quarta-feira, 5 de novembro de 2008

MUDANÇAS NA CASA BRANCA


A grande lição das eleições americanas


Desde o princípio das eleições primárias que senti uma inegável atracção pelo pré candidato Barack Obama, especialmente pela sua inteligência e facilidade de raciocínio, pela sua isenção de carácter e decisão sem subterfúgios, pela sua disponibilidade ante a imprensa, a sua lhaneza e completa ausência de vaidade ou presunção de qualquer ideia de superioridade e, sobretudo, pela sua origem humilde. Não por uma qualquer ideia de piedade subjacente, mas porque, chegar a uma candidatura à presidência da nação mais poderosa do universo, partindo da posição rasteira de um afro-americano de raça negra por muitos compatriotas ainda considerada inferior, mesmo no nosso avançado século XXI, revela, só por si, uma inteligência e uma determinação fora do vulgar. Eu diria mesmo que se trata de um génio, humano e humilde, sem vestígios de arrogância como quase todos os génios, que não se envergonhou nunca, mesmo durante a campanha, das suas origens numa pequena cidade do Kenya.

Só mesmo um génio de 47 anos como este poderia, depois de vencer a sua concorrente de partido, inicialmente dada por toda a gente como presidenciável, bater o experimentado rival apoiado pelo partido do actual presidente por uma margem de votantes superior a 60%, alcançando ainda o dobro dos delegados ao congresso.

A sensação que fica destas eleições americanas, para além de todas as outras apreciações que sejam feitas, é que o povo americano queria mudar de actores, de políticos e de política. A sua humildade foi determinante para que muitos anteriores abstencionistas, muitos republicanos e muitos jovens votassem nele, que fazia gala em dizer em público que não provinha da nobreza endinheirada ou de privilégios e que apenas recebera,da sociedade e da família, educação e carinho.

O futuro 44º presidente dos EUA começou a trabalhar no seu novo emprego, logo no dia seguinte às eleições, recebendo cópia de um boletim de informações diariamente levadas ao Presidente em exercício. Esta pressa de entrar na liça, sem gozar ao menos duns merecidos dias de descanso, após tão desgastante campanha, mostra já a fibra deste homem que se propõe, entre outras coisas, enfrentar a crise e mudar a economia do país, proteger as classes mais desfavorecidas, dar um sistema de saúde condigno a cerca de 40% da população desprotegida e, no plano externo, mudar o clima de aversão aos EUA, aumentando a diplomacia em todas as partes do mundo, diminuindo os confrontos bélicos, tratando de acabar com a prisão de Guantanamo e acelerando a retirada das forças americanas do Iraque e do Afganistão, etc.

Será uma tarefa de gigante, difícil, sob todos os aspectos em que seja apreciada. Mas desde já, a grande lição de Obama e da democracia americana para todo o mundo parece ter sido compreendida. Já antes da sua vitória, ela era ansiada por quase todos os países e agora vitoriada nos quatro cantos do Globo, como um grande sinal de esperança, um contributo formidável ao reencontro amigável de todas as nações.

É que, para além do programa político subjacente ao vencedor das eleições, duzentos e trinta e dois anos depois da declaração de independência, 144 anos depois do fim da Guerra Civil que pôs termo à escravatura, um indivíduo de raça negra chega à presidência da Federação Americana, coisa impensável ainda há menos de vinte anos na grande nação, e com um voto de confiança de grandeza inimaginável. Inimaginável talvez, uma coisa destas, nesta anti esclavagista, civilizada e «superior» Europa...

Sem comentários: