quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A QUADRATURA DO CÍRCULO


Opiniões, miragens e diversões

Toda a gente sabe que a Economia hoje comanda o desenvolvimento dos povos e o seu bem-estar. Toda a gente sabe, mas toda a gente desconfia. Ora a confiança é a base do sucesso da Economia.

Eis aqui a quadratura do círculo.

Mas o problema da quadratura do circulo é apenas uma expressão de linguagem de quem nada percebe de matemática. Matematicamente falando, a solução é, porém, de uma grande simplicidade, pelo menos desde o tempo da Antiga Grécia. Se tomarmos uma roda de hula-up e tratarmos de achatá-la de igual maneira, partindo de dois lados opostos, obteremos um quadrado perfeito. O contrário também é verdadeiro.

Só que na Economia, as coisas não se passam assim. Tratando-se de uma Ciência com fortíssima base Matemática, utiliza e manipula tantas variáveis que os resultados são tantos como as cabeças que os encontram. Mesmo na economia caseira, mais acessível ao comum dos mortais, muitas vezes nem sempre é linear a conclusão a que se chega. É como antecipar o feitio da roda de uma bicicleta, após um acidente!

Ora a Economia Nacional ou a Economia Mundial, como Ciências, são exemplos de interpretação de realidades com a obtenção de resultados pressupostos que as próprias realidades verdadeiras desmentem a cada passo, como a Futurologia de um mago. Mas a Futurologia do Mago geralmente só indica um caminho ao consulente e portanto é mais simples de contraditar. A Ciência da Economia apresenta normalmente várias soluções para o mesmo problema e, o mais incrível, é que muitas vezes até são contraditórias entre si!

Se transportarmos todas estas «pepineiras» para a política do dia-a-dia, encontrar-nos-emos, a breve trecho , num enredo colossal. É como se permanecêssemos todos, num barco a meter água, no meio de um oceano agitado e com poucos meios de sobrevivência, na dependência de cem especialistas de navegação, sábios, atordoados e confundidos, passando estupidamente o tempo a discutir entre si, cada solução considerada absoluta e indiscutível por cada um deles. Seria um milagre, que conseguíssemos salvar-nos sem eles chegarem a um acordo, com a onda gigante assassina já à vista.

A crise da economia mundial é uma realidade indesmentível e a economia nacional para lá caminha. E, entretanto, os políticos e os economistas de serviço continuam a discutir, não em face dos parâmetros e da sua equação adequada, mas em face dos seus interesses, fazendo com eles futurologia pura, ou ameaçando o cidadão com cenários delineados sobre o joelho.

Chegam a ser caricatas algumas das soluções indicadas, porque estão, boa parte das vezes, fora dos contextos da realidade. Porque apresentam os desejos próprios como resultados obtidos, em lugar de simples miragens! E tudo à sombra da Economia ou da Ciência Política.

Assim, para resolver a crise, uns apontam o investimento público, outros apenas o privado. Uns indicam a descida dos impostos e outros a sua manutenção. Uns forçam a imposição de normas fiscalizadoras, outros a descentralização e a liberalização mais acentuada. Uns apontam o fim imediato dos «off-shores», outros exigem a sua defesa e expansão. Uns querem o socorro da banca, como fonte de poupança e de emprego, outros desejam a falência do sistema e o socorro directo dos contribuintes. Uns afirmam que o emprego e os bens sociais estão em primeiro lugar, outros ao contrário, que dependem do capital disponível. Alguns pretendem que só os ricos paguem a crise, e outros que a crise só seja ultrapassada com o apoio dos ricos e o esforço da maioria. Uns dizem que o baixo PIB que temos é uma vergonha e outros afirmam que é um prémio não termos um PIB mais baixo ainda. Uns confirmam que o desemprego sobe muito, outros que sobe pouco, outros ainda que dantes subia muito mais, e os restantes que pouco mais ou menos. Uns descobrem todos os dias que estamos no extremo da cauda da Europa e outros concedem que estamos a fugir para o meio da cauda...

Contradições, citações, diversões, miragens e panaceias como estas davam para rir durante dias e dias, de tanta insensatez, no mínimo de tanto lugar comum contraditado em Reuniões, em Congressos, em Assembleias, com acusações e insultos pelo meio. Mas o mal não é propriamente esse.

O verdadeiro mal é que tudo e o seu contrário são expostos pela rama, publicitados alegremente para ganhar status, dentro e fora dos partidos, dos governos, das corporações patronais ou sindicatos, etc. Entretanto o barco vai-se afundando e quase ninguém sabe o que fazer, no meio de tanta sabedoria contraditória.

O Zé Povinho pergunta já, quando é que todo este pessoal tem juízo e se põe de acordo, quando é que se remete a um estudo sério e aprofundado destes problemas tão difíceis, trocando opiniões entre si para além das capelinhas, aceitando sugestões sem pressupostos, obtendo soluções exequíveis sem perder tempo a atirar pedradas aos vizinhos do lado, só para botar figura ou caçar votos?

Pergunta ainda quando é que conseguirá essa gente alterar a péssima opinião existente sobre os políticos e os economistas, manifestada na fraca participação do povo nos variados actos de cidadania, nos próprios actos eleitorais?

E finalmente, pergunta por que será que, no meio de tanto desperdiçar de tempo e de inteligência, algumas personagens de referência da economia e da política ainda conseguem ter oportunidade e arte para enriquecer fartamente, sem terem ordenados para isso?

Pior que tudo é a apatia geral a este estado de coisas, porque, lá no fundo, todos sabem as respostas, mas iludem as próprias perguntas para não fazer esforço a responder!

E no fim, «quem se lixa é sempre o mexilhão»...

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