Sem consequências
Nunca tinha visto um comboio acertar numa árvore, mas um título que li na Internet fez-me pensar duas vezes. Dizia assim:
«Motorista (CP) ferido, mas passageiros ilesos». Já tinha passado à leitura de outros títulos, quando me lembrei de tentar decifrar a charada.
A primeira ideia foi a de que teria havido mais um acidente com alguma camioneta de passageiros, com o motorista descuidado, a estrada ou a viatura em mau estado, ou ainda algum condutor fora de mão...Por isso, não prestara grande atenção ao título, na primeira leitura, tanto mais que não havia mortos nem feridos graves, como é costume.
À segunda volta, reparei na CP entre parêntesis, pareceu-me algo estranho, pois as camionetas aparecem sempre como R N, e a curiosidade tomou definitivamente conta de mim. Cliquei no desenvolvimento da notícia e apareceu o título completo do Público de hoje:
«Motorista ferido, passageiros ilesos
Comboio embateu numa árvore na Linha do Douro»
Foi assim que me convenci, à primeira, de que o comboio tinha saltado da linha, havia andado por ali às voltas, até fazer a pontaria a uma árvore e catrapuz!
Claro que eu estava errado. O comboio tinha efectivamente embatido numa árvore, como dizia o título, mas na linha do Douro e não fora dela!
Como a linha é de pouco movimento, ocorreu-me ainda, por momentos, que algum malvado teria ali plantado uma árvore, para fazer pirraça à CP ou aos utilizadores da composição. Mas depressa abandonei essa ideia por tão absurda e decidi rapidamente iniciar a leitura do texto. Dizia assim:
«13.12.2008 - 12h23 Lusa
Um motorista da CP ficou hoje ferido quando a composição que conduzia entre Marco de Canavezes e Livração, na linha do Douro, embateu cerca das 10h20 numa árvore, anunciou hoje fonte da empresa.»
Como nada mais se especificava, o que me tinha ocorrido, verdadeiramente, era que o comboio embatera numa árvore em pé, coisa absurda para a CP e para o senhor jornalista, mas finalmente a minha fraca inteligência descobriu, olhando de viés para uma foto subjacente, que havia uma árvore caída na linha, provavelmente em resultado da enorme ventania que tem ocorrido nestes dias. Fora assim obrigado a um exercício exaustivo do meu intelecto, por culpa da informação da CP e do senhor redactor da notícia!
Provavelmente estou a ser algo injusto, e desde já peço desculpa.
Mas podiam ter redigido de outra maneira, para as pessoas broncas, como eu, perceberem melhor, logo à primeira.
Mas, pensando melhor, seria preciso? O texto era bastante simples, de uma exactidão a toda a prova, não se compadecendo com qualquer tipo de imaginação mórbida, ou com a ideia preconcebida de alguém querer saber algo mais...de tirar nabos da púcara ou de outra veleidade qualquer.
Realmente, nas linhas de caminho de ferro não se plantam árvores, e comboios certeiros a embaterem nelas não são, felizmente, o prato de cada dia. Já o contrário não é muito plausível, embora frequentes (ou talvez não) são as árvores que acertam nos comboios em andamento que passam ao lado...
Enfim, é tudo uma questão de palavras!
E foi assim que, por causa de um simples e preciso título do Público de hoje, me lembrei do final de uma anedota espanhola muito conhecida:
-«Coño, ombre, buena punteria!»,
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