazer umas interessantes fotografias do entrecruzamento das vigas e dos panoramas que a vista ia descobrindo. Subi até ao primeiro patamar e dei o tempo gasto e o esforço dispendido por muito bem empregues. Conservo religiosamente as fotografias tiradas na altura.

Não sei se hoje poderia ter feito isso, depois de tantas medidas de precaução antiterrorista que a América e a Europa, principalmente, se viram obrigadas a tomar, após o tremendo e inesquecível atentado de 11 de Setembro.

De vez em quando, todos somos alertados para novas descobertas de iniciativas terroristas e novas precauções, cada vez mais drásticas, mais minuciosas, mais vastas…cada vez utilizando mais meios de detecção e de defesa. Assim, as pesquisas na Internet e as escutas, em toda a parte e com todos os meios possíveis, tornaram-se um lugar comum em todos os países, algumas vezes com prejuízo das próprias liberdades individuais.

Portugal não fugiu à regra, sujeitando-se igualmente a normas de cooperação internacional rígidas e inquestionáveis.

O nosso sistema de escutas já tinha dado provas de eficácia intervencionando os telefones fixos e móveis na caça aos ladrões, aos pedófilos, aos corruptos, aos aldrabões das facturas falsas e fuga ao fisco, aos viciadores das arbitragens de futebol, às redes de emigração clandestina, aos traficantes de droga, eu sei lá que mais…mas não sabia que podia ir mais além.

Entretanto, eis que dou de caras com uma notícia sensacional:

Interceptada em Portugal conversa sobre ataque à Torre Eiffel

(2008-01-11 15:35:52)

E assim ficou esclarecido que o nosso sistema de escutas é o melhor do mundo!

A Torre Eiffel fora salva graças a escutas feitas por gentes portuguesas…

Nem acredito! Eu que tantas vezes descartei a habilidade dos escutas de serviço e desvalorizei as escutas de base, estou desolado.

Afinal nas escutas somos os melhores!

Peço desculpa.

TIRO AOS PATOS -II

Em Alcochete e arredores…

No Tiro aos Patos anterior, fazia eu uma referência ao possível loby que teria servido de muleta à Administração Superior da Nação para aprovar, tão ladina, a localização do nosso futuro maior aeroporto internacional e fazia uma sugestão, meio a sério, meio a brincar, ao poder investigador da imprensa especialista, para deslindar tamanha suspeição. Ali havia gato! Não sou assim tão perspicaz como poderá pensar-se, mas, desta vez sinto-me inchado com o acerto da minha previsão.

Hoje, logo de manhã, um conhecido matutino, em crónica editorial, fazia referência ao nome de Alcochete dado à Carreira de Tiro, como resultado do «loby» maçónico dos começos da Velha República, em 1913, por Pereira Bastos, casado com uma alcochetense e Ministro da Guerra do Governo de Afonso Costa, nosso bem conhecido político e maçon dos quatro costados! Não fosse a mulher do Pereira Bastos de Alcochete, e esta vila (?) teria passado à história…isto é, nunca teria ficado na História (com letra grande, claro), apesar de ter sido a terra natal de D.Manuel I, coisa que já não interessa nada a ninguém nos dias de hoje! O outlet comercial ali instalado é muito mais importante e badalado.

Não fica por aqui o furor jornalístico coscuvilheiro e pedagógico do matutino, conseguindo o feito notável de mostrar, simultaneamente, que a quase secular Carreira de Tiro de Alcochete fica encurralada entre as freguesias de Samora Correia, Canha e Poceirão, sendo que a linda povoação de Alcochete, embora perto, não deveria ter sido para ali chamada, para nada!

Em vista do que, o meu oráculo pessoal avisa-me já de que o futuro aeroporto, a breve trecho ou lá mais para diante, vai mudar de nome.

Não será crime, na minha perspectiva, mas alguém irá ser culpado dessa mudança, na altura própria, porque é do partido A ou B, porque fuma às escondidas, porque tem relações de amizade com o dono de um sobreiral das redondezas, porque faz gala de duas acções do Bank of América e joga póquer em vez da bisca de três, bebendo uns golos de aguardente velha nos intervalos…

Mas outras coisas interessantes descobri nos comentários dos mesmos monopolistas dos ditos que ainda há pouco tempo se entretinham a atacar a construção do novo aeroporto e do TGV com unhas e dentes, que o país não tinha dinheiro, não tinha hospitais, antes tinha outras prioridades e não precisava de altos voos, nem de grandes velocidades que só interessavam aos poderosos «lobies» dos Negócios, da Política, da Construção Civil, dos Bancos, dos Chico Espertos Nacionais. É que agora, na primeira página, aparecem esses projectos como potenciadores de 76000 empregos, obras imprescindíveis que já deveriam ter sido iniciadas há mais tempo…e de quem é a culpa do tempo perdido?

Sem comentários.

Os autarcas dos «desertos» de Serpa e de Mértola é que não gostam nada da futura localização do Campo de Tiro que por aquelas redondezas irá ser encastoado, mesmo na zona de fronteira, e atiram alguns obuses, de prevenção, em várias direcções.

Enfim, o tiro aos patos continuará, mesmo depois de todas estes malabarismos saloios com que se entretém os nossos costumeiros informadores de faca e alguidar, para suma desgraça daqueles que vão caindo e sendo depenados.

Mas para mim, tanto se me dá.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

TIRO AOS PATOS

O novo aeroporto

Já está praticamente decidida a localização do novo aeroporto principal do país. Bem, segundo uns, mal segundo outros. Mas o que se questiona principalmente não é a boa ou má decisão, mas se o Governo recuou, se o Presidente interferiu, se o Ministro será ou não demitido… Digo também praticamente decidida, porque ainda resta um último berbicacho: o estudo final de impacto ambiental para a zona de Alcochete. Nada que não consiga ser ultrapassado, apesar da Quercus e seus apaniguados se oporem sempre, por sistema, a todos os grandes e pequenos projectos de obras públicas que são apresentados para execução. No fundo, radicalmente, terão razão mas, mal de nós se déssemos ouvidos, permanentemente, à Quercus na defesa dos seus passarinhos raros, das suas lagartixas de estimação, das suas águas subterrâneas e salinas desativadas, sem contrapor um mínimo de bom senso…As aves da região de Alcochete já estavam habituadas aos estrondos de canhão da carreira de tiro, cada vez mais reduzidos em número, devido à crise financeira que o país atravessa.

Contava-me há tempos, um amigo com ligações à tropa, que em certos exercícios de tiro de peça, a brigada, ou lá como se chama, formava junto do canhão respectivo, depois de receber a instrução respectiva e dar provas de ter aprendido bem a lição, preparando-se para actuar. O comandante dava ordem de começar, cada elemento ocupava o seu posto e procedia-se ao posicionamento da peça e à afinação da pontaria, feita a qual o faxina que municiava fazia menção gestual de carregar o respectivo obus, fechando a seguir a culatra, na realidade vazia. A ordem de disparo era dada, o encarregado carregava no botão e um subordinado instruído fazia:

-PUM!!!...

O alvo era sempre atingido! E procedia-se à fase seguinte de limpeza do cano, nova pontaria, novo carregamento fingido, etc., até acabar com as munições imaginárias combinadas e preencher o relatório.

Se a cena se passasse em Alcochete, as aves de estimação estariam, de parabéns e a Quercus descansada! O Campo de Tiro de Alcochete era um sucesso, as instalações eram um brinquinho, os canhões, embora antigos, estavam perfeitamente limpos e oleados, o pessoal não tinha excesso de trabalho e podia entreter-se perfeita e calmamente a fazer as contas do próximo aumento ou de promoção de carreira! Que me desculpem os militares se exagero, que nada tenho em seu desfavor.

A verdade é que não sei como as supremas autoridades da nação caíram nessa de elegerem Alcochete, um Campo de Tiro com tradição de cerca de cem anos de disparos, sabe-se lá como e contra quem, ainda por cima aqui pertinho de Lisboa! A imprensa especialista que se entretenha a investigar se ali houve ou não mãozinha de loby, e passe a factura. Mas isso já foi ultrapassado. Os marginalizados artilheiros, do PUM fingido ou não, terão que escolher rapidamente um novo terreno no deserto do Alentejo, onde não haja aves selvagens nem passem as migratórias, que as de capoeira já não existem e os frangos de aviário não são para aqui chamados.

Não haverá entretanto outros problemas muito mais importantes, neste momento, para a Comunicação Social do que fofocar na escolha de Alcochete se o Primeiro Ministro arrepiou ou foi forçado a arrepiar caminho, se o Ministro das Obras Públicas se arrependeu ou não de dizer jamais, se os partido A ou B pedem a demissão dos arrependidos ou vão agir contra quem copiou a sua ideia de construir neste local, se o Presidente da República influenciou ou não a decisão governamental, se os «otários» da Ota vão protestar no «faroeste» e os de Alcochete vão deitar foguetes ou fazer tiro aos patos do estuário? …

Isso mesmo! Tiro aos patos é que é preciso!

Sei que ainda é cedo para a concretização do monstro, não obstante um parto tão longo e difícil, mas já estou a antever os grandes aviões da Airbus e da Boeing a partir e a aterrar nas pistas de Alcochete, os hotéis próximos a engolir e a vomitar turistas, homens de negócio, pilotos e aeromoças, as empresas de abastecimentos a transferir gasolina ou a acomodar refeições prefabricadas, as polícias e os seus cães a guardar ou a farejar os malandros eventuais, com o Tejo a passar ao lado, cada vez mais encolhido, abraçando comovida e saudosamente nos seus braços o mouchão da Póvoa, refúgio dos últimos cavalos e dos apanhadores de minhoca da zona…

O que falta fazer até lá é uma obra de gigantes para durar anos, mas muitos oráculos julgam que é o momento certo de começar a brincar com a nova ponte, o que vai dar pano para mangas aos encartados info-desinformadores nacionais, por largos tempos.

E eu que estava quase a ficar curado da indigestão do super aeroporto, com todas as suas viroses, começo a sentir que vou ficar de novo enjoado…

Antes ficar enjoado, que enojado!

Imagino-me a ir amanhã, logo de manhãzinha à Farmácia, comprar um frasquinho de sais de fruto, por precaução, depois pegar numa fisga improvisada com restos de uma câmara de ar de bicicleta, respirar fundo o ar despoluído de fumadores, do meu quintal, e por-me a fazer pontaria a uns pratos velhos há muito pendurados dum pinheiro ainda mais velho que eu…

Regresso à terra, ao real, mas sinto-me cansado.

Hoje já não tenho paciência para mais.

Ao diabo a Ota, Alcochete, os partidos, a imprensa e os patos…

Vou dormir.