quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O MÊS DE JANEIRO E OUTRAS COISAS

Contra os canhões, marchar, marchar!

A História de Portugal anda, nestes tempos de politiquice barata e de educação informática a metro, tremendamente esquecida dos portugueses e, quem teria mais obrigação de activar-lhes a memória, demite-se das suas responsabilidades, abusando da propaganda da notícia soez e do incentivo ao negativismo de tudo o que são valores cívicos, pátrios ou morais.

O mês de Janeiro é o primeiro do ano e, talvez por isso, por coincidência ou não, uma fonte de notícias estranhas, algumas das quais agora recordadas com azedume por uns, com saudade por outros, com apego a velhas tradições dos antepassados, ainda por alguns. Por exemplo:

O 11 de Janeiro de 1890 ficou durante muitos anos na memória dos portugueses, pelos maus motivos: um ultimato feito ao governo português pela nossa velha aliada, a Inglaterra. E foi um dos motivos que mais fortemente concorreu para a queda Monarquia em Portugal, embora cerca de vinte anos depois. Nessa altura, o major Serpa Pinto foi obrigado a retirar-se do interior africano situado entre Angola e Moçambique, onde tencionava instalar forças militares a defender a soberania portuguesa proposta no célebre Mapa Cor-de-Rosa que ligava Angola à Contra-Costa (Moçambique). Um surto de nacionalismo meio adormecido e a sua exaltação por efeito do descontentamento popular, foi aproveitado pelos republicanos contra a Monarquia vigente e caduca, nascendo daí a letra e a música do actual Hino Nacional, da autoria dos patriotas Henrique Lopes de Mendonça (a letra) e Alfredo Keil (a música)! Vinte anos depois, a Portuguesa viria a substituir o oficial Hino da Carta. Interessante que o último verso não era, como agora, Contra os Canhões, mas Contra os Bretões…os britânicos autores do célebre ultimato.

Esse descontentamento provocado pelo ultimato abominável, a juntar ao descontentamento pela governação, teve como reacção, um ano depois, a célebre revolta de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, onde foi proclamada a República da varanda do edifício da antiga Câmara da cidade. Durou uma manhã essa República ali proclamada e até apoiada por bastantes populares. As chefias do exército estavam com o regime, os revoltosos cometeram erros de puro amadorismo, a revolução foi afogada em sangue pela Guarda Municipal, fiel à Monarquia, e os cabecilhas foram presos ou deportados para Angola.

Com a atmosfera política a adensar-se cada vez mais, o 30 (ou o 31) de Janeiro de 1908 foi a data decisiva dos conspiradores do regicídio do Rei D. Carlos I e o Príncipe Herdeiro D. Luís Filipe que teve lugar a 1 de Fevereiro e que iniciou a descida acelerada até à queda final do regime monárquico e a proclamação da República, a 5 de Outubro de 1910.

A rua de Santo António, no Porto, palco dos combates da revolta republicana de 1891, foi por ela rebaptizada de Rua 31 de Janeiro.

Viria mais tarde a ser renomeada pelo seu nome original, pelo Governo do Estado Novo.

E voltaria a ser 31 de Janeiro, depois do 25 de Abril.

Nada disto tem sido referenciado na Comunicação Social. Mas a fofoca costumeira tem vindo a assumir aspectos caricatos, com os escassos partidários da Monarquia a tentarem chamar a atenção para a data do Regicídio a 1 de Fevereiro, trazendo à memória a diplomacia, o humanismo e a apetência científica do Rei D. Carlos, coisa que ninguém contesta, mas com um sentido panegírico do sistema monárquico que, para eles, interessa não esquecer…De tal forma que a data vai ficar conhecida, nos tempos mais próximos, pelo desígnio de utilização da Banda de Música do Exército e a respectiva negativa das autoridades. Os regicidas Costa e Buíça, a esta hora já bem transformados em pó, nas suas campas rasas, devem ter tremido de desespero, e o Rei assassinado, lá do Panteão, deve ter sorrido de agradecimento aos seus partidários, ainda resistentes quase um século passado. Mas quem quer saber da Historia, para nada?

Algumas crianças das escolas primárias, quase de certeza, devem ter aprendido que o rei era um tirano ou um valdevinos a abater e os assassinos uns heróis injustiçados…e viva a República. Mas nem sabem também o que se passou a 11 de Janeiro de 1890 e a 31 de Janeiro de 1891, apesar da perpetuação desta última, numa rua das mais importantes do Porto!

Nem conhecem, que ninguém lhes terá dito, qual a origem da Portuguesa. Nem quem a escreveu e a musicou. Conhecem, que todo o mundo os proclama em voz alta, os ídolos do futebol e das telenovelas em curso. E já não é mau…

Nesta época de computadores e de sondagens a pontapé pelas coisas mais absurdas, quem se lembra de pesquisar quantos alunos, da Primária à Universidade, conseguem soletrar ou cantar a Portuguesa? Devem ser muito poucos. Mas os alunos não têm culpa disso. Se os pais e os próprios professores também não sabem o Hino Nacional…

Sem comentários: