Já sei que alguns me vão dizer que é mais fácil ter um cão que adoptar uma criança. Mesmo assim, quero insistir com os amigos dos animais, que o número de crianças desnutridas, no nosso país, talvez seja maior que o número de cães, o que dá para pensar seriamente nos contra-sensos desta Humanidade desumana. Fico por aqui, que o caso é outro.
Antigamente os cães eram classificados, de forma simplista, em quatro categorias: cães de estimação, cães de guarda, cães de caça e cães vadios. Todos eram aparentemente saudáveis, provavelmente mais saudáveis que os humanos, mesmo os escanzelados. E também adoeciam e morriam sem se dar a esse facto grande importância. Talvez porque, na maioria, eram cães vadios.
O cão sempre foi de grande utilidade para o homem, mas nunca passou de membro menor da família. Passavam-lhe a mão pelo pêlo, de vez em quando, mas davam-lhe um osso para roer e alguns restos da comida que sobrava. E também uns bons pontapés.
Ficar escanzelado e morrer como um cão era sinónimo de morrer desprezado pela família e pela comunidade, muito embora houvesse, como em tudo, as excepções da ordem.
Até que, com a descoberta da forma de transmissão de certas doenças, os cães foram enquadrados na lista de animais potencialmente perigosos para o homem. São várias as doenças caninas susceptíveis de causar problemas à espécie humana, mas felizmente que, desde os fins do século XIX, a descoberta das vacinas, dos soros, de agentes quimioterápicos vários, das sulfamidas e dos antibióticos trouxe a cura de muitas doenças, nos cães e no homem, como por exemplo, a raiva e a oxiurose, dois flagelos quase erradicados do mundo civilizado.
Outro aspecto decorrente da utilização intensiva dos cães, que pôs a humanidade em posição de defesa, na actualidade, foi a ferocidade de certos cães de guarda, proveniente de um forte abuso no apuramento intensivo e persistente de algumas raças.
Certo que nem sempre o apuramento de raças conduziu a resultados negativos. São exemplos de apuramento de raças no bom sentido os famosos cães pisteiros da polícia, os pesquisadores de droga, os cães perdigueiros, os cães pastores, os guias de cegos, os São Bernardo, etc., etc. Também algumas aberrações tiveram lugar, como os agressivos cães de guarda que têm causado, a muitas pessoas, as mais diversas lesões e até a morte.
A legislação de vários países tentou ordenar e pôr regras na convivência entre estes animais e os seres humanos, até ser criado, na maioria dos países, um bilhete de identidade canino ou, pelo menos, um registo de cães ou a sua ficha de saúde onde foi possível inscrever e tracejar a sua origem, as suas vacinas, as suas doenças e respectivos tratamentos. Os donos, as entidades administrativas indicadas e o sistema veterinário de vigilância são os responsáveis pelo bom funcionamento desse sistema.
Ora, em Portugal, foi descoberta há dias, uma coisa singular.
«Apesar da lei sobre o controlo dos cães de raças perigosas, a Ordem dos Veterinários alerta que «há perto de um milhão de cães por identificar», uma vez que as juntas de Freguesia falham no envio dos registos para a Direcção-geral de Veterinária «Actualmente, existem cerca de 40 mil animais domésticos registados no sistema de identificação de registo, sendo que 9.500 cães são considerados «potencialmente perigosos», mas, para o bastonário, José Cardoso Resende, «os números estão muito longe da realidade».
«O responsável justifica que «o número de animais registados é muito inferior ao número daqueles que são vacinados anualmente», o que prova «uma falha das juntas de Freguesia», que «não actualizam a base de dados». Cardoso Resende acusa, pelo menos, duas mil juntas de Freguesia de não cumprirem a lei, mas o presidente da Associação Nacional de Freguesias, Armando Vieira, garante que se trata de «uma questão pontual», que tem a ver com a «dimensão da freguesia e os seus recursos».
E aqui está, mais uma vez o que já é um lugar comum, isto é, quando algum problema grave é posto a nu, geralmente tarde e a más horas, nunca se consegue identificar o culpado. Mas o pior não é isso, mas antes o laxismo tradicional, a ausência de uma tentativa ou de simples busca de soluções para resolvê-lo, tudo mais por desleixo atávico que por outras esfarrapadas desculpas ou justificações.
Um milhão de cães sem registo é obra! Quantos serão perigosos? Quantos mais que os citados 9500?
Ninguém sabe.
Como é possível? Não sei, mas algo não bate certo.
Como de costume, alguém começou já a badalar que a legislação tem que ser mudada, que a actual tem vírgulas a mais ou a menos e por aí fora.
Como sempre e em tudo, em qualquer situação, só sei uma coisa: a lei vigente, sobre os cães (ou sobre o que for), não é rigorosamente cumprida, no mínimo apenas cumprida em parte. Por quê?
Porque todos juram a pés juntos que não é aplicável, porque é desadaptada às circunstâncias, acima de tudo porque há falta de meios ou de condições...etc.
É sempre assim. O registo dos cães, ou a falta dele, é apenas mais um caso menor, igual a tantos outros.
Nem Fátima nos conseguirá salvar deste fundo buraco negro.
Antigamente os cães eram classificados, de forma simplista, em quatro categorias: cães de estimação, cães de guarda, cães de caça e cães vadios. Todos eram aparentemente saudáveis, provavelmente mais saudáveis que os humanos, mesmo os escanzelados. E também adoeciam e morriam sem se dar a esse facto grande importância. Talvez porque, na maioria, eram cães vadios.
O cão sempre foi de grande utilidade para o homem, mas nunca passou de membro menor da família. Passavam-lhe a mão pelo pêlo, de vez em quando, mas davam-lhe um osso para roer e alguns restos da comida que sobrava. E também uns bons pontapés.
Ficar escanzelado e morrer como um cão era sinónimo de morrer desprezado pela família e pela comunidade, muito embora houvesse, como em tudo, as excepções da ordem.
Até que, com a descoberta da forma de transmissão de certas doenças, os cães foram enquadrados na lista de animais potencialmente perigosos para o homem. São várias as doenças caninas susceptíveis de causar problemas à espécie humana, mas felizmente que, desde os fins do século XIX, a descoberta das vacinas, dos soros, de agentes quimioterápicos vários, das sulfamidas e dos antibióticos trouxe a cura de muitas doenças, nos cães e no homem, como por exemplo, a raiva e a oxiurose, dois flagelos quase erradicados do mundo civilizado.
Outro aspecto decorrente da utilização intensiva dos cães, que pôs a humanidade em posição de defesa, na actualidade, foi a ferocidade de certos cães de guarda, proveniente de um forte abuso no apuramento intensivo e persistente de algumas raças.
Certo que nem sempre o apuramento de raças conduziu a resultados negativos. São exemplos de apuramento de raças no bom sentido os famosos cães pisteiros da polícia, os pesquisadores de droga, os cães perdigueiros, os cães pastores, os guias de cegos, os São Bernardo, etc., etc. Também algumas aberrações tiveram lugar, como os agressivos cães de guarda que têm causado, a muitas pessoas, as mais diversas lesões e até a morte.
A legislação de vários países tentou ordenar e pôr regras na convivência entre estes animais e os seres humanos, até ser criado, na maioria dos países, um bilhete de identidade canino ou, pelo menos, um registo de cães ou a sua ficha de saúde onde foi possível inscrever e tracejar a sua origem, as suas vacinas, as suas doenças e respectivos tratamentos. Os donos, as entidades administrativas indicadas e o sistema veterinário de vigilância são os responsáveis pelo bom funcionamento desse sistema.
Ora, em Portugal, foi descoberta há dias, uma coisa singular.
«Apesar da lei sobre o controlo dos cães de raças perigosas, a Ordem dos Veterinários alerta que «há perto de um milhão de cães por identificar», uma vez que as juntas de Freguesia falham no envio dos registos para a Direcção-geral de Veterinária «Actualmente, existem cerca de 40 mil animais domésticos registados no sistema de identificação de registo, sendo que 9.500 cães são considerados «potencialmente perigosos», mas, para o bastonário, José Cardoso Resende, «os números estão muito longe da realidade».
«O responsável justifica que «o número de animais registados é muito inferior ao número daqueles que são vacinados anualmente», o que prova «uma falha das juntas de Freguesia», que «não actualizam a base de dados». Cardoso Resende acusa, pelo menos, duas mil juntas de Freguesia de não cumprirem a lei, mas o presidente da Associação Nacional de Freguesias, Armando Vieira, garante que se trata de «uma questão pontual», que tem a ver com a «dimensão da freguesia e os seus recursos».
E aqui está, mais uma vez o que já é um lugar comum, isto é, quando algum problema grave é posto a nu, geralmente tarde e a más horas, nunca se consegue identificar o culpado. Mas o pior não é isso, mas antes o laxismo tradicional, a ausência de uma tentativa ou de simples busca de soluções para resolvê-lo, tudo mais por desleixo atávico que por outras esfarrapadas desculpas ou justificações.
Um milhão de cães sem registo é obra! Quantos serão perigosos? Quantos mais que os citados 9500?
Ninguém sabe.
Como é possível? Não sei, mas algo não bate certo.
Como de costume, alguém começou já a badalar que a legislação tem que ser mudada, que a actual tem vírgulas a mais ou a menos e por aí fora.
Como sempre e em tudo, em qualquer situação, só sei uma coisa: a lei vigente, sobre os cães (ou sobre o que for), não é rigorosamente cumprida, no mínimo apenas cumprida em parte. Por quê?
Porque todos juram a pés juntos que não é aplicável, porque é desadaptada às circunstâncias, acima de tudo porque há falta de meios ou de condições...etc.
É sempre assim. O registo dos cães, ou a falta dele, é apenas mais um caso menor, igual a tantos outros.
Nem Fátima nos conseguirá salvar deste fundo buraco negro.
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