Já é um lugar comum dizer que a Madeira é um jardim. É mesmo o jardim das delícias, não o Éden da Bíblia, mas, de qualquer modo, para alguns, já não falando nos turistas, é mesmo uma beleza, uma delícia de regalar os olhos.
A Madeira é também a delícia do Dr. Jardim, o que não é bem a mesma coisa!
Ora, numa delícia dessas, para que são precisos os tribunais? Para quê, sobretudo, quando emitem sentenças que não agradam? Segundo Jardim, acabe-se com eles! O Tribunal Constitucional já foi ameaçado e, se fosse ele que mandasse...
Enfim, todos os paraísos têm o seu inferno próprio.
No Éden, ao princípio, também não consta que houvesse tribunais. Provavelmente foi por isso, por pensarem que nunca eram julgados, que Adão e Eva se meteram em bolandas de idílios apetitosos, comendo fruta que não deviam. Mas Deus não estava a dormir, como pensavam, e castigou-os para todo o sempre. Gozar, quando é proibido, tem os seus custos!
Depois desta lição, ao mesmo tempo poética e séria, como vem descrita na Bíblia, a Humanidade pensou que deveria ter tribunais mais visíveis que a Divindade, a julgar no terreno as suas malfeitorias e a lembrar-lhe, permanentemente, que deveria portar-se bem, para não haver o castigo merecido logo ali ao virar da esquina.
Desde há alguns milénios, ou não fosse a Bíblia o livro de maior difusão em toda a Humanidade, estas e outras «ninharias» foram lidas, empoladas, esquecidas, vilipendiadas, metidas no lixo, queimadas e ressuscitadas montes de vezes, no mundo inteiro, pelo menos no mundo de cultura judaica, cristã e islâmica. A verdade, porém, é que os tribunais humanos ficaram e perdurarão para sempre.
Também outras culturas adoptaram o uso de tribunais para dirimir contendas e fazer julgamentos, todos eles com maior ou menor sucesso. E assim apareceram, por todo o lado, tribunais para todos os gostos, de todas as formas e feitios, como os tribunais dos anciãos, os tribunais plenários, os tribunais supremos, os tribunais sumários e os tribunais de vão de escada. Isto para não falarmos do Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição e de outros Santos Tribunais , mais ou menos sofisticados, mais ou menos incipientes ou ad hoc que diversas religiões e políticas, com os mais diversos desígnios, determinam ainda por cima que são infalíveis...
Ora todos sabemos que ninguém é infalível, neste mundo. E agora, numa época em que o cálculo de probabilidades está na moda, as estatísticas nos assombram e as sondagens publicitadas pela Comunicação Social nos orientam a vivência do dia a dia, certas profissões até há poucos anos tidas como infalíveis, como a Justiça e a Medicina, começam a sentir os seus efeitos, sendo frequentemente postas em causa as suas decisões, tanto mais que são determinantes da vida ou até da morte das pessoas. É certo que com essas coisas não se brinca, pelo menos com a facilidade com que se fazia antigamente, embora ainda se vejam por aí aberrações mirabolantes e hediondas.
Por isso, neste mundo que não é a preto e branco, como às vezes julgam, onde o bem e o mal se confundem, no cinzentismo que nos acompanha desde o nascimento até à morte, a persistente observância de princípios morais inquestionáveis e o simples bom senso tornaram-se coisas essenciais na convivência diária, se quisermos desfrutar de alguma felicidade terrena, ao menos, por alguns momentos. Dentro dos tribunais e fora deles, com tribunais, com códigos, ou sem eles.
Só assim poderemos gozar um pouco das delícias deste jardim que é a Terra que poderia dar pão e felicidade a todos, se não houvesse uns quantos que desejam Deus apenas para eles e o diabo para os outros. É o cúmulo do radicalismo egoísta que, se não consegue deixar de cumprir as leis ou ultrapassar os tribunais que zelam por elas, tenta por todos os meios destruí-los, no mínimo substitui-los por outros mais de acordo com os seus próprios interesses!
Felizmente ainda há alguns pequenos paraísos dispersos por aí e a Madeira, como disse, é um deles, com as suas gentes cordatas, os seus panoramas de cortar a respiração e os jardins floridos enfim, um paraíso onde não deviam caber as tiradas indecentes, demagógicas, populistas e oportunistas do Jardim da Quinta Vigia, desta vez a destilar o seu veneno sobre o incómodo Tribunal Constitucional da Nação. Incómodo para ele, claro!
Mas em política, assiste-se a coisas do arco-da-velha.
Não me esqueço de uma certa campanha eleitoral para legislativas a que assisti há anos, num país da América do Sul, em que um dos candidatos menores se entretinha, sistematicamente a insultar os maiores, os possíveis vencedores, chamando-lhes incompetentes, mentirosos, corruptos, etc. A certa altura de um comício público, depois de passar largo tempo a denegrir assim os opositores, resolveu vangloriar-se, com gestos largos e uma tirada eloquente:
-Yo, al menos, tengo las manos limpias!
E logo, do fundo da multidão numerosa, se ouviu uma voz gritando bem alto:
-Y la boca sucia!A Madeira é também a delícia do Dr. Jardim, o que não é bem a mesma coisa!
Ora, numa delícia dessas, para que são precisos os tribunais? Para quê, sobretudo, quando emitem sentenças que não agradam? Segundo Jardim, acabe-se com eles! O Tribunal Constitucional já foi ameaçado e, se fosse ele que mandasse...
Enfim, todos os paraísos têm o seu inferno próprio.
No Éden, ao princípio, também não consta que houvesse tribunais. Provavelmente foi por isso, por pensarem que nunca eram julgados, que Adão e Eva se meteram em bolandas de idílios apetitosos, comendo fruta que não deviam. Mas Deus não estava a dormir, como pensavam, e castigou-os para todo o sempre. Gozar, quando é proibido, tem os seus custos!
Depois desta lição, ao mesmo tempo poética e séria, como vem descrita na Bíblia, a Humanidade pensou que deveria ter tribunais mais visíveis que a Divindade, a julgar no terreno as suas malfeitorias e a lembrar-lhe, permanentemente, que deveria portar-se bem, para não haver o castigo merecido logo ali ao virar da esquina.
Desde há alguns milénios, ou não fosse a Bíblia o livro de maior difusão em toda a Humanidade, estas e outras «ninharias» foram lidas, empoladas, esquecidas, vilipendiadas, metidas no lixo, queimadas e ressuscitadas montes de vezes, no mundo inteiro, pelo menos no mundo de cultura judaica, cristã e islâmica. A verdade, porém, é que os tribunais humanos ficaram e perdurarão para sempre.
Também outras culturas adoptaram o uso de tribunais para dirimir contendas e fazer julgamentos, todos eles com maior ou menor sucesso. E assim apareceram, por todo o lado, tribunais para todos os gostos, de todas as formas e feitios, como os tribunais dos anciãos, os tribunais plenários, os tribunais supremos, os tribunais sumários e os tribunais de vão de escada. Isto para não falarmos do Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição e de outros Santos Tribunais , mais ou menos sofisticados, mais ou menos incipientes ou ad hoc que diversas religiões e políticas, com os mais diversos desígnios, determinam ainda por cima que são infalíveis...
Ora todos sabemos que ninguém é infalível, neste mundo. E agora, numa época em que o cálculo de probabilidades está na moda, as estatísticas nos assombram e as sondagens publicitadas pela Comunicação Social nos orientam a vivência do dia a dia, certas profissões até há poucos anos tidas como infalíveis, como a Justiça e a Medicina, começam a sentir os seus efeitos, sendo frequentemente postas em causa as suas decisões, tanto mais que são determinantes da vida ou até da morte das pessoas. É certo que com essas coisas não se brinca, pelo menos com a facilidade com que se fazia antigamente, embora ainda se vejam por aí aberrações mirabolantes e hediondas.
Por isso, neste mundo que não é a preto e branco, como às vezes julgam, onde o bem e o mal se confundem, no cinzentismo que nos acompanha desde o nascimento até à morte, a persistente observância de princípios morais inquestionáveis e o simples bom senso tornaram-se coisas essenciais na convivência diária, se quisermos desfrutar de alguma felicidade terrena, ao menos, por alguns momentos. Dentro dos tribunais e fora deles, com tribunais, com códigos, ou sem eles.
Só assim poderemos gozar um pouco das delícias deste jardim que é a Terra que poderia dar pão e felicidade a todos, se não houvesse uns quantos que desejam Deus apenas para eles e o diabo para os outros. É o cúmulo do radicalismo egoísta que, se não consegue deixar de cumprir as leis ou ultrapassar os tribunais que zelam por elas, tenta por todos os meios destruí-los, no mínimo substitui-los por outros mais de acordo com os seus próprios interesses!
Felizmente ainda há alguns pequenos paraísos dispersos por aí e a Madeira, como disse, é um deles, com as suas gentes cordatas, os seus panoramas de cortar a respiração e os jardins floridos enfim, um paraíso onde não deviam caber as tiradas indecentes, demagógicas, populistas e oportunistas do Jardim da Quinta Vigia, desta vez a destilar o seu veneno sobre o incómodo Tribunal Constitucional da Nação. Incómodo para ele, claro!
Mas em política, assiste-se a coisas do arco-da-velha.
Não me esqueço de uma certa campanha eleitoral para legislativas a que assisti há anos, num país da América do Sul, em que um dos candidatos menores se entretinha, sistematicamente a insultar os maiores, os possíveis vencedores, chamando-lhes incompetentes, mentirosos, corruptos, etc. A certa altura de um comício público, depois de passar largo tempo a denegrir assim os opositores, resolveu vangloriar-se, com gestos largos e uma tirada eloquente:
-Yo, al menos, tengo las manos limpias!
E logo, do fundo da multidão numerosa, se ouviu uma voz gritando bem alto:
Com esta me despeço.
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