domingo, 28 de setembro de 2008

À FALTA DE MELHOR


O que se diz por aí


À falta de melhor, é interessante ir observando o que se faz ou diz por aí, aquilo que os jornais falados e escritos se entretêm a publicitar, para «encher chouriços», como diria o Ti Manel de Alguidares de Baixo, que Deus haja. Claro que, num extenso periódico, as páginas são, por vezes, bem difíceis de encher, mesmo para os profissionais, sobretudo quando não há com quê, mas fatalmente, nessas alturas em que as verdadeiras notícias não abundam, aparece sempre qualquer coisa feita à medida, nem que seja uma daquelas evidências de La Palisse a que muita gente acha graça e a restante engole, muito atenta, veneradora e obrigada, sem dar por ela...

Não devia ser assim, porque tempo é dinheiro, o papel está caro e as notícias, bem escritas e espremidas, cabiam todas numa página só mas, paciência!

Ontem, por exemplo, foi o dia do badalado boicote às bombas de gasolina, com o seu quê de caricatura primária. A coisa não deu para o «pitrol».

Os visados eram principalmente a Galp, a Repsol e a BP, especialmente a primeira, mas os prejudicados seriam, nesta operação e de uma forma mais directa, os revendedores. Claro, no fundo da questão, como ninguém deixa de meter gasolina para as suas necessidades e só muda o dia do abastecimento, o protesto foi a fingir, foi uma autêntica palhaçada! Que me perdoem os promotores e os que caíram na promoção!

Parece que a maioria da população já se apercebeu mesmo disso e descartou a possibilidade de dar protagonismo a uns quantos promotores apressados do anacrónico boicote. Esteve-se ralando para o aviso! Outros automobilistas, para não serem apelidados de «fura-greves», encheram os depósitos na véspera ou no dia seguinte. Ora tudo isto deu um gozo enorme às gasolineiras e aos postos de abastecimento evitando, ainda por cima, o congestionamento habitual do fim-de-semana. Finalmente, uns quantos abencerrages cumpriram religiosamente a greve do sábado e foram, logo de manhãzinha, no domingo, atestar o depósito para o passeio habitual com a família.

Mas há mais! Enquanto a maioria protesta na esquina ou entre paredes, mas não está para se ralar, uma minoria dá-se conta de que assim, com protestos destes, a fingir, não vai longe, e os mais sabichões também começam a interiorizar que essa não é a melhor forma de pressionar o governo a intervir. A pouco e pouco, as gentes vão sabendo que há leis na concorrência, dentro da CE, e há ordens desta que os governos têm que cumprir, ou saem fora da carroça!

Longe vão os tempos em que, na Europa e em Portugal, um governo determinava o preço dos combustíveis, tal como o preço da batata! Hoje os governos da CE não podem fixar o preço da batata, nem o dos combustíveis, a seu bel-prazer. Feliz ou infelizmente.

Só há, pois, duas formas realistas de convencer os senhores das gasolinas a baixar os preços: ou fazer baixar o preço do petróleo bruto, o que não está nas nossas mãos, ou andar a pé, de bicicleta ou de transportes públicos, diminuindo drasticamente o consumo. Mas porque será que ninguém anda?

Certo que muitos não podem, e estão desculpados, mas a maioria, simplesmente, não quer. Habituou-se a andar comodamente de cu tremido, como diz a média baixa, a exibir o seu status, como faz a média alta, e nenhuma delas abdica, a menos que a carteira já não aguente mais. Pode ser que, finalmente, venha a ser este o grande remédio, não haver dinheiro para a gasolina.

Eventualmente, haveria ainda uma terceira forma de o governo fazer baixar o preço dos combustíveis, sem infringir as regras do jogo: baixar os impostos que sobre eles aplica. Mas isso seria entrar antecipadamente na falência do Tesouro, ou obrigar o mesmo Governo a lançar imediatamente outras taxas compensatórias, o que seria bem pior.

O certo é que, quando as carteiras estiverem vazias, a diminuição do consumo fará automaticamente baixar o preço. É assim que funciona a lei da concorrência que os comodistas não querem ver. E, quando os países estiverem falidos, o petróleo bruto descerá fatalmente do seu pedestal, fechando-se o círculo. De certeza, porém que, nessa altura, toda a estrutura de consumismo feroz e a todo o custo que agora conhecemos, e de que não queremos abdicar, já foi pelo cano abaixo! A crise que anda por aí não é só para inglês ver...

Até lá, alguns ainda se vão entretendo com bloqueios, a jogar às casinhas, ao berlinde, à bisca, ao sete e meio...quando não têm mais nada que fazer e enquanto a comidinha não lhes falta no prato. Era bem melhor que pensassem a sério, um bocadinho que fosse, e agissem também mais racionalmente, em vez de se deixar embalar em cantos de sereia. Lembrem-se de que a canção do bandido já soa cada vez mais para os lados das gasolineiras, o que não é bom sinal.

Além do mais, enquanto não ganharem o euromilhões, e embora o não creiam, faz bem, muito bem mesmo, andar a pé. Também é aconselhável poupar gasolina não andando sozinho nos automóveis e preferir, sempre que possível, os transportes públicos alternativos.

À falta de melhor remédio...

Haja Deus, como dizem os nossos irmãos brasileiros!

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