quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A ESPECTACULAR EFICÁCIA PORTUGUESA

Não há pachorra!

«Enquanto altos responsáveis da Judiciária lamentaram ao CM o “silêncio” das autoridades inglesas ao longo de todo o mês, os serviços de justiça britânicos desfizeram ontem o mistério: não receberam “quaisquer pedidos de colaboração para que sejam feitos interrogatórios” a amigos dos McCann. E faltava contactar a Procuradoria-Geral da República – que, afinal, confirma o impensável para a PJ. As cartas não seguiram mesmo.»

Não vale a pena transcrever o resto da longa explicação para o facto citado, na verdade um enredo tão complexo como a telenovela «Morangos Com Açúcar», mas muito mais opaca, muito menos interessante que esta, apesar de não ser do meu género.

Também não me apetece ler uma segunda vez. Uma só chega e basta! Provavelmente, da próxima nem sequer olho de raspão. E farei mal, que todo o cidadão deve procurar saber sempre quais as linhas com que o cozem!

De qualquer maneira, fico sempre triste, mesmo muito triste, quando vejo estes espectáculos anacrónicos e bizarros denunciadores, não só da nossa consabida burocracia que serve para camuflar muitas outras deficiências, mas de uma falta de profissionalismo a toda a prova, da parte de quem deveria dar só bons exemplos. Que outra coisa se poderá chamar, ou acrescentar a esta falta de profissionalismo? Talvez abandono, desleixo, laxismo, ignorância…para não pensar noutros palavrões mais acutilantes como o despeito, a vingançazinha entre pessoas e instituições concorrentes para o bem comum, mas que parecem trabalhar em linhas paralelas, as tais que só se encontram, por hipótese, no infinito…

Frequentemente me insurjo contra a Imprensa coscuvilheira e propagandista do acessório, do fútil, do crime, daquilo que não deveria interessar a ninguém, mas não sei como classificar uma notícia destas, dentro das minhas linhas normais de apreciação. Provavelmente terei que alargar o perímetro.

Nos tempos do Estado Novo, uma notícia destas era impensável, por dois motivos: em primeiro lugar, porque os factos, possivelmente devido ao medo e à fiscalização existente, não teriam acontecido; em segundo lugar porque, mesmo tendo ocorrido, levariam o lápis vermelho da censura e não seriam publicados, portanto muito menos seriam do conhecimento do grande público. Deste modo nunca eram conhecidos os erros ou descuidos da Justiça, da PJ, da PIDE, dos Médicos, das Administrações Públicas ou Privadas de peso, das Universidades e Institutos, do Clero, enfim de tudo o que pudesse por em causa o Regime ou a sua política.

E veio a Democracia, com todas as suas vantagens e a liberdade para o cidadão comum. Ele tem o direito de conhecer tudo o que se passa no País, para poder julgar, na altura devida, aqueles a quem entregou a direcção do Estado e das Instituições…que todos queremos com letra grande! E a Imprensa tem também o dever de informá-lo com verdade, isenção e honestidade.

Claro que a Imprensa cumpriu aqui, correctamente, o seu dever.

Há dias, acabava eu meia dúzia de linhas mal amanhadas, em desânimo fruto de umas quantas notícias parecidas com esta que encima a minha crónica, dizendo que, mesmo contra os meus princípios, quase era tentado a acreditar que estava num país de caca…

Quase!

Por enquanto ainda não acredito que este seja o país de caca que tantos se esforçam por fazer. Provavelmente estavam habituados à eficiência do cacete. Por isso abusam da liberdade democrática que teimam em não compreender, qualquer que seja a classe em que se insiram na nossa Sociedade.

De quanto tempo necessitarão ainda, para que aprendam de vez que o direito alienável à liberdade de que desfrutam lhes impõe o dever sem excepções de cumprir lealmente e com profissionalismo as leis da República, ao serviço do bem comum?

Não há pachorra!

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