sábado, 1 de novembro de 2008

«RANKING» DAS ESCOLAS


Avaliação dos professores

É interessante apreciar as alterações ocorridas no «ranking» das escolas e tentar averiguar a causa dessas ocorrências. Foi o que fez, por exemplo, uma equipa do Diário de Notícias, relativamente a alguns casos mais notórios.

«Na Golegã, terra de cavalos, a Escola Secundária Mestre Martins subiu a galope no ranking das escolas. No recinto escolar, professores e funcionários parecem ignorar a grande subida de 460 lugares. Em 2007, a escola ocupou o modesto 496.º lugar, este ano situa-se numa honrosa: 36.º posição. Está tudo calmo. É quarta-feira à tarde, não há aulas. É preciso ir até ao Conselho Executivo para que alguém explique a majestosa subida.»
«O presidente do órgão directivo não tem dúvidas de que o sucesso "esteve relacionado com o esforço do corpo docente". Jorge Mendes, há 23 anos à frente da escola, explica que as estratégias passaram "pela motivação dos alunos, através de uma aplicação prática das matérias".»

«Por outro lado, o professor ressalva a importância do apoio pedagógico dado nas chamadas "férias de exames". Ou seja, no período entre o fim das aulas e o início dos exames, os professores ficam ao dispor dos alunos, havendo até horas marcadas para o apoio às diversas disciplinas.»

Acrescenta ainda que "a justificação está numa reunião mensal que os conselhos executivos da zona fazem, para analisar as dificuldades e os problemas das escolas em conjunto".

Mas nem tudo são rosas, na explicação dada pelos docentes. O director pedagógico do Colégio de S. Miguel, em Fátima, afirma que «"os rankings não valem nada, só ajudam a mascarar e a deturpar a realidade das escolas", critica Virgílio Mota. O director disse ainda que as grandes oscilações das posições nos rankings das escolas públicas têm uma justificação: "Os resultados dependem dos alunos e nós somos obrigados a aceitar todo o tipo de alunos."» Claro, digo eu, têm que aceitá-los, educá-los e ensiná-los...

Enfim, nada é consensual neste mundo!

Para uns, vale o orgulho pelos bons resultados obtidos, provenientes do bom trabalho realizado e da alteração de métodos de ensino. Para outros, isso é igual ao quilolitro e só tem que ver com a esperteza ou a burrice dos alunos que lhe saem na rifa. O que quer dizer, no primeiro caso, que o professor é tudo, na educação, na transmissão e compreensão de conhecimentos ensino e, no segundo, que o professor pode ser dispensado, se os alunos não tiverem o nível de inteligência conveniente, porque não vai alterar nada...

Ora, se o optimismo exagerado pode ser criticável, o derrotismo permanente deve sê-lo muito mais. Nas escolas, tanto quanto me foi dado compreender através da minha vida académica, sempre se estabeleceu um «ranking» de alunos, consoante o seu grau de aprendizagem e ela depende, não só do seu grau de inteligência e aplicação, como também da inteligência e eficácia pedagógica dos professores respectivos. Nem outra coisa diria Mr. De La Palisse. O «ranking» da escola seria, pois, a indicação fiel do nível geral de aproveitamento dos seus alunos e da eficácia dos seus professores, no concerto das escolas do país

Mas agora a interpretação dos senhores professores não é tão linear, porque, tendo-se muitos deles ascendido ao magistério por meio de vagas ocasionais em época de falta de docentes, aproveitando outros a irresponsabilidade ou ausência de inspecções escolares, ou ainda a facilidade de utilização de baixas fraudulentas, habituou-se um certo número a um laxismo cómodo segundo o qual o fundo da questão é apenas uma: a oposição a toda e qualquer avaliação do seu trabalho profissional.

Ao contrário do que afirmam para justificar a sua atitude, não se trata de um excesso de burocracia, nem da falta de preparação dos inspectores no terreno, nem da falta de tempo ou sobrecarga de horários, nem da falta de instalações condignas ou de meios de trabalho...tudo coisas comuns em todas as profissões cujos membros são avaliados todos os dias, no país inteiro. Trata-se simplesmente de uma questão de medo, camuflado com as consabidas «perdas de regalias adquiridas».

Não quero com isto dizer que não há bons professores. Felizmente, a maioria ainda é de bons professores, para quem assenta que nem uma luva o velho ditado, quem não deve, não teme!

Mas o contrário também é verdadeiro, e por isso há por aí bastantes temerosos.

No ensino superior, a progressão nas carreiras não é só automática em função do número de anos de serviço, mas depende essencialmente de provas dadas, de concursos, de apreciações em que uma simples bola preta pode fazer uma grande diferença. Também a maioria do funcionalismo público já está sob avaliação, coisa em que o privado levou a dianteira há muitos anos.

Mas muitos professores não querem, porque isso vai seguramente interromper a sua progressão na carreira, provavelmente injusta mas praticamente automatizada nestes últimos trinta anos, com boas ou más provas dadas. É uma progressão falaciosa, à custa de uma certa igualdade que resulta do nivelamento profissional por baixo

Sentir-se-ão uma classe à parte do restante funcionalismo público? Se assim é, estão errados!

Mas têm o direito de protestar, de exprimir a sua opinião contra aquilo de que discordam.

E têm também a obrigação de cumprir as leis da república, como qualquer outro cidadão, de qualquer outra profissão. Mas sobretudo, têm o dever de ensiná-lo aos seus alunos, mais do que com palavras ocas, com o seu exemplo. Ou acaso lhes parecerá correcto que alunos imberbes façam por aí manifestações de protesto ou fechem escolas a cadeado, como já se viu algumas vezes? Esses miúdos estão sempre de olhos bem abertos, a espreitar o que fazem os professores...ou até a filmar com telemóveis, como também já sucedeu, dentro da própria aula.

A melhoria do «ranking» das escolas (tenham melhores ou piores alunos) só pode ser feita com o trabalho, a dedicação, o interesse dos professores e essa deve ser a missão, o objectivo permanente a atingir, sem discussões estéreis, sem subterfúgios, sem procurar bodes expiatórios ou interesses ocultos à mistura. A avaliação servirá para medir o grau de empenhamento aplicado.

Alguém dirá que sou um idealista ou então que tudo isto é um lugar comum...

A vida é feita de ideais e também de lugares comuns. É em lugares comuns que temos de viver e é com lugares comuns que convivemos diariamente.

Só os génios não são comuns, neste mundo. Há poucos.

Sou de outra geração e esta é a minha opinião sincera. Longe de mim está, porém, tentar impô-la, seja a quem for.

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