terça-feira, 23 de setembro de 2008

POLITIQUICE E GOLPES BAIXOS

Está quase a abrir a época de caça


Neste nosso país de brandos costumes, como é dito a torto e a direito, a politiquice e o golpe baixo (sempre juntas) nunca estiveram guardados na gaveta, fechados a sete chaves, como foi afirmado de certo programa, mas foram sempre libertados a conta-gotas durante os tempos de acalmia política.

Tudo funciona como na época de caça.

Guardam-se as armas, depois de bem limpas e oleadas, e os cartuchos, tudo a salvo em lugar seco, numa gaveta bem fechada, num armário seguro, e mandam-se os cães para a casota ou para umas sessões de treino, até à próxima temporada.

Mas, aproximando-se a abertura da caça, é costume dar uma espreitadela ao armário e à gaveta, a ver se está tudo ainda em ordem, vão-se riscando dias no calendário até que...pum!...chega o dia, começam os disparos por aí, a assustar a passarada, os coelhinhos tranquilos e a rara caça grossa que ainda resta.

Os caçadores, às vezes, acertam, que alguns são profissionais de calibre. Mas outros, coitados, são amadores sem estofo ou velhotes que teimam em distrair-se dando alguns tiros para o ar, sem consequências.

São todos muito felizes, nessa altura, fazem as suas patuscadas, contam as suas peripécias, verdadeiras ou inventadas, aos amigos e às esposas. E as infelizes lá cozinham o coelho à caçadora ou os passarinhos fritos...Claro, a verdade é que isso agora está já a passar de moda, e vale mais, pois sai barato e não dá tanto trabalho nem chatices, encomendar tudo no restaurante, típico a fingir, que existe ali à esquina.

Também na política caseira a gaveta das armas e dos cartuchos começa a abrir-se aos soluços, um pouco mais nesta altura, até que fica totalmente escancarada com a época de eleições em pleno.

Os políticos começaram já a ler as instruções e os regulamentos, pondo à vista, memorizando nas horas vagas os papéis escondidos com as dicas religiosamente coleccionadas durante o defeso para usar na próxima oportunidade.

A um ano das eleições legislativas e, para entreter enquanto não abre a época oficial de caça, os espertalhões da política iniciaram já uma temporada de treino de tiro aos pratos...e eventualmente a alguns patos que vagueiam desprevenidos, por aí.

Vale a pena lançar uma olhadela aos cartuchos e ao calibre das armas que vão sendo utilizadas nesta fase, sabendo de antemão que ninguém gosta de perder, mesmo aos pontos, mesmo num jogo a feijões.

Nestes últimos três dias decidi passar pelo clube de tiro e ver como ia o treino, tirando alguns apontamentos. Nestas sessões a que assisti só havia um alvo e várias equipas de atiradores determinados, fazendo a pontaria à rodelinha rosa do centro. Memorizei os seguintes tiros, especialmente o último, o que deu mais pontos ao seu atirador:

PSD: Passos Coelho adverte que a “rentrée” precisa de acelerar 20.09.2008

PSD acusa Governo de não ter “força nem capacidade” para fazer mudanças 21.09.2008

Jerónimo diz que PS deixou de ter legitimidade para pedir voto dos trabalhadores 21.09.2008

António Borges acusa Sócrates de não reconhecer “incompetência” de alguns ministros 20.09.2008

Líder da JS acusa Manuel Alegre de pretender “dar lições de moral” aos jovens 19.09.2008

Ministro da Economia recebeu 300 mil euros do presidente da AdC em adiantamento por apartamento 20.09.2008

Jardim diz que Sócrates é uma "pessoa sem vergonha"

“Ainda há poucos dias, a líder do maior partido da oposição denunciou o clima de falta de liberdade e de intimidação que existe em Portugal. Aqui, nunca houve nada disso mas como o senhor Sócrates é mentiroso, [esta] é mais uma mentira dele”, concluiu.

A politiquice chega, como toda a gente sabe, a todos os partidos, embora em cada um deles haja personalidades mais especializadas nessa arma, muitas vezes lançando mão de golpes baixos, imitando os caçadores furtivos.

Se tiver pachorra para isso, numa outra sessão de tiro a que assista, vou privilegiar a habilidade de um atirador que, segundo rezam as crónicas, faz a pontaria a vários alvos, de cada vez, o que parece, à primeira vista, contrariar as leis da física.

Mas isso é possível, porque estão mesmo a jeito...

E na política não há impossíveis

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