domingo, 14 de dezembro de 2008

ANEDOTAS E CARICATURAS DA SEMANA


Ainda as faltas dos deputados

Uma boa parte dos deputados e a respectiva direcção parlamentar, faltam quando lhes convém, nem sempre quando necessitam. A imprensa descobre esse facto, de vez em quando. Está no seu papel.

No entanto, como eu comentava há dias, muito se disse ou falou sobre essas faltas dos deputados, mas tudo puras trivialidades, disfarçadas pela pretensa necessidade de alteração da lei eleitoral e da criação dos círculos uninominais, encaradas como remédio santo.

Mas, para além deste pormenor tão empolado pela imprensa, de tempos a tempos, e que ela própria, através dos seus comentaristas de opinião, critica de forma tão lateral, impunha-se que o tema fosse encarado com frontalidade, em vez das divagações palavrosas do costume, uma vez que foi levantado e apresentado ao público. A não ser assim, correremos o risco de o esquecermos mais uma vez, e de voltarmos a ele, dentro de algumas semanas, meses ou anos, conforme as conveniências jornalísticas. As faltas dos deputados irão continuar, com qualquer intervenção publicitária que seja feita, ou sem ela.

Pela minha parte, de momento, proponho-me apresentar alguns comentários, caricaturas e anedotas retiradas do que vi por aí, para tornar o meu texto menos ácido.O remédio já o dei anteriormente, noutro comentário.

Em primeiro lugar, já não é possível abstrair do mau exemplo dado pelos senhores deputados aos restantes funcionários públicos do País e aos alunos das escolas.

Caricaturalmente falando, um deputado comentarista de certa bancada dizia há dias que eles não são menos que os outros funcionários públicos e tinham todo o direito a faltar, por motivos justificados.

Um outro comentarista deputado, ex-chefe de bancada, defendia também que as sessões plenárias da Assembleia da República deveriam ter lugar apenas às terças, quartas e quintas, para que os deputados da Província ou das Ilhas pudessem passar os fins de semana alargados a que tinham direito, com a família!

Outros deputados tiveram o desplante (ou a coragem) de afirmar que o trabalho duro de deputado não se realizava no hemiciclo, mas nas reuniões das secções especializadas e nos trabalhos de campo, não faltando trabalho de casa, muitas vezes. E não ganhavam horas extraordinárias por isso...Culpava ainda a imprensa pela deficiente informação que dava ao público, limitando-se à transmissão insignificante de alguns momentos das sessões plenárias, etc.

Enfim, as coisas mais disparatadas foram ditas e escritas, e os remédios apresentados, para solucionar o problema, foram zero!

Mas há que referir ainda muitas mais situações algo caricatas desta telenovela.

O Presidente da Assembleia fez as necessárias e justas admoestações e remeteu o caso para as direcções das bancadas partidárias, responsáveis pelo cumprimento dos regulamentos internos. Acontece que, por exemplo, o responsável de uma bancada com 30 faltosos, 12 dos quais assinando a presença e faltando em simultâneo, resolveu convencer os mesmos a apresentar, à presidência da Mesa, um pedido de anulação da lei da avaliação dos professores, para seu desagravo. Hoje, certa notícia da imprensa, dava a conhecer que esse senhor falta entre 31 e 38% dos dias, o que explica cabalmente a medida tomada, completamente fora de contexto.

Também a moralizadora Presidente desse partido garantiu, há dias, que iria exigir justificações e penalizar os faltosos, impondo moralidade, mas o assunto parece ter ficado no tinteiro!

Outros comentaristas encartados, na maioria pertencentes à classe jornalística mas nem sempre isentos de conotação partidária, encheram páginas e páginas sobre a tão propalada modificação da lei eleitoral, a qual incluiria, fatalmente uma redução do número de deputados.

A anedota está em que todos sabemos que a questão das faltas não depende do número, mas da qualidade e da honestidade moral dos deputados! E, além disso, são os deputados, parte do processo, os únicos que poderão modificar a lei...

Mais outra anedota ficou a marcar todo este espectáculo. É que apenas um comentarista, do Jornal de Notícias, que eu saiba, pôs verdadeiramente o dedo na ferida, chamando os bois pelos nomes, tal como eu o havia feito no meu anterior comentário. As faltas são reprováveis, quando exageradas, injustificadas ou falsamente injustificadas, e as assinaturas de presença, nos casos de ausência, são puras situações de falta de honestidade completamente inaceitáveis. Eu diria mesmo que são imperdoáveis e dignas, no mínimo, de sanção disciplinar.!!!

Uma caricatura agreste é o facto do segundo Órgão Político da Democracia Portuguesa, estar parcialmente entregue a estes senhores que se comportam pior que crianças que fogem da escola para brincar às escondidas. Mas não se trata aqui de uma brincadeira de escola e os miúdos ainda não estão viciados nestas artimanhas, embora possam aprender depressa com estes exemplos...

O cúmulo desta série de anedotas está no facto de estes senhores fazerem parte de uma Assembleia Legislativa que impõe aos restantes portugueses o cumprimento rigoroso das leis como simples normas de civismo e de honestidade, como se tudo isto que foi noticiado fosse uma normalidade incontornável.

Por último, e pior ainda, esses deputados nem sequer têm vergonha ou sentem na consciência o desejo de pedir desculpa aos colegas cumpridores, aos cidadãos que neles votaram e lhes pagam os ordenados!

Também a Imprensa não sai incólume, nesta fotografia. Relata os factos com bombos e trombetas, critica pormenores sem importância com ferros em brasa, distrai os leitores dos verdadeiros pecados cometidos e encerra o caso até à próxima, sem indagar, ao menos, soluções correctas. Por isso, centenas de comentários e milhares de páginas irão parar ao lixo do esquecimento geral, sem apelo nem agravo. Não iriam servir para nada!

Também o meu texto não irá servir para nada, a não ser dar voz à minha consciência, e de uma forma muito pouco graciosa.

Todos estarão e acordo em que as anedotas e as caricaturas são geralmente motivos de risota, mesmo quando são cáusticas, mas este é um anedotário triste de um episódio da telenovela que se passa neste País que ainda referenciava, há alguns anos, nos seus livros de História Pátria, o exemplo daquele acto de suprema honestidade de Egas Moniz, de corda ao pescoço com mulher e filhos, por causa da honrada palavra dada em nome do seu rei...e não cumprida mais tarde por ele.

Isso foi há mais de oito séculos...

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