quinta-feira, 18 de setembro de 2008

PEQUENA CRÓNICA DE TURISMO


O melhor e o pior


Gosto bastante de passear por este País fora, nesta tira continental estreita e independente há mais de oito séculos. Vou, de cada vez que o faço, rever tempos idos, ou então conhecer o que ainda me falta das Terras e seus monumentos, mas também das gentes, seus costumes, seus problemas, seus anseios. São os locais que habitam, cultivam, fazem progredir esforçadamente ou abandonam, desesperadas, mas dos quais fazem sempre propaganda entusiástica no estrangeiro, para onde emigram, ou aos forasteiros que as visitam, numa mistura de orgulho, cidadania e auto estima de fazer inveja a tantos que por aí circulam macambúzios e maledicentes, embora de carteira recheada...

Esta é uma constatação que faço sempre, nas minhas deambulações, da publicidade encomiástica e gratuita que ouço ou vejo por essas Terras além, sobretudo nas zonas do Interior mais desfavorecidas da sorte, tantas delas pátrias de grandes homens dados à Nação ao longo dos séculos (e ainda hoje!),sem receber, das autoridades e dos compatriotas do Litoral, contrapartidas de jeito...

Muitas localidades, de uma brancura inigualável, vegetam no meio de planícies áridas quase incultas onde o horizonte se estende sempre igual até ao infinito. Outras, na sua rusticidade secular, estão alcandoradas em serranias, implantadas em barrocais imensos, de acessos problemáticos, mal aproveitando já, por falta de braços, as nesgas de terra cultivável, entre calhaus enormes, de que se sustentaram durante séculos. Outras ainda, de uma beleza sem par, escondem-se no meio das vinhas, em vales esquecidos, encostadas a rios maravilhosos, ou ainda abandonadas dentro de muralhas tão velhinhas como a Nação. A descrição poderia continuar, mostrando uma diversidade espectacular, para todos os gostos e feitios, tanto no que se refere às Terras, como às gentes que as habitam

E no entanto, apesar das maravilhas que a natureza oferece, a desertificação lenta e inexorável, à medida que se penetra nas zonas do interior do País, não só tira algo da beleza humana característica aos locais, mas deixa um rasto de tristeza indescritível. É o que sinto, ao passar pelas aldeias históricas, muitas delas recuperadas com os dinheiros da CE, verdadeiros museus ao ar livre, lindas de morrer...mas silenciosas, vazias de pessoas!

Portugal é, aliás, uma terra de contrastes, de uma variedade infinita, de paisagens extraordinárias, de gentes e costumes surpreendentes, de gastronomia característica, revelando por vezes, ainda, sabores da Idade Média. E tudo convive num espaço mínimo de noventa e tal mil quilómetros quadrados, plano ou alcantilado, chuvoso ou seco, branco e azul ou verde e tisnado, de sol radioso e brilhante ou sombreado de florestas e barrocos, marítimo, de locais e praias maravilhosas ou continental, de regiões agrestes e espectaculares...etc., etc. Talvez por isso mesmo seja difícil de percorrer pelos turistas comodistas e endinheirados, apreciadores dos bons hotéis que dão vida à maioria das Agências de Viagem e trazem divisas. A excepção encontra-se em algumas zonas do Litoral, com relevo especial para o Algarve, junto ao mar, repletas de boas condições para recebê-los.

É para ali que os organismos promotores de Turismo orientam de preferência os seus esforços, atraindo alguns milhões de turistas estrangeiros ao ano. A pouco e pouco, contudo, outros menos exigentes, mas mais cultos e aventureiros, ou apenas mais curiosos, vão descobrindo o País Interior meio abandonado e penetrando na sua tranquilidade, nos seus segredos, nos seus encantos. E acabam por gostar imenso, que coisas destas que descobrem por aí, já não existem nos seus países de origem.

Há anos, por exemplo, conheci, em Paris, um engenheiro francês, de invulgar cultura e amigo da natureza, que tinha percorrido Portugal, de lés a lés, de bicicleta, numa experiência inigualável!

De há uns tempos a esta parte, tem-se assistido a um esforço das autoridades nacionais para incentivar o turismo, especialmente o algarvio, mas também o outro, o turismo pobre. Mas ainda há muito, muito a fazer.

A notícia bombástica que ontem descobri, na internet, é a de que «o Turismo de Portugal é o melhor da Europa. Instituição ganhou os Óscares do sector». Numa votação feita num universo de 167.000 profissionais, arrecadou o World Travel Awards 2008, à frente da França, Alemanha, Grécia, Itália, Turquia, Reino Unido...

Fui, a correr, como costumo, ler os comentários dos internautas, à notícia. Nem um, para amostra, denotava o mínimo de auto estima, fazia a menor referência à honra que o facto em si representa, muito menos aos resultados que daí poderão advir, quanto mais não seja pelo incentivo, pela publicidade possível implícita, etc. Podiam até manifestar uma reserva prudente. Mas, pior que isso, demonstravam o espírito derrotista, negativo, de maledicência sistemática e a despropósito das instituições, dos políticos, dos próprios organizadores do evento internacional que, na óptica de um dos comentaristas, até pagam almoços comprometedores...etc.

Fiquei triste. Preferia não ter lido nada.

Mas, pensando bem, por quê incomodar-me?

Demais sei eu que alguns portugueses são assim mesmo, subservientes pela frente e más-línguas pela calada. Geralmente são aqueles que se queixam de tudo e de todos, que nunca fazem nada de jeito em prol da Sociedade e do País.

No próximo fim-de-semana irei revisitar, pela décima vez, a maravilha de Óbidos.

Sem comentários: