sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A CORRUPÇÃO NAS BOCAS DO MUNDO

Uma solução fácil

Agora, desde que o senhor Bastonário da Ordem dos Advogados lançou o mote, falar da corrupção está na moda, no país dela. Não é a primeira vez que isto acontece, nem será a última.

No entanto, eu pressinto que o combate à corrupção ficará no tinteiro, tanto mais quanto maior é a propaganda feita contra ela. Quero dizer com esta afirmação, talvez chocante para muitos, que toda a fofoca que está a encher as páginas e os ecrãs da Comunicação Social vai transformar-se, no fim do prazo, em pura propaganda a este mal nacional. Mas é fácil perceber porquê.

Em primeiro lugar porque os corruptos vão ficando mais avisados e tornam-se mais precavidos. E, sendo assim, o seu número tranquilamente aumenta.

Depois, como todos sabemos, a quantidade de leis anti corrupção que existe no País é um exagero, provavelmente em relação com a sofisticação cada vez maior das práticas e dos meios que ela utiliza. E, deste modo, dificulta-se a sua aplicação.

Serão, por sua vez, as pessoas que periodicamente levantam na C.S. o problema da corrupção desejosas de protagonismo? Objectivamente, o problema poderá ser atacado de frente dessa maneira, isto é, clamando por mais atenção sobre ele? Haverá muitas outras interrogações a fazer…e haverá sempre muitas hipóteses a considerar, quase tantas como os dez milhões de portugueses a entrar na discussão! Mas, quanto à resolução do problema, ZERO!

A corrupção, em Portugal e noutros países, sejam do primeiro, do segundo ou do terceiro mundo, é um mal que só se vai atenuando com a educação e o civismo das gentes e não são as grandes condenações aos carteiristas, os castigos exemplares aos corruptos mais poderosos e assim por diante, que acabarão com ela. No Irão, na China e até nos EUA, a pena de morte não tem chegado para pôr-lhe fim, nem sequer aterrorizar grandes e pequenos corruptos. Os exemplos de fraudes ocorridas nos maiores bancos e empresas norte americanas, inglesas, francesas, italianas com repercussões tremendas na Bolsa, nas instituições e na população, são paradigmáticos. Nem vale a pena falar das máfias, dos cartéis da droga que corrompem impunemente tudo e todos, que subvertem a moral principalmente em países que se dizem no topo da civilização, onde fazem impunemente a maior e mais vergonhosa lavagem de dinheiro de que há memória, dando à banca, e tirando por sua vez dessa manobra, lucros astronómicos, ante os quais a corrupção portuguesa são trocos.

Entre nós, parece que pegou de estaca o tráfico de influências nos negócios da Construção Civil em que a componente pública tem larga preponderância, mas ele estende-se igualmente às profissões mais diversas, abrangendo os bancos e grandes empresas, o futebol, etc. e todo um razoável leque de cidadãos, desde os mais pequenos aos mais poderosos.

E é por isso que a opinião pública tem de tudo isto uma ideia precisa e demolidora, culpando as autoridades, as polícias, os inquéritos e os julgamentos sem fim e sem resultados. As autoridades garantem acção, mas deixam-se arrastar na discussão estéril. As polícias passam o tempo a queixar-se da falta de meios. Os inquéritos nunca obtêm provas de nada e só encobrem as suspeitas. Os julgamentos terminam frequentemente em arquivamento e os juízes queixam-se permanentemente das leis que existem.

Tenho lido a respeito da corrupção, e agora acerca das palavras do Bastonário, comentários certeiros e desenvolvimentos espectaculares. Mas nada disso é inédito e repete-se de tempos a tempos.

E também não adianta, infelizmente, o que quer que seja.

Paira na opinião pública uma sensação de indiferença, mais ainda, de fracasso total que ninguém consegue apagar ou, pelo menos, inverter.

Mas pior que tudo, como se não bastasse a fraca opinião que os portugueses têm de si próprios, dos órgãos de soberania, das suas autoridades, da polícia e da própria justiça, fica ainda a esvoaçar na cabeça de muita gente simples, a ideia sinistra de que, sendo assim, o melhor é aproveitar o que resta…e fazer o mesmo…como os outros (eles é que são espertos, é que fazem bem)...antes de ficar sem nada…

Se a ideia vinga, se passa das palavras aos actos, Deus nos ajude!

Já não sei, mesmo agora, se a ajuda virá na hora.

Pela minha parte, penso que estamos ainda a tempo de solucionar o problema. Tenho na mão o ovo de Colombo: deitar dois terços da legislação anti corrupção existente para o lixo e fazer cumprir a restante de alto a baixo, sempre, em todas as situações e ocasiões sem excepção, sem tergiversações de qualquer espécie, com a justiça a actuar na hora.

O difícil será encontrar quem consiga pô-lo em prática. Deve ser mais fácil procurar uma agulha num palheiro…

Sem comentários: