quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O CARRO MOVIDO A AR


Bom, bonito e baratinho

Desde que o petróleo e os seus derivados começaram a subir de preço, não têm parado de aparecer notícias bombásticas, no sentido de aperfeiçoar os motores dos automóveis, de forma a economizar nos respectivos consumos.
O caso não é novo. Desde o começo da utilização dos motores de combustão, movidos a gasolina ou a gasóleo, muitas tentativas levadas a cabo para o seu melhoramento tecnológico têm sido coroadas de êxito, obtendo-se, ao longo dos anos, assinaláveis aumentos de rendimento, com a correspondente diminuição de consumo e razoável descida na emissão de poluentes.
Paralelamente, muitas tentativas têm sido feitas, no sentido de descobrir novos carburantes, com rendimento, preço e poluição inferiores aos derivados do petróleo. À medida que passam os anos e novas crises energéticas têm lugar, essa procura vai sendo incrementada, com resultados mais ou menos animadores. Há muitos combustíveis susceptíveis de serem utilizados nos motores de combustão actuais, ou depois de modificados. Mas os custos ou as circunstâncias de obtenção, armazenagem, distribuição e segurança de utilização nem sempre conseguem convencer a indústria automóvel, as entidades governativas, os ambientalista e os próprios consumidores. Não vale a pena perder tempo a enumerá-los, mas é interessante citar alguns em uso em certos países, com vantagens imediatas, sendo que, a médio ou longo prazo, se transformarão em mais um grande problema para as populações locais ou mesmo para a Humanidade. Assim acontecerá, por exemplo, com o etanol usado no Brasil, com grande sucesso, pela sua origem agrícola ou florestal. Outras propostas caricaturais são o bio etanol, o bio diesel quando obtidos a partir de culturas agrícolas intensivas, numa Terra com água cada vez mais racionada e com milhões de habitantes a morrer de fome, todos os dias.
Propostas interessantes, no entanto, são a obtenção e utilização de combustíveis a partir de resíduos geralmente não reciclados e que terminariam quase sempre na incineração pura e simples. Devem ser acarinhadas, no meu ponto de vista.
Também os estudos tendentes à utilização prática da electricidade como propulsor dos veículos têm vendo a desenvolver projectos muito atractivos, nos quais a economia e a baixa poluição serão de considerar no futuro, se a melhoria de alguns componentes, como as baterias, tiver sucesso.
Também relacionados com as baterias e os sistemas eléctricos estão os chamados carros a hidrogénio, obtido pela decomposição electrolítica da água, e que a imprensa já baptizou com o nome de carros a água, em contraposição com os carros a vinho ou a água-ardente, no caso dos carros utilizando etanol, mais conhecido por alcool etílicol...
E agora noticiam os carros a ar, os quais virão revolucionar todo sistema de transportes e acabar de vez com as crises existenciais do petróleo, segundo os seus inventores e a imprensa que lhes deu crédito.
O ar, até ver, ainda é a coisa mais barata que há no mundo, embora o ar puro cada vez seja mais difícil de gozar. O inventor parece que não dá muita importância ao caso. Comprime o ar a vários quilos de pressão, armazena-o em recipiente adequado, carrega uma certa quantidade no depósito especial do carro e aí está, abre a torneirinha do ar comprimido com a chave, mistura-o automaticamente com um pouco de ar da região, injecta-a no motor, fazendo mover as suas palhetas e, a partir daqui, a viatura... até voa!
Fácil, mesmo muito fácil e nada poluente, até porque o próprio ar rejeitado volta a ser reciclado, num moto contínuo perpétuo. Ao contrário da Lei de Lavoisier, neste processo nada se cria, nada se perde, mas absolutamente nada se transforma! Não há degradação de energia, a solução adequada e radical para todos os males de que enferma a Humanidade...
Não sei por quê, lembrei-me de um tio, já velhote que gostava de me ditar sentenças, quando eu era pequeno. Dizia, convictamente que ser um bom inventor era a melhor coisa a que podia aspirar-se na vida, e eu deveria encarreirar por aí.... Por exemplo, quem inventasse um remédio contra a queda do cabelo e acabasse com os carecas, faria uma fortuna imensa, num instante. Nunca me esqueci deste conselho, mas nem eu nem ninguém conseguiu até hoje pô-lo em prática. Hoje sei por quê, mas já pouco me importa.
Ainda não sou careca, mas gostaria de ter um carro, movido a ar, que fosse bom, bonito e baratinho...só para contrariar as petrolíferas exploradoras e comprazer a todos os sábios inventores que a imprensa nos apresenta todos os dias.
Talvez aproveitando o vento soprando com força numa vela latina colocada no tejadilho...Ou engarrafando o vento formidável dos tsunamis...Como é que ainda ninguém se lembrou disso?

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