terça-feira, 30 de setembro de 2008

SISTEMAS RADICAIS DE CONVIVÊNCIA

O capitalismo mal controlado

O capitalismo já deu inúmeras provas de sobrevivência às crises mais diversas, algumas passadas no século XX e que deixaram marcas profundas nas sociedades atingidas. A sua última vitória, talvez a mais importante de sempre, foi a catastrófica, inesperada destruição do sistema comunista soviético que, a certa altura, parecia invencível e ameaçava fazer ruir a organização tradicional da economia mundial. Mas algumas lições deveriam ter sido extraídas dessa luta de sistemas que opunham a liberdade plena dos mercados ao seu total dirigismo. Pelo contrário, entrou-se no elogio simplório que decorre sempre das vitórias difíceis.

Poderia ter-se escolhido, hipoteticamente, uma terceira via ou coisa semelhante, com agora está na moda dizer-se. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nem capitalismo selvagem, nem comunismo feroz. Provavelmente, no meio destes dois pólos estaria a verdade de vida em paz e felicidade que o mundo procura e nunca mais encontra.

Por quê? Talvez porque as criaturas insistem sempre no radicalismo de opiniões, na convicção de que a razão lhes assiste na íntegra, como um dogma, o cúmulo dos tais princípios de que não se deve prescindir, mesmo à custa da própria vida. Esse radicalismo é a razão das razões, o princípio de todas as religiões, a causa de todas as guerras e a origem de todas as desgraças da Humanidade. Foi ele que, desde Adão e Eva até hoje, se serviu de todas as barbaridades em seu proveito.

Milhares de anos decorridos desde sentença radical passada por Caim a Abel, o Género Humano ainda não conseguiu compreender a lição que se impunha e continua a tirar a liberdade a quem não concorda, em proveito da sua própria liberdade total, por vezes selvagem. O método pouco importa.

O capitalismo também parece, ele próprio, nunca mais aprender com as crises que quase periodicamente o acometem. A ânsia de dinheiro e de poder que uns quantos exageram até ao limite, cometendo para isso atropelos imorais engenhosos, sobreleva-se sempre à humildade e ao sofrimento dos milhões de deserdados e esquecidos do costume estes agora, mais que nunca, afundados na sua insignificância e na sua impotência, depois do desastre do seu próprio radicalismo, o soviético ou similares.

Provavelmente, num simples controlo eficaz desse tal exagero de capitalismo imoral poderia estar a solução de muitos males de que a nossa sociedade padece e das crises financeiras que aparecem, com todas as desgraças decorrentes. Da crise actual, igualmente.

Nesta época em que a palavra globalização atinge a sua expressão mais generalizada, com a sua aplicação à informação, à finança, ao comércio, ao desporto, ao ensino, a quase tudo, parece evidente que a vida privada cada vez mais vai deixar de sê-lo, condicionada indirectamente por tantos parâmetros que escapam ao controlo individual. E assim, a curto ou médio prazo, se não acordarmos a tempo, teremos de novo um outro radicalismo vencedor, uma anacrónica e subtil tirania imposta livremente aos cidadãos, em oposição à vencida tirania directa imposta pelos sovietes. E possivelmente de consequências imprevisíveis, muito mais gravosas.

Já cá não estarei para ver.

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