Já lá vai o tempo em que as mezinhas resolviam -ou não -a maioria dos problemas da saúde. Não existia, nessa época, inflação de doenças e de medicamentos que há hoje. Na sua completa ignorância, os curandeiros sabiam tudo, acertavam algumas vezes, tinham respostas adequadas para todas as perguntas que os doentes lhes faziam, davam conselhos bizarros mas nunca contestados, eram as pessoas mais requeridas, logo a seguir ao rei e aos padres da freguesia.
Como a longevidade média rondava os trinta e poucos anos, não se colocavam então os magnos problemas de saúde que agora nos preocupam. E as pestes e outras epidemias não tinham remédio, remediadas estavam portanto, logo à partida.
Com a chegada da Indústria Farmacêutica e dos Médicos encartados, tudo mudou. É só receitar!
Agora, descobriu o Infarmed que havia dois medicamentos, de receita médica, com vendas anormais,
Assim, seria de esperar que certos tipos de medicamentos sujeitos a receita médica fossem consensualmente os mais procurados pela população, mas verifica-se que o consumo excessivo recai, de há uns tempos para cá, sobre o Omeprazol (mais de 1500000 de embalagens já vendidas esse ano) e o Clopidrogel, antes de expansão muito mais limitada. É como se, de um momento para o outro, todo o pessoal estivesse com azia, úlcera péptica ou enfarte de miocárdio, etc. Sem querer entrar numa exposição ou numa discussão extensa, remeto para uma consulta rápida ao Prontuário Terapêutico, o qual permite fazer um retrato perfeito e imediato da situação. Realmente, vê-se logo que os ditos medicamentos são susceptíveis de provocar efeitos secundários nada desprezíveis e é preocupante a forma como são dispensados assim tão facilmente aos utentes, coisa que até há algum tempo não se verificava. Por que será? Há que investigar e foi garantido já que o Infarmed está em campo.
De qualquer modo, como Portugal é um imprevisível país de sábios, quero deixar aqui várias interrogações e a minha sábia opinião final. Aqui vão as interrogações:
Poderemos todos, desde já, supor que a montanha vai parir um rato?
Ou deveremos antes imaginar que há-de ser encontrada, a breve trecho, uma explicação simplista para o caso, como por exemplo, todos terem a sua cota parte de culpa?
Arranjar-se-á a tempo um conveniente bode expiatório?
Poderá acontecer que o problema nem existe...ou não vai a saber-se mais nada sobre o assunto, como por vezes se verifica?
Ora, tratando-se de um inquérito ou investigação oficial, encontrar o verdadeiro culpado não será sempre uma tarefa mais que improvável?
Por último, a minha opinião sábia a levantar a lebre. Quem me diz a mim que se não trata simplesmente de uma contrafacção chinesa? Ocorreu-me esta, porque já imagino por aí todo o pessoal de olhos em bico...
Quero desde já deixar bem claro, por causa das coisas, que em minha casa nunca entrou nenhum desses medicamentos. O diabo seja cego, surdo e mudo!
O Infarmed que se desenrasque, se for capaz.
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