sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ASSALTOS EM PORTO DE OVELHA

Ninguém escapa!

O sol, quando nasce, é para todos. Não sei quem inventou este ditado e o publicitou pela primeira vez. O certo é que, quem foi manteve a paternidade em anonimato perpétuo, e também não deixou sequer uma indicação, um leve indício de que soubesse ler ou escrever. De certeza não ganhou nenhum prémio ou condecoração à conta da sua fantástica descoberta, tão extraordinária que se transformou em lugar comum e toda a gente a badala por aí, sem lhe dar a importância devida.

E contudo, a frase é universal, muito mais abrangente que a própria Constituição da República que tanta luta deu a sábios, políticos, militares, revolucionários, reformadores, etc.

Vem isto a propósito do assalto à casa do Procurador Geral da República (e a outras), em Porto de Ovelha, uma aldeia quase desconhecida da Beira Alta, nos confins do concelho de Almeida, encostada às pedregosas margens do rio Côa e já muito perto da fronteira espanhola. Por lá passei, casualmente, há cerca de um mês, nas minhas deambulações e descobertas automobilísticas através dos lugares mais recônditos e pitorescos do País. Os outros já toda a gente conhece...e eu também!

Mas como é que os ladrões descobriram Porto de Ovelha, que quase ninguém sabe onde fica? Através do computador?

Não faço a menor ideia, mas não concordo, claro, com o assalto. Quem concordará? E, no entanto, por que carga de água o Poder Político, as Magistraturas, a Polícia, as Autoridades em geral do País haveriam de ficar imunes a esta mafia oportunista e contestatária que por aí anda? Não creio que os eméritos deputados, os honrados juízes, os esforçados polícias, os digníssimos governantes e autarcas, todos eles, por acaso (ou por vaidade própria) se julguem melhores, privilegiados ou superiores aos excelentíssimos cidadãos deste país. É como todos os dias vem escrito nos milhões de cartas e embrulhos dos CTT, nos requerimentos e circulares, rotina a que só escapam, até ver, as folhas de papel higiénico, que não servem para escrever, embora desempenhem uma função bem nobre e importante, apesar de tudo... Portugal tem destas coisas espectaculares, essas excelências que já não há em parte nenhuma do mundo. É pena que o Turismo não saiba aproveitá-las convenientemente, nesta época de vacas magras e ao mesmo tempo se desça tão baixo, quando se escreve ao «Excelentíssimo Senhor Ladrão, etc:»

Os larápios que a sabem toda, é que não têm pruridos ou dúvidas destas. Essa rapaziada fina que se julga mais que os outros que se ponha a pau. Segundo eles, a lei do assalto obrigatório não vem na Constituição da República, mas é para todos, como está a ser demonstrado, sem discussões estéreis! Mesmo em Porto de Ovelha, como em Lisboa, como em qualquer outro ponto do País, venha ou não nos mapas da Michellin. Que o digam o Deputado Guilherme Silva, o Secretário de Estado Vitalino Canas e um senhor Chefe de Polícia de que não lembro o nome.... Agora calhou a vez ao Procurador-Geral.

Ao assalto ninguém escapa. É o aviso dado pelos mafiosos, em que devemos acreditar...

E entre nós, cidadãos honrados? Quanto tempo ainda durará esta pilhéria bizantina, cheia de truques e vírgulas, em torno de uma prisão preventiva e de uma prisão efectiva inoperantes? Alimentada por quem? Por culpa de quem?

Pouco importa.

Agora é apenas altura de nos entendermos, de nos deixarmos todos de conversas, de fofoca, de discussões parvas para a galeria, de atirarmos pedras uns aos outros, enfim, de não fazer nada ou de acusar meio mundo de fazer o mesmo...

Toca mas é a trabalhar sem capelinhas, sem vírgulas nem desfalecimentos, senhores políticos, polícias e magistrados, a encher as prisões e a julgar rapidamente esses criminosos refinados que se entretêm a chatear o próximo e se apropriam, sem cerimónia, do que não lhes pertence. Depressa, antes que acabemos todos (sem excepção!) como vítimas deles!

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