sábado, 27 de setembro de 2008

SÃO ROSAS, SENHOR!


Jardim dos milagres


Segundo uma lenda histórica da qual há várias versões e que vou contar simplesmente à minha maneira, andava D. Dinis muito preocupado com as dádivas que a caritativa Rainha D. Isabel, sua esposa, fazia à socapa, segundo diziam as más-línguas agarradas ao poder, aos desgraçados que encontrava por onde passava. A Rainha era uma mãos largas!

Aquilo era demais.

Havia que pôr termo àqueles exageros de sua esposa que, quando interrogada, negava sempre tal coisa. Até que um dia, D. Dinis caçou a suspeita, quando se dirigia, com o regaço cheio de moedas de ouro, a exercer uma das suas obras de caridade, isto é, com a mão na massa, e increpou-a, entre incrédulo e ansioso, como qualquer marido enganado:

-Que levais aí, escondido no regaço, Senhora?

E ela, com a maior naturalidade que um santo pode ter:

-São rosas, Senhor! São rosas!...

E eram! Fizera-se o milagre de transformar dinheiro em flores, para espanto do rei, dos cortesãos que o acompanhavam, das aias da rainha e dos mendigos que esperavam já a esmola, de mão estendida e ficaram, dessa vez, a ver navios.

Não interessam mais pormenores como, por exemplo, se eram moedas ou pão comprado com moedas, etc. A frase é que interessa!

A Rainha Isabel foi mais tarde (1625) canonizada e é a Santa Padroeira da Cidade de Coimbra, antiga capital do reino, célebre também pela sua Universidade, fundada pelo rei D. Dinis, em Lisboa, no ano de 1290, sob o nome de Estudos Gerais!

Ora foi na Universidade de Coimbra que cursaram, durante mais de sete séculos, os sábios da Nação. E também os homens públicos de maior valor que o país teve, em todos os domínios do saber. Incluindo os políticos!

De qualquer modo, quem não se lembra, para não ir mais atrás, dos numerosos políticos portugueses do século XIX, vilipendiados e elogiados, presos e adorados, eleitos e destituídos à vez? E dos do século XX, entre eles os fundadores da República e um que ocupou as cadeiras do poder por quase cinquenta anos, deixou os cofres cheios de ouro e o país ainda mais cheio de analfabetos?

Foi também no século XX que estudaram em Coimbra, algumas figuras de prestígio da nossa vida política actual, recebendo os diplomas com o selo branco da efígie de D. Dinis.

Mas Coimbra não é conhecida apenas pela Universidade do rei D. Dinis e pela Rainha Santa Isabel ou os Conventos de Santa Clara, mas também, a outro nível, pelos estudantes, as suas repúblicas, as suas borgas, as suas praxes.

E alguns desses estudantes ficaram célebres em Coimbra, uns pelo seu valor nos estudos, outros pelo fado coimbrão que tão bem souberam interpretar e outros ainda, pela sua vida estudantil boémia,durante o curso, as anedotas, etc.

Há dias, uma notícia trivial de um Diário, trouxe-me à memória a Coimbra do milagre das rosas, das cenas da praxe e da vida boémia das repúblicas, a propósito de um antigo estudante coimbrão que há trinta anos comanda sem discussão a nossa Ilha Jardim do Atlântico. Há um tempo que o Ministério Público vem investigando certa promiscuidade entre o Governo Regional e aos clubes de futebol na Madeira. As notícias dão conta de que dirigentes desportivos dos clubes madeirenses são arguidos em processos relacionados com fuga ao fisco e branqueamento de capitais. Um jornalista, apanhando Jardim a jeito, na recepção ao Marítimo, de partida para o jogo da taça UEFA, perguntou como comentava as notícias.

Apanhado em flagrante, como a Rainha Santa, Jardim respondeu com o milagre possível:

-São chachadas, senhor! São chachadas!

Já não se pode levar nada a sério, nos dias de hoje


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