Parece que, finalmente, a Imprensa Nacional já caçou a crise! Não foi fácil. Andou por montes e vales, de caçadeira aperrada, com rodeios às tocas mais suspeitas, até que apontou para um alvo maior, em perigoso movimento de investida, e acertou!
Desde ontem à tarde, novos disparos à crise têm vindo a inflamar os olhos e a matraquear os ouvidos do pessoal. Mas, nem mesmo assim, com essa importância toda dada ao assunto, a caçada à caça grossa foi completa, porque apareceu outro coelho, como que saído da cartola, o desafio de futebol Leixões-Benfica!
Coelhos destes são sempre os preferidos dos caçadores de eventos. È fácil acertar neles, mesmo sendo inexperientes. Por isso são tão procurados. Não só. São práticos de cozinhar e apresentar nas notícias, à mesa das tasquinhas e restaurantes típicos que há por aí...e até nos cafés da esquina. O Futebol foi um coelho que se democratizou com extrema facilidade. E tem ainda um pormenor interessante, este animalzinho; salta por cima de todas as crises maiores que se lhe apresentam à frente, sobrevive, multiplica-se de uma forma assustadora, invadindo todo o planeta, até aos locais mais recônditos, ele que ainda apenas há pouco mais de um século conseguiu fugir da Inglaterra industrializada e passar aos campos do Continente, do outro lado do Canal da Mancha! Não admira nada, pois, que tenha tomado conta da Imprensa. Coitada, agora já não consegue livrar-se desta praga, mesmo com as caçadeiras todas apontadas.
O Futebol é pior que a Marabunta!!!
Por isso é que me apeteceu hoje tecer alguns elogios à nossa Imprensa, pela valentia em se dirigir à caça grossa, à Caça da Crise, a autêntica, com maiúsculas e tudo. Tardou, custou, mas conseguiu! Deve ter feito um esforço titânico, porque esta crise não se mata com caçadeiras de trazer por casa, nem com tirinhos de ocasião, como o coelhinho do futebol, necessita da cooperação de meio mundo, provavelmente do mundo todo e da Imprensa de Todo o Mundo! Mal fora que a Imprensa Nacional ficasse de fora, nesta caçada internacional, como chegou a parecer, até há poucos dias, em que apenas apontava de longe e a medo!
Apenas uma pequena sombra ficou a toldar esta caçada, este feito corajoso.
É que os jornais de hoje, ainda fazem a pontaria certeira às incidências do jogo Leixões-Benfica, menos ao Leixões, de uns quantos pescadores do Norte, e mais ao Benfica, por causa dos seus milhões de simpatizantes, pois lá dizia o tal furioso que ficou célebre, com o garrafão debaixo do braço e um pifo dos diabos que, «quem não é do Benfica, não é bom português, nem bom chefe de família»! Sem ofensa, claro, para os adeptos de outros clubes.
Finalmente, parece que já descobriram, também, que esta crise das crises chega a toda a parte! Não queriam acreditar, mas tiveram que fazê-lo.
Mesmo assim, pesar da sua enorme dimensão e importância, que ameaça desgraçar-nos a todos, ainda se atrevem os nossos periodistas a servir-nos, como aperitivo, entremeio ou sobremesa, o obrigatório coelho, produto da caça fácil, o desafio de futebol de ontem!
Por isso, desde as dez e tal da noite até hoje de manhã, fui mesmo obrigado a fazer uma ginástica mental tremenda para conseguir separar, tão preparadas e cozinhadas lado a lado mas serviram, nos repetidos banquetes oferecidos pela Imprensa, a caça grossa, da miúda, a Crise Económico-Financeira Mundial, da Crise do Benfica!
Como dizia a minha avozinha, seja pelo perdão dos nossos pecados!
Está um dia de chuva e já tenho visto coisas piores.
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