segunda-feira, 8 de setembro de 2008

ALEGRIAS E TRISTEZAS DO VERÃO

Foguete fere treze

No Verão em que o sol brilha e a alegria extravasa por essas praias fora, do Minho ao Algarve, as gentes da Província, especialmente as das Terrinhas do interior, refazem as festas da sua infância e deitam os mesmos foguetes que, nessa altura como hoje, explodiam no céu e deixavam cair as canas, para gáudio e entretém da miudagem. No fim, toda a rapaziada miúda regressava à base com o ar de vitória estampado no rosto, as mãos e a cara enfarruscadas, canas ao ombro, sem vestígios de cansaço nas pernas, esperando o próximo foguetório.

Nem sempre é um acto inocente, este do lançamento dos foguetes. O especialista, de morrão aceso, chega-o ao fundo do cartucho e larga o engenho com perícia, na altura própria, para que ele se projecte no ar e expluda com estrondo ou estrondos variados, uns quantos segundos após.

O ritual é ainda o mesmo de há largas dezenas de anos.

Algumas vezes em que assisti a esta operação, verifiquei que as precauções mínimas eram esquecidas e assim, frequentemente se postavam nas proximidades homens e crianças espreitando a operação, com o desejo oculto de experimentar... Não raro, numa distracção do especialista (ou seria até de propósito?), alguém pegava no morrão, surripiava um foguete e lançava.

Deste modo, todos os anos, nas festas da padroeira da Terra, nas festividades da Freguesia, nos casórios, nas comemorações de regresso dos emigrantes e em tantas outras ocasiões semelhantes em que o nosso verão é fértil por essa Província fora, ficavam estropiados uns quantos homens e garotos nos quais a bomba lhes estoirava nas mãos. Pessoalmente, conheci alguns infelizes que tinham ficado manetas por este processo.

Um deles era o ti Coto, uma jóia de homem assim baptizado porque, aos doze anos de idade, ficara sem a mão e parte do antebraço esquerdo numa festa de Nossa Senhora da Guia, no lançamento de foguetes que se seguira à procissão! Quisera experimentar.

Durante muitos anos, embora tivessem aumentado as precauções no fabrico dos explosivos, a verdade é que ele continuou a ser processado em forma mais ou menos artesanal. Raro é o ano em que uma ou duas dessas fabriquetas não dão uma passeata pela atmosfera, juntamente com alguns dos seus utilizadores. Do mesmo modo, nos meses de Verão, continua a verificar-se um número calado de acidentes, com mortos e feridos.

Não me perguntem como é possível acabar com estes desastres perfeitamente dispensáveis. Talvez a solução mais simples seria proibir o lançamento de foguetes. Mas quem teria coragem de fazer uma lei dessas e implementar o seu cumprimento, sem provocar uma nova revolta da Maria da Fonte?

O Correio da manhã, 17 horas atrás, noticiava:

«Foguete fere treze

Quase acabava em tragédia a sessão de fogo-de-artifício que decorreu, anteontem à noite, na freguesia de S. Félix da Marinha, em Gaia. Treze pessoas ficaram feridas quando o último foguete da festa não rebentou no ar, como estava previsto...»

E uma senhora deficiente, numa cadeira de rodas, que estava por ali a ver, curiosa e alegre, como o resto do «pagode», provavelmente vai ficar sem uma perna!

Ele há cada festa!...

Claro, se tivesse morrido era bem pior.

Mas no próximo Verão haverá mais, como sempre, a complementar os habituais milhares de acidentes de estrada...

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