sábado, 19 de janeiro de 2008

O FOLHETIM BCP-II

BCP e BP versus FCP

Não bastava, evidentemente, um só episódio para fazer um folhetim ou uma telenovela de cordel. O espectador gosta de enredos complicados que lhe agucem a curiosidade mórbida e os fazedores de folhetins, os editores e seus respectivos proprietários, e os donos dos interesses ocultos sabem disso e aproveitam a ocasião. Há um ditado popular bastante controverso em Portugal que reflecte apenas em cinco palavras aquilo que, neste caso, como em tantos outros, se passa por esse país fora, tanto a nível criminal, como a nível empresarial e até de muita da Comunicação Social que nos pretende informar a seu gosto: «a ocasião faz o ladrão!» É preciso agarrar a ocasião pelos cabelos ou, como dizem os mais violentos, com unhas e dentes. E assim, dada a frequência desvalorizadora da aplicação do adágio a torto e a direito, e invertendo os termos ao quebrado divisor, na linguagem matemática de trazer por casa, apareceu o ditado sábio, certeiro, acutilante: «o ladrão faz a ocasião!»

Não vale a pena discutir aqui qual é o melhor. De discussões parvas e inúteis está o mundo cheio…embora o Mundo Português esteja muito mais cheio que os outros. Creio já ter referido em qualquer outro escrito, que os americanos ilustrados (que os outros nem sabem sequer onde fica Portugal!) nos admiram e desprezam, simultânea e convictamente, afirmando que nós somos os melhores do mundo a discutir e os piores a realizar.

A discussão politiqueira, jornalística, folhetinesca que se arrasta em torno do desgraçado BCP é o cúmulo da desvergonha nacional, do aproveitamento de interesses mesquinhos, feito por quem deveria ter um pouco mais de honestidade, bom senso e até de simples patriotismo. Poderá parecer exagero, esta palavra patriotismo, mas a defesa daquilo que é de todos, embora tratando-se de um grande banco privado, devia estar instalada na mente dos propagandistas de misérias, sempre prontos a ampliá-las em seu proveito, rapidamente, antes que outros o façam, e à custa de um qualquer desgraçado ou empresa que se pôs a jeito. O que é preciso é encontrar, e na maior parte dos casos fazer, um culpado para o folhetim. Geralmente, ainda antes deste ser levado à cena, já está encontrado. Mas noutras ocasiões, como nas telenovelas de maior sucesso, há que dar tempo ao tempo, até descortinar o criminoso mais adequado ao gosto popular, isto é, o que vende mais. Agora quem está na berlinda dos novelistas de serviço é o BP (não confundir com a BP, que não tem nada a ver com isto!).

E nós, pobres coitados, que havemos de fazer?

Olhar apenas, pacientemente, na imprensa diária, o sucessivo desenrolar da meada que ela própria apanha no ar, enrola, tece, com a ajuda dos interessados do costume.

Não há pachorra para mais!

Há coisa de meia hora, ia eu no carro, muito descansadinho, e tive a triste ideia de ligar o rádio sintonizado no posto que se auto intitula o mais noticioso do burgo, na intenção de ouvir algo sério e apelativo…

Só consegui o apelativo (?). Tratava-se da discussão profunda, altamente motivante e nacionalista, salvo seja, sobre uma frase proferida ontem pelo treinador do FCP (não confundir com o BCP) que havia mandado a «boca», como agora se diz, de que o clube se propunha, nesta época, ganhar todas as competições em que está inscrito, incluindo a Liga dos Campeões. Logo, como «a ocasião faz o ladrão» ou «o ladrão faz a ocasião» (sem ofensa para ninguém) …dois noticiaristas comentaristas de serviço discutiram até à exaustão, durante dez minutos (!) a frase bombástica do «desgraçado» Jesualdo Ferreitra! Ou felizardo, não sei bem…que por vezes há fazedores de «frases bombásticas» que já sabem muito e também se aproveitam das fraquezas dos jornalistas. O caso é que o Jesualdo teria este ou aquele objectivo, esta ou aquela intenção oculta, esta ou aquela possibilidade de fazer verdadeira a afirmação proferida, seria compelido ou não a fazê-la, por este ou aquele dirigente, tendo em visa esta ou aquela finalidade, ou a venda futura deste ou daquele jogador, ou a motivação da equipa, etc., e tudo sendo provado por isto e aquilo …

E assim se ganha a vida, conjecturando, enrolando, espalhando…para os pacóvios (como eu também fui, desta vez, por curiosidade pura, a ver até onde ia a pepineira) e talvez também para outro tipo de pessoas que já não aguentam a politiquice fofoqueira do dia-a-dia…

Cheguei à papelaria onde tencionava comprar um jornal isento de trivialidades e parvoíces, mas não consegui desviar os olhos do que se me apresentava, apelativamente (como sempre) no escaparate, sabiamente montado para os inocentes. Uma revista da semana passada que terminava ontem, dava conta da separação garantida do presidente do FCP da sua última aquisição amorosa. E uma outra, desta quarta-feira que termina na próxima, mostrava, na capa, a fotografia do presidente do FCP com a sua esposa mais recente, remetendo para a cumplicidade romântica a dois, nas páginas interiores, no teatro, com Felipe La Féria a cumprimentar. Quase ao lado, a edição actualizada da primeira tão prontamente desmentida, desmentia a segunda, por sua vez, em grandes parangonas, garantindo que tudo eram aparências, nada mais!...

Lembrei-me logo daquela piada muito antiga das duas centopeias que iam pela rua, de braço dado, e assim sucessivamente…

Comprei, enfim, o jornal que me pareceu o mais comedido e honesto, entre a fofocada presente, e regressei a casa, a tempo de ver o noticiário das 13. Pensava eu que iria ver coisa melhor, mas também aqui me enganei. Logo a abrir, um canal punha a notícia de que a ex-mulher do P. da Costa o acusava de comprar o árbitro de não sei que jogo, com determinada quantia. Mudei para outro noticiário, e este acusava aquela de ter-lhe roubado a quantia citada…

É disto que a Imprensa se alimenta e serve prazenteiramente aos portugueses famintos. Justifica-se argumentando que é disso que os portugueses mais gostam…E se eles gostam de porcaria, ela acha que tem o dever de dar-lha!

Apaguei a televisão e almocei calmamente, saboreando uma rica caldeirada de peixe fresco, muito melhor e agradável que aquela que a Comunicação Social me pretendia servir.

Carapuças destas, não enfio. Nem que sejam do BCP, nem do BP, nem do FCP, nem do diabo que os leve a todos.

Sem comentários: