sábado, 4 de outubro de 2008

AGRESSÕES GRATUITAS

Educação e falta dela

Há dois ou três dias, os pais de uma criança lembraram-se de agredir a professora, fazendo justiça pelas próprias mãos. Qual justiça? A sua, está visto. O caso é que a justiça dos pais foi feita às avessas.

Naquele dia a criança não tinha apresentado os trabalhos de casa e a professora deu-lhe ,como castigo, a oportunidade de fazê-los, numa das mesas da cantina, antes de regressar a casa. O aluno recusou. Um colega telefonou aos pais, avisando do sucedido, e estes compareceram imediatamente. Insultaram professores e funcionários que tentaram explicar a ocorrência, e terminaram agredindo a professora.

Mas as coisas não ficaram por aqui. Como a escola apresentou queixa-crime, contra os pais, a avó dirigiu-se à escola e ameaçou toda a gente que se lhe apresentou à frente, com represálias, se a queixa-crime não fosse retirada.

Ora factos como este, eram extremamente raros há cinquenta anos atrás, ou mesmo há trinta. Nessa época, os pais teriam ido à escola falar com a professora, chamariam a atenção ao aluno ou, o mais provável até, castigá-lo-iam, não só pela sua falta no cumprimento dos deveres de casa, mas também pela forma incorrecta como se portara com ela. Por último, dariam os seus agradecimentos à professora que os ajudava tão diligentemente a fazer do filho um verdadeiro homem de amanhã. Isto passava-se numa época em que vigorava a ditadura, ainda havia vestígios da utilização da célebre menina-de-cinco-olhos, existia censura de imprensa, etc. Os professores eram, na escola, os representantes delegados dos pais, no ensino e na educação dos filhos.

Mas agora, num tempo em que todas essas coisas são passado, em que a liberdade exige o aumento da responsabilidade dos cidadãos e democratizou o ensino, tornando-o extensivo a gentes de todas as classes sociais, a educação parece o parente pobre da democracia que caminha, paralelamente ,no sentido inverso, dominada pela violência, pelas dificuldades da vida, mas também por um certo laxismo instalado na sociedade! Se o ensino vai chegando a todos, onde ficou , pois, retida a educação? Não sei. Só sei que muitos pais, ao contrário do que seria de esperar, a desaprenderam e se demitiram de ensiná-la aos seus filhos.

São esses pais que à educação e ao civismo deixam muito a desejar, que não admitem que a professora faça uma repreensão ao filho, que a «castigam» de seguida com a sua agressão física gratuita, insultando simultaneamente toda a escola. Inacreditável!

Não é preciso proclamar que, casos como estes são de enorme gravidade para o ensino, em geral.

Mas ainda pior que as circunstâncias e a forma desta agressão, são os comentários de vários utilizadores da Internet, à notícia ali veiculada, para os quais a função dos professores é apenas ensinar e não educar, pelo que reprovam a atitude da professora, exigem a o seu castigo e aprovam a violenta posição dos pais!

Em que país estamos?

A falta de educação e a violência que se manifestam a cada passo, em circunstâncias idênticas ou outras, devem ser faladas, ponderadas pelas Associações de Pais e pelas Autoridades Escolares responsáveis, além dos próprios professores, está visto e devem ser estudadas e adoptadas medidas adequadas para erradicá-las do meio estudantil. Não podem ficar em branco!

O mal está feito, desta vez já não é possível voltar atrás. Oxalá a queixa-crime seja levada até às suas últimas consequências, para benefício da credibilidade do Corpo Docente, da Escola em geral e da própria Justiça.

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