sexta-feira, 7 de novembro de 2008

IMAGINAÇÃO CRIATIVA


Genialidades militares

Todos os militares têm que exercitar, melhor, que pôr em prática a sua imaginação em tempo de guerra, se quiserem sobreviver. É isso que, provavelmente, os exércitos mais exercitam e executam, nas suas árduas campanhas marcianas. Os grandes chefes sabem que a imaginação criativa pode ser a salvação das hostes, o que faz a diferença, muitas vezes, entre a derrota mais pesada e a vitória mais estrondosa.

Eu penso, na minha ignorância, que a imaginação deve estar a par da disciplina e da coragem, nas grandes qualidades exigidas aos militares em geral e aos seus chefes, em particular. Mas a imaginação criativa, digo eu, porque há imaginações a mais, na vida de cada um, e muitas mais, na vida familiar, clubística e até das instituições mais respeitáveis.

Ora a imaginação criativa, como lhe chamo -perdoem-me os psicólogos, os psicanalistas e os filósofos encartados, que disso eu não percebo nada –não está ao alcance de qualquer um. Os grandes inventores, os grandes cientistas, os grandes chefes militares da Humanidade exerceram-na até ao exagero, como Edison, Einstein, Napoleão, etc.

Entre os militares, a imaginação criativa faz parte da estratégia mas, pelo que tenho lido nos livros de História, quase me apetece colocar a imaginação criativa uns furos acima de toda a estratégia militar, ao menos em certas ocasiões decisivas.

Assim, entendi que foi graças a ela e a mais nada que exércitos mais pequenos, nas mãos de grandes génios militares, venceram outros muito maiores ou mais bem armados, como Alexandre ante os persas em Issus e no Granico, César ante Vercingectórix em Alésia, Aníbal ao transpor os Alpes e surpreender os romanos, Napoleão ante os russos, os prussianos e os austríacos em Austerlitz, os alemães ante a ultra fortificada linha Maginot, os portugueses ante os castelhanos, em Aljubarrota, e por aí fora. A imaginação criativa faz a diferença entre o que é normalmente aceite como real, por todos, e o idealmente possível para alguns eleitos. Igualmente faz a diferença entre a utilização maciça dos meios, dos números e da força bruta indiscriminada, por uma inteligência média, e a «suplesse» da actuação localizada mas de importância vital, de uma inteligência superior. A imaginação criativa dos génios militares vale mais, muitas vezes, que o número e o exagero das forças inimigas, com todas as estratégias tradicionais à mistura. Há quem lhe chame audácia, mas deve ser muito mais que isso!

Em Portugal, e actualmente, as Forças Armadas, sem teatros de guerra à porta, algo traumatizadas ainda pelo insucesso da Guerra Colonial, reduzidas em número e com recrutamento limitado, dizem as más línguas que se entretém a jogar ao berlinde e à bisca, enquanto não chega o fim-de-semana de visita à peluda, para matar saudades. Não é assim. O exercício e a exaltação dos deveres cívicos nacionais ao mais alto grau, dando a vida, se necessário, em sua defesa, é o que a Instituição Militar se propõe fazer e incentivar na mente dos recrutas, não devendo ser confundido, nem a brincar, com essas inconscientes banalidades ou graçolas que andam por aí à solta.

Para isso, a Força Militar assenta em virtudes inquestionáveis, entre as quais a disciplina desempenha um papel fundamental que, por vezes, pode significar mesmo a fronteira entre a vida e a morte. Por isso, todos os regulamentos militares têm a disciplina como base indiscutível, aqui e em qualquer parte. É ponto assente que um militar nunca deve infringir a disciplina, muito menos discuti-la ou jogar com ela, nem que seja a feijões.

É na base desta disciplina férrea que tem expressão mais alta a imaginação criativa de que falo e que é, talvez, a maior das razões da independência de Portugal. Não tem nada a ver com a criação e o incentivo de um certo tipo de imaginação que está a invadir, sorrateiramente, as nossas actuais Forças Armadas.

Há algum tempo, determinado grupo de oficiais subalternos imaginou a tomada da Baixa em passeio, numa operação de greve disfarçada, para vencer um imaginário inimigo, à meia volta. E também se falou, na altura e depois dela, de ajuntamentos politiqueiros disfarçados em piquenique de convívio matreiro, a exemplo dos que houve antes do 25 de Abril, nos montes alentejanos, etc.

Outros imaginaram enviar recados políticos à Administração Central, através de um considerado oficial superior na reforma, para tornear os regulamentos.

Agora, outros ainda imaginaram um jejum estratégico, uma caricatura de levantamento de rancho, numa greve disfarçada de boicote aos refeitórios.

Li, em tempos, algo da História das campanhas das tropas portuguesas em Moçambique, nos fins do século XIX e princípios do século XX, onde Mousinho de Albuquerque e Farinha Beirão tiveram que defrontar-se com casos autênticos e graves de levantamento de rancho, sendo uma dessas rebeliões resolvida pelo comandante, à pistola!

Eram outros tempos e outras condições que hoje não se verificam, felizmente. Mas a disciplina militar é a mesma, e a sua subversão, encapotada ou não, é um mau exemplo, na minha óptica, dado ao resto da Instituição por alguns senhores oficiais, tenham ou não razão nas suas opiniões privadas. Porque amanhã, por esse andar, não deverão admirar-se de que os recrutas lhes façam o mesmo, sem que tenham força moral para responder.

O pior é que a imaginação desses oficiais das Forças Armadas Portuguesas parece não ter limites, porque já indiciaram que outros processos imaginativos estão na forja, prontos a entrar em acção, se os seus objectivos não forem rapidamente conseguidos.

Que mais irão imaginar eles, a quem parece sobrar tempo para a criação dessa imaginação fértil no contorno dos regulamentos?

É que o DN de ontem referia mesmo que «os militares estão a encostar as chefias à parede»! E então elas deixam-se fuzilar e não fazem nada? Onde está a sua imaginação criativa?

Ou eu me engano muito, ou algo vai mal no reino da Dinamarca, quero dizer, na República Portuguesa....

Quando é que se viu isto?

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