segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

AS FARPAS DAS FARC

Filmes em perspectiva

Foram libertadas duas mulheres, de centenas de reféns em posse das FARC, numa guerra de guerrilha sem sentido, mantida apenas pela teimosia e radicalismo de uns quantos energúmenos que se julgam detentores da verdade e da violência…que na virtude certamente já não acreditam.

Estes guerrilheiros fazem-me lembrar os de Pol Pot no Camboja, responsáveis por muitas centenas de milhares de mortos cuja única culpa foi terem sido apanhados na voragem lúgubre de uma seita de visionários desumanos, sanguinários, irracionais.

A história de uma dessas mulheres, raptada, violada, com um filho da guerrilha feito à força e posteriormente separado dela com oito meses de idade, enviado à socapa para Bogotá e recolhido casualmente por um orfanato, daria, à vontade, para argumento de um filme extraordinário, culminando com o encontro entre mãe e filho, após as análises confirmativas dos respectivos ADN…Tudo é possível.

Cerca de 700 reféns ainda se encontram em poder das FARC que pretendem usá-los como moeda de troca para impor as suas reivindicações absurdas, numa época em que a célebre Cortina de Ferro já caiu e o regime de Mao se encontra em franco processo de transformação e…humanização.

Ao radicalismo feroz da guerrilha, opõe-se o radicalismo absolutista dos moralistas de serviço, com toda a razão certamente, mas concorrendo também eles, para a manutenção de uma guerra de crimes hediondos sem fim à vista.

O populista presidente da Venezuela que conseguiu, negociando com os insurrectos, a libertação das duas reféns, advoga provavelmente uma paz negociada, iniciada com o pedido de retirada do rótulo de terrorismo posto pelo Governo da Colômbia aos guerrilheiros. Mas estes já deram provas de pouca seriedade, no cumprimento de outras promessas. E aqueles jamais abdicarão dos seus princípios.

O mais absurdo desta guerra ainda é o seu financiamento feito, mais do que pelos assaltos e vandalismos, pelos cartéis da droga que navegam nas mesmas águas da ilegalidade, embora com objectivos totalmente diferentes. E assim, o contrabando da droga feito através dos portos e dos aeroportos governamentais, sob o seu controlo ou não, serve igualmente para pagar as armas dos bandidos da cocaína e as dos guerrilheiros, como garantia de imunidade mútua perante as forças democráticas da nação colombiana.

Ao cidadão comum ocorre, pois, perguntar porque é que as forças da ordem constitucional do país, com muitos milhares de soldados operacionais e armamento moderno, não conseguem apanhar e destruir uns quantos bandos acantonados nas montanhas e florestas, armados muito deficientemente, com fracos meios de transporte e mesmo em condições precárias de subsistência. Provavelmente a sua permanência activa mantêm-se com a ajuda de muitas cumplicidades, do lado contrário.

Por outro lado, não deve ser nada fácil manter em cativeiro 700 reféns, o que permite suspeitar já de um número de largos milhares de combatentes apoiados em certos núcleos populacionais, provavelmente forçados. Eis como um país rico de gente pobre é mantido em sobressalto constante do qual não vejo maneira de sair nos anos mais próximos.

Por isso, penso que o populista presidente da Venezuela, país com uma fronteira de difícil controlo com mais de mil quilómetros, com a Colômbia, no seu jogo aparentemente favorável aos guerrilheiros colombianos pretende, antes de mais, que a guerrilha não alastre ou ganhe adeptos no seu próprio território. Será a atitude correcta? E quem pode dizer qual é a atitude correcta, nesta promiscuidade de interesses em jogo?

Uma coisa é certa: os princípios morais não valem muito, nesta guerra, a menos que se queira morrer depressa.

Este filme está para continuar.

Que podemos fazer nós, portugueses, para terminar a rodagem? Provavelmente, nada!

Deixá-los andar até que se cansem, que não é nada connosco!...

Sem comentários: