sábado, 6 de setembro de 2008

LÍMPICOS, OLÍMPICOS E PARALÍMPICOS

O sonho e o ridículo

Tal como nos Jogos Olímpicos, os comentaristas desportivos portugueses já dizem que ganhar 12 medalhas nos Paralímpicos são favas contadas. Ai deles se as não conseguirem! Ficarão límpicos, jornalistamente falando, que paralíticos, infelizmente já alguns são...

(Coisas interessantes da língua portuguesa que todos pomos a circular por aí! Mas isto é apenas um aparte.)

Tomar a nuvem por Juno é um dos nossos grandes defeitos. Passamos o tempo a denegrir o que é apenas cinzento, a deitar abaixo o que é bom, tolerável ou simplesmente não nos agrada e, no minuto seguinte, colocamos nos píncaros o que foi pouco melhor ou apenas razoável, ou mesmo não presta, mas é do nosso agrado.

Facilmente passamos do oito ao oitenta, porque o nosso ego tem sede de vitórias, num universo de derrotas seculares. Este complexo de inferioridade que se apoderou de um povo que a seu tempo realizou grandes feitos, não nos deixa apreciar as coisas na sua justa medida, sem recorrer a esses exageros incríveis de perspectiva.

Há uns anos, Portugal embandeirou em arco, depois dos atletas paralímpicos arrecadarem umas tantas medalhas, coisa rara e nunca vista por estas bandas. Matou-se a sede. Portugal era já dos melhores do Mundo...mesmo no desporto de deficientes, como alguém fazia notar, a moderar os ânimos!

Nos jogos seguintes da Paralimpíada, o decréscimo do número de medalhas quase colocava os comentaristas em cheque e as populações na tal tristeza endémica... Passou-se assim, da píada à piada!

Agora, afiançam já os mesmos comentaristas que vamos ganhar 12 medalhas.

Desgraçados deles, novamente, se as não conseguirem!

Pessoalmente, faço votos para que consigam, até para que ganhem tudo o que há para ganhar! Sei, contudo, que a competição é cada vez mais dura, as vitórias cada vez mais difíceis de obter. E sei ganhar sem deitar fogo de artifício, perder sem me enfiar pelo cano abaixo.

Faço votos, sobretudo, para que os oráculos do costume tenham um mínimo de senso comum naquilo que afirmam tão convictamente. E também para que os nossos atletas não se deixem levar por falsas previsões superficiais e enganosas dessas pitonisas de serviço, que trabalhem conscientemente, afincadamente, persistentemente, que não se deixem embalar antecipadamente em sonhos patrioteiros. O tempo dos milagres já passou.

Nada é fácil. No desporto, como em tantas outras coisas, só o treino e o trabalho metódicos permitem alcançar o objectivo, a vitória e a conquista das medalhas que nós todos ambicionamos.

Tudo o resto que se diz por aí, é pura conversa fiada. Antes, na exaltação de previsões fantásticas. Depois, no inferno ardente e feroz dos resultados reais...

Ao contrário, saibamos trabalhar, antes, e compreender, depois. Sejamos simplesmente honestos.

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