terça-feira, 16 de setembro de 2008

MÉDICO DENTISTA, NA URGÊNCIA

Preso por ter cão e por não ter


Em Odemira, não admira que não haja médicos! Em primeiro lugar, porque há falta deles e depois porque...quem é que quer ir para ali?

O lugar é bonito. Juntamente com o Rio Mira, a Praia de Vila Nova de Mil Fontes e muitas outras, o Cabo Sardão, etc. forma um cartaz turístico que não é de desprezar. As gentes são agradáveis. Pena que os acessos não sejam os melhores e o Hospital do Litoral Alentejano fique em Santiago de Cacém, a cerca de oitenta quilómetros, alguns deles de curvas impiedosas e acidentadas pela serra.

Segundo a notícia veiculada pelos diários, a Directora do Centro de Saúde local decidiu aproveitar a disponibilidade de um médico dentista, para suprir a falta do médico generalista que não conseguia arranjar para o lugar. Lá para com ela, pensou que sempre era melhor ter um médico para servir as gentes, mesmo sem a especialidade, que não ter nenhum, numa zona desprovida de cuidados médicos que elas vêm reclamando há muito, sem resultado.

Mas os médicos não são coisa que se fabrique por atacado, especialmente depois dos tais numerus clausus impostos há anos pelas Faculdades de Medicina, com a aprovação da Ordem Profissional, sempre na defesa da formação, na prevenção da concorrência excessiva e no resguardo dos proventos. Assim se chegou à falta de médicos em Portugal, à contratação de profissionais espanhóis e de outras nacionalidades, à expatriação de estudantes para universidades estrangeiras e outras calamidades como, por exemplo, a barreira quase intransponível à abertura de novos cursos de Medicina, no País, etc.

Valha a verdade que, neste caso de Odemira, na maioria dos atendimentos, o médico dentista contratado ocasionalmente, serviu sem queixas de maior. Provavelmente, qualquer médico sem formação específica, mas capaz de executar os serviços mínimos, se desenrascaria no cargo, numa emergência, mandando os casos mais graves ou problemáticos para o Hospital, etc., até porque actualmente há meios de comunicação que ainda não existiam há umas dezenas de anos, podendo proporcionar uma boa ajuda ao profissional destacado, etc.

Esta não é, evidentemente a solução ideal, aquela que serviria sem discussão, a todos os interessados, doentes, autoridades, e profissionais. Mas é interessante analisar os três parágrafos da notícia que foi publicada num jornal diário, sob o título: «Médico-dentista assegura Urgências em Odemira

«O médico-dentista é militar reformado e prestou serviço há duas semanas nas Urgências do centro de saúde local sem ter formação em suporte avançado de vida. A Directora do Centro de Saúde, Alda João, disse que no SUB 'não há ninguém com formação' específica para tratar de situações que exijam conhecimentos em suporte avançado de vida.

«A Ministra da Saúde, Ana Jorge, afirmou que 'todo este processo tem de ser analisado, mas penso que ele é médico, que está dentro do que são os requisitos mínimos'. A governante disse que 'qualquer médico tem formação para socorrer e prestar os primeiros cuidados´.

«O Bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, reprovou a contratação de um dentista, por alguns dias, para assegurar o Serviço de Urgência Básica (SUB) de Odemira, o único no distrito de Beja.»

Algumas máximas ou provérbios populares poderão caracterizar perfeitamente as atitudes mostradas pelos personagens intervenientes na notícia.

A Senhora Directora do Centro de Saúde de Odemira, mostrou o seu engenho e o seu esforço na resolução deste problema sério, mas será sempre criticada, por ter cão ou por não ter. Apesar disso, não deverá esquecer nunca que em tempo de guerra, não se limpam armas.

A Senhora Ministra não precisa que se lhe diga que não desanime. Ela bem sabe que, casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. E que deve manter-se de cabeça erguida, pois lá diz o ditado: quem muito se agacha, o traseiro se lhe vê...

Os utentes que uma vez mais se encham de paciência e resignação, que a manta, quando é curta, deixa a cabeça ou os pés de fora...Oxalá vejam as suas dificuldades atendidas com brevidade. Merecem. E com a saúde não se brinca.

Ao Senhor Bastonário lembro apenas uma das máximas de Confúcio que diz o seguinte: «o homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros.»

Mais palavras, para quê?

1 comentário:

Anónimo disse...

Em toda esta situação é de salientar um aspecto difundido pela comunicação social e que tem gerado confusão..este médico não é dentista, mas sim estomatologista..para quem desconhece, este senhor fez uma licenciatura de 6 anos em Medicina, posteriormente terá feito pelo menos mais 2 anos de medicina geral (internato geral) e mais tarde mais 4 anos da especialidade de Estomatologia (Internato Complementar)...e portanto será um médico com plenos direitos a exercer medicina geral desde que se sinta capacitado para tal...a licenciatura em medicina dentária existe em Portugal desde meados da década de 80..é um curso autónomo de Medicina (existe inclusivamente a Ordem dos Médicos Dentistas) com uma duração de 6 anos, com exercício autónomo da profissão no final da licenciatura apenas e somente na área da medicina dentária...relativamente à questão do suporte avançado de visa infelizmente este não é caso único porque de Norte a Sul do país a grande maioria dos clínicos não tem formação nesta área por falta de investimento governamental....