quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

DEPUTADOS DE FACHADA


A vigarice das marcações de ponto

Numa votação importante ocorrida há dias, na véspera de uma «ponte» de fim-de-semana prolongado, suas excelências, os senhores deputados resolveram faltar a uma votação importante e que se antevia renhida, alijando as suas responsabilidades e desmerecendo das atribuições que o povo lhes havia concedido. Já não é a primeira vez que tal coisa acontece, numa habitual falta de profissionalismo e de honestidade, para nossa própria infelicidade. É caso para nos interrogarmos se alguns deputados da Assembleia da República são autênticos, ou só de fachada.

Ter deputados que não cumprem com as suas obrigações é um sinal de laxismo transmitido por uma das instituições políticas mais importantes do país, um mau exemplo de cidadania para todos os portugueses e que deveria cobrir de vergonha os seus autores.

O senhor presidente da Assembleia da República, visivelmente chocado com o acontecimento, já admoestou ou os senhores deputados: "Vejo a necessidade básica de haver sentido do dever, cumprimento dos mandatos, assiduidade. Ser deputado não é beneficiar de um direito, é contrair um dever para com os eleitores.» Os deputados «são eleitos para comparecer às reuniões plenárias e das comissões».

Mas acho que o Presidente deve exigir mais que isso, porque muito mais grave é a vigarice das assinaturas de presença de alguns destes senhores.

Verificou-se neste caso que, tendo faltado à votação, 48 deputados, apenas 35 deles assumiram realmente a falta, uma vez que os restantes 13 faltaram (sendo 1 do partido do governo e 12 dos partidos da oposição), e assinaram a respectiva presença no livro de ponto! Trata-se de um acto inaceitável!

Por marcação indevida do cartão de ponto, numa empresa onde trabalhei, obriguei eu ao despedimento de dois funcionários, já lá vão umas três dezenas de anos. Mas isso era noutros tempos! Agora a permissividade, o laxismo e a vigarice chegam até aos deputados da nação, àqueles que deveriam dar o exemplo e as praticam como um acto trivial da vida corrente.

Mais absurdo é que ninguém parece importar-se com isso, neste Portugal de paisagens paradisíacas, mas horrível quando olhado de perto, país onde todos se queixam de tudo, mas onde ninguém faz nada para corrigir as fortes e constantes razões de queixa. Ora Fátima não pode resolver nada, no campo da matéria, nem que se façam peregrinações de joelhos, diariamente.

Aqui, onde o sol, que tantos habitantes de outros países ambicionam, brilha todo o ano sem esforço nem custos para ninguém, onde toda a rapaziada é pouco dada à persistência, onde a desistência é uma constante, tudo fica sempre a meias, por falta de verba, de meios, de vontade política, ou por razões ou interesses inconfessáveis, enfim, por comodidade ou mera falta de disposição. Vaticino que assim acontecerá, mais uma vez, depois de tanto alarido da imprensa, honra lhe seja feita, neste caso das faltas mascaradas dos deputados à Assembleia da República.

Agora, por exemplo, até seria bem fácil corrigir o que aconteceu, de uma forma exemplar, promovendo a admoestação com penalização dos faltosos e a expulsão com substituição pura e simples dos deputados vigaristas! Rápido e eficaz!

E, para quem não mostra a responsabilidade nem o profissionalismo que exige aos outros em discursos ou declarações pomposas para a plateia, devia ser instituído na Assembleia da República o sistema de marcação de ponto digital em cada secção, com aposição do dedinho indicador, tal como foi aplicado aos médicos, nos hospitais. E porque haviam os senhores deputados de ser excluídos deste sistema de vigilância, quando já deram provas inequívocas de merecê-lo?

Era bom de mais. Desconfio que alguma solução pífia colherá consenso entre os partidos membros da Assembleia.

Além disso, tudo se esquecerá rapidamente, como se a maioria dos portugueses estivesse apanhada pela doença de Alzheimer. Quem ainda se lembra das viagens fictícias a Bruxelas, facturadas e cobradas por alguns desses «honestos» representantes da nação?

O Natal está à porta. E lá no fundo, somos todos boa gente!

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