quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

TABACO, VÍCIO e RESTRIÇÕES


Legislação, confusão e resultado

Existiam em Portugal mais de dois milhões de fumadores, segundo dados do Inquérito Nacional de Saúde, de 2005. "Um estudo feito por uma empresa científica" parece indicar que esse número deve ter baixado pelo menos 5%, num ano de aplicação da lei antitabaco, o que equivale a cerca de 100.000 fumadores. Também «22% dos fumadores alteraram os seus hábitos, fumando, em média, menos nove cigarros por dia.»

Isto significa uma descida extraordinária na prevalência do tabagismo em tão pouco tempo e um benefício visível nas condições de saúde dos portugueses, em geral. Mas não nos pode fazer esquecer a confusão que se estabeleceu na sociedade portuguesa, um tempo antes antes e logo após a promulgação da lei.

Antes, foi a gritaria dos fumadores que viam o seu vício dificultado no futuro, sendo ainda obrigados, coisa que nunca lhes tinha passado pela cabeça, a não fazer fumar os que nunca tinham querido fazê-lo. Numerosas vozes se ergueram em defesa do fumo do tabaco, apenas condicionado à vontade do fumador inveterado. Chegaram alguns comentaristas encartados, do alto dos seus púlpitos, a culpar a lei de atentado à sua liberdade, passando por cima da liberdade dos não fumadores que eles próprios, sem respeito nenhum, obrigavam fumar, à força, com total impunidade.

Depois, foi um levantar de problemas de toda a ordem, nos locais de trabalho, nas salas de espectáculos e de reuniões, finalmente nas lojas, nos cafés e restaurantes, onde os fumadores eram praticamente os ditadores absolutos e incontestados.

Para culminar, foi metida no circuito a ASAE, culpando-a, a torto e a direito, de exageros na fiscalização, da perda de negócios do pequeno comércio, da caça à multa e muitas outras coisas mais.

Paulatinamente, a lei começou a ser cumprida, com protestos aqui e ali, até à sua aplicação correcta. Hoje, 94% da população entende que a nova lei protege a saúde. E um terço dos inquiridos (35 por cento) está de acordo com as restrições impostas, que a entrada em vigor da lei teve efeitos benéficos na melhoria da sua saúde, sobretudo para quem sofre de asma, alergia e rinite...

Ainda bem. Chega de desatino e confusão.

Vai sendo tempo das pessoas compreenderem que, em democracia, não podem fazer tudo o que querem. Melhor, é tempo de compreenderem que têm deveres a cumprir, a esforçar-se para corrigir os seus vícios e, não sendo possível, agir ao menos de forma a não prejudicar os seus vizinhos que não têm culpa disso...

Também não faria mal nenhum à nossa sociedade, nesta entrada do ano 2009 que agora se aproxima, se uma certa publicidade maldosa, um certo tipo de discurso agressivo e uma certa postura egoísta fossem mais honestos, mais comedidos, muito menos exuberantes.

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