Efectivamente, estas palavras são de uma extraordinária precisão e simplicidade, merecem-nos completa aprovação e toda a confiança possível. Podemos, pois, atirar-nos, com unhas e dentes, contra a Democracia, seguros de que nada de melhor iremos conseguir. Mais, podemos estar seguros de que, quanto mais expusermos os podres da democracia, mais ela se renovará e crescerá, como um cogumelo no meio do estrume, para gáudio e prazer dos apreciadores da boa mesa! Quem tal diria!? Ou melhor, quem já teria suspeitado disso, a não ser alguns estudiosos das Ciências da Natureza?
Estamos conversados.
O famigerado Estatuto dos Açores foi o cogumelo que saiu do escaldante caldo de cultura, semeado pela Assembleia da República e adubado pelo Presidente da República., onde proliferaram as sentenças de artistas vários de todos os quadrantes da Política, da Magistratura e da Imprensa, exibindo cada qual as suas habilidades, como num circo.
Na realidade, as cambalhotas políticas a que fomos assistindo, ao longo do desenrolar do processo, desde a apresentação da proposta de lei até à sua votação final, foram um espectáculo digno de nota alta, no Circo da Democracia Portuguesa. Ali foram apresentados vários saltos mortais, com e sem rede, e foi executado um triplo salto final, com mortal encorpado ou incorporado...
Por isso, do meio da agitação jornalística dos últimos dias que previa o fim da paz institucional, o começo das guerrilhas e das hecatombes nacionais que sistematicamente alimentam a imprensa culta que se imagina condutora do povo, surgiu o silêncio aterrador indicativo do falhanço, como se lhe tivessem cortado o pio...
E, no entanto, o que apenas se passou foi uma votação «maluca» na Assembleia da República, onde os prós e vários contras votaram a favor, e os principais actores do grupo dos contras resolveram abster-se! Pelo meio ficaram os ziguezagues e as cambalhotas de muito boa gente que veio demonstrar mais uma vez, no local dos espectáculos, que engloba a selecção dos melhores artistas do Circo da Democracia Portuguesa.
O povo português já sabia que era assim, mas talvez nunca com tanta clareza!
No final do espectáculo, os assistentes, ansiosos e receosos de algum acidente, embora com bilhetes grátis, saíram tranquilos porque ninguém saiu ferido, apesar das previsões dos comentaristas encartados, dos gritos de alguns artistas insatisfeitros, das diatribes dos mais radicais ou desbocados e da ameaça de bomba atómica do maestro principal.
Vamos, pois, ter um Santo Natal, na paz institucional permitida, mesmo com os problemas da Bolsa que sempre ocupam a imprensa e as eternas dificuldades das pequenas bolsas que vão sobrevivendo a custo e quase não conseguem ser notícia por absoluta falta de fofoca...
Também já não havia pachorra para tanta cambalhota.
Abusou-se do espectáculo. A desmobilização é geral
Por isso, e também por tradição, o Circo da Democracia Portuguesa vai estar encerrado durante alguns dias e a tranquilidade dos cidadãos seria absoluta se não fossem os acidentes nas nossas estradas e outros excessos previsíveis nesta época...muito mais que as votações dos Artistas e Contorcionistas da Assembleia da República, com todo o merecido respeito.
Viva a Democracia!
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