Crónica da república do faz de conta
Infelizmente os problemas que afligem os cidadãos do meu País não se reduzem às simplistas e superficiais opiniões da maioria dos senhores comentaristas de serviço na Imprensa. Claro que eles ganham a vida, por vezes, emitindo essas opiniões e por isso os técnicos que se matam a estudar a sério esses problemas e as situações deles decorrentes, correm sempre o risco de serem atropelados e chamados qualquer nome feio por esses senhores, se não correspondem às suas belas ideias feitas. Mas de belas ideias está o mundo bem cheio. De belas obras, bem pouco!
Quando os romanos invadiram a Ibéria e expulsaram os cartagineses, conseguiram uma coisa importante, a romanização dos povos autóctones, deixando-nos como prenda, além de monumentos espectaculares e outros benefícios, a sua ímpar cultura jurídico-administrativa. A Idade Média não conseguiu apagar essa cultura que saiu vencedora, após mil anos, e foi a base de toda a arquitectura jurídica dos países ocidentais da Europa, fazendo juz ao aforismo romano DURA LEX, SED LEX, seguido à risca por todos menos por um…Portugal!
Este meu País de Brandos Costumes que foi submetido pelas legiões romanas de César, entre outros, sem esforço de maior, tornou-se uma nação sabedora, feita de experiência, habituada a dar a volta às grandes dificuldades com jeito e artimanha, ultrapassando assim a violência e a força dos vizinhos poderosos.
Mas não há bela sem senão. O carácter da gente nacional foi-se fazendo à imagem dessa necessidade, vencendo pela astúcia tudo e todos, e a última vítima, depois da derrota do Feudalismo Medieval, da Inquisição e da Tirania Monárquica Iluminada, foi a própria Lei Democrática.
No meu País de Brandos Costumes é dificílimo fazer leis simples, pela discussão eterna que suscitam, e fazem-se leis incrivelmente complexas com uma facilidade espantosa, porque pouca gente ou ninguém as discute. O pior vem quando essas leis, quaisquer que sejam, chegam ao grande público. E então, a discussão começa sempre com uma violência inaudita, que as torna de muito difícil aplicação.
Ao contrário dos restantes países europeus, o cumprimento das leis aprovadas pela Assembleia da República, o órgão legitimo para fazê-lo, é sempre questionado pelos cidadãos, na busca sistemática de torneá-la e à própria autoridade, à própria Justiça, se possível.
O curioso - e trágico! - é que são muitas vezes as classes mais cultas a manter, apoiar e até incentivar esta maneira de actuar da restante população quando ela acata as leis, aparentemente sem grandes oposições….
Assim, olhando de fora, de longe e sem interesses económicos ou partidários, toda a panóplia de artigos comentados na Comunicação Social, depressa nos apercebemos do tom anti-lei que prospera na Imprensa, criando-se uma ideia muito pouco abonatória para ela. Mas que outra coisa seria de esperar, se os comentaristas fazem parte do povo português?
E assim, meu País dos Brandos Costumes, onde a permissividade às leis é, pois, um lugar comum, assisto, com razão e infelizmente, ao espectáculo de uma Imprensa, que se faz mentora da Sociedade, comportar-se como defensora dessa mesma permissividade.
Agora, o prato do dia na Comunicação Social são os excessos da ASAE, da mesma forma que há algum tempo atrás eram os excessos da Polícia, o autismo e a prepotência excessiva do Fisco, a insensibilidade estúpida do Ministro da Saúde, a violência parva da Ministra da Educação para com os professores, a tirania das autarquias e do Governo ditatorial que atenta contra as liberdades individuais com radares, os videos de protecção dos cidaddãos, ou pelo simples motivo de querer fazer cumprir a lei implacavelmente na Imprensa, na Saúde, no Trabalho, na Educação, na Justiça, no Desporto, nas Obras Públicas, na Economia e Finanças, na Administração Pública, etc.
No meu País de Brandos Costumes, por outros também chamado de País do Faz de Conta, o objectivo final de muita gente é um só: tornear as leis. em benefício próprio, o que será tomado como esperteza e elogio digno de nota; cumpri-las é pura tontaria…ou beatice, mesmo nas coisas mais comezinhas. E assim, o aumento da produtividade nacional é uma miragem.
Como deve ser bom, para esses fazedores de opinião encartados, fumar um cigarrinho à socapa, num local onde é proibido, e atirar a beata para o chão, só para chatear. Ou ir à caça para uma zona proibida, à revelia da GNR. Ou tomar uma bica numa chávena mal lavada, numa tasca perdoada pela ASAE, por uma questão humanitária…
Para o diabo a lei, os fiscais, o director da ASAE, o Sócrates ou qualquer outro, a CE…
Viva a república dos finórios do costume!
Sem comentários:
Enviar um comentário