terça-feira, 1 de janeiro de 2008

ABERTURA EM FALSO

Os defensores das liberdades individuais

Hoje é o dia primeiro, de Janeiro de 2008! Alvíssaras! Até aqui já chegamos!

Uma das minhas filhas e o marido pediram-me licença para fumar um cigarrinho, depois das crianças terem batido com as colheres de pau, nas tampas dos tachos de aço, durante alguns minutos, terminando de fazê-lo quando os compinchas do prédio em frente fizeram o mesmo, como se se tratasse de uma combinação prévia.

Como não podia dar-lhes licença? Estavam na sua casa, a fumar do seu vício, em local fora da jurisdição legal que impedia o fumo, justamente a partir das zero horas estipuladas…

Ambos fumam cerca de dois maços de cigarros por dia, bem contra o meu gosto. Já fizeram algumas tentativas para deixar de fumar, e a idade entre os quarenta e os cinquenta aconselharia o corte radical com essa porcaria. Mas o vício, como todos os vícios, é mais forte que a vontade deles e a minha.

De qualquer maneira, lá fazem um esforço para fumar próximo de uma janela, quando estão crianças ou estranhos e pedem licença delicadamente quando algum adulto não fumador está presente. A boa educação, o bom senso e a própria democracia a isso obrigam. Não sei como vai ser a vida deles, no emprego, a partir de agora, se a lei vai ser cumprida à risca…mas parece-me que, nos recintos fechados, não deverá haver grandes objecções. Nos restaurantes e repartições públicas haverá alguns atritos, certamente, nada que não acabe por ser resolvido, tal como noutros países, Itália, França, Alemanha, Espanha incluídos.

Também aqui em Portugal, tirando algumas discussões da partidarite corriqueira a que estamos habituados, nada de grave aconteceu até agora. Já na C. Social, alguns «democratas de bolsillo» têm procurado, em artigos mais ou menos tendenciosos ou matreiros, convencer o Zé Povo de que os governos da Europa e da América -com o nosso à cabeça – são uns radicais ditadores, atacando as sagradas liberdades individuais…É curioso verificar como um vício pode corroer o bom senso e corromper pessoas geralmente pacíficas, cordatas, inteligentes, clarividentes, cultas e amigas do seu semelhante, de forma a torná-las agressivas, cegas, atropelando os direitos legítimos dos que diferem -e muito bem -dos seus hábitos reprováveis.

Um político bastante conhecido da nossa praça, (J. P.P.) escritor e comentador quase diário dos nossos Meios de Comunicação e Informação, brada constantemente contra o atentado à liberdade de cada um (que estaria oculta no condicionamento do uso do tabaco), sem se dar conta que ele a viola a todo o momento, mandando às ortigas as reclamações dos vizinhos que têm que gramar o fumo dos seus cigarros sem tugir nem mugir…O vício cega e a pior cegueira é a de quem se obstina em não querer ver, mesmo que seja comentarista emérito…neste caso sem mérito nenhum!

Pior foi um artigo de um comentarista encartado do Correio da Manhã, o jornalista A.R.F., um desses fazedores de opinião que tudo sabe ou interpreta, muitas vezes, como tenho constatado, às avessas do que deveria, mas que a democracia tolera. Desta vez, excedeu-se de uma maneira indigna, não se limitando a discordar da lei que condiciona o uso do tabaco, o que é legítimo, mas insultando de viés e simultaneamente legisladores, governo, e todos os restantes cidadãos que não compartem o seu vício, com epítetos sonantes e repetidos, próprios de linguagem da Al Qaeda: fascistas, violadores da liberdade alheia, bufos, ignorantes, estúpidos, imbecis, fundamentalistas, burocráticos, gastadores, salazarentos, anti democratas, moralistas radicais ameaçando com o fogo do inferno, admiradores de Hitler que não fumava nem bebia mas matava judeus, etc…tendo em mira um possível juramento anti fumo (tipo juramento anticomunista do Estado Novo), antes de assinar por um novo emprego.

Se eu fosse psicopata, ou esquizofrénico, a esta hora já estava aterrorizado, só de imaginar os campos de concentração e os fornos crematórios que o nosso governo –e os de outros países da C E –estariam a planear, e pensava seriamente por-me a milhas, com a família, para alguma terra distante, onde as liberdades individuais não fossem postas em causa, como aqui, antes que viesse algum bufo da nova PIDE em preparação denunciar-nos, porque, apesar de não ser fumador, a maioria dos membros da minha família são…e são-me muito queridos! Essa ideia teria que agradecer, de qualquer maneira, ao senhor A. R. F., tão perspicaz comentarista do C. M. da Manhã.

Mas como sou uma pessoa normal, delicado, cordato e cumpridor das minhas obrigações, respeitador dos direitos dos outros em qualquer parte onde estejam, e aos quais não gosto de chamar nomes feios, a única coisa que me ocorre, neste momento é aconselhá-lo a ir ao médico, quanto antes, que o tabaco provoca, ao fim de algum tempo, distúrbios pulmonares, cardíacos e até neurológicos graves aos fumadores inveterados. Quem o avisa, seu amigo é…

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