sábado, 26 de janeiro de 2008

CRÓNICA DE ADVOGADO DO DIABO

A anedota de Felgueiras e outras

Hoje, depois de ler as últimas notícias, apeteceu-me fazer de advogado do diabo. Também tenho direito à indignação!

Então por que é que, nos diários, só são publicadas as reclamações, os roubos, os assassinatos, as corrupções, as vigarices, os raptos, as infracções, as bebedeiras, as orgias e os anúncios sexuais, as bandalheiras de toda a espécie…e eu estou proibido ou vejo-me aflito para poder meter um comentário de quatrocentos caracteres, só autorizado para dizer amem a tantas alarvidades impressas, ou bater muito de mansinho? …

Que não há espaço, que se reservam o direito de publicar, que não autorizam referências pessoais e outras que tais de que tanto abusam…mas no fundo, o que está em causa é a censura interna, feita por quem se opõe -e acho muito bem! -a qualquer tipo de censura imposta do exterior. Também eu mando no que é meu. Os jornais não querem publicar o que não lhes convém…estão no seu direito. Mas nesse caso, também, por inerência, não devem arrogar-se de independência, de tolerância, de detentores da verdade à qual nem sempre são permeáveis, nem consentem críticas…

É bem difícil, neste mundo globalizado de notícias fáceis e falaciosas, navegar com um rumo certo, sem sofrer os efeitos dos ventos, das marés e doutras intempéries com que a imprensa nos brinda diariamente. Também tenho notado que, ultimamente, não sei se por efeito do corte de alguns privilégios, se pela obrigatoriedade de uma responsabilização mais efectiva do que se escreve, se por dificuldades económicas ou falta de vendas, se por oposição ao governo, se por causa do mau humor provocado pela lei anti tabaco ou do ataque à bica em chávena mal lavada, a imprensa está a dar mostras de uma acidez e uma violência por vezes inaudita, nos artigos de opinião de certos comentaristas da nossa praça, verdadeiros especialistas num bota-a-baixo geral de alta produtividade...

Por desfastio, há dias, resolvi retomar uma leitura de algumas páginas jornalísticas publicadas há dois anos atrás. Falavam da necessidade urgente de reduzir muitos milhares de funcionários públicos, no absurdo do novo aeroporto e do TGV, do regabofe dos professores que não cumpriam as suas obrigações, da Saúde que estava de rastos e havia que cumprir o plano feito pelas eminências há vários anos, dos malefícios do tabaco que exigiam cuidados e atenção das autoridades e dos perigos da falta de higiene na restauração, responsável por frequentes surtos de problemas ou infecções intestinais em escolas e não só…E agora, passados esses dois anos, o que vejo é a defesa do oposto, com afinco, determinação, nalguns casos com ódio transparente em certos artigos.

Mas há sempre uma defesa jornalística para todas estas mudanças: as milagrosas fontes ocultas que dão para tudo.

Seja! Mas o que vem publicado, como o povo bem sabe, é um conjunto de contradições e aberrações de morte, ao sabor de muitas conveniências de momento.

Agora, por exemplo, nota-se que a Função Pública ainda perdeu poucos funcionários relativamente aos previstos, gastaram-se milhões na operação, ficaram milhares deles sem emprego ou na prateleira e nem Nª Sª de Fátima ajudou a fazer o milagre da quadratura do cíurculo…

O novo aeroporto e o TGV eram um luxo desnecessário que iria custar milhares de milhões que faziam falta para tantas outras coisas, e agora são uma necessidade urgente cuja resolução anda atrasada, que será o motor da economia e da diminuição do desemprego, e que alguém deverá ser culpado deste atraso…

Os professores que faltavam, que se baldavam a estudar previamente as suas lições e a incentivar os alunos ao estudo, que tinham falta de formação, agora são vítimas de perseguição da fiscalização desenfreada ao trabalho, da falta de condições, das agressões milagrosamente tornadas visíveis de pais e alunos, de desemprego de muitos antigos e novos licenciados…As universidades cuja abertura era estimulada ao gosto do negócio que se perspectivava, com professores polifacetados e poliempregados, de ensino apressado e livresco, são agora acusadas da sua fraca produtividade, com cursos ou licenciaturas repetitivas sem interesse que a autoridade supervisora não deveria ter deixado abrir ou até deveria fechar…

A Saúde, especialmente o SNS, alvo das críticas acérrimas da imprensa a todos os governantes que não implementavam as reformas há tanto tempo preconizadas, é o preferido ponto de mira que agora descobre como por encanto –e explora -os atrasos dos bombeiros, os deficientes cuidados médicos em geral, as insuficiências do INEM, os hospitais inadequados, a coordenação deficiente, a falta de meios, os buracos da própria reforma e a incompetência dos que a aplicam…

O tabaco, que era uma maleita que urgia excluir da sociedade, transformou-se num vício a defender, encapotadamente é certo, através de deficiências descobertas na lei que os viciados, embora digam o contrário, verdadeiramente não estão interessados a cumprir…

E quanto à falta de higiene e contravenções verificadas na restauração, o melhor é continuarmos a conviver com elas, afinal como com tudo o resto, aplicando sempre as leis com bom senso, protegendo os pequenos infractores, que o que não mata engorda, imaginando até o fim das especialidades regionais, da bica em chávena (de que eu até gosto muito), um crime hediondo! …

Poderia continuar até ao infinito.

O denominador comum pode facilmente ser encontrado: há dois anos, como agora, a muita falta de rigor informativo, o extrapolar do acessório, o apoio sistemático ao cumprimento dúbio e permissivo das leis, a posição contrária a tudo, a todos os níveis, em vez da posição positiva e formadora de que a nossa sociedade tanto precisa e agradeceria, certamente, se fosse levada a cabo.

A todas essas aberrações citadas e muitas outras se dá cobertura eficaz, no transporte inocente de alertas, opiniões, reclamações, muitas vezes acompanhado de insultos mais próprios de quem tem a força da pluma de arremesso mas nem sempre tem a razão…

A propósito de insultos, com destinatário explícito, directos ou disfarçados, mandados ou veiculados pela imprensa aos destinatários, apetece-me referir alguns, muito especiais, que me ficaram de memória, apanágio de conhecidos opinadores ou fazedores de opinião, nem sempre primando pela elevação e pelo civismo de que deveriam dar exemplo: estúpidos, fascistas, parolos, burros, cretinos, sem juízo…

Anedotas não faltam.

«O procurador do Ministério Público Pinto Bronze, que está a acompanhar o julgamento da presidente da Câmara de Felgueiras, anunciou ontem, no início de mais uma sessão, que há pelo menos um crime que já prescreveu. Trata-se de um caso de abuso de poder cuja moldura penal varia entre os seis meses e os três anos de cadeia e cuja prescrição aconteceu a 25 de Outubro do ano passado. O magistrado só agora o assinalou, mas Artur Marques, que defende Fátima Felgueiras, não ficou surpreendido. E prometeu “oportunamente” divulgar aos juízes a lista de crimes que já prescreveram e cuja apreciação em julgamento se torna inútil.»

Não sei, nem quero saber se a Fátima Felgueiras é culpada ou não, mas uma coisa é certa: ao ler estas linhas, indirectamente pouco abonatórias da nossa Justiça, quase me convenço, mesmo contra os meus princípios, de que ESTAMOS NUM PAÍS DE CACA.

1 comentário:

whocares disse...

" ( ... )ESTAMOS NUM PAÍS DE CACA. "

Continuo nacionalista. o País ( em maiusculas, sim senhor )não é de caca, desta matéria são feitas ( e mal ) as pessoas que cá vão nascendo e com quem temos que pacificamente conviver e a quem desde cedo só é ensinado a dizer mal, independentemente do que seja.
Tal como descreve, diz-se mal do tabaco, e de seguida da lei anti-tabaco.
Da falta de higiene e logo de seguida do fanatismo que envolve a busca da chávena sem micróbio ( que até faz falta para que a população tenha defesas e se habitue desde dsempre a conviver tu cá tu lá com salmonelas e ténias, que ( e lá vem o exemplo )s ciganos vendem saude e comem terra .

O País não é de caca. Este povo, outrora denominado de nobre, tem que partir novamente desta vez em busca, não de terras longinquas, mas sim de justiça, equilibrio e bom senso, que é coisa que há muito perdeu por terras d'Alem Mar.

Continue as suas criticas, elas são a prova de que há sempre um nobre cidadão a clamar por aquilo que nos falta ... que é muito mais que apenas criticar as noticias comodamente sentado no sofá, com um café ( em chávena devidamente desinfectada ao ponto de o café saber a cloro)numa das mãos e um cigarro na outra ( que é como quem diz, dá uma no cravo outra na ferradura, que se a higiene alimentar é fundamental, a lei anti tabaco é fundamentalista ), qual treinador de bancada a maldizer o ladrão do árbitro que não viu a tal jogada que foi mesmo debaixo dos olhos dele, na outra ponta do campo.

Esta é a população que temos, mui pouco nobre, mas é o que se arranja no momento.

Enfim ..... whocares