segunda-feira, 17 de novembro de 2008

PORTUGAL OU A BARBARIA


Em que país estamos?

Insurjo-me com frequência contra a imprensa noticiosa, pelo abuso que faz das más notícias e a quase sistemática ocultação das notícias que vale a pena ler. Estas não vendem e a exploração da coscuvilhice, da maledicência, do crime, da corrupção ou da simples fofoca são operações de marketing eficaz, com assento em todos os manuais da especialidade.

Em certos dias, a mera leitura dos títulos de primeira página de alguns jornais deixa-me um travo de amargura, uma tristeza que não raro me impede de ler as páginas que seguem.

E outras vezes faço um grande esforço para lê-las. Hoje foi um desses dias.

Depois de referências às manifestações de protesto dos professores contra a avaliação, alegando motivos burocráticos que não convencem ninguém de boa fé, e depois de alunos de pouca idade, arregimentados, fecharem escolas a cadeado e atirarem ovos e tomates a membros do governo, em exercício, a notícia do dia centrava-se numa claque de futebol investigada pela polícia, resultando a descoberta de armas, droga, dinheiro e bilhetes. Pior que isso foi a reacção de outros membros da claque (ou adeptos), agredindo um fotógrafo da RTP e um dos polícias que viera em seu socorro, à saída do Tribunal.

O que me preocupa neste momento é que, nestas notícias, há um denominador comum. Não se trata de criminosos vulgares, como os que enchem as páginas do «Crime», mas de gente geralmente responsável que as circunstâncias tornaram irresponsável, intolerante, agressiva...

Pelo meio há crianças arrastadas na voragem dessa mesma irresponsabilidade dos adultos, dessa falta geral de educação, sobretudo da parte daqueles a quem compete ministrá-la.

No caso da claque, nota-se, além disso, uma ausência total da própria cidadania desportiva. Será por isso que se auto baptizaram «no name boys»?

Está bem claro que a liberdade democrática de todos estes intervenientes é o resultado de um conceito muito mal assimilado e ainda pior utilizado.

Já quase não temos analfabetos e possuímos estádios de primeira. Mas a educação e o civismo são muito mais do que isso.

Ocorre-me perguntar: estamos em Portugal ou na Barbaria?

Por vezes já não sei...

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