sábado, 4 de outubro de 2008

UNIVERSIDADES A METRO

Falências em série

O 25 de Abril, trazendo consigo a expansão do ensino em Portugal, trouxe à Nação um bem inestimável de que estivera privado ou em banho-maria durante centenas de anos. Realmente, o País vivia, no início dos anos 70, no limbo do analfabetismo generalizado de 60% das classes social e economicamente desfavorecidas, e do ensino superior efectivamente dedicado a 50000 alunos das classes social, política e economicamente mais elevadas.

Alguém disse já que o principal defeito da governação do Estado Novo não foi a Censura e falta de liberdade, nem a Guerra de África, nem a Industrialização incipiente, nem a multiplicação das Corporações e capelinhas, mas simplesmente a falta de um investimento sério na Educação das populações. Provavelmente, assim convinha às classes dominantes.

Após a revolução de Abril, as portas do ensino foram abertas de par em par, no sentido louvável de recuperar o atraso, e assim o analfabetismo está quase totalmente erradicado nos dias de hoje, permanecendo apenas um remanescente de idosos, prestes a desaparecer dentro de pouco tempo, e pouco mais.

Também no ensino secundário, limitado anteriormente a escassas centenas de milhar de estudantes, se passou para a classe dos milhões.

E no Ensino Superior, passou-se dos 50000, para cerca de 300000 alunos! Nesta sua progressão espantosa em tão poucos anos, não isenta aqui e ali de algumas falhas, como é natural, desempenharam grande papel as Universidades Públicas, mas também as Universidades Privadas, coisa quase desconhecida e sem autorização de funcionamento pelo regime deposto, salvo raríssimas excepções. Têm prestado todas, à Nação, valiosíssimos serviços.

Mas não há bela sem senão.

A liberalização do ensino superior trouxe consigo uma onda de optimismo, por vezes aliado ao negócio fácil, explorando a básica ânsia de conhecimento de gente de todas as classes sociais e idades, e o seu incentivo, ambos mais que legítimos. Assim nasceram, por iniciativa particular e com o apoio do Estado, as Universidades Privadas, instaladas ou com pólos de ensino nos quatro cantos do País, mesmo nalguns de fraco nível populacional e económico. Assistiu-se, para cúmulo, a uma pulverização de cursos de utilidade duvidosa, de controlo pouco eficaz, por vezes com logística pouco clara, a acrescentar a uma base económica já com pés de barro. Era, pois, inevitável, que ao optimismo inicial se sucedesse algum oportunismo, a jogadas menos transparentes para aguentar negócios, em instituições onde era supostamente necessário apenas manter níveis dignos de ensino. Enfim, maus exemplos.

O Ministério da Ciência e Ensino Superior achou que já era chegado o tempo de intervir activamente no sistema com um processo de inspecção eficaz. Alguns escândalos foram surgindo e o encerramento de algumas universidades privadas foi determinado. Com razão. Entretanto, alguns espertos se abotoaram com lucros imoralmente obtidos, durante anos, à custa da exploração dos alunos, as vítimas inocentes e crédulas, antecipadamente anunciadas mas mal protegidas.

Ficaram, enfim, para a estatística dessas irregularidades, o número exagerado de cursos explorados sem objectivos profissionais, a docência deficiente e multidisciplinar, a falta de instalações e de equipamentos decentes, a falência económica, etc.

Assim se chega ao fecho em série de algumas instituições de ensino degradado e sem condições de viabilidade económica, resultado de uma certa abertura, a metro, das Universidades Privadas.

Tinha que acontecer, mesmo num universo maioritariamente de boas instituições, algumas até excelentes.

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