terça-feira, 25 de novembro de 2008

DROGAS, DROGADOS E TRAFICANTES


Alguns oportunismos incríveis

A subida espectacular do preço do petróleo, que há pouco tempo se verificou, trouxe à luz do dia mais fardos da droga que habitualmente, emersos das águas algarvias ou retirados de alfurjas insuspeitas.

As crises económicas trazem sempre à superfície as misérias escondidas e também aqueles que estão muitas vezes por detrás delas, por se julgarem mais seguros, mais requisitados, mais à vontade, mais afoitos na senda das grandes ganâncias.

Quanto maiores são as crises económicas, tanto maiores são os lucros ilícitos dos fora da lei, pouco importa que a sociedade se queixe da falta de valores cívicos ou morais, que os países clamem pelo uso e a implantação da democracia, pela aplicação dos direitos do homem, pela moral e pela paz universal.

A droga é superior a todos esses anseios, a todas essas virtudes ancestrais agora registadas em acta pela ONU, mas tratadas como simples papel sem importância pelos traficantes e tornadas letra morta pelos drogados de vício quase invencível. A tudo isto o cidadão comum reage com extrema dificuldade, cada vez mais enredado também nos meandros que são tecidos à sua volta por este trio de droga, drogados e traficantes profissionais que se julga acima dessas «banalidades».

Há umas horas atrás, ocorreu-me que este mesmo trio dominava grande parte do nosso mundo, com alguma solidariedade e aproveitamento de gente de todos os países, incluídos os mais civilizados.

Assim, no Afeganistão, milhões de pessoas sobrevivem à custa das plantações de papoilas e comércio do ópio para exportação, na maioria para países ocidentais.

Na Bolívia, na Colômbia, no Peru, milhões vivem à custa da recolha das folhas de coca, a sequente indústria e exportação ilícita da cocaína.

Vários países de África e da América do Sul mantêm uma periclitante tranquilidade social e política, devido à cultura e comércio do haschiche de uso abundante no Ocidente.

Todos estes países devem, pois, em boa parte, o fraco equilíbrio das suas finanças e o perigoso sub emprego das populações, à exploração das drogas proibida na lei, mas largamente tolerada na sombra.

Só falta acrescentar que gente menos escrupulosa de alguns países civilizados consegue aproveitar os seus conhecimentos científicos na produção semi-industrial dos derivados do ácido lisérgico...

Parecerá impossível a muito boa gente que tudo seja assim, mas é verdade.

Contudo, são estes países na cúpula da civilização os grandes, os maiores consumidores das drogas referidas, embora sejam igualmente os que mais pregam a luta contra a droga. É nestes países que o preço dessas drogas alcança os valores mais altos, muitas centenas de vezes superiores aos miseráveis valores na origem, de tal modo que, mesmo com apreensões espectaculares, os lucros dos traficantes são enormemente compensadores. Chegam, por esse motivo, a corromper alguma polícia e autoridades postas no seu encalço.

Por tudo isso, e por se tratar de produtos altamente viciantes, o combate às drogas é tão difícil.

Mais preocupante, contudo, é o contrabando de armas a movimentos guerrilheiros, subversivos e mesmo a governos ou facções destabilizadoras, com base na droga. Envolvem muitas vezes, na sombra, agentes de países fabricantes de armamento pagos com a droga que oficialmente eles combatem. È o que acontece na Colômbia, por exemplo, com uma guerrilha vivendo à custa da cocaína que exporta para diversos países mais ricos, aos quais adquire as armas de contrabando com que combate, no terreno, contra as mesmas forças armadas governamentais por eles também legalmente municiadas...

No Afeganistão, o negócio, antigamente quase subterrâneo do ópio e derivados, nunca foi tão extenso e descarado como agora, sob administração das tropas ocupantes.

O nosso mundo tem contradições, oportunismos incríveis.

Em Portugal, felizmente, as coisas ainda são diferentes. Mas a polícia nunca apreendeu tanta cocaína e tanta liamba como este ano, na Costa Algarvia.

À medida que decresce a pesca do atum...

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